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Hoje, enquanto eu me preparava para editar um rascunho no meu diário, eu percebi que um dos termos de busca que atrai pessoas ao meu diário é “como assumir que sou amante de fralda?” E eu queria saber, assumir pra quê? Em primeiro lugar, todos nós temos segredos, isso se chama ter vida privada. A declaração dos direitos humanos nos diz que o direito à privacidade é inalienável e por uma boa razão. Isso é feito para salvaguardar a dignidade das pessoas que por vezes praticam coisas que são benéficas, por exemplo, mas embaraçosas ou dificilmente entendidas pela sociedade do tempo e do terreno do indivíduo. E, para algumas pessoas, usar fraldas proporciona vários benefícios, como conforto emocional, prazer ou até gratificação sexual.
Mas isso é justamente uma daquelas coisas que cai na categoria de “embaraçosas e dificilmente entendidas”. Para a maioria das pessoas, o comportamento sexual anormal é sempre motivo para chamar o médico, o filósofo clínico, o pai de santo… mas quem tem algum bom senso deveria saber que o que não faz mal a você ou aos outros não tem nada de doentio. É uma idiossincrasia, sem dúvida, mas não exatamente maligna. Eu já expus minhas razões para não condenar o infantilismo parafílico e o fetiche por fraldas, mas não falei quais as razões para manter o desvio em segredo.
Se isso não for óbvio o bastante, a grande maioria das pessoas anda presa ao sistema binário de classificações sexuais. Nesse sistema, as únicas orientações sexuais possíveis são heterossexual, homossexual, bissexual e assexual. Enquanto elas tentam se enfiar desesperadamente em algum desses rótulos, zombam de qualquer coisa que não cabe neles, por vezes em um esforço de se assegurar que estão fazendo a coisa certa. Procuram justificar sua conduta para si próprios, pelo escárnio do outro, como se dissessem a si mesmos “se eu não entrar nesses rótulos, serei eu o próximo a ser escarnecido.” Eu sei disso porque a tentativa de ludibriar a si mesmo a acreditar em algo que não completamente lhe convence é algo que fiz no passado. Muitas pessoas com sexualidade perfeitamente aceitável, num esforço para ser normais, adotam para si rótulos que não lhes descrevem, mentindo para si mesmas.
Ou seja, o problema não está no fetichista, mas nas pessoas ao seu redor, que precisam se rotular e excluir aqueles que não tem rótulo, num esforço de se sentirem mais seguras, porque terão pares. Num mundo onde é normal estar errado, quem está certo acaba sendo chamado de louco. E é certamente errado que as pessoas julguem e condenem as outras por um comportamento que não decidiram ter e especialmente quando não o entendem completamente e ainda mais quando o comportamento se mostra inofensivo. Só que é isso que a maioria vai fazer. Então, se você quiser assumir seu fetiche para alguém, tem que ser alguém de confiança e que não vá tomar uma atitude contra você ou sua luxúria. Isso significa que a pessoa não pode ser um pai ou mãe, porque eles são imbuídos de autoridade e poderão fazer algo contra você ao menor sinal de que algo vai errado com você, o que pode incluir seus desejos sexuais estranhos. Também não podem ser irmãos, por sua proximidade dos pais. Devem ser amigos livres de suspeita e que você conhece a mais de um ano. Amigos que já confessaram algo sexual a você são também bons candidatos, porque você pode revidar no caso de chantagem.
Alguém escreveu “não diga a um amigo nada que você esconderia de um inimigo”, então o ideal seria não contar para ninguém. Mas, caso você creia que isso vá fazer diferença positiva em sua vida, leve em consideração o que eu disse acima. Um amigo de longa data que já partilhou segredos com você, esse parece ser o tipo de pessoa que mais se aproxima do ideal. Se realmente quiser contar, fale isso numa ocasião propícia, construa o clima antes, dizendo que queria contar algo que é importante. Ou você pode esperar para que comece uma conversa sexual e que penda para o lado não convencional. Ou você poderia provocar essa conversa com os artifícios certos. Não conte tudo de uma vez também, mas uma coisa de cada vez, pequenos detalhes, espere outra ocasião para falar mais coisas, de forma modular.
Agora que você está de posse dessa informação, pode continuar o que estava fazendo. Que tal checar seu e-mail?
[…] Cada louco com sua loucura. Ou loucuras. Para Erasmo, o indivíduo é tanto mais alegre quanto mais opções de loucura ele tem, desde que não saia do âmbito construtivo. Os tipos que proporcionam mais alegria são aqueles tipos de loucura que têm foco no prazer. Eu não consigo ler esta parte e não pensar em fraldas. […]
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Pingback por Elogio da loucura. | Pedra, Papel e Tesoura. — 6 de dezembro de 2015 @ 17:35
[…] aspectos da nossa pessoa, mas não devemos jamais mentir. Por exemplo, se você é daqueles que gostam de usar fraldas pra relaxar, já sabe que não precisa sair por aí dizendo isso até ao presidente. Há hora e […]
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Pingback por A tranquilidade da alma. | Pedra, Papel e Tesoura. — 30 de maio de 2015 @ 12:20