“Meditações Metafísicas” foi escrito por Descartes. Abaixo, o que aprendi lendo esse livro.
- Aprendemos, ao longo de nossas vidas, muitas coisas erradas.
- Então, tudo aquilo que construímos sobre fundamentos falsos é digno de se colocar em dúvida.
- Esse esforço não pode ser feito imediatamente, mas somente em idade propícia, na solidão (aposentado).
- Esse é um processo altamente destrutivo e não deveria ser tentado se outras pessoas dependem de você para existir.
- Descartes pretende rejeitar qualquer coisa que não se manifeste como sendo clara e evidente.
- Não é necessário derrubar cada conhecimento de cada vez: basta derrubar seus princípios, que são em menor número do que os raciocínios construídos sobre tais princípios.
- Os sentidos são a primeira coisa que ele elimina como sendo “duvidoso”: se os sentidos enganam, ele rejeitará os sentidos como fundamento de conhecimento, por não serem claros e evidentes.
- A dúvida cartesiana é uma decisão, não uma dúvida normal: você escolhe duvidar.
- A dúvida será o método dele neste livro.
- Os sentidos são seguros para a vida cotidiana, mas não é isso que queremos.
- Descartes dormia pelado.
- Como é que eu vou saber… que eu não estou sonhando agora?
- Como é possível duvidar da realidade objetiva, Descartes também a rejeita.
- Mesmo que o sonho componha uma realidade completamente diferente da realidade objetiva, ele compõe essa realidade fantástica utilizando elementos encontrados no estado de vigília.
- Se houver um deus maligno que se diverte em enganar o intelecto, então nem a matemática e a geometria seriam seguras.
- Mas, se Deus existe e ele é bom, ele não iria perder tempo enganando suas criaturas.
- Deus não criaria outro Deus.
- Tudo é duvidoso.
- Claro que todas as coisas negadas, embora não sejam 100% aceitáveis por todos, são seguras e muito prováveis.
- Então o conhecimento sensível tem seu uso, já que eu recorrerei a ele na vida cotidiana, e não há nada de errado em fazer isso.
- A dúvida metódica levou Descartes a rejeitar tudo que temos por certo e confiável.
- Pensar dessa forma não é apenas trabalhoso, mas torna a vida impossível de ser vivida.
- As Meditações são como um diário pessoal de trabalho dessa dúvida.
- A busca por algo de seguro é comparada à alavanca: se eu tiver uma alavanca suficientemente longa e um ponto de apoio suficientemente seguro, posso levantar qualquer coisa.
- Talvez eu não tenha corpo, mas será que não é possível existir sem corpo?
- Não posso duvidar de uma coisa: que estou duvidando.
- Ora, mas pra duvidar é necessário pensar.
- Ora, mas só é possível pensar e também se enganar se eu existir.
- Então, a garantia de que, pelo menos, eu existo é o fato de que eu estou pensando, algo que não seria possível se eu não existisse.
- Chegar à conclusão de que eu existo não assegura que eu existo de uma maneira particular.
- O corpo é uma ferramenta a serviço da alma.
- Alma é substância pensante.
- Sou um troço pensante.
- O próprio pensamento é a única coisa que passa pela dúvida metódica.
- Estado físico não é essência, mas acidente.
- Atingir a natureza das coisas é um esforço mental, não empírico.
- Se eu brinco com um objeto e também com meu corpo, mas percebo meu corpo com mais nitidez do que objeto com que brinco, o conhecimento do meu corpo é mais seguro.
- Aquilo que na ciência é mais fácil é difícil para o senso comum.
- Em que condições eu posso reconhecer o valor objetivo de uma ideia?
- Até que ponto algo que eu penso realmente existe?
- Se existe um deus que se preocupa em enganar as pessoas, é um divino desocupado.
- Devemos procurar saber se há razões para acreditar em Deus.
- Se houver, devemos nos certificar que ele não emprega sua indústria em nos enganar.
- É possível desejar o que não existe.
- A ideia que eu tenho não necessariamente corresponde à coisa a qual deveria corresponder.
- Algumas ideias que eu tenho parecem ter nascido comigo.
- Ideias de procedência externa, afecções: perto de um fogo, sentirei calor.
- Instinto não é fonte segura de conhecimento.
- O instinto é amoral, é agnóstico.
- Depois que o exterior deixa uma impressão, o pensamento relacionado à impressão pode surgir sem o objeto que a causou.
- Sem uma ideia clara e evidente, não há critério de julgamento entre falso e verdadeiro.
- O sentido mostra o Sol, o instinto supõe que o Sol é do tamanho que parece, mas a razão diz que o Sol é maior que a Terra.
- Os sentidos traem com grande traição.
- Apelo aos graus de ser, à causa eficiente: todo efeito tem uma causa e eu sou um efeito.
- Nada garante que a criatura é igual ao criador.
- O nada não pode criar, com isso todos concordamos.
- A criatura é semelhante ao criador em alguma coisa, mesmo que em menor grau.
- Aquilo que a coisa parece ser para mim… é o que ela realmente é?
- Se Deus existe, então não estou sozinho no mundo.
- Algo é imperfeito se não sai como planejado (se o real e objetivo não corresponde ao que eu imaginei inicialmente).
- Será que o frio é ausência de calor ou é o calor ausência de frio?
- Será que eu posso pensar numa mentira completa?
- Existem ideias falsas por natureza?
- A ideia de Deus é complexa demais pra ser concebida pelo espírito humano.
- A existência de Deus só passa pela nossa cabeça porque Deus se dá a inferir na mente humana.
- O finito vem do infinito
- Ao contrário do que se pensava, infinito não é negação do finito como frio é negação do calor, mas o contrário: se algo é limitado, é porque não tem ser em grau supremo, o que implica parcela de não-ser (potência).
- É possível apreender o infinito em sua forma, mas jamais em seu conteúdo.
- Se eu fosse Deus, nunca duvidaria de ser Deus.
- Tivemos começo, não somos eternos.
- Nossos pais fizeram nosso corpo, mas o espírito vem de Deus.
- É diferente criar e produzir. Os pais produzem o filho, mas não criaram o ser humano.
- Deus não é enganador, porque só engana quem tem carência de algo.
- Se Deus é perfeito, ele não criou uma natureza ou seres humanos perfeitos porque não estava no interesse dele criar outros deuses como ele.
- Sendo eu finito, não posso receber poder divino em grau infinito.
- Eu cometo erros por não saber aquilo que é necessário saber para determinada tarefa.
- Se Deus é perfeito, sempre quererá o melhor e mais vantajoso.
- O engano é carência de certeza, mas não é carência cognitiva total.
- Se Deus é perfeito e infinito, uma mente finita nunca poderá entender algumas ou várias ou todas de suas decisões.
- Seria estranho, para Descartes, dizer que os dentes caninos foram concebidos para furar pedaços de carne: se Deus é dono de todas as coisas, sendo também infinito, sendo suas razões incompreensíveis pela fraca mente humana, não se pode afirmar, com certeza, para quê cada coisa na natureza foi concebida.
- Que vantagem poderia haver para a natureza que o ser humano fosse mais inteligente do que já é?
- O entendimento tem limites mais rígidos que a vontade: quando temos vontade de fazer algo que não entendemos ou não podemos entender, erramos.
- Existe diferença entre liberdade de escolha e liberdade de ato.
- Não se deve se posicionar sobre o que não se entende.
- Um defeito só é defeito em certo sentido.
- Para minimizar ou mesmo eliminar o engano, as verdades claras e distintas devem ser separadas das que não são claras ou não são distintas: sobre o incerto, só se pode especular e abandonar qualquer pretensão de certeza.
- É possível atribuir existência a algo que não existe.
- Se eu disser que existe um ser sumamente perfeito, preciso provar que esse ser existe.
- Se Deus é perfeito, é eterno.
- A geometria aplica seus preceitos às coisas materiais, o que torna coisas materiais bem prováveis, mas não garante que elas existam.
- Algo é “possível” se eu a tenho provas de que ela é possível ou se eu não tenho provas de que ela é impossível (nem tampouco provas de que é certa).
- Descartes aponta que temos sensações porque há objetos que nos inspiram sensações e porque temos órgãos que interagem com tais objetos.
- O corpo afeta o espírito, que sou eu mesmo, o que implica existência do corpo.
- Não temos controle sobre que objetos nos suscitaram preferência.
- A dor é uma sensação íntima, mas não é segura: pessoas que tiveram membros amputados ainda têm sensações de dor nos membros que não estão mais lá.
- É possível sentir coisas que não estão lá, como quando sonhamos.
- Descartes não descarta a possibilidade de que as ideias sensíveis sejam produzidas dentro do próprio espírito (como na loucura ou na alucinação).
- Eu sou uma coisa que pensa.
- O corpo seria inútil sem o espírito.
- O fato de termos sensações a despeito de nossa vontade, uma vez que nosso espírito, sendo nós próprios, é totalmente sujeito à nossa vontade, as sensações vêm de fontes externas a nós.
- A causa das sensações ou é um corpo ou Deus.
- Não é Deus, porque Deus não quereria se passar por objeto, visto que não é enganador.
- O que é incerto ainda pode ser conhecido com certeza, porque o espírito pode corrigir o sentido.
- Se a natureza nos ensina algo por meio dos sentidos, então parece que é seguro admitir que existe algo corpóreo fora de nós, feito por Deus.
- Alma e corpo não estão totalmente separados.
- A natureza é uma só, sempre a mesma: se nossos sentidos não a percebem como deviam, isso é problema nosso.
- O ensinamento da natureza é concernente a como se manter vivo e não coincide com o entendimento, não é imediatamente fundamentado e precisa ser complementado pela razão.
- A boa interação entre corpo e natureza requer que ambos estejam em bom estado.
- Os sentidos existem e os sentidos são seguros em relação à biologia, à conservação da vida.
- A diferença entre sonho e realidade é a memória: a memória não é capaz de juntar os sonhos entre si como o faz com os acontecimentos da vida acordada.
- A metafísica tem sua função.
[…] ser humano pode manipular a natureza brincando com seus elementos, mas ele é incapaz de adicionar algo novo a […]
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Pingback por Anotações sobre o novum organum. | Analecto — 8 de abril de 2019 @ 11:42
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Pingback por Anotações sobre a “Fundamentação da Metafísica dos Costumes”, de Kant. | Analecto — 9 de julho de 2018 @ 17:39
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Pingback por Anotações sobre a crítica da razão pura. | Pedra, Papel e Tesoura. — 31 de janeiro de 2017 @ 10:58
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Pingback por Anotações sobre as regras para a condução da inteligência. | Pedra, Papel e Tesoura. — 23 de janeiro de 2017 @ 17:49
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Pingback por Anotações sobre o tratado das sensações. | Pedra, Papel e Tesoura. — 13 de janeiro de 2017 @ 18:25
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Pingback por Anotações sobre o dicionário filosófico. | Pedra, Papel e Tesoura. — 27 de setembro de 2016 @ 14:20
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