Pedra, Papel e Tesoura

17 de agosto de 2016

Anotações sobre a “Carta Sobre a Tolerância”.

A “Carta Sobre a Tolerância” foi escrita por Locke. Abaixo, algumas anotações sobre essa carta. Elas não necessariamente refletem minha opinião sobre o assunto. Quaisquer perguntas podem ser feitas nos comentários.

  1. A tolerância entre cristãos é sinal distintivo de uma verdadeira igreja, em sentido tradicional da palavra como “coletivo de cristãos”.
  2. O cristão que não se comporta como cristão não é cristão, mesmo sendo batizado, por exemplo.
  3. As ações revelam o cristão, não o endereço da igreja onde se congrega.
  4. Se você não se esforça em amar o próximo, não está tão preocupado com sua salvação, quanto mais com a dos outros.
  5. Por exemplo: pastores que cometem todo o tipo de loucura claramente errada de um ponto de vista bíblico, são, propriamente, cegos guiando cegos, porque, não querendo a salvação eterna, se atrevem a guiar aqueles que querem (Mateus 15:14).
  6. Não se deve perseguir ninguém.
  7. Não se deve converter à força.
  8. No dia do julgamento, Jesus julgará um por um (Apocalipse 20:12), e não igreja por igreja, o que significa que a controvérsia sobre qual igreja é a correta não é importante..
  9. Não se deve pregar contra os católicos, contra os ortodoxos, contra os protestantes, mas contra o roubo, contra o adultério, contra o assassinato…
  10. A conversão não deve ser forçada pela força individual, pelo exército ou pelo Estado.
  11. Por causa disso, não se deve misturar Igreja e Estado.
  12. O Estado não deve, nem pode, “cuidar das almas”.
  13. Isso porque o poder estatal é coercitivo material, não tendo, portanto, nenhum poder sobre o espírito.
  14. Além do mais, Deus não deu ao Estado o direito de impor a religião, exceto no judaísmo.
  15. O Estado regula este mundo, mas não tem poder sobre o outro.
  16. Além do mais, leis mudam de país para país, o que não é compatível com a natureza eterna do divino.
  17. A Igreja é uma associação voluntária de homens livres que procuram juntos a salvação eterna através de Cristo.
  18. Não é estranho que igrejas tenham regras diferentes, como condições de exclusão, distribuição de cargos e datas de reunião, na medida em que essas regras particulares não sejam cridas como meio de salvação.
  19. Não há necessidade de bispo descendente de apóstolo para que Cristo esteja entre nós (Mateus 18:20).
  20. Há diferentes igrejas, vá pra qual você achar melhor, mas tenha em mente que não é essa escolha que te salvará.
  21. Há mais chance de se salvar lendo a Bíblia do que indo pra igreja.
  22. Eu não posso excluir da minha igreja alguém que Cristo não excluiria da vida eterna.
  23. Os cristãos não deveriam perseguir, mas pelo contrário: Jesus disse que os cristãos seriam perseguidos.
  24. Tal como o Estado deve se aparelhar para o bem-estar material do povo, a Igreja deve se aparelhar para seu bem-estar espiritual, o que significa que a igreja não deve impor aos fieis nenhuma regra que não tenha essa finalidade.
  25. Deixe a punição pra Deus.
  26. O Estado deve tratar todos de maneira igual, independente do credo.
  27. Se eu devo amar meus inimigos (Lucas 6:27), quanto mais os que não me fizeram nenhum mal.
  28. O papa não deveria ser rei e nem pastor deveria ser deputado.
  29. Se alguém não vai pra igreja ou pro culto, é problema dele; não cabe a mim punir o pecado do outro (João 8:7).
  30. Observe como a dissidência entre cristãos é sobre coisas de pouca importância.
  31. Se só houver uma igreja “certa”, ninguém sabe qual é, então a minha escolha não é condenável.
  32. Eu não sou obrigado a acreditar em ninguém em matéria de salvação, mas na revelação apenas.
  33. É muita presunção filiar todos à igreja do presidente.
  34. Se Igreja e Estado fossem a mesma coisa, isso seria um desastre em termos de culto: as práticas da religião poderiam mudar dependendo de quem está na administração estatal.
  35. Cultuar por obrigação não produz salvação.
  36. A religião só é frutífera se o fiel acredita que ela é a verdadeira.
  37. Não se deve exigir dos fieis algo que Deus não exige.
  38. Aquilo que é ilegal não deve ser parte de nenhum culto dentro do território onde tal comportamento é ilegal.
  39. Você não pode serlegitimamente roubado por motivo religioso.
  40. Se Igreja e Estado se fundem, quem não é cristão pode ter seus bens, liberdade e vida sob risco.
  41. Será que se Estado e Igreja se fundissem, os políticos corruptos seriam perseguidos por manifestarem cobiça ou será que usariam a oportunidade para aumentar ainda mais suas posses?
  42. Um ateu não pode ser obrigado a crer.
  43. A verdade pode ser descoberta sozinha, mas o engano precisa ser mantido por mais de uma pessoa ao mesmo tempo para se perpetuar.
  44. O cristão deve converter os outros, mas não deve usar a força pra isso.
  45. A vida em sociedade é mais longa.
  46. Se o Estado é democrático e a maior parte da população é cristã, ele provavelmente não entrará em conflito com a Igreja.
  47. Se o Estado prescreve algo que a Igreja condena, o fiel realmente fiel preferirá ser punido pela lei do que pecar.
  48. Se uma igreja quer ter privilégios legais sobre as outras ou sobre quem é ateu, deve ter esse interesse combatido.
  49. Uma igreja que não tolera as outras provavelmente está mais interessada em conseguir fieis pra sua denominação do que realmente salvar as almas do rebanho.
  50. A tolerância religiosa deve se tornar lei.
  51. Uma igreja não deve receber benefício estatal.
  52. O Evangelho não sanciona a exclusão social com base em religião.
  53. A existência de outras religiões não necessariamente é uma ameaça aos cristãos.
  54. Os cristãos promovem má fama ao cristianismo.
  55. Melhor ler a Bíblia Sagrada em casa do que ir à igreja.

5 Comentários »

  1. […] John Locke, em sua Carta Sobre a Tolerância, dá alguns limites à tolerância religiosa. O comportamento religioso deve ser sempre tolerado, quando não posar problemas ao estado (isto é, ao governo ou ao povo), quando os cultos forem públicos (é muito estranha a religião que não quer que as autoridades saibam o que é feito nos templos) e quando a religião em questão não busca influência política (o que poderia tornar preceitos de fé em leis, válidas até pra quem não quer seguir tal religião). Eu poderia resumir tudo isso como: uma religião é sempre aceitável desde que o comportamento de seus fiéis não interfira com o meu próprio sem meu consentimento. Assim, uma religião que ordena o suicídio de seus membros não seria algo a que eu me oporia, mas uma religião que ordena o assassinato de não-membros seria algo contra o que eu resistiria. […]

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    Pingback por Tolerância religiosa. | Analecto — 9 de junho de 2020 @ 17:54

  2. […] a forma exterior do culto é de tão pouca importância que poderia ser decidida pelo Estado (questão de […]

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    Pingback por Anotações sobre o Emílio. | Analecto — 11 de julho de 2018 @ 00:46

  3. […] Isso dá a impressão, pro leigo que não sabe o que é filosofia nem o quanto a religião deve a esta, de que filosofia é coisa de ateu e que a filosofia te tornará ateu se você deixar. Diga-se de […]

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    Pingback por Eu assiti “Deus Não Está Morto.” | Pedra, Papel e Tesoura. — 25 de fevereiro de 2017 @ 12:38

  4. […] cabe ao estado se preocupar com a alma dos […]

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  5. […] na Idade Moderna, o preconceito de que a China, por exemplo, era um governo ateu. Havia um grande preconceito contra […]

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