“Compreender e Transformar o Ensino” foi escrito por J. Gimeno Sacristán e A. I. Pérez Gomez. Abaixo, o que aprendi lendo esse texto.
- O currículo reflete a relação entre sociedade e educação, bem como as relações entre teoria e prática.
- O currículo muda conforme a sociedade muda seus padrões de conhecimento essencial.
- O currículo também implica a elucidação dos meios de aprendizagem, os quais também mudam com o tempo.
- Donde decorre que o currículo escolar não é estático; ele muda conforme a sociedade muda.
- O currículo é um projeto historicamente condicionado, seu conteúdo é selecionado pelas forças sociais dominantes.
- O currículo tem um lado teórico e um prático.
- O currículo condiciona a formação do docente.
- Escolaridade é um construto social.
- A escolarização moderna (criança é aprendiz, ensino é motivação e conteúdo é ciência e humanidades) é um negócio que data da revolução industrial, nem sempre foi assim, não precisa ser sempre assim.
- O que orienta a composição do currículo é a nossa expectativa social.
- “Conteúdo curricular” é um conceito interpretável.
- Por isso não há consenso sobre o que entra e o que sai do currículo escolar.
- “Conteúdo” é também um construto social.
- O conteúdo do currículo muda com o tempo.
- No final das contas, o conteúdo acaba refletindo os valores da escola em um contexto cultural.
- Porque o currículo responde à demanda social, não é possível orientá-lo por uma filosofia específica, corrente de psicologia ou qualquer coisa como essa: o “essencial a ser ensinado” não é algo fácil de escolher, não é algo que pode ser construído como se a sociedade não existisse.
- “Conteúdo”, em sentido estrito, é cada resumo acadêmico (a guerra de Canudos, por exemplo) organizado dentro de uma disciplina escolar (história do Brasil).
- Importante lembrar que o conteúdo ensinado pode não coincidir com o conteúdo aprendido.
- Só conhecimento não forma: é preciso que os alunos tenham atitude, valores, disciplina e habilidades de pensamento.
- Isso é feito aprendendo as consequências das atividades.
- Em sentido amplo, “conteúdo” é tudo o que ocupa o tempo escolar, seja como parte do currículo oficial ou não (“currículo oculto”).
- Ensinar pensamento crítico não é como ensinar matemática.
- Como ensinar a ter independência?
- A criança deveria aprender a se comportar autonomamente.
- O adolescente deve estar ciente das crenças locais e escolher a que achar melhor pro desenvolvimento pessoal dele.
- Por causa da demanda por sujeitos críticos e civis, o conteúdo escolar não pode ser academicista, um “saber pelo saber”, mas um saber que forme e que possa ser usado pelo aluno.
- O objeto do ensino é a mente do aluno, mas como se mede isso?
- Formar mão de obra é medíocre e não basta.
- A disponibilidade de conteúdo fora da escola também gera a necessidade de rever o que é relevante como conteúdo escolar.
- O currículo oculto também é socialmente condicionado.
- O conteúdo escolar se modifica mais lentamente do que a sociedade.
- À qual disciplina cabe a formação cidadã?
- A todas e a nenhuma.
- O discurso educacional revolucionário é onipresente, mas a prática de dar aulas e organizar conteúdos como se fazia no século passado também é onipresente.
- A formação acadêmica e a formação humana têm a mesma importância na formação do indivíduo completo: abolir ou subestimar a formação acadêmica em nome da humana é um desmonte do ensino, tanto quanto abolir a formação humana para formar pura mão de obra.
- Os critérios de seleção do conteúdo curricular geralmente não são técnicos ou científicos.
- Isso porque o currículo deve responder à demanda cultural social.
- Então, se a sociedade é a fonte do currículo, é claro que o conteúdo curricular não pode ser determinado cientificamente, como se fosse possível criar um currículo definitivo, o que implicaria uma sociedade que não muda.
- A proposta da escola é formar um indivíduo através do currículo, logo a função da escola é formar o indivíduo que a sociedade deseja.
- De que tipo de pessoa nossa sociedade precisa?
- História é relativa: o que vale hoje não valia ontem e pode não valer amanhã.
- Quando os valores mudam, o currículo muda: não ensinava tolerância sexual na ditadura militar.
- Melhor ter os meios de encontrar e julgar uma resposta do que memorizá-la.
- A educação dos grupos dominantes, a educação mais intelectual, é dada no ensino médio por uma razão: pobres nem sempre entram no ensino médio.
- Donde decorre que a divisão dos temas a serem tratados é uma divisão com base nas dicotomias de classe social, tanto que o conteúdo que se aprende no ensino médio público é ensinado no fundamental privado.
- A criação do currículo cede às pressões sociais indiretamente, através das sugestões do governo, dos empresários, dos pais, dos especialistas e dos escritores de material didático.
- Embora a escola acabe por reproduzir a cultura hegemônica, há espaços de autonomia que professores e servidores podem usar para questionar tal cultura.
- O currículo tradicional quer naturalizar os acontecimentos, enquanto que o currículo crítico quer que o aluno julgue o que ele considera natural.
- Nenhum currículo escolar é impassível de mudança.
- Revolucionar o ensino não é algo que deve ser feito ignorando o que a cultura estabelecida tem de bom, só pelo prazer de começar do zero.
- Os movimentos sociais, pela mudança nos valores, operam mudanças no currículo.
- “Educação para todos” não é um ideal meramente humanista, mas também uma exigência do mercado de trabalho: o aluno deve aprender competências gerais na escola para que possa escolher no que se especializar depois.
- Esse ideal é também consequência da demanda por mão de obra de qualidade.
- Na verdade, embora se pregue o contrário, o ideal de mercado sobrepuja o humanista na escola.
- Isso faz com que as ciências positivas sejam supervalorizadas frente as humanidades.
- Os reformistas chamam isso de “educação racional”, não que isso torne essa uma educação completa.
- Isso fundamenta a argumentação que tenta tirar humanidades do currículo ou desvalorizá-las.
- Isso é mais efetivo em tempos de crise econômica ou de recessão no mercado de trabalho.
- É aí que os neoconservadores encontram uma brecha para interferir na educação.
- As críticas neoconservadores à escola e ao seu ensino têm como ponto de partida os interesses de produção, não o valor formativo para a pessoa completa: importa criar um empregado, não um cidadão.
- Se as coisas se processam dessa forma, as disciplinas mais valorizadas serão aquelas que preparam para os trabalhos que melhor pagam.
- E é por isso que a carga horária de língua portuguesa e de matemática são maiores.
- A fonte cultural do currículo se divide em três elementos: o que vale a pena conservar de nossa cultura, as necessidades do tempo presente e que tipo de sociedade queremos criar.
- Embora a educação infantil venha antes do ensino fundamental, ela não é requisito para o ensino fundamental, porquanto a educação infantil foi concebida depois do fundamental, o qual é historicamente tido como a base de todos os outros níveis.
- A educação infantil responde a uma demanda familiar: a mulher que trabalha tem que deixar os filhos em algum lugar, então por que não num lugar onde ele possa aprender?
- Embora o ensino fundamental seja tido como a base dos outros, ele não foi o primeiro a surgir: o primeiro nível de ensino a surgir foi o superior.
- A influência universitária na escola é onipresente: as aulas mesmo do fundamental parecem aulas de faculdade.
- Não há método científico para construir um currículo escolar.
- Isso porque o currículo não é uma pedagogia, não é um método de ensinar (existem métodos científicos de ensinar um conteúdo), mas uma lista do que se deve ensinar, uma lista com fundamento social.
- Ensinar é mais uma questão de princípios gerais do que de métodos estáticos.
- As idades às quais se destinam o ensino obrigatório variam de país para país.
- Se a educação é obrigatória, por exemplo, dos seis aos dezessete anos, teremos o inconveniente de forçar um aluno avançado a permanecer num nível medíocre porque aquele é o nível adequado à sua idade, tal como inconveniente dos “alunos atrasados”.
- Todos os países deveriam ter educação pública, porquanto a educação é direito de todos.
- A educação tem propriedades homogenizadoras: se todos têm a mesma educação, os conflitos mais graves que poderiam ocorrer em um país são mais facilmente evitados, pois os cidadãos partilhariam um mesmo conjunto de crenças e valores.
- Assim, a educação pública é também uma forma de exercer poder sobre os cidadãos, um poder suave, mas um poder.
- A educação pública torna a família menos necessária.
- Além do mais, sem educação pública, a mão de obra de qualidade fica mais difícil de encontrar.
- Como a demanda por mão de obra de qualidade é alta, não ter qualificação significa não ter emprego e não haver qualificados em um território significa menos investimento privado naquele território.
- Além do mais, sem ensino público, os pais teriam que se virar pra trabalhar apesar de terem filhos: onde eles ficariam e como eles próprios iriam se virar na vida adulta?
- A única solução seria a volta do trabalho familiar.