Eu tinha publicado um texto sobre como eu não achava que a torcida do Corínthias deveria sair do isolamento pra combater os fascistas que tomaram conta das ruas, porque eu esperava que o vírus resolveria isso por nós. Mas, vendo as coisas que aconteceram no final de maio, eu comecei a reconsiderar. Eu comecei a reconsiderar minha posição sobre ficar em casa, em vez de ir às manifestações a favor da democracia e contra o lixo que tem vindo à tona, agora que as ruas estão calmas. Na semana seguinte a que um adolescente negro e desarmado foi morto pela polícia, um grupo de mascarados usando tochas aparece na Praça dos Três Poderes. Ah, não… Assim, não tem condição.
Todo o mundo sabe que você só deve sair de casa se for necessário. Muito bem, defender a democracia é necessário, certo? Então tá, vou calar o bico e deixar que se proteste, porque a situação chegou ao limite e, se não houver a presença democrática nas ruas, esses fascistas tomarão conta desses espaços. Mas como conciliar os protestos com a proteção à saúde? Eu acho que tenho uma ideia de como.
Lembram do protesto dos funcionários da saúde, aqueles que foram assediados por um funcionário do ministério dos direitos humanos e por uma empresária em vias de falir? Observem a distância entre um e outro. Durante o protesto, manter a distância de um braço ou mais entre um e outro dá a aparência de que o movimento é maior, se visto do alto, e permite que a polícia veja mais claramente quem causar danos à propriedade pública, pra que estes, e apenas estes, sejam responsabilizados.
O fato de que é possível que alguns sujeitos se aproveitem do protesto pra fazer coisas ilegais, manchando a imagem da causa e dos que aderem a ela, também nos leva a um outro assunto: o movimento precisa ser publicamente comprometido com a paz. Se ele for anunciado numa rede social, por exemplo, é preciso que o anúncio traga um aviso, dizendo de antemão que qualquer manifestante violento não tem nada a ver com o que está sendo defendido. Será mais fácil assim colocar a culpa somente nos revoltados, que poderão até ser tachados de “infiltrados”.
As máscaras precisam ter três camadas: algodão, cetim, algodão. Essa parece ser a melhor combinação pra evitar contaminação. Quem tiver álcool em gel, leve-o. Vá desarmado, pelo amor de Deus. Se um grupo oposto tentar provocar, ignore; reagir é contraproducente. Se essas medidas forem tomadas, o risco de contaminação durante um protesto será menor e acho que seu efeito pode ser até maximizado. Em resumo: máscara boa, distância de um braço ou mais um do outro, compromisso público de fazer um protesto pacífico, ignorar provocações de qualquer natureza. Talvez eu esteja soando meio idiota com essas considerações. Só não quero que os protestos sejam feitos de qualquer jeito pra acelerar ainda mais o ritmo de contaminação, nem que as forças democráticas sejam facilmente demonizadas como estão sendo nos Estados Unidos.
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