Eu falei da última vez que estava lendo a Cidade de Deus, de Agostinho. Agora que eu terminei de ler ao menos os primeiros livros dessa obra, eu posso partilhar o que aprendi a lendo. Consegui tirar dela algumas coisas que são úteis até hoje, já que Agostinho é um filósofo bastante atual.
O mal não tem existência de fato, mas é ausência de bem.
Agostinho já foi epicurista e os epicuristas definem a felicidade como ausência de sofrimento, uma condição que pode ser proporcionada pelo uso estratégico do prazer. Embora ele tenha deixado o epicurismo, eu vejo uma certa influência epicurista na solução agostiniana ao problema do mal. Pra Agostinho, o mal não tem existência positiva, só podendo ser definido como uma ausência: o silêncio é falta de som, o escuro é falta de luz, o mal é ausência de bem. Pense no mundo como uma sala clara, com uma luz que emana do alto. Se você entra nessa sala, você projeta uma sombra. Essa sobra é o mal. Como o ser humano é imperfeito, ele afasta de si o bem através das suas ações erradas. Assim, se o mal é proporcionado (pelo afastamento do bem), só pode o ser por criaturas imperfeitas que escolhem o mal, julgando que escolhem o bem. Assim, o mal é responsabilidade nossa e consequência de nossas escolhas. Deus criou o mundo pleno de bem. O mal foi introduzido pelo mau uso da liberdade, seja dos homens, seja dos anjos.
Às vezes você deve ficar onde está, mesmo que esteja sendo perseguido.
Numa época em que a cristandade era perseguida, os cristãos locais pensavam se deveriam ficar onde estavam ou fugir. Depende: se o ministério naquela região for prejudicado pela fuga, então não se deveria fugir. Observando essa ideia por um lente laica, deixando o cristianismo de fora, eu lembro imediatamente dos “pacas” (pessoas atraídas por crianças ou adolescentes, ou “MAPs“, do inglês minor-attracted person). Eles são perseguidos em todos os lugares, mas será que a causa deles seria ajudada se eles fugissem? Mesmo que um MAP seja banido de uma plataforma, nem por isso deveria abandonar a Internet. O mesmo é válido pra outros grupos perseguidos. Você só deveria fugir da perseguição se isso não redundar em prejuízo à causa defendida.
Não confie sua proteção a quem já foi vencido.
Se você tem um inimigo do qual você precisa se defender, não é com quem já foi vencido por tal inimigo que você deve procurar proteção. Faça alianças com quem ainda está de pé.
Não importa o que se sofre, mas como se sofre.
Meu sobrinho disse uma vez: “a dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional”. Bom, é quase isso. Todos sofremos, mas lidamos com o sofrimento de maneiras diferentes. Existem formas melhores e piores de lidar com o sofrimento e devemos escolher as que melhor funcionam conosco. Dessa forma, o sofrimento será suficientemente amenizado pra não impedir nem o raciocínio e nem a ação. Eu lembro do Sêneca quando leio algo desse tipo. Aprender a sofrer. Até Nietzsche (filósofo ateu) concede que o cristianismo, ao ensinar o fiel a sofrer sem entrar em desespero, faz alguma coisa direito. Se tudo o que você quer é não sofrer, as obras de Epicuro e de Sêneca talvez te ensinem algo novo.
Não se deve cometer um pecado grave, como o suicídio (que é um homicídio), pra evitar cometer um de menor gravidade.
Este conselho me chamou atenção porque eu já dividi a casa com três testemunhas de Jeová. Como você provavelmente sabe, as testemunhas de Jeová não aprovam a transfusão de sangue, a qual elas igualam com a ingestão de sangue, que é pecado. Agostinho, ao falar dos cristãos que se matavam pra não pecarem (ou porque já tinham pecado), afirma que não se deve escolher cometer um pecado grave, como o homicídio, a fim de evitar um pecado de menor gravidade. Além disso, quanto aos que se matam após pecarem, eles juntaram à culpa anterior uma culpa ainda maior.
Então, a testemunha de Jeová que morre por ter recusado uma transfusão de sangue incorreu num pecado grave, pra evitar um pecado de menor gravidade (assumindo que a transfusão realmente se iguala à ingestão). “Menor gravidade”, como? Quando interpelado sobre o que fazer pra receber a vida eterna, Jesus respondeu com os seis mandamentos que dizem respeito ao amor ao próximo, dentre os quais “não matarás”. Logo, matar pode acarretar a perda da recompensa eterna, mas as punições pela violação da interdição ao sangue são terrenas, como todas as punições que figuram na Lei de Moisés. Só porque o mandamento não diz “o teu próximo” devemos concluir que o suicídio não está incluso? E mesmo que não estivesse, ainda não é justificável que a testemunha de Jeová adulta recuse transfusões ao seu filho, sob seus cuidados. Aí, sim, ocorre um homicídio sem sombra de dúvida.
Existem pessoas com quem não vale a pena discutir.
Novamente, lembro dos MAPs ao ler isto. Muitos MAPs se cansam discutindo com pessoas ditas “normais” que nunca aceitarão nenhum argumento favorável à causa. Qual é o sentido de fazer isso? Mesmo que você apresente argumentos, a pessoa não apresentará argumentos de volta, mas gritos, xingamentos ou memes. Agostinho afirma que uma pessoa que responde dessa forma é como um estúpido irreparável. Nem toda a medicina do mundo pode salvar um doente incurável. Se volte, portanto, aos que estão dispostos a ouvir. A partir do momento em que a pessoa responde você irracionalmente, deixe-a.
Uma república pode ruir mesmo que todas as suas cidades permaneçam de pé.
A república é tanto um bem imaterial quanto propriamente material. Mesmo que o Brasil não receba nenhuma bomba, ele pode acabar se estiver subordinado ao governo de outros. Se o Brasil se submete aos Estados Unidos, deixa de ser Brasil e se torna Estados Unidos, porque perde sua autonomia. Além disso, existem elementos espirituais na república, como as leis e os costumes. Se as leis forem escritas por outros, em vez de por brasileiros, ou se os costumes brasileiros deixam de nos favorecer como nação, podemos dizer que o Brasil realmente acabou. E acabou, pra mim, quando a fraternidade brasileira foi substituída pela polarização fomentada pela mídia de massa. Nunca um brasileiro odiou tanto seu conterrâneo quanto em 2018. Só podia dar no que deu.
Tempos de paz, por causa da falta medo, propiciam uma geração de homens indignos.
Quando há um inimigo comum, a nação luta junta contra tal inimigo. Em tempos de paz, os acordos firmados em situação excepcional são revogados e as diferenças entre os cidadãos se sobressaem. Brigas internas voltam a ocorrer. A menos que a nação tenha constantemente um inimigo comum, cada cidadão verá um inimigo em seu irmão. Além disso, a ameaça de um inimigo nos mantém alertas, disciplinados e prontos. Em tempos de paz, ficamos relaxados demais e começamos a dar importância excessiva aos problemas pequenos. Tome o exemplo de uma criança: ela chora por coisas pequenas porque nunca trabalhou na vida. São as grandes vicissitudes da vida que nos mostram como se importar com certas coisas é mesquinho. Vivemos tempos de paz e abundância nos governos passados. Claro que a geração criada em tal meio seria mimada: nunca passou fome, foi pra escola, conseguiu realizar sonhos. Não estou dizendo que não se deve buscar sempre as melhores condições, mas que a falta de causas sérias pelas quais lutar levará cada um a lutar por “causas” fúteis. Isso faz parte da cultura do cancelamento. Não é preciso que algo seja objetivamente ruim pra ser cancelado, basta que eu não goste do que eu estou vendo pra ir lá e cancelar.
Quando uma república fracassa, o povo busca bodes expiatórios, pra se livrar da própria parcela na culpa pela destruição da república. Cada povo tem o governante que merece.
De quem é a culpa pelo que se passa no Brasil? Do PT? Do Bolsonaro? Tudo o que acontece de ruim numa república é reflexo do fracasso do povo. Incapaz de engolir isso, o povo busca “bodes expiatórios”. Puseram toda a culpa no PT, como agora põem no Bolsonaro. Não estou dizendo que o PT é o pior partido que existe nem que ele é igual ao Bolsonaro, porém, mas a direita quer que seja, então vamos fingir que é. Também não estou dizendo que Bolsonaro não é um presidente objetivamente ruim. Mas ambos os governos se resumem ao voto, expedido de maneira direta e democrática.
Todos temos parcela de culpa pelo governo que temos: os que votaram nele (por terem escolhido mal), os que votaram no Haddad (por não terem conseguido convencer outros eleitores) e os que votaram em branco ou nulo (por terem deixado que escolhessem por eles). Assim, não adianta criticar o Bolsonaro sem dialogar com quem votou nele ou com quem não votou em ninguém. Mesmo que Bolsonaro saia do governo, o Brasil como está elegeria alguém parecido com Bolsonaro. Precisamos entender que o problema está em cada um de nós, não só em um governante ou em um partido. Pra Agostinho, como Deus tem poder sobre os governos, ele dá a cada povo o governante que merece. Mas, mesmo através de uma lente laica, sem recorrer ao cristianismo, qualquer república que elege seus governantes democraticamente, na medida em que o processo eleitoral é justo, só pode eleger governantes que merece ter. Bolsonaro foi o reflexo do Brasil.
Não há glória em melhorar a condição de uma nação através da guerra, pois melhor povo é aquele que prospera até em paz. O crescimento da nação só é justo sem guerra, pois a guerra, visando apropriação, é um roubo. Faça guerra aos males internos da sua nação, não às outras nações.
É incrível como os Estados Unidos são intrometidos. Não é possível que não haja um dedo americano em cada conflito no Oriente Médio ou golpe na América do Sul. Mesmo que não houvesse, por que esses conflitos acontecem, se não porque um povo, incapaz de prosperar com seus recursos e incapaz de (ou indisposto a) fazer acordos, tenta roubar o que é de outro povo, seja isso recursos, território ou influência? Você não vê a China fazendo isso. Como ela consegue? Se ela consegue prosperar sem entrar em guerra, não é melhor fazer como a China? Claro, imitá-la nas coisas boas, não na censura ou no bat buffet. Conta-se que o Lula, ao ser convidado pelo Bush pra uma ofensiva contra o terrorismo, respondeu ao governante americano: “minha guerra é contra a fome”. Concordo com a extrema direita quando esta diz que o Brasil tem inimigos internos, mas não concordo que tais inimigos sejam homens ou ideias. Os inimigos internos do Brasil são inimigos concretos: a fome, o coronavírus, a violência e a ignorância. Devemos declarar guerra a essas coisas, não à Venezuela ou aos comunistas, o que quer que essa palavra signifique.
Se as coisas vão mal, é preciso buscar as causas concretas do mal, em vez de atribuir causas sobrenaturais. Não se torna a terra fértil adorando-a como uma divindade, mas fertilizando-a.
Um monte de gente vai pra igreja pra ver se consegue bens materiais. Meu irmão já confessou que só era testemunha de Jeová porque queria que sua vida melhorasse materialmente. Mas você já observou que também os maus conseguem bens materiais, dinheiro e poder? Isso acontece porque os bens materiais, sendo de ordem inferior, são dispensados também aos maus. Então, você não deveria ir pra igreja esperando ficar rico (especialmente se seu culto envolve dar seu dinheiro ao pastor), porque está suficientemente provado que é possível se dar bem na vida até sendo ateu. Então, qual é a causa da sua pobreza? Como lidar com ela? Com técnicas materiais. É estudo, trabalho, oportunidade e, infelizmente, sorte. Isso mesmo, sorte. Tem isso também. Então, antes de considerar a possibilidade de castigo divino, verifique se não há uma causa concreta por trás do seu azar.
Um governo sem justiça é uma facção criminosa, que busca no poder a impunidade.
Existe uma coisa chamada foro privilegiado, o qual não sou contra. Eu entendo que o foro privilegiado provê estabilidade ao governo. O problema é que um benefício como esse é também uma tentação. Quando você é político e comete um crime, você requererá seu foro privilegiado, mesmo que você tenha feito campanha contra o foro. É quando a gente sabe quem é quem na política: quando um cruzado que jura combater a impunidade procura meios de barrar investigações contra si mesmo. Isso não é injusto? Sim, mas qualquer governante injusto usará sua posição pra não responder por seus atos.
A quem tem virtude e felicidade, nada mais falta. Nenhum sábio quer mais dinheiro do que o necessário pra viver feliz.
Pra Aristóteles, a felicidade é o bem supremo. Todo o mundo quer ser feliz. Como cada um está sujeito a desejos, sofrimentos e amores diferentes, cada um busca a felicidade de um jeito: alguns pelo dinheiro, outros o fazem pela honra e ainda outros buscam o poder. Mas todas essas coisas são meios e não fins em si mesmos. O fim é a felicidade. Tanto que, se fosse possível ser feliz sem o dinheiro, ninguém iria querer dinheiro e talvez poucas pessoas trabalhassem. Trabalhamos pra ter dinheiro e queremos dinheiro pra suprir nossas necessidades. Mas por que suprir nossas necessidades? Porque necessitar nos torna infelizes. Saciamos nossas necessidades pra nos sentirmos bem, pra nos sentirmos felizes. A felicidade é um fim em si mesma. Ninguém pode fazer a pergunta “pra quê ser feliz?” e ser julgado normal. Por outro lado, buscar a felicidade por meios injustos cria uma felicidade frágil, porque você cria inimigos. Mas a felicidade acompanhada da virtude é estável. Então, se você é bom e é feliz, o que mais você poderia querer? Se você precisa de dinheiro, basta o necessário à própria felicidade.
Um governo que acredita na existência de “boas mentiras” se torna particularmente perigoso ao se aliar à religião local.
Deve haver separação entre igreja e governo, pra que o governo não corrompa a igreja, a qual tem um alcance maior em termos ideológicos. Quando não há essa separação, o governo pode ordenar que a igreja multiplique “boas mentiras“, a saber, aquelas que ajudam o governo a manter o povo feliz, mesmo que o povo tenha que acreditar em algo que não é verdade. O que começa com mentiras aparentemente inofensivas pode virar hábito e logo o governo usará a igreja como dispositivo ideológico. E o fiel, que vai lá querendo se salvar, pode acabar sendo instruído a fazer justamente aquilo que pode perdê-lo.
Uma nação que não adora a Deus pode se expandir e crescer, com a permissão de Deus, se ela ainda assim for uma nação boa.
Por um bom tempo, a filosofia teve um preconceito enorme contra o extremo oriente porque se acreditava que a China era um império ateu. Mas o que ninguém queria enfrentar era a questão: como a China é tão rica sem ser cristã? Voltaire encarou essa questão, mas admito que não lembro como ele respondeu. Em todo caso, uma nação não precisa ser cristã pra prosperar. Pra Agostinho, isso acontece porque Deus é justo: se uma nação faz por onde merecer a riqueza, a honra, o poder, ela terá essas coisas, mesmo que não seja a ele fiel. Cada boa ação merece recompensa. Isso nos põe a pensar: você vai pra igreja todos os dias pra quê? A menos que seja visando a vida eterna, não tem razão pra ir. Bens materiais e crescimento material podem ser obtidos por meios materiais. Não que Deus não possa concedê-los a quem ele quiser, mas você não manda em Deus soberano.
As pessoas prestam atenção ao que lhes agrada e não necessariamente à verdade, o que torna a religião vulgar mais popular que a ciência.
Discutindo os três tipos de teologia enumerados por Varrão (a poética, a natural e a civil), Agostinho se põe a pensar por que a teologia poética é mais popular que a natural. É que a teologia poética se funda nos poetas trágicos, que escreveram todas aquelas histórias que hoje chamamos coletivamente de “mitologia grega” ou romana. Essas histórias são interessantes e proporcionam a identificação do homem com as divindades nelas representadas. A natural, por outro lado, é filosófica. A maioria das pessoas entende melhor um poema trágico ou cômico do que um raciocínio filosófico chato, que fala pro intelecto, mas não pras emoções. Ao mostrar divindades se engajando em comportamentos humanos, a poesia trágica justifica o comportamento humano e isso é agradável. “Até os deuses adulteram!”, pensa o ouvinte. Cada um gosta de ouvir aquilo que lhe valida, por isso a teologia poética é mais atraente que a teologia natural. Nietzsche também reconhece isso, embora faça disso uma conclusão oposta a de Agostinho. Pra Nietzsche, o fato de existirem verdades ruins ou inúteis deveria nos levar a questionar se vale a pena buscar a verdade a qualquer custo. Pra Agostinho, isso apenas quer dizer que a verdade encontra barreiras ao tentar se impor, não que Agostinho considere “verdadeira” qualquer das três teologias apresentadas por Varrão.
Eu odeio usar máscara ao sair. Detesto ir ao mercado, voltar carregando trinta quilogramas de compras com aquele negócio na minha cara me impedindo de respirar direito. Mas eu preciso usá-la porque quero viver. Não me admira, então, que um pastor que diz que Deus protegerá seus fiéis do coronavírus leve tantos a queimar suas máscaras. Porque é o que os fiéis querem ouvir, é o que os valida. O problema é que isso é colocar Deus à prova, o que é pecado. É o mesmo princípio da teologia poética criticada por Agostinho nos pagãos.
Existem funções mais necessárias que as funções políticas, mas que não recebem a mesma glória. Não se humilhe diante de pessoas que você não imitaria.
Refletindo sobre o que Varrão chama de divindades escolhidas (vinte divindades presidentes sobre o panteão romano), Agostinho se pergunta por que Saturno, patrono das sementes e do tempo, poderia presidir sobre uma miríade de outros deuses menores que estão ocupados com tarefas mais importantes que as dele e que talvez até tivessem mais poder que ele, como Fortuna (divindade patrona do acaso) ou Vitória (do sucesso). Embora os chamados escolhidos sejam os líderes do panteão romano, é certo que eles presidem sobre outras divindades com ofícios mais importantes, como se fossem senadores, ofícios os quais eles não conhecem. Lendo isso, eu lembro do Ministério da Saúde, ocupado hoje por um militar, em vez de um médico. Por quê? Ele não conhece medicina, como preside sobre os médicos brasileiros? Além disso, a função de médico é mais prestigiada no Brasil do que as Forças Armadas e o próprio governo. Não faria sentido ter um médico ocupando esse cargo, em vez de um cara que não parece treinado pra isso? O Brasil precisa dos médicos mais do que precisa dos militares. Um militar presidindo a saúde é tão estranho quanto Júpiter se impondo à Fortuna. E é por isso que os médicos fazem bem quando ignoram recomendações, ou mesmo ordens, vindas de pessoas que falam do que não entendem ou que recomendam procedimentos que nenhum médico de bom senso adotaria.
A matéria não basta pra explicar a realidade das coisas vivas.
Em que momento e por qual razão a matéria tornou-se viva? De onde vem a vida que há nos seres vivos? Me custa crer que a matéria sozinha produza vida. De onde vem aquilo que mantém meu corpo vivo e consciente? Do meu próprio corpo? Então o que acontece com esse princípio na ocasião da morte? Ele não é um princípio renovável? Por que eu e não outros? Por que outros tipos de matéria não são vivos? Quanto mais eu penso nisso, mais eu creio que a matéria é animada graças a Deus.
Um bom corpo não necessariamente acompanha uma boa alma.
Seguindo o raciocínio de que os bens materiais, por serem de menor qualidade, são dispensados aos justos e aos injustos, segue-se que uma pessoa de boa saúde pode ser uma pessoa ruim e que uma pessoa boa pode ter má saúde. Novamente, isso acontece porque bens materiais podem ser obtidos, mantidos ou perdidos por causas materiais. Deus poderia te conceder saúde, é verdade, mas só enquanto isso estiver em harmonia com seus divinos e secretos planos. Além disso, ele não teria nos dado intelecto se não fosse pra usarmos. Nada de errado em procurar as duas coisas, a saúde e a bondade, mas seria melhor procurar a saúde por vias materiais enquanto você tiver meios materiais de fazer isso.
Um cristão não deveria adorar os mortos ou lhes oferecer sacrifícios.
Pra terminar, uma curiosidade: Agostinho afirma que não se deve oferecer sacrifícios aos mortos em troca de favores, como se os mortos pudessem intermediar entre homem e Deus. Se ele estivesse vivo hoje, ficaria horrorizado, pois há fiéis católicos fazendo quase isso em relação aos santos, dentre os quais Santo Agostinho! Coisas como colocar um santinho de cabeça pra baixo na água, como se o santo fosse a estátua e pudesse se afogar, são tão ridículas quanto levar comida aos sepulcros, como se o morto pudesse comê-las ou mesmo só cheirá-las. Essas coisas são superstições e Agostinho não as aprovaria se estivesse vivo hoje.
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