Vergonha – Wikipédia, a enciclopédia livre.
Acordei doente. A fumaça da capital, combinada com o tempo frio e seco, acabaram com minha garganta. Tive febre e meu nariz escorre até agora. Ao menos fiz meu cadastro biométrico eleitoral.
Mas, como se não bastasse estar doente, eu tinha uma apresentação para fazer hoje. Então, apesar de estar febril e com dor de cabeça, fui. A apresentação do grupo anterior foi irritante: eles tentaram fazer uma peça, na qual eles sentavam ao redor de umas mesas e fingiam estar num bar falando sobre coisas filosóficas enquanto tomavam vinho. Mas, como eu detesto gente alegre, logo me senti incomodado com o grau de descontração deles, porque eles eram muito barulhentos e a sala era fechada, favorecendo o eco. Pessoalmente, eu não entendi o tema tratado por eles (o conceito de experiência como descrito pelo senhor Bondía). O pior é que eu fui o único a não gostar. Claro que uma “aula” daquela forma casa bem com a atitude dos outros alunos, que são baderneiros e “contemporâneos”.
Então, eu tive de apresentar o mesmo tema. Certo… Comecei minha apresentação criticando a equipe anterior e propondo esclarecer o que eles não conseguiram, dizendo que eu não tinha entendido nada. Uma das moças que apresentou na equipe anterior disse:
Parabéns.
Como se eu tivesse conseguido algo muito difícil. E, de fato, eu fui o único a dizer que não entendi a apresentação deles. Aquilo foi um insulto, mas resolvi esquecer.
A princípio, faríamos também uma peça, mas, como dois membros da equipe não chegaram a tempo e um faltou, a peça não daria certo. Então, tivemos de fazer as coisas à moda dos romanos. Enquanto eu fazia minha exposição sobre o texto, eu me certificava de estar deixando tudo bem claro, ao mesmo tempo que eu deixava tempo para os outros dois integrantes que chegaram na hora falarem. Ou seja, foi uma aula tradicional. Óbvio que ninguém gostou, apesar de que, julgando pelas cabeças que moviam positivamente conforme eu falava, todos estavam entendendo.
No meio da minha exposição, os dois atrasados chegaram. Logo os encaixei na rotina e eles começaram a falar. Daí, o altão cento e sessenta e seis assumiu. Embora ele estivesse na mesma equipe que eu, ele desceu o cacete na minha apresentação, fazendo a dele no processo. Eu só achei que o método tradicional deixaria as coisas claras… mas ele rapidamente juntou argumentos que mostram como ele é pobre, blá, blá, e emendou com um discurso comunista que muito agrada todos os hipócritas que tenho como colegas, pois eles se dizem comunistas e ainda assim aderem cem por cento ao capitalismo.
Aos poucos, conforme os outros falavam, eu vi que minha apresentação estava servindo de bode expiatório. Como eu estava doente e já tinha mesmo planos de sair cedo, resolvi sair dali, justificando que eu não me sentia bem. À porta, o professor disse:
Coitado.
Odeio este mundo.
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