Pedra, Papel e Tesoura

9 de fevereiro de 2018

O “Críton”, de Platão.

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Este livro foi escrito por Platão. Abaixo, algumas paráfrases desse texto. Elas não necessariamente reflectem minha opinião sobre um dado assunto.

  1. Uma pessoa pode dizer que você realmente é feliz ao ver você tranquilo mesmo quando uma desgraça acontece.
  2. Se a morte é inevitável, só se pode aceitá-la.
  3. As pessoas odeiam quem faz mais caso do dinheiro do que dos amigos.
  4. Apesar disso, você não precisa sempre se importar com o que pensam de você.
  5. Espalhar mentiras sobre alguém pode causar a morte indireta do caluniado.
  6. Se o povo fosse capaz de grandes males, deveria ser também capaz de grandes boas ações.
  7. Maior parte das pessoas não tem senso crítico, parecendo até operar ao acaso.
  8. Um juiz pode ser barato.
  9. Se você não for capaz de sofrer com seus filhos, não tenha filhos.
  10. Se alguém tem uma opinião de você, só aceite essa opinião se você achar que deve.
  11. Sócrates aceitou sua pena porque estava sendo fiel aos seus princípios, foi uma questão de integridade.
  12. Não aceite a opinião de quem sabe menos que você.
  13. Se você aceitar essa opinião, a de quem sabe menos, você pode se arruinar ou morrer.
  14. Não basta viver; se deve viver bem.
  15. Se você não faz nada sem antes se perguntar o que os outros achariam, me pergunto o que você faz.
  16. Se o procedimento injusto é sempre inadmissível, não se deve pagar mal com mal.
  17. Você deve respeito ao dono da nação na qual você nasceu.
  18. Embora você esteja submisso às leis, ainda pode tentar mudá-las por meios lícitos.
  19. Se você não gosta das leis de um lugar, vá para outro.
  20. Se você gosta da sua nação, quererá ajudá-la a melhorar.

27 de dezembro de 2017

Anotações sobre “Assim Falou Zaratustra”.

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“Assim Falou Zaratustra” foi escrito por Friedrich Nietzsche. Abaixo, algumas afirmações feitas nesse texto. Elas podem ou não coincidir com o que eu penso sobre este assunto. Perguntas sobre minha opinião podem ser feitas nos comentários.

  1. O amor pela humanidade pode isolar você dela, por amá-la demais.
  2. Você pode acabar ajudando outros a dificultar sua vida.
  3. O solitário é visto com suspeita.
  4. Uma pessoa pode se isolar por fanatismo religioso.
  5. É possível que uma pessoa só tenha uma religião por estar desapontada com o gênero humano.
  6. O homem moderno não é o último passo na evolução.
  7. Outras pessoas não estão interessadas em melhorarem a si mesmos.
  8. Se você evoluir, talvez você olhe pra trás e veja que estava agindo tolamente.
  9. Em muitos sentidos, somos piores que macacos.
  10. Não esqueça deste mundo.
  11. A crença de que a alma é empoderada pela submissão do corpo está errada.
  12. Desdenhar do corpo em vez de usá-lo para o próprio bem e o dos outros é sinal de alma fraca.
  13. Pode ser que você se canse da sua felicidade, da sua razão e da sua moral.
  14. Pode a felicidade realmente justificar nossa existência?
  15. A razão não pode conhecer tudo.
  16. O homem é uma corda estendida sobre um abismo, entre o animal e seu próximo estágio evolutivo.
  17. O ser humano precisa ser superado; ele não é ponto de chegada.
  18. Se você não conseguir fazer essa mudança acontecer de uma vez, não deixe de ajuda assim mesmo.
  19. Aja sem esperar agradecimento.
  20. Se você fala de um futuro distante, você não será compreendido por pessoas do aqui e do agora.
  21. A estrela brilhante vem do caos interior.
  22. Trabalho também é distração.
  23. Pensar diferente da massa é se arriscar a ser chamado de lunático.
  24. A alma morre antes do corpo.
  25. Você talvez sinta que não vale a pena viver se não puder viver eternamente, mas concentre-se em viver a vida passageira plenamente.
  26. A vida humana é vazia de sentido, exceto a evolução ao estágio seguinte.
  27. Quando você defender uma ideia controversa e zombarem de você, fique feliz por não te lincharem.
  28. Mas se rirem, continue, se você vê valor nisso.
  29. É melhor falar com seus amigos em vez de falar com a multidão.
  30. Faça seus amigos pensarem diferente e os amigos dos seus amigos acabarão pensando diferente também.
  31. Que o solitário encontre outros solitários.
  32. Animais podem ser menos perigosos que pessoas.
  33. Um objetivo da vida virtuosa: o bom sono.
  34. Pessoas que se preocupam em excesso com suas horas de sono estão esquecendo de permanecer acordadas.
  35. Se você sofre, sente prazer ao esquecer o sofrimento.
  36. Acreditar em outros mundos é loucura; só existe um mundo e é este.
  37. O corpo e a terra merecem respeito.
  38. Viva no mundo real.
  39. “Curem-se, dominem-se, criem um corpo superior!”
  40. O ateu deve ter misericórdia do religioso.
  41. Não inflinja males a si mesmo; cure seu corpo.
  42. Desprezar o corpo é sinal de tendência suicida.
  43. Pode ser também sinal de inveja contra aqueles que têm melhor condição física.
  44. A evolução do ser humano perpassa a evolução do corpo humano.
  45. Virtudes nascem da paixão.
  46. A salvação do sofredor crônico é uma morte rápida.
  47. Todo o mundo tem desejos ilegais ou nojentos.
  48. Os melhores textos foram escritos com o sangue de seus autores.
  49. Só um lutador pode amar a sabedoria.
  50. Há um pouco de loucura no amor e um pouco de razão na loucura.
  51. Somos afetados por forças que não vemos.
  52. Quando você chega ao topo, provavelmente se vê sozinho lá.
  53. Fora que você pode ser atingido por um raio lá encima.
  54. Esse raio frequentemente é alguém melhor que você.
  55. A pessoa que prega que devemos nos desfazer de nossos corpos e que a verdadeira vida começa na morte, provavelmente vê a vida como puro sofrimento.
  56. É estranho que uma pessoa como essa não conclua que seria legal se suicidar ou matar os outros como ato de “misericórdia” ou “amor”.
  57. Esses indivíduos não apenas pregam contra a própria vida, mas também contra a vida dos que virão.
  58. O trabalho nos faz esquecer de nós mesmos.
  59. Não tem sentido em ter paz depois de uma derrota; a paz deve vir pela vitória.
  60. As mulheres jovens querem homens bonitos e meigos, mas nem sempre convém ao homem ser bonito ou meigo.
  61. Seja o melhor possível, mesmo que isso lhe custe a aprovação das mulheres.
  62. Todos os bons guerreiros estão prontos pra morrer.
  63. O estado pode mentir.
  64. O estado não é o povo.
  65. O estado pode ferir leis e costumes.
  66. Um ateu pode obedecer religiosamente ao estado.
  67. O estado pode se por como um ídolo e exigir adoração.
  68. O estado é mantido por pessoas que não fazem diferença na história.
  69. O estado pode matar seu povo de caso pensado.
  70. O estado pode roubar seus bens.
  71. Quanto menos se possui, menos se é possuído.
  72. Humanos precisam evoluir de forma a não precisar de governo.
  73. A pessoa que não sabe debater usará a violência e não aceitará imparcialidade.
  74. Os grandes produtos do espírito humano não são devidamente percebidos pelas pessoas comuns.
  75. Covardes são astutos.
  76. Se algo estimula demais o pensamento, é visto com suspeita.
  77. Uma pessoa pode perdoar seus erros e não perdoar suas qualidades.
  78. Te tratam como vítima pra que você veja suas qualidades como defeitos e seus defeitos como qualidades.
  79. Quando você é bom, acaba cercado de invejosos.
  80. Vá aonde os fracos não vão.
  81. Castidade pode se tornar vício.
  82. Ser casto é uma questão de aptidão, não pode ser imposto aos outros.
  83. O amigo impede o monólogo interminável do solitário.
  84. Formamos amizade com semelhantes, com que temos relação de igualdade.
  85. As variações entre nossos conceitos de bem e mal são um recurso de sobrevivência.
  86. O que é aceitável em outros lugares pode ser tido como repugante aqui.
  87. Uma comunidade já é decadente quando um de seus membros se torna egoísta.
  88. O amor e o ódio estão por trás de todas as virtudes.
  89. Pode ser que você se sinta bem depois de chamar uma pessoa só pra falar bem de você.
  90. Sua autoestima aumenta quando você faz com que outros pensem bem de você.
  91. A solidão é insuportável àqueles que pensam mal de si mesmos.
  92. Um grupo grande pode se sentir tentado a matar pessoas de outros grupos.
  93. Deixe o futuro ser a causa do presente.
  94. Não importe de que se é livre, mas pra quê.
  95. Quanto mais você se dá bem, mais eles te odeiam.
  96. Se o homem é uma criança, então muitas crianças fazem a mulher de brinquedo.
  97. Melhor que humilhar seu inimigo é fazê-lo ver que o ódio dele te fortalece.
  98. Condenar é melhor do que fazer o outro reconhecer o erro quando ele não quer reconhecê-lo.
  99. Antes de ter filhos, se pergunte se pode criá-los.
  100. Se você não pode ser bom pai, você não tem direito de ter filhos.
  101. Um pai fez um bom trabalho quando seu filho o supera.
  102. Casamento deveria ser um acordo feito entre os pais pra criar um filho que superasse os pais, mas o casamento raramente é visto dessa forma.
  103. Alguns casamentos são tão hediondos que alguém pode se perguntar se Deus realmente abençoa o casamento.
  104. Um mau casamento prejudica o filho.
  105. Você nunca sabe com quem está se casando.
  106. Um monte de sentimentos são confudidos com amor.
  107. Depois de casadas, algumas pessoas descobrem que não se amavam.
  108. Às vezes o coração envelhece mais rápido que o cérebro, mas outras vezes é o contrário.
  109. O ouro é tão valioso quanto inútil, como algumas virtudes.
  110. O bem da espécie vem antes do bem do indivíduo.
  111. É difícil a quem ama fechar a mão ao amado quando é preciso fazê-lo.
  112. Quando você recebe uma boa ação de alguém e depois descobre que a boa ação era socialmente inaceitável, você pode passar a sentir vergonha do presente que recebeu, mesmo que dele tenha usufruído.
  113. Nada é imutável.
  114. Não é justo se divertir pouco.
  115. Uma pessoa pode ficar magoada por receber ajuda.
  116. Não poder calar a boca torna difícil a convivência.
  117. Se você não domar seu coração, perderá a cabeça.
  118. Alguém que causa sofrimento pode estar procurando compensação para o próprio sofrimento.
  119. Não queira ser virtuoso esperando pagamento por isso.
  120. Uma pessoa “virtuosa” pode estar agindo por interesse.
  121. A mãe não busca pagamento por amar o filho.
  122. A virtude deve estar em você, não na sua imagem.
  123. Agir virtuosamente pode também ser uma forma dissimulada de obter aprovação pisando nos outros (Lucas 18:9-14).
  124. Agir virtuosamente permite esconder intenções reprováveis que prejudicam sua aceitação por um grupo.
  125. Para alguns, virtude é julgar os outros.
  126. Não há consenso sobre o que “virtude” é.
  127. Não existe boa ação sem algum interesse, se bem que pode ser um bom interesse.
  128. É possível torcer o significado de uma palavra através de constante uso indevido.
  129. Não somos iguais, mas devemos ser tratados com justiça.
  130. Existem intelectuais que só estão lá pra dizer “amém” à ordem social, mesmo quando sabem que a ordem está errada.
  131. Os intelectuais mais honrados em seu tempo são aqueles que validam os preconceitos de um contexto histórico-geográfico, como Kant.
  132. Uma pessoa que pensa diferente irrita a multidão.
  133. A multidão amaldiçoa os homens que acabam sendo os únicos responsáveis por seu avanço, como Galileu foi amaldiçoado por mostrar que todos estavam errados, fora ele.
  134. O povo pensa que sua voz é a de Deus (basta lembrar que o povo queria que Jesus morresse).
  135. A política pode comprar a ciência a fim de validar a moral do governo.
  136. Se a ciência quer progredir, precisa ser amoral, não pode ter medo de rejeição.
  137. Se você tiver que se submeter a alguém, se submeta àquele a quem você seria mais útil.
  138. Filosofia não é poesia, muito menos poesia de má qualidade.
  139. Há crimes mais graves que o assassinato.
  140. Todos os dias são sagrados, não espere “o momento certo” pra fazer qualquer coisa.
  141. Você não poder “querer existir”.
  142. É possível amar algo mais do que a própria vida.
  143. Nossos conceitos de bem e mal não são absolutos.
  144. A vida é guerra de preferências.
  145. Beleza é poder em forma visível.
  146. Você é capaz de todo o tipo de maldade, mas você é exigido a praticar o bem.
  147. É possível rir de medo.
  148. Não repita com seus filhos os erros que seus pais cometeram com você.
  149. Uma pessoa pode estar convicta de que deve ignorar prazeres terrenos, mas suas vísceras nunca serão convencidas disso.
  150. O asceta com pouca força de vontade ficará envergonhado mais vezes.
  151. Desejar algo, mas dizer que a coisa virtuosa a ser feita é não saciar o desejo, pode ser entendido como hipocrisia: você diz que é “virtuoso” só porque sabe que não pode fazer o que deseja, então glorifica sua incapacidade como sendo “a coisa certa” (uvas azedas, implicando que eles não transformariam sua incapacidade em virtude se pudessem ter o que desejam).
  152. Você tem que dizer a verdade aos hipócritas.
  153. Se adultos não te acham sábio, tente a sorte com crianças.
  154. Uma pessoa que fala compliado não necessariamente é um pensador profundo.
  155. Os grandes acontecimentos começam em silêncio.
  156. Igreja é um tipo de estado.
  157. O estado é hipócrita.
  158. O estado se julga a coisa mais importante do mundo.
  159. Quando você diz algo e a pessoa reage violentamente, pode ser porque ela sabe que você tem razão.
  160. Uma pessoa pode estar tão cansada e desmotivada que não tem forças sequer pra sair da cama, pegar uma faca e se matar.
  161. Um vício pode não se desenvolver numa pessoa a menos que ela antes aprenda a correr.
  162. Punição é vingança, frequentemente chamada “justiça”.
  163. Uma pessoa pode falar consigo de um jeito e de outro jeito com os outros.
  164. Não é a altura que assusta, é a possibilidade de queda.
  165. Permanecer puro na multidão é como sair limpo da água suja.
  166. Você não pode dar um veredito absoluto sobre alguém quando você não é capaz de dar um veredito absoluto sobre si próprio.
  167. Ordenar outros a um objetivo pode ser mais difícil do que alcançá-lo sozinho.
  168. Os melhores líderes tem o pudor de uma criança.
  169. Uma pessoa pode ter ideias maduras, mas isso não significa que ela tem maturidade para empregar essas ideias.
  170. Adivinhar (instinto) não é concluir (lógica).
  171. Por vezes você escuta a doutrina do Diabo na boca de um pastor.
  172. O benefício da solidão só pode ser sentido quando você para de chorar a perda dos amigos.
  173. Não corra atrás das mulheres e a felicidade correrá atrás de você.
  174. Nossos conceitos de bem e mal são núvens passageiras.
  175. As pessoas não perdoam quem não sente inveja dos que vivem o modo de vida padrão.
  176. Alguém pode falar de você sem pensar em você.
  177. Se uma pessoa não tem tempo pra você, não perca seu tempo com ela.
  178. Todo o elogio é uma cobrança por mais.
  179. Os que andam devagar podem se tornar um problema aos que querem ir rápido.
  180. Humildade motivada por medo de ser atacado é covardia.
  181. Homens se domesticam entre si, como humanos domesticam cães.
  182. A mediocridade é, por vezes, erroneamente chamada de “moderação”.
  183. Para amar o outro, é preciso ser capaz de amar a si mesmo.
  184. Melhor sofrer do que idolatrar.
  185. Alguns mentem por amor.
  186. O desprezo de alguém pode ser desprezível.
  187. Mude para um lugar onde seu amor seja aceitável.
  188. Há quem reze para se eximir da responsabilidade de agir.
  189. Existem comunidades secretas em todos os lugares, mesmo que não sejam sociedades humanas.
  190. Não dá pra fingir que algo inútil é “profundo”.
  191. Tem diferença entre solidão e abandono.
  192. A voluptuosidade e o desejo de domínio não necessariamente são ruins.
  193. A voluptiosidade só é um mal para ascetas, celibatários e outras pessoas que fogem do prazer.
  194. Para todos os outros, a voluptuosidade é como o vinho: gostasa, saudável, pode ser tomada com parcimônia.
  195. O desejo de dominar está ligado à insatisfação com o aqui e o agora, à rejeição de respostas apressadas.
  196. Não se curve, como um escravo, às opiniões dos outros.
  197. Não tenha vergonha de si mesmo.
  198. A sociedade não quer que as crianças se amem pelo que são.
  199. A vida é difícil porque o ser humano evoluiu nessa direção; estamos pagando o preço de escolhas que nossos ancestrais fizeram (o que não nos escusa da responsabilidade de deixá-lo melhor).
  200. Não aceite tudo, não rejeite tudo.
  201. Os que amam sem dar amor de volta são parasitas em forma humana.
  202. Não é sábio aceitar como presente algo que você pode conseguir sozinho.
  203. Quem não é capaz de mandar a si mesmo deve obedecer.
  204. E há aqueles que sabem mandar, mas não obedecer.
  205. Se você não diz a verdade, não é bom.
  206. A verdade dói.
  207. Bem e mal não são conceitos sólidos para humanos.
  208. A humanidade não trabalha bem com meio-termos; historicamente, ela pende de um extremo a outro.
  209. Se algo deve ser comprado, tem pouco valor.
  210. Não importa de onde você veio, mas pra onde você olha.
  211. Os melhores não são insuperáveis.
  212. Se você está insatisfeito com o mundo, não está escusado de mudá-lo.
  213. Você vive neste mundo.
  214. Novos valores podem estar tão errados quanto os anteriores.
  215. Como pode alguém dizer “estou cansado deste mundo” e ter medo da morte?
  216. Estar “cansado deste mundo” é um estilo de vida na moda.
  217. Não tenha inimigos que não são dignos de ódio.
  218. Hoje em dia, xeretar a vida dos outros faz parte do trabalho do vizinho.
  219. Casamento não deve ser uma decisão tomada às pressas.
  220. Se você não gosta mais da sua mulher, se divorcie, em vez de traí-la em segredo.
  221. Casamento pode ser um inferno.
  222. Admita quando o casamento não dá certo.
  223. Casamento é uma decisão que precisa ser planejada e pensada antes de ser tomada.
  224. Se não puder ter filhos que te superem, é melhor não tê-los.
  225. O ser humano é o animal mais cruel que existe.
  226. Uma pessoa pode ser cruel com outros humanos, mas também consigo própria, como se sentisse prazer em sofrimento autoimposto, vendo uma fonte de orgulho no próprio sofrimento.
  227. A alma não é imortal.
  228. Se eu tiver que viver sozinho com outra pessoa, tenho que aprender a amá-la.
  229. Se uma pessoa te ama por tua sabedoria, ela deixará de te amar se tu ficares burro.
  230. Fazer uma loucura pode ser melhor do que fazer nada.
  231. Coisas aleatórias acontecem.
  232. Se você não vive em sociedade, obviamente não aprenderá normas sociais, das quais muitos querem se livrar.
  233. Nobreza é uma variante dourada dos mesmos arquétipos já existentes na plebe.
  234. A saúde do trabalhador pode ser melhor que a do nobre sedentário.
  235. A classe trabalhadora, se é realmente a melhor, deveria ser soberana.
  236. Classe trabalhadora (camponês) não é o mesmo que classe média.
  237. Um rei pode ainda ser bem visto por causa de sua família.
  238. É uma calamidade quando os homens mais sábios não são os governantes.
  239. Existem pessoas que precisam mentir para continuar vivendo.
  240. Privar um religioso de sua divindade não o liberta.
  241. Os fracos não deveriam ser os únicos a ditar o certo e o errado.
  242. A riqueza não é indicativo de maldade; um rico e um pobre podem ser igualmente perversos.
  243. É possível estar mais seguro na cadeia.
  244. Uma pessoa pode ser tida por sábia sem ser inteligente.
  245. É perigoso ao solitário ir à praça pública sem se preparar antes.
  246. Não adianta falar pra todos se ninguém quer escutar.
  247. O homem normal não acredita que o ser humano possa evoluir.
  248. “Somos todos iguais” se tornou desculpa para o conformismo.
  249. Não se deve pensar meramente na sobrevivência do homem, mas também em como nos tornarmos algo melhor do que somos.
  250. Para alguns, o necessário não é o bastante.
  251. Ser humano não é o ápice; devemos ser mais que humanos.
  252. Existem causas mais valiosas do que a sobrevivência.
  253. É melhor viver do seu jeito do que do jeito que os outros querem que você viva.
  254. Se você tem coração, domine seu medo.
  255. Se você sofre por si mesmo, é um fraco, mas esse não é o caso quando você sofre pela humanidade.
  256. Subjugue o raio que poderia te matar.
  257. Discernimento não é uma virtude popular.
  258. A crença infundada não pode ser destruída pela razão, então apele à emoção.
  259. Pessoas comuns desconfiam da razão.
  260. Não mentir não é o mesmo que amar a verdade.
  261. A fonte da sua virtude é aquilo que você ama.
  262. Não tente ser virtuoso além das suas forças.
  263. Não tente algo que você sabe que dará errado.
  264. Se você não acha motivo de riso na vida, está procurando mal.
  265. Melhor enlouquecer de felicidade do que de tristeza.
  266. Algumas pessoas elogiam a castidade porque castidade lhes dá tesão.
  267. Temos medo de animais, inclusive daquele que vive em nós.
  268. Também é inocência não saber o que é inocência.
  269. A sabedoria pode levar alguém a assumir comportamento anormal.
  270. Aceitar o que a vida tem de bom implica aceitar também a dor que a mesma vida pode te infligir; você não pode escolher ficar só com a parte boa.

8 de novembro de 2017

A “Carta a Einstein, 1932” de Freud.

“Carta a Einstein, 1932” foi escrita por Freud. Abaixo, algumas afirmações feitas no texto. Elas podem ou não corresponder ao que eu penso sobre o assunto. Perguntas sobre minha opinião podem ser feitas nos comentários.

  1. Um problema de época: é possível um futuro sem guerra?
  2. O avanço tecnológico não é capaz de parar a guerra.
  3. Um físico não tem estudo o bastante sobre o sentimento humano, geralmente, então ele deve procurar um entendido no assunto antes de formar sua opinião.
  4. Einstein escreveu uma carta a Freud pra saber se ele teria uma resposta ao problema, já que Freud estava ganhando fama de especialista em instintos humanos.
  5. Uma resposta imparcial a um problema precisa depender o mínimo possível da política.
  6. Pelo menos para propósitos de paz mundial, deveria haver um legislativo e um judiciário internacionais, compostos pelos líderes de cada nação, mas Einstein admite que isso é superficial: não adianta uma regra perfeita que não será seguida.
  7. Um tribunal pode ter suas decisões anuladas por pressões não relacionadas ao direito.
  8. Um tribunal internacional teria que ser superior às nações que o constituem e, portanto, incontestável.
  9. Um dos obstáculos à ideia é o desejo de poder.
  10. O desejo de poder leva uma nação a se intrometer nos negócios da outra.
  11. Guerra é um negócio, existem empresas disso.
  12. Por que a população não resiste à decisão de entrar em guerra com outra?
  13. Soldados fazem profissão da guerra, mas também apenas acatam as ordens sem pensar se a guerra é necessária.
  14. As pessoas são levadas a crer que a guerra é necessária (mesmo quando não é) porque escolas, mídia e por vezes a igreja são controlados por uma minoria que lucra com a guerra.
  15. É assim que uma minoria manipula pensamentos e emoções.
  16. Como, ainda assim, uma pessoa chega a um grau de furor capaz de morrer por uma causa que não existe?
  17. Ódio e desejo de destruição são inatos ao ser humano, o qual sente prazer em odiar.
  18. Quando uma pessoa descobre como incitar o ódio de alguém, já obteve uma parcela de controle sobre esse alguém.
  19. Será que é possível evoluir de forma a superar permanentemente o ódio? Haverá um tempo em que o ser humano será incapaz de odiar sua própria espécie ou seus conterrâneos?
  20. Os intelectuais também podem ser manipulados pela mídia.
  21. Guerra não é a única forma de ódio. O ódio pode aparecer sob diferentes formas. Mas a guerra ainda é sua manifestação mais drástica e mais cruel.
  22. Einstein estava completamente convicto de que Freud podia responder suas perguntas.
  23. Um mesmo objeto pode ser analisado por mais de uma ciência.
  24. Um cientista pode não saber lidar com questões políticas.
  25. Direito e violência apenas parecem antagônicos; não é possível fazer uma lei valer sem armas.
  26. Humanos são animais.
  27. Quando as armas foram inventadas, a inteligência começou a tomar o lugar da força bruta na resolução de conflito.
  28. A forma mais segura de acabar com a violação do direito é matando os infratores, o que não significa que essa é a melhor forma de lidar com o crime.
  29. Matar um “inimigo” traz prazer ao assassino, por satisfazer seu impulso animal para a morte.
  30. Mas as pessoas por vezes pensam: “melhor torná-lo útil a nós do que matá-lo.”
  31. Pode ser que você poupe um inimigo ao torná-lo útil, mas talvez você sinta medo de uma possível vingança.
  32. Evolução modificou as formas de opressão, mas o mais forte ainda oprime o mais fraco até hoje.
  33. Mais vários fracos podem se juntar pra eliminar um forte.
  34. Quando vários fracos depõem um forte, estabelecem um novo direito em conjunto.
  35. Mas isso também é violência.
  36. Se a comunidade é quebrada, outro forte aparecerá para oprimir.
  37. A fonte de poder de uma comunidade são os sentimentos comuns em cada membro.
  38. Para que uma comunidade possa subsistir, cada indivíduo deve abrir mão de um pouco de sua liberdade pessoal.
  39. Uma comunidade perfeitamente equilibrada é uma ideia apenas.
  40. A comunidade, para ser perfeitamente equilibrada, precisaria eliminar a hierarquia em todas as suas formas.
  41. A menos que a hierarquia deixe de existir, os mais altos nessa hierarquia continuarão ditando leis para os que estão mais abaixo nela.
  42. Além disso, os mais altos na hierarquia podem querer se colocar acima das leis, de forma que as leis que valem para o povo não possam valer para os governantes.
  43. E também tem a justa violência da população que se sente oprimida e que tenta obter sua dignidade de volta.
  44. Nada disso impede a busca por soluções pacíficas.
  45. De um ponto de vista realista, algumas guerras tiveram boas consequências, mas algumas trouxeram só prejuízo à ambas as partes.
  46. A multitude de governos facilita a guerra, de forma que poucos governantes para grandes quantidades de território, obtidas pela anexação, diminuiria a chance de guerra.
  47. Ironicamente, isso quer dizer que paz pode ser trazida depois de uma guerra, na qual o vencedor conquista o território e o povo inimigos.
  48. Difícil é manter o território unido.
  49. Guerras são raras, mas destrutivas.
  50. Se houver uma autoridade central para arbitrar os conflitos entre as nações, pode ser que a guerra seja evitada.
  51. Uma organização do tipo “Nações Unidas” é inútil se ninguém a escutar.
  52. As duas forças que mantém a sociedade unida: violência (lei) e vínculos emocionais.
  53. No entanto, se não houver violência, uma comunidade pode permanecer unida pelos vínculos emocionais.
  54. Nações cristãs podem guerrear entre si, fazendo alianças com nações de outras religiões.
  55. O nacionalismo opera contra a paz entre as nações.
  56. Paz seria mais fácil de obter se o mundo fosse comunista.
  57. Mas estabelecer um comunismo mundial é um objetivo tão distante quanto difícil de alcançar.
  58. Pondo as coisas dessa forma, parece que paz mundial jamais será uma possibilidade.
  59. Só existem dois tipos de impulso: união e agressão.
  60. Nenhum dos dois é fundamentalmente ruim, ambos são necessários à sobrevivência.
  61. Um instinto, como sobrevivência, pode ter uma parcela de cada impulso.
  62. Uma pessoa pode declarar guerra por várias razões, as quais nem sempre são declaradas.
  63. É possível agir agressivamente por causas “nobres”, mas também é possível fingir que se está destruindo por uma boa causa.
  64. O impulso destrutivo é também suicida.
  65. Pelo menos em nossa sociedade, não é possível eliminar a agressividade humana.
  66. Trazer a paz pela violência já é manifestação de agressividade.
  67. Embora não seja possível eliminar a agressividade, é possível controlar suas formas de expressão.
  68. Evitar a guerra requer prática sistemática do amor e o estabelecimento de interesses comuns.
  69. Os governantes devem ser educados sem censura.
  70. Os instintos devem se submeter à razão, o que não implica eliminá-los, mas procurar formas aceitáveis de expressão.
  71. Mas esperar que todos submetam seus instintos à razão é esperar uma utopia; nem todos podem fazer isso.
  72. É mais fácil evitar a guerra pelo exercício do amor e do companheirismo, porque esperar que todos se tornem racionais é loucura.
  73. A guerra pode até se tornar comum, mas não se tornará aceitável.
  74. Isso porque a guerra mata, humilha, nos força a lutar uns contra os outros, destrói nossos bens e nos causa miséria.
  75. Conforme o poder destrutivo cresce, a guerra se torna uma ameaça a todos os seres vivos.
  76. Não vale a pena fazer guerra, mas muitos ainda a vêem como aceitável.
  77. Com o tanto que haja ao menos uma nação que pose um risco às outras, nenhuma nação parará de investir em forças armadas.
  78. Civilização trouxe tanto males quanto benefícios.
  79. Não é possível dizer aonde o processo de civilização nos levará.
  80. A civilização favorece a repressão sexual.
  81. O processo de evolução cultural (civilização) pode muito bem levar o ser humano à extinção.
  82. Sensações agradáveis aos nossos ancestrais são agora intoleráveis ao homem moderno.
  83. Direcionar agressividade para dentro tem consequências boas (você não está machucando ninguém) e ruins (você provavelmente ficará doente).
  84. Apesar de o processo de condicionamento cultural trazer consequências negativas, ao menos ele serve para nos afastar do desejo por guerra.

25 de outubro de 2017

Anotações sobre “Além do bem e do mal ou prelúdio de uma filosofia do futuro”.

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Além do bem e do mal ou prelúdio de uma filosofia do futuro” foi escrito por Nietzsche. Abaixo, o que aprendi lendo esse livro.

O bem e o mal.

Nem tudo é “bom” ou “ruim”: há áreas cinzentas entre os valores. Antinomia de valores pode muito bem ser só um ponto de vista. Pensadores tradicionais pensam no “sim” e no “não”, esquecendo do “talvez”. Pode até ser que duas coisas aparentemente contrárias sejam duas manifestações da mesma coisa. O fato é que é infantil olhar as coisas usando critérios morais absolutos, porque “moral” é a interpretação subjetiva de um mundo objetivamente amoral. Toda moral é, portanto, uma escolha e não tem existência fora na pessoa, na natureza. Morais universalmente aceitas não existem na Terra. Isso é válido também para além da moral: há graus entre verdadeiro e falso. Uma afirmação pode ser “mais verdadeira” que outra, sem ser totalmente verdadeira, seja porque há mescla de falsidade, seja porque é uma verdade incompleta.

Fazer ciência da moral não é possível, porque moral muda conforme tempo e espaço. Cada tempo pensa que sua moral é melhor do que as anteriores. O modo atual de pensar é melhor que o anterior ou somos levados a pensar assim? Veja o caso dos moralistas: eles odeiam povos indígenas, porque estes mostram uma sociedade que funciona com princípios morais diferentes, considerados “menos refinados”. Seu ódio reflete apenas seu orgulho ferido. A mudança da moral segundo tempo, lugar e pessoa é fatual. Segue-se que não há fundamento seguro para a construção de uma ciência chamada “ética”.

Hipocrisia e moralismo.

O ser humano tem as coisas mais fúteis como as mais importantes. Por causa disso, várias coisas fúteis são tidas como “boas”, mesmo que num nível individual. Um exemplo é o desprezo: quem se despreza ainda se orgulha do desprezo que tem de si mesmo. Quando esse desprezo toma forma de autonegação (o desprezo por si próprio), ele pode adquirir contornos hipócritas. Por exemplo: a pessoa que se esforça pra não sentir emoções. Ora, o desejo de superar uma emoção já é causado por outras emoções.

Um outro exemplo de “futilidade importante” é a ignorância. Para alguns, a ignorância é uma condição de manutenção da vida. É pela ignorância que a sociedade encontra estabilidade e não muda. A ignorância conserva, mesmo que conserve em um estado negativo. É perfeita para aqueles que temem mudar seus hábitos, mesmo que para melhor. Outro exemplo é o desinteresse. Por que uma ação tem que ser desinteressada pra ser boa? Eu não posso agir corretamente motivado por interesse próprio? Nem todas as ações feitas com interesse são erradas. O amor não é desinteressado, mas nem por isso inválido.

Outro exemplo é a mentira. Para algumas pessoas, a mentira é melhor do que a incerteza. Uma informação que te deixa feliz ou que te torna virtuoso pode ainda assim ser falsa. Da mesma forma, uma verdade pode ser desagradável. Então, podemos amar a mentira porque a mentira nos deixa alegres. O peso da realidade faz o sonho nos dominar. A mentira é, portanto, importante para aqueles que constroem suas vidas sobre a mentira. É o caso daqueles que querem dar uma forma de verdade incontestável à sua moral pessoal. Muitos julgamentos morais são arbitrários, mas argumentados de forma a parecerem científicos. É possível justificar um vício transformando-o numa virtude ou incluindo-o numa virtude. Assim, temos a sensação de que certas atitudes são sempre erradas ou “más”, mesmo que tal leitura da realidade não subsista ao escrutínio e tudo seja manipulação da linguagem. Apesar de tudo isso, a verdade se impõe. Felicidade pessoal não é argumento que sustente uma moral que se pretenda universal.

Tais futilidades podem ser usadas contra você. Tome como exemplo a obediência e a abstinência. Todo o mundo quer que você obedeça, mas os mais ricos são os que mais mandam e os que menos obedeceram. A abstinência nos leva a desejar e esse desejo pode ser usado a favor de alguém. Suponhamos, por exemplo, que a mulher de quem você gosta exige que você mude por ela ou ela deixará você. Mudar por amor é provar que a pessoa por quem você muda não te ama pelo que você é, mas pelo que ela pode te tornar. Ela usa a abstinência como arma para explorar você. Então, um lugar em que a “moral vigente” valoriza a obediência e a abstinência pode ser um ambiente que facilite o controle e a exploração de uns pelos outros.

Aceitando a moral como escolha pessoal.

De tanto você se esforçar em ver as coisas de forma distorcida, você não pode mais ver as coisas como são. A realidade moral, dos nossos conceitos de bem e de mal, passa a ser tida como absoluta quando, na realidade, ela varia de cultura pra cultura e até de pessoa pra pessoa. Uma moral pode ser imoral pra outra moral. Há mais morais do que é possível contar nos dedos de duas mãos. Como então superar isso? Se algo tem que morrer, ignore-o: abdique da ideia de que a moral proposta por alguém é universalmente aceita e viva dessa forma. Não deixe que ninguém te diga como ser feliz. Agir dessa forma, porém, não é algo que se faz somente com a própria força de vontade, mas é algo próprio dos fortes. “Basta querer pra conseguir” é um enunciado errado.

Quem pretende superar a moral absoluta tem que estar pronto pra se colocar em grande risco. Quando você começar a agir dessa forma, pode ser que te olhem diferente. Aquilo que você é pode não corresponder à ideia que fazem de você: viver com uma moral própria, pessoal, pode ser visto por aqueles que acreditam em morais absolutas como uma demonstração de desumanidade. Quem age segundo princípios, especialmente os próprios princípios, acaba se distanciando do agir comum, o que faz com que outras pessoas queiram puni-lo. E é aí que entra um dos desafios de mudar de comportamento: a quebra do pertencimento. Se você mudou para melhor e seus amigos não aprovam a mudança, rompa a amizade. Falar é fácil.

No entanto, mesmo depois de aceitar que não há moral objetiva e que toda moral é uma escolha, você não se tornará blindado contra as consequências de seus atos. Mesmo que você mude de comportamento, ainda sofrerá as consequências de um erro passado. Seja capaz de aceitar isso. A dor constrói, o prazer conforma. Quem não tem coração duro na adolescência não o terá na idade adulta. A pessoa amadurece ao enfrentar dificuldades. Quem sofre e sobrevive ao sofrimento acaba se tornando alguém melhor em termos de experiência.

A natureza filosófica.

Um ato consciente não é 100% feito sem instinto: nós pensamos porque queremos ou o pensamento nos vem de súbito? A filosofia, que se propõe a ser racional, por exemplo, se origina também do instinto e o mesmo pode ser dito das ciências, como a física, a qual é um meio de apreender o mundo que nos estimula. Tal instinto é a curiosidade: nos interessamos por fenômenos raros. Logo, praticar filosofia é uma manifestação dos instintos humanos. A marca da filosofia é a dúvida. Mas não é possível duvidar de tudo. Duvidar de tudo nos leva a duvidar de nosso pensamento. O filósofo pode dizer que quer duvidar de “tudo”, mas salvaguardar certas coisas da dúvida, como os princípios de raciocínio com os quais trabalha, uma vez que não é possível conduzir um raciocínio sem pressupostos. Um pressuposto comum é a religião. Tem muito pensamento sério baseado em crenças religiosas, mesmo que o pensador não perceba isso.

Há diferença entre descobrir e inventar, a descoberta sendo a constatação de algo que nos é mostrado pelo mundo e a invenção sendo a realização de uma ideia. Também há diferença entre criar e desenvolver. Existem pessoas que têm boas ideias e existem pessoas que desenvolvem bem as ideias que outros tiveram. Também é assim na filosofia.

Crítica à filosofia.

A filosofia se guia por perguntas. Algumas aberrações filosóficas são produzidas não quando a filosofia conclui de forma errada, mas quando ela pergunta de forma errada. Tais aberrações podem estar gestando antes da pergunta ser feita, quando o filósofo decide colocar coisas claras em dúvida. Então, antes de fazer uma pergunta qualquer, faça uma outra pergunta antes: “eu preciso perguntar isso?” Complicar o óbvio pode ser desejo de chamar atenção. Um filósofo que põe em dúvida o óbvio, então, pode estar sendo motivado pelo desejo por fama. E aí outros caem em sua armadilha e logo o pensamento de muitos se desvirtua. Ainda se crédito à ideias que nunca foram demonstradas e contra as quais se acumulam evidências contrárias.

Além disso, a filosofia muitas vezes trabalha com termos que não foram definidos. Como posso dizer “penso, logo existo” se eu não sei o que é pensar? O que é filosofia? Saber o que é filosofia requer prática de filosofia. Mas como eu vou praticar filosofia sem saber o que ela é? Assim a filosofia precisa ter conceitos claros como instrumentos de sua atividade, ou suas conclusões, mesmo quando não monstruosas, serão vazias. É grave construir algo novo sobre um erro antigo. Então uma filosofia nova que se funda em uma filosofia anterior, que incorre nesse erro conceitual (como é o caso das tradições metafísicas), pode facilmente ser questionada.

Outro problema da filosofia é que, por se fundar em conceitos, ela está invariavelmente sujeita à linguagem e, consequentemente, à gramática. A gramática de um povo influencia a filosofia a ponto de pessoas que raciocinam com gramáticas semelhantes chegarem à conclusões semelhantes. Isso permite que as filosofias de diferentes povos sejam diferentes entre si. Isso prejudica o caráter supostamente universal da filosofia. Claro que isso não significa que todos em um território sempre agem igual: mesmo que tenham princípios iguais, não terão objetivos iguais.

Embora a filosofia seja “amor pela sabedoria”, um filósofo pode ser amigo da sua verdade, que não necessariamente é a verdade de fato. Existem filósofos empenhados em mostrar que não estão errados, mesmo que estejam, porque são vaidosos. Já outros não estão tão a fim de provar a sua verdade, mas a verdade de quem os paga. O filósofo deve sê-lo por predisposição, talento, não por dinheiro (até porque paga muito mal e o campo é restrito) e nem por fama (porque compromisso com a verdade requer defender verdades desagradáveis).

O filósofo por vezes teme a si mesmo. A filosofia que apenas repete os valores de seu tempo e só está interessada em justificá-los é uma filosofia de coleira, digna de pena. Uma pessoa pode ser inteligente e esconder isso, pra pertencer à sociedade. Algumas pessoas sabem que estão certas, mas, temendo as consequências da verdade, se veem desejando que outros não pensem como elas. Assim, mesmo que alguém faça filosofia, pode ser que a faça de forma mais “suave” porque teme as consequências de ideias radicais nas quais acredita. A filosofia feita por alguém revela também seu caráter. Portanto examine-a.

Além disso, a filosofia produz uma multitude de resultados, devido a multitude de métodos, já que a filosofia, não sendo ciência, não tem método unificado. Alguns resultados se contradizem mutuamente. Isso causa ceticismo. O ceticismo, na medida em que tem dúvidas sem propor nada novo, é conservador. Há filósofos que já não mais creem na capacidade da filosofia de explicar o que quer que seja, já que é difícil filósofos entrarem em acordo entre si. Quando os filósofos se desesperam da filosofia, ela perde seu crédito. Já outros usam a filosofia apenas para destruir verdades estabelecidas sem propor nenhum novo entendimento da vida. Destruir uma certeza sem propor novas certezas é doentio. É preciso ter certeza, pelo menos, de si mesmo.

Por último, existem verdades que são percebidas por pessoas comuns, antes de ser percebidas pelos intelectuais, porque fazem parte do contexto comum. Se a filosofia se eximir do contexto comum, será inútil e a sabedoria popular lhe será superior. Apesar disso, mesmo que a filosofia se ocupe da vida comum, pode ser que ela não seja compreendida e seja tida por loucura. As pessoas negam as ideias que não têm maturidade pra compreender, como negam a existência de estrelas cuja luz não nos chegou. Por causa disso, pode ser que suas ideias não sejam entendidas neste século.

A ação correta.

No período helenístico, se costumava dizer que a vida feliz é aquela que se vive segundo a natureza. Se agir segundo a natureza é agir segundo a vida, ninguém precisa dizer a você pra fazer isso; você já está fazendo.

O valor de algo deve ser medido segundo suas consequências. Quando o valor de algo é medido segundo a intenção, em vez de segundo as consequências, então é lícito fazer atrocidades se for “por uma boa causa”. Se algo deve ser motivado pelas consequências que se quer obter, então procurar a verdade sem razão (o chamado “saber pelo saber”) te faz não encontrá-la. Você só procura a verdade se a mentira te incomoda ou porque você espera que sua vida melhore com isso. Além disso, mais que encontrar a verdade, é preciso que a verdade seja útil: atingir um ideal é ultrapassá-lo. Descobrir uma verdade que não serve pra nada é como morrer de sede no meio do mar, água que não se pode beber.

Cada um deve agir visando a felicidade, essa é a consequência que se procura. No entanto, o erro da pessoa feliz é pensar que não perderá a felicidade.

Na busca pela felicidade, nos deparamos com outros que fazem o mesmo por seus próprios meios (já que toda moral é uma escolha pessoal), o que pode causar conflitos e, portanto, ódio. Só é possível sentir ódio de alguém igual ou superior a nós. Por outro lado, algumas pessoas superiores a nós não estão interessadas em nossa destruição. Isso pode ser motivo de desconforto para alguns. Algumas pessoas sentem desconforto ao ser bem tratadas por alguém superior, porque sentem que não podem retribuir.

Crítica à religião.

O catolicismo domina em locais onde a prática tem mais valor do que o puro pensamento, porque o catolicismo condiciona a salvação às boas obras. Na verdade, uma pessoa pode agir mais como católico do que como brasileiro, tal é a ênfase nas obras. É diferente do protestantismo, que condiciona a salvação à fé somente. Se o catolicismo condiciona a salvação às boas obras, você não pode ser salvo somente crendo. O processo pode ser árduo. Ninguém é santo por diversão. Mas aí surge um problema: o mais difícil de fazer não necessariamente é o melhor a se fazer. Imagine se, depois de uma vida de austeridade e ascetismo, você descobre, depois da morte, que a forma que você pensava ser a correta de buscar a salvação era, na verdade, errada. Infelizmente, a crença na vinda vindoura pode tornar uma pessoa mais propensa a não aproveitar a vida presente. E se essa abnegação não compensar no final?

Nenhuma religião é totalmente santa. Existem pastores que estão apenas interessados em ganhar dinheiro e fiéis que vão pra igreja apenas porque não têm o que fazer em casa. Qualquer instituição composta de seres humanos que afirme ser santa, isto é, sem pecado, é automaticamente hipócrita, porque não há quem não peque. Seja no clero, seja entre os leigos, não é possível que todos sejam santos o tempo todo.

Há que se lembrar que a fé varia de pessoa pra pessoa. Se a religião for obrigatória, nem por isso todos crerão. Tem pessoas que são religiosas por “estilo” somente, como se fosse um adorno. Essas pessoas não estão interessadas na salvação, mas em status. Outro problema da religião é o fanatismo. Alguns são tão fanáticos que, no exercício do amor à divindade, se esquecem de amar o próximo. Não se deve amar um só ser em detrimento de todos os outros. Deus mesmo nunca mandou que se fizesse isso. Quem luta contra monstros deve tomar cuidado pra não se tornar também um monstro.

A moral dos senhores e a moral dos escravos.

Há dois tipos de moral: a dos senhores e a dos escravos. Antigamente, uma pessoa bem-sucedida era considerada virtuosa e ela era quem ditava o que era virtude e o que não era, através de seu comportamento. Assim, antigamente, na época da moral dos senhores, virtuoso era o comportamento do vencedor, qualquer que ele fosse. Aquele que luta por uma causa a ponto de os oprimidos se refugiarem sob sua sombra, por proteção, já nasceu senhor. Na moral do senhor, o mau é a insignificância, a necessidade de aprovação dos outros, a impotência, mas é o contrário na moral do dominado. Na moral dos dominados, ou dos escravos, que por inveja criam uma moral oposta à dos senhores, tudo o que é “opressivo”, como a desigualdade, é mau. Provam isso apontando as falhas de seus senhores, mas também sistematicamente negando as qualidades de tais senhores, tais como coragem, sagacidade, compaixão (porque também dominadores são capazes dela) e solidão, esta última sendo a virtude que limpa a pessoa da sujeira contraída pelo convívio com os outros.

Se você estivesse por cima, você pensaria em igualdade? Por isso a igualdade é reivindicada pelos oprimidos: se os oprimidos fossem opressores, não pensariam em igualdade. Mas para que haja essa mudança de paradigma, é preciso que o escravo tome o lugar do senhor ou tenha esse lugar concedido a ele. A emancipação feminina, por exemplo, só foi possível porque as assembleias políticas compostas totalmente por homens deram a elas o direito de votar.

Educação e família.

Se você acredita que o filho repete os erros do pai porque isso é genético, que utilidade você vê na educação? O filho não necessariamente agirá como seu pai. O pai pode ser a pessoa mais virtuosa e, ainda assim, estragar seu filho mimando-o. A criança mimada é viciosa. Tem-se então um pai virtuoso e um filho vicioso. A educação é importante, talvez mais que a genética. Mas a educação precisa ser boa. Uma educação qualquer, por exemplo, também ensina a dissimular e isso não é bom.

21 de setembro de 2017

Anotações sobre o “Crepúsculo dos Ídolos”.

Crepúsculo dos Ídolos foi escrito por Friedrich Nietzsche. Abaixo estão algumas afirmações feitas no livro. Uma afirmação pode ou não coincidir com o que eu penso sobre o assunto.

  1. Defender uma causa controversa requer que o indivíduo se mantenha sereno.

  2. O triunfo requer petulância.

  3. Força em excesso prova força suficiente.

  4. A mentira é mais comum do que a verdade.

  5. Dizem que a falta do que fazer é mãe de todos os vícios.

  6. Às vezes sabemos que algo não é verdade, mas temos medo de nos opor.

  7. Dizer que a verdade é sempre simples é mentir duas vezes.

  8. O que não mata, fortalece.

  9. Se ajude para receber ajuda dos outros.

  10. Não procure adeptos.

  11. A verdade é um atentado ao pudor.

  12. Ou se tem virtude ou se tem vantagens.

  13. Tem coisas que fazemos escondido, mas querendo que outros encontrem.

  14. Não se deve olhar o passado a fim de repetir os erros lá contidos.

  15. Satisfação aumenta a imunidade.

  16. Uma mulher com virtudes masculinas é irresistível, mas uma mulher sem essas virtudes não resiste a nada.

  17. A música nos deixa alegres.

  18. Pense andando.

  19. Existem os que se movem pra resolver o problema, existem os que só olham o problema e existem os que preferem não ver o problema.

  20. É preciso saber o que desejamos e se vale a pena desejar isso.

  21. Passar por cima dos outros é necessário pra progredir.

  22. A filosofia grega, que dizia que viver não vale a pena, mais especificamente a filosofia socrática, era doentia.

  23. Um consenso pode estar errado: pode ser que muitos concordem com uma coisa errada.

  24. Julgar a vida é idiotice; a vida é a vida.

  25. Somos parte da vida.

  26. Quando alguém emite um juízo de valor sobre a vida, sendo que ele próprio faz parte da vida, está pirado.

  27. Um sábio que julga a vida está se pondo acima dela, como juiz, o que prova que ele não é assim tão sábio.

  28. Para enfurecer um adversário e colocá-lo contra a parede, ponha-o numa situação em que ele tem que provar que não é um idiota.

  29. A feiúra de Sócrates podia muito bem ser um reflexo de sua má saúde, ajudada pelo excesso de controle sobre os próprios instintos.

  30. Se os instintos podem nos tiranizar, a razão pode nos tiranizar também.

  31. Uma pessoa pode ter que se forçar a ser racional.

  32. A doença do grego: excesso de razão.

  33. Por causa desse excesso de razão, o ato de satisfazer os instintos passou a ser visto como demonstração de fraqueza e não necessariamente o é.

  34. Quando a dialética abala a autoridade vigente, as pessoas esperam do dialético uma solução para o problema que ele próprio criou, o que lhe dá autoridade pra dizer o que a massa deve fazer.

  35. O ascetismo dessas morais é procurado como meio de salvação, mas essa vida clara, comedida, fria, prudente… nem sempre traz a felicidade que promete.

  36. Numa vida saudável, felicidade e instinto são a mesma coisa.

  37. Filósofos erram, pois não consideram o conceito como construção, como submisso às vicissitudes da história.

  38. A filosofia tradicional vê o devir como problemático.

  39. O ser imutável não encontra fundamento empírico mas os filósofos (falando aqui apenas dos platônicos, penso) querem que ele exista, o que os leva a admitir que o devir é ilusório e que o ser imutável é objeto de especulação.

  40. Os sentidos não mentem.

  41. O que acontece é que os sentidos nos dão uma informação imparcial, mas nossa interpretação dessa informação que pode estar errada.

  42. A filosofia tradicional parte do universal pra explicar o singular.

  43. Lógica não é sinal irrefutável de razão: algo pode fazer sentido e estar errado.

  44. Não é possível demonstrar que o mundo não é como parece ser, isto é, como nossos sentidos o captam.

  45. Uma ideia pode levar milênios para ser superada, mas ela é superada quando acaba não servindo mais pra nada.

  46. A moral pode se manifestar contra a natureza.

  47. As paixões podem trabalhar a favor da razão.

  48. Alguém que combate a ciência não luta inteligentemente contra nenhum inimigo.

  49. A moral tradicional prefere suprimir o desejo sexual, por exemplo, em vez de se perguntar como esse desejo poderia ser usado de forma construtiva.

  50. Se a paixão é uma expressão da vida, atacá-la é atacar a vida.

  51. Quem faz guerra contra os próprios desejos é quem não é capaz de usá-los a seu favor.

  52. Guerrear contra os desejos revela fraqueza de espírito: você mata o desejo porque não tolera sua sedução.

  53. O estabelecido precisa de oponentes.

  54. Uma moral que não tem como objetivo a preservação da vida é doentia.

  55. Qualquer moral que não tenha a vida como objetivo é decadente.

  56. Um humano não pode dizer como o ser humano deve ser.

  57. Quando uma pessoa diz “seja assim”, normalmente está dizendo, mesmo que não saiba, “seja como eu”.

  58. O maior vacilo que a razão pode cometer é confundir causa e efeito.

  59. A moral e a religião cometem esse vacilo constantemente.

  60. Não se pode fazer generalizações com base em um só exemplo.

  61. Não coma muito, nem coma pouco; coma o suficiente.

  62. Se eu sou virtuoso, farei o bem, mas fazer o bem não me torna virtuoso.

  63. Vício e luxo não são a causa da decadência humana, mas sinais dessa decadência.

  64. Outro vacilo: assumir causalidade onde ela não existe.

  65. Outro vacilo: imaginar causas que não existem.

  66. Outro vacilo: fingir que já se conhece o que é, na verdade, desconhecido.

  67. Se permitimos uma dor se apoderar de nós, é porque reconhecemos que a merecemos, mesmo quando não a merecemos de fato.

  68. Movimento peristáltico, como uma bela digestão, pode ser confundido com tranquilidade de espírito.

  69. Não temos razão de existir.

  70. Não há “fim”, isto é, objetivo.

  71. Moral não prova nada.

  72. O juízo moral crê numa realidade que não existe.

  73. Moral é interpretação e interpretações são pessoais.

  74. Moral é relativa.

  75. É possível falar uma coisa sem compreender as próprias palavras.

  76. Uma pessoa que não sabe o que a moral realmente é não pode tirar fruto dela.

  77. “Moral” é uma tentativa de melhorar o ser humano.

  78. Mais fácil melhorar o gênero humano pela ciência.

  79. Domesticar um animal é adoecê-lo, ao fazê-lo agir de uma forma não estipulada pela natureza.

  80. Quando se quer enfraquecer alguém, adoeça-o.

  81. Um número de processos de eugenia foram religiosamente sancionados.

  82. O Evangelho é contra o arianismo, é contra os valores de raça pura e dominante.

  83. A educação pode matar o gênio.

  84. Política e ciência são coisas diferentes.

  85. As épocas de maior avanço em termos filosóficos e científicos foram épocas de crise política.

  86. Nenhuma escola ensina a pensar.

  87. Não há mais disciplina que ensine lógica.

  88. Infelizmente, a ciência faz parte da democracia.

  89. Faz sentido um ateu moralista?

  90. Não se faz arte sem estar embriagado, mesmo que não de álcool.

  91. É possível estar embriagado de tesão.

  92. É possível estar embriagado de sonho.

  93. A sensação de força e de plenitude é o que torna a embriaguez uma fonte de inspiração artística.

  94. A embriaguez de Apolo nos leva a pintar, esculpir e descrever, mas embriaguez dionisíaca nos leva a compor, tocar e dançar.

  95. Existem ateus que querem deixar de ser ateus.

  96. Só é possível ter espírito (circunspeção, paciência, astúcia, mentira e domínio) na necessidade dele.

  97. Algumas vezes, imparcialidade é manifestação de arrogância.

  98. A filosofia de Kant é desonesta.

  99. As maiores tragédias só acontecem com as pessoas mais ilustres.

  100. Sempre seguir as regras da sociedade acaba comprometendo a pessoa.

  101. A mãe da filosofia é a atração por menores.

  102. Praticar arte só por fazer é lutar contra a moral.

  103. O objetivo do ensino superior é transformar um homem numa máquina estatal kantiana, ensinando-o, através da moral, a ter ódio de si próprio.

  104. De vez em quando, faça arte sem método.

  105. O gênio consome energia e trabalha sob pressão e arruinará sua saúde se não der uma pausa pra mexer o corpo.

  106. Mais vale um homem real do que um ideal.

  107. Doenças são sinal de decadência não causas de decadência.

  108. O anarquista culpa a sociedade e o cristão culpa a si mesmo.

  109. O socialista faz da revolução sua vingança e o cristão, muitas vezes, faz do juízo final sua vingança.

  110. Não é possível agir sem interesse.

  111. Ser totalmente altruísta, isto é, nunca pensar em si, é fórmula de suicídio.

  112. Melhor você negar seu valor do que o valor da vida.

  113. O doente terminal deveria ter direito de se matar, se quisesse.

  114. Se a pessoa perdeu a dignidade de viver, permita-a morrer dignamente.

  115. Todas as épocas se julgam no ápice da realização moral.

  116. Uma moral muito restritiva vem de um povo mais fraco e delicado, que “não suporta” certas coisas.

  117. O valor de uma moral vem de sua serventia.

  118. Nossa sociedade detesta correr riscos.

  119. Alguém que zela pela liberdade não pode se vender.

  120. Você só pode ser forte se precisar sê-lo.

  121. Pra quê serve o casamento hoje?

  122. A moral kantiana nada mais foi do que a validação dos costumes de sua época.

  123. O sacrifício heróico é o ato que desconsidera a sobrevivência do praticante em nome de uma causa maior que sua própria vida.

  124. O criminoso é um homem forte que nasceu numa época que não compreende sua força.

  125. Antes de ganhar notoriedade, todos os gênios são odiados por seu tempo.

  126. Educar sentimentos e pensamentos não te torna belo, mas educar o corpo torna.

  127. A realidade está nos acontecimentos verdadeiros do mundo, não na nossa cabeça e nem na nossa moral.

  128. Não existe mudança sem sacrifício.

6 de setembro de 2017

Anotações sobre o nascimento da tragédia.

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  1. A tragédia nasce do espírito da música, diz o autor.

  2. Por que os gregos tinham necessidade do gênero trágico, eles que eram tão felizes?

  3. Pessimismo não é sinal seguro de declínio.

  4. Foi Sócrates quem matou a tragédia grega. A razão descreditou a tragédia.

  5. A racionalidade pode ser sinal mais seguro de declínio do que o pessimismo.

  6. A ciência é questionável. Infelizmente, ela pode ser questionada erroneamente também.

  7. A ciência não pode pensar a si mesma. Esse é o trabalho pra arte ou pra filosofia. Nietzsche prefere a arte.

  8. A tarefa do livro é ver a ciência sob a ótica do artista.

  9. É possível ser tão lúcido a ponto de ficar louco? Sim, é possível.

  10. O cristianismo, pelo ódio ao mundo, leva o cristão a fechar os olhos aos prazeres desta vida em prol de vagas promessas, diz o autor. Importante lembrar que se trata do cristianismo mais tradicional. O judaísmo não tem, por exemplo, um “céu” pra onde as almas vão. Para os judeus, só há um mundo onde humanos podem viver: este. É o mesmo com as testemunhas de Jeová. Essa crítica de Nietzsche só se sustenta no cristianismo que afirma a existência de dois mundos.

  11. Para o cristão, esta vida é sem sentido. Nietzsche vê nisso um sintoma de grave doença.

  12. A moral, diz Nietzsche, é o começo do fim.

  13. Uma filosofia que afirma o valor deste mundo em detrimento do outro mundo cristão é uma filosofia anticristã. Só que hoje, com o movimento cristão alternativo ganhando força, existe um cristianismo que afirma só um mundo. Então, Nietzsche já não é mais tão anticristão como costumava ser no seu século.

  14. O espírito trágico, diz Schopenhauer, não vê neste mundo nenhuma razão de apego. Assim, ele conduz o indivíduo à resignação. Nietzsche discorda. Pra Nietzsche, o espírito trágico não traz nenhuma resignação.

  15. Pra alguns, é melhor que nada seja verdade do que o inimigo ter razão de alguma coisa. Esse pessoal frequentemente se dirige e seduz os jovens.

  16. Não adianta ouvir de ouvidos tampados.

  17. O consolo do cristão é a vida futura. O consolo do ateu é o riso mundano, diz o autor. No entanto, o cristão pode se consolar de ambas as formas, já que essa vida futura pode estar bem longe. Ou não (Mateus 24:36).

  18. A arte plástica e a arte musical nascem desse confronto entre o dionisíaco e o apolíneo. O impulso dionisíaco produz a música e, no seu combate com o apolíneo, é estimulado a produzir mais música. O impulso apolíneo produz artes plásticas, como a escultura, da mesma forma que Dionísio produz música. Mas a tragédia ocorre quando os dois estão juntos, lado a lado, o que não necessariamente quer dizer que eles estão em concórdia.

  19. Apolo e Dionísio são relacionados aos dois estados de inspiração do artista: Apolo é o sonho, Dionísio é a embriaguez. Isso porque Dionísio é também o deus grego do porre.

  20. Dizem os antigos que os deuses apareciam em sonhos, nos dando uma ideia de como eles eram em aparência. Aí o pessoal esculpia eles. E é quando estamos bêbados que mais dançamos. Festa sem álcool não existe.

  21. Para alguns poetas, a poesia é a arte de interpretar sonhos.

  22. Não é possível praticar artes plásticas sem imaginar a cena a ser representada antes de começar, diz o autor. Isso não é verdade; eu sei, por experiência própria, quando desenho, que a cena pode ser imaginada conforme a representação progride. Não há necessidade de ter uma cena completa em mente antes de começar. É como desenhar por associação livre, um jogo de perguntas e respostas entre você e o papel.

  23. A sensação de que o mundo físico é falso é sinal de aptidão para a filosofia. Porque a filosofia diz que as coisas não são como parecem.

  24. Tem sonhos mais reais que a realidade. Se você não acordasse, nunca iria saber.

  25. Para desespero de Descartes, sim, existem casos em que um sonho continua o outro. Como saber se estou acordado agora, então? Porque, pra Descartes, a única diferença entre sonho e vigília é que um sonho não continua o outro, mas um dia no mundo real continua o dia anterior. Se um sonho pode continuar o sonho da noite anterior, como é que eu vou poder diferenciar com segurança?

  26. Viver sóbrio, mesmo que torne a vida mais longa, torna a vida mais chata. A pessoa que não se permite um excesso, que é excessivamente controlada e comedida (tipo eu), tem uma longa vida chata, em comparação com a curta vida louca do bêbado festeiro, que ao menos o faz feliz.

  27. Tomar um porre de vez em quando não necessariamente é ruim.

  28. O porre é a concretização da instrumentalidade humana.

  29. Nem todas as festas são dionisíacas. Nem todo o sátiro é Dionísio. Existem festas em que a pessoa se embebeda e produz arte. Mas existem festas em que a pessoa se embebeda e vira um animal.

  30. Tem gente que preferia não ter nascido.

  31. O sofrimento é necessário à arte, porque nos permite imaginar como as coisas poderiam ser diferentes. Assim, a arte que consola vem da realidade opressiva.

  32. Às vezes é preciso estar bêbado pra dizer a verdade.

  33. A música representa, à sua maneira, os mesmos objetos que a arte plástica, mas sem mostrá-los. É como quando você nomina um tema: “Ambiente Aquático”, “Louco Dançarino”, “Exodia”, são todas músicas sem letra, mas que representam alguma coisa por similitude, isto é, sem mostrar o objeto a que se reportam. Existem exceções, como músicas com letra e músicas cujo nome tão somente se refere às técnicas usadas (“Prelúdio e Fuga em A-Menor”, pra dizer que a música usou a técnica de prelúdio, a técnica de fuga e é tocada em a-menor).

  34. A poesia imita a música. Mas palavras não podem imitar o simbolismo universal da música, que se dirige ao coração, em um nível mais penetrante que o da palavra.

  35. Ninguém sabe exatamente como a tragédia grega começou, mas porque ninguém se importou em sequer fazer a pergunta com seriedade.

  36. Para que a arte funcione, precisa ser reconhecida como arte e não como realidade. É o que Kant diz do sublime, de certa forma, quando afirma que o sublime só pode ser apreciado sem perigo real.

  37. Não existe plateia sem show.

  38. A comédia é a “descarga artística da náusea do absurdo”. É tão doido que chega a ser engraçado. E porque é engraçado que é tolerável.

  39. Para Nietzsche, o sátiro é superior ao ser humano, por viver a realidade inteira com toda a sua intensidade. A civilidade impede o ser humano de fazer o mesmo.

  40. O poeta quer retratar a realidade, mas como, se ele não a viver?

  41. Na tragédia, Dionísio é representado pelo coro, enquanto que Apolo é representado pela cena. Som e imagem se juntam, embora não se misturem, num espetáculo com todos os elementos de um e de outro.

  42. Uma pessoa sábia ainda pode errar e se tornar miserável. Paralelo com Salomão.

  43. Alguém escreveu: “um sábio mago só pode nascer de um incesto.” Isso porque magos não são seres naturais, mas que resistem à natureza, ao passo que o parecer da época era de que incesto é algo antinatural.

  44. A sabedoria humana foi um acidente. Para o autor, ela não é natural. Pra mim, se ela é acidental, é um feliz acidente.

  45. O princípio do mal é a individuação. Não poderíamos fazer mal um ao outro se fôssemos um só.

  46. A música atinge todo o seu potencial na tragédia. Caso você ainda não tenha percebido, “tragédia”, aqui, é o gênero de teatro.

  47. Para Nietzsche, as religiões começam a morrer com a ortodoxia. Quando você faz um cânon oficial, descartando tudo o mais como mito, você impede a depuração e revitalização da religião. Então, como o cristianismo subsiste? Porque, verdade seja dita, não existe ortodoxia no crisitianismo… Existe uma Bíblia Sagrada, é verdade, mas não há interpretação oficial fora da Igreja Católica. Por exemplo, o Protestantismo encoraja cada cristão a ter sua interpretação da Bíblia. Como é possível uma ortodoxia assim? Nietzsche, contudo, fala de cânon histórico, mas o fenômeno cristão mostra que é possível que uma religião subsista com cânon histórico, desde que não haja cânon doutrinário. Se houvesse uma só interpreação da Bíblia, o cristianismo seria destruído quando essa interpreação fosse descreditada, mas o que se observa é que, quando uma interpretação cai, duas aparecem no lugar.

  48. A tragédia grega morreu de suicídio. Trágico.

  49. O suicídio da tragédia ocorreu quando Eurípides começou a escrever tragédias em que o destino poderia ter sido evitado. Isso fez com que a população, que antes encarava o destino com indiferença (“qualquer coisa pode acontecer a qualquer momento, então é inútil me preocupar”), passou viver em estado de alerta (“qualquer coisa pode acontecer a qualquer momento, mas eu posso evitar, então devo me preocupar o tempo todo”). A tragédia, que antes promovia a aceitação da vida, passou a promover a sua negação. Não é a vida como é que importa, mas como ela deveria ser.

  50. A tragédia foi sucedida por outro gênero que melhor atendia às pessoas que agora pensavam dessa forma: a nova comédia.

  51. O valor formativo do trabalho de Eurípides o tornava requisitado. Não se ia mais ao teatro pra sofrer com os personagens, mas pra aprender.

  52. Antes, era possível encarar a miséria humana com indiferença, mas agora ela era temida.

  53. A única crítica que o arrogante escuta é a dele próprio.

  54. Derrotar um gênero artístico requer a prática desse gênero.

  55. Eurípedes arruinou o gênero trágico por causa de Sócrates! Parece que foram contemporâneos. Como Eurípedes não gostava da atual forma da tragédia grega, ele começou a conversar com Sócrates, que também não assitia as tragédias. Foi pela influência socrática que Eurípedes concebeu sua interpretação da tragédia, a qual ele levou a efeito.

  56. Quando Eurípedes percebeu que estava destruindo o gênero trágico, ele tentou fazer uma peça nos moldes da tragédia tradicional, mas já era tarde demais. Destruir e depois pedir desculpas não conserta o que foi destruído. Além do mais, considerando que Eurípedes não entendia a tragédia tradicional e passou sua vida discordando dos mestres, não duvido que sua retratação tenha sido uma porcaria de peça.

  57. Eurípedes removeu o elemento dionisíaco das suas tragédias, ao passo que nunca conseguiu chegar totalmente ao apolíneo. Havia um vazio em suas peças que precisava ser preenchido. Ele preencheu com ajuda de Sócrates. Com filosofia.

  58. A tragédia euripidiana conta o final da peça já no prólogo.

  59. Uma peça que estimula a pensar é uma peça que desencoraja a sentir. Tudo bem você refletir depois sobre a peça, mas é contraprodutivo estimular essa reflexão durante a peça. Durante a peça, você deveria assistir.

  60. Se Sócrates não era artista, como é que Eurípides deixava Sócrates ajudar?

  61. A poesia é a verdade para idiotas. Porque algumas pessoas só entendem a verdade através da arte, não pelo discurso científico.

  62. Platão ia ser poeta, se não tivesse se encontrado com Sócrates e virado filósofo.

  63. O romance é uma fábula intensa.

  64. A influência socrática sobre Eurípedes deu à luz “tragédias” que enfatizavam a ligação entre felicidade e virtude. Só que essa é uma ligação que não é necessária: muitos bons sofrem. A tragédia anterior, que mostrava o sofrimento como ato do destino, algo que poderia sobrevir a qualquer um, não é mais realista, ao menos nesse ponto?

  65. A tragédia encontra seu elemento dionisíaco (musical) no coro. Remover o coro da tragédia é remover Dionísio. Sem Dionísio, não há mais tragédia, uma vez que a tragédia é Apolo e Dionísio.

  66. Sócrates não começou a batalha contra Dionísio, mas apenas ajudou a terminá-la, transformando, por meio de Eurípides, a expulsão de Dionísio em uma moda a ser seguida.

  67. Os gregos eram tão originais que alguns artistas preferem não estudá-los, pra não verem que algumas de suas ideias, aparentemente tão originais, já foram tentadas e desenvolvidas antes. É por isso que um dos meus amigos não lê TV Tropes.

  68. Alguém contente consigo próprio não pode ser derrotado por simples inveja ou mentira. Por isso as pessoas temem ou se envergonham perto dele.

  69. A busca pela verdade dá sentido às pessoas. Querem procurar a verdade, mas não necessariamente encontrá-la. Porque, se encontrarem, o que farão da vida depois disso? Já pensou como seria nossa vida se não houvesse mais nada pra aprender? Se soubéssemos tudo? Talvez ela até fosse melhor, mas nem todos a levariam numa boa, porque não iriam saber o que fazer com a vida. A busca pela verdade inalcançável, esquecendo que é inalcançável, é uma autoajuda, um meio de dar significado a uma vida que, de outra forma, não teria sentido.

  70. Uma luta intelectual não pode ser somente assistida. Quem assite, tem que lutar também.

  71. A filosofia e a ciência não podem se sustentar sozinhas. O ser humano precisa da arte. E o grego que havia começado a curtir a tragédia de Eurípedes percebeu também, em algum tempo, que o conhecimento humano tem limites. A frustração de se deparar com esses limites criou uma nova demanda pela tragédia, mas como voltar a ela agora, uma vez que o grego havia aprendido a detestar Dionísio?

  72. O comentário mais fiel de uma cena é feito pela trilha sonora que toca junto com ela.

  73. Se a música combinar com a cena, o entendimento da plateia é melhorado.

  74. É por isso que se canta, em vez de simplesmente declamar poesia.

  75. A cientifização da arte faz com que encaremos gênios que não pactuam com essa cientifização como incompreensíveis. E no entanto são os melhores.

  76. Uma classe de escravos que percebe que está sendo tratada injustamente e passa a desejar vingança é algo perigoso ao estabelecido. Quando um escravo começa a querer se vingar e a vingar até as gerações futuras, não há religião que o pare (“se Deus existe e é bom, deve ser contra a opressão!”).

  77. Tem muito pastor ateu.

  78. Não é possível saber tudo.

  79. Causalidade, tempo e espaço são coisa da nossa cabeça.

  80. Uma sociedade científica deve deixar de existir quando começa a ser ilógica. Uma cultura científica ilógica está caduca.

  81. Para Nietzsche, a ópera não é uma criação de artistas, mas de leigos.

  82. O problema da ópera (e de muitas músicas por aí) é priorizar a letra sobre a melodia, a harmonia e o pulso.

  83. Nem todas as pessoas sensíveis são artistas. Sensibilidade não é o mesmo que aptidão artística.

  84. Não existe estado sem indivíduos.

  85. A educação e as notícias predispõem uma pessoa a julgar um trabalho de arte de determinada forma.

  86. Um crítico de arte pode julgar uma obra com critérios que não têm nada a ver com arte.

  87. Um pouco de dissonância ajuda a música.

29 de agosto de 2017

O que aprendi lendo “Manifesto do Partido Comunista”.

“Manifesto do Partido Comunista” foi escrito por Marx e Engels. Abaixo, o que aprendi lendo o texto deles.

  1. Quando as pessoas acusam umas as outras de comunistas, sendo que elas não o são, é hora de um comunista de verdade aparecer e explicar o que ele é.

  2. “Comunista” é frequentemente usado pejorativamente.

  3. Há duas classes que se combatem em todos os períodos históricos: opressores e oprimidos.

  4. Essa guerra sempre culmina de uma das duas formas: os dois morrem ou a sociedade muda de paradigma.

  5. A indústria tornou a manufatura artesanal obsoleta.

  6. As liberdades conquistadas com esforços podem ser sacrificadas em nome da liberdade de comércio.

  7. A opressão burguesa subjuga os talentos pessoais pelo poder do salário.

  8. A existência da burguesia depende do avanço dos meios e das relações de produção.

  9. O avanço da burguesia não pode mais retroceder.

  10. Temos agora necessidade de material internacional.

  11. Material intelectual também é passível de exportação e importação.

  12. O avanço do modo de vida burguês faz com que nações mais ricas e poderosas subjuguem culturalmente as mais fracas.

  13. Isso também unificou territórios.

  14. Graças a esse avanço, tivemos um avanço tecnológico sem precedentes.

  15. A classe burguesa começou a ascender quando as forças de produção superaram a capacidade do sistema feudal já velho.

  16. Sua ascensão, então, deve-se à falta de liberdade que um sistema antigo proporcionava e à crescente demanda por um benefício que essa liberdade traria.

  17. O crescimento excessivamente rápido das forças de produção, porém, proporciona crises de superprodução.

  18. Parece que o fim do capitalismo será um evento natural, porque as crises de superprodução crescem em intensidade.

  19. Eventualmente, entraremos numa crise econômica da qual não sairemos.

  20. O trabalhador também é mercadoria: com efeito, se vende.

  21. Muita gente vive pra trabalhar.

  22. Quando os meios de produção evoluem, alguns trabalhos são menos requisitados.

  23. Se você está lutando contra alguém, não ataque os inimigos desse alguém.

  24. A vitória do sindicato não dura pra sempre: precisa ser mantida e só pode ser mantida com muito custo.

  25. Se há uma coisa certa nessas vitórias é a união que elas proporcionam entre os trabalhadores.

  26. Um partido dos trabalhadores só dará certo se os trabalhadores pararem de competir entre si.

  27. Uma classe política não ganha tudo de uma vez: nunca se deve parar de lutar por direitos enquanto os direitos forem insuficientes.

  28. A elite nem sempre está de acordo entre si e isso é uma vantagem para as massas.

  29. Para que um lado da elite prevaleça sobre outro, é preciso ajuda do povão: o lado da elite que convencer o maior número de pessoas comuns vence.

  30. Trabalhador é igual em qualquer lugar do mundo: ganha-se mais, ganha-se menos, mas sempre explorado.

  31. Uma revolução feita pela classe trabalhadora é uma revolução feita pela maioria, e nisso ela seria única.

  32. Os trabalhadores devem destruir a elite.

  33. A elite precisa dos trabalhadores, por isso os dá meios de subsistência, mas será que os trabalhadores precisam da elite?

  34. Desarticular trabalhadores requer manipulação dos salários: pague melhor quem tem mais adesão ao sistema vigente.

  35. No entanto, se os trabalhadores se unirem em grupos que reivindicam aumento pra todos, fica mais difícil.

  36. Nem todo o trabalhador é comunista.

  37. O comunismo não tem mentores… ou, pelo menos, não deveria ter: seu referencial teórico são os próprios trabalhadores que decidem a pauta em conjunto.

  38. A propriedade privada deve ser abolida.

  39. O salário mínimo se chama “mínimo” porque compreende apenas o necessário pra que a pessoa possa subsistir e continuar trabalhando.

  40. Se o salário mínimo aumenta, é porque o custo de vida também aumentou.

  41. Por outro lado, é possível aumentar o salário mínimo sem que o custo de vida tenha aumentado, mas isso permite que comerciantes aumentem os preços.

  42. Logo, aumentar o salário mínimo também aumenta o custo de vida: você não pode ter conforto ganhando salário mínimo, a menos que seu custo de vida seja especialmente baixo (como é o caso de homens solteiros).

  43. Quanto menos você ganha, mais você sente necessidade do patrão: fará o que for necessário pra se manter no emprego, mesmo a custo da dignidade pessoal, o que é especialmente verdade em tempos de desemprego.

  44. Quando alguém diz que algo trará mais liberdade, verifique se não trará mais liberdade só pra quem está falando.

  45. A liberdade da elite é a de compra e venda.

  46. Assim, a liberdade da elite nada tem a ver com a liberdade do povo.

  47. No comunismo, o que você produz é seu.

  48. É possível ganhar dinheiro sem trabalhar.

  49. Se não houver patrões, as pessoas trabalharão para si mesmas.

  50. A família deve ser abolida.

  51. A família favorece a exploração infantil, se feita da parte dos próprios pais.

  52. Dizem que o comunismo quer destruir a educação familiar, mas a educação familiar já foi destruída quando a elite inventou a escola e a infância, tornando a educação uma responsabilidade estatal, não mais familiar.

  53. Dizer que as mulheres serão de todos não implica dizer que a mulher poderá ser coitada por qualquer um como se fosse um objeto.

  54. Liberdade de se relacionar saudavelmente com qualquer um que concorde com a relação.

  55. Ninguém está a salvo do chifre, nem a elite.

  56. A mulher não pertence a ninguém, nem o homem.

  57. O chifre impera na elite.

  58. Não havendo necessidade de “vender seu corpo”, a prostituição não existe no comunismo.

  59. Trabalhador é trabalhador aqui e na China: não há necessidade de “pátria” no comunismo.

  60. Trabalhadores são uma nação em todos os territórios.

  61. As ideias dominantes são as da elite: nosso conceito de certo e errado, por exemplo, é imposto de cima.

  62. A elite quer que um intelectual concorra com o outro, não que trabalhem juntos.

  63. Crianças não devem trabalhar em fábricas, mas devem produzir também, isto é, devem trabalhar de alguma forma indistinta da educação humanística.

  64. A criança deve aprender o conteúdo curricular normal, mas deve aprender, junto com esse currículo ou como parte dele, uma profissão.
  65. Se a luta política não é possível no momento, lute ao menos no campo intelectual.

  66. O socialismo pode ser reacionário também.

  67. Quando você lê uma obra feita em outro país, tenha em mente que trazer o livro pro Brasil não significa trazer com você o país de origem: uma análise política feita na França sobre a França não se aplica ao Brasil.

  68. As aspirações humanas não necessariamente coincidem com as aspirações de uma classe.

  69. Não ponha tudo a perder se você não tiver o que ganhar.

  70. Existem socialistas na elite também.

  71. Zona rural e zona urbana devem se tornar uma coisa só, a família deve ser abolida e, se houver um estado, este deve apenas gerenciar a produção coletiva.

26 de agosto de 2017

Anotações sobre “Curso de Filosofia Positiva”.

“Curso de Filosofia Positiva” foi escrito por Auguste Comte. Abaixo, alguns pensamentos encontrados no texto dele.

  1. Se filosofar é procurar a verdade, então há três formas de filosofia: pela religião, pela metafísica e pela ciência.

  2. Uma só lei não explica o universo inteiro.

  3. Nos dois primeiros estágios de desenvolvimento, a filosofia está interessada nas causas primeiras e nas causas finais, mas, no último estágio, ela renuncia a essa pretensão em nome da busca das leis que governam os fenômenos particulares.

  4. O ápice do instante teológico foi o monoteísmo, enquanto que o ápice do estado metafísico foi a filosofia da natureza, mas a ciência sempre progride, sem chegar a um instante em que se possa dizer “nada mais há para ser explicado”.

  5. A ciência deve romper com a religião (o que não implica que uma deva combater a outra, mas que, por serem formas diferentes de filosofia, não podem ser totalmente conciliadas e uma tentativa de conciliação implicaria subjugação e prejuízo à livre prática científica).

  6. Se a ciência funciona pela validação ou refutação de uma premissa, é claro que ela não poderia ter surgido antes da metafísica ou da teologia, as quais proveram as premissas.

  7. Observar (procurar por algo) não é o mesmo que olhar.

  8. Tentativa e vacilo fazem parte do andar filosófico.

  9. O estado metafísico é provisório, intermediário.

  10. O escritor não quer saber das causas dos, nem pra que servem os, fenômenos, além da medida do necessário para entender como funcionam.

  11. Mais importa saber como a gravidade funciona do que saber o que é a gravidade.

  12. O ser humano não precisa de perguntas sem resposta, do tipo “de onde viemos, o que somos, para onde vamos?” para guiá-lo na vida.

  13. Quando algo se torna ciência, não deixa de ser filosofia, mas deixa de ser metafísica.

  14. O movimento da filosofia para a direção positiva (priorização da ciência em lugar da metafísica) começou com Bacon, Descartes e Galileu.

  15. Estudos sociais precisam se tornar ciência (“física social”, mais tarde renomeada “sociologia”).

  16. Teologia e metafísica não explicam fenômenos sociais.

  17. Antigamente, nosso conhecimento não era dividido em campos.

  18. A divisão do conhecimento em áreas é positiva, pois permite que cada pesquisador estude um detalhe em profundidade.

  19. Essa divisão de conhecimentos permite o avanço mais rápido das ciências.

  20. Mas a divisão excessiva das ciências também traz problemas.

  21. É mais fácil ser bom em tudo quando se conhece tudo superficialmente.

  22. A divisão das ciências é artificial, foi feita por nós, enquanto que, na natureza, a biologia, por exemplo, não está separada da química.

  23. Um cientista deve trabalhar com o outro, as áreas científicas devem manter um diálogo.

  24. É preciso que as descobertas particulares encontrem seu lugar num sistema geral, organizado por uma outra classe de cientista.

  25. Se uma ciência é velha, sem acordo entre os cientistas que a praticam, a partir da qual nada foi descoberto, qual é o sentido de persistir nela?

  26. Um procedimento lógico é melhor explicado em sua aplicação.

  27. É possível criar um estudo pela combinação de duas ciências.

  28. Um estudo envolvendo mais de uma área científica explica mais detalhes de um objeto estudado.

  29. A anarquia de pensamento, isto é, uma situação em que nenhum pensador concorda com o outro, é causa de males sociais.

  30. A ciência deve estabelecer a verdade que a política aplicará.

  31. A filosofia discorda de si pela divergência de método.

  32. Se a teologia, a metafísica e a ciência continuarem perdendo tempo em tentar superar uma a outra, o pensamento humano não evoluirá.

  33. Querer uma filosofia capaz de explicar tudo, como quis Hegel, é coisa de quem pensa que o corpo total de conhecimento acumulado é menor do que na verdade é.

  34. A ciência não pode conhecer tudo.

  35. Se fosse possível um sistema filosófico capaz de explicar todos os fenômenos, será que isso faria muita diferença, se comparado à moda atual de explicar cada fenômeno segundo leis próprias?

  36. Você pode propor objetivos que você mesmo não pode atingir sozinho em seu tempo de vida, porque outros continuarão de onde você parou.

  37. Nem tudo o que é útil é verdade.

  38. Qualquer divisão das ciências é artificial por definição.

  39. O fato de falharmos várias vezes ao perseguir um objetivo não implica que é impossível alcançá-lo.

  40. Só é possível classificar as ciências pelos seus objetos observáveis.

  41. O objetivo da ciência é prever fenômenos e modificá-los.

  42. Estudar um fenômeno por prazer não é errado.

  43. Embora cada ciência possa ocupar-se de si mesma, sua aplicação técnica requer a ajuda de outros saberes.

  44. Quando um estudo já tem muito tempo de existência, como a filosofia, uma exposição cronológica decente fica cada vez menos possível, porque não dá pra expor tudo em suas relações.

  45. No entanto, essa forma de entender as coisas têm a desvantagem de não explicar como o conhecimento foi formado.

  46. A ciência e a técnica se ajudam no progresso de ambas.

  47. Os conhecimentos mais gerais são os mais estranhos a nós, por guardarem menos ligação com o prático.

  48. O fenômeno “puro” deve ser estudado primeiro, para depois estudarmos suas modificações.

  49. O entendimento completo da química requer o conhecimento básico de física, pois os fenômenos químicos são condicionados por calor, eletricidade e movimento, todas coisas estudadas na física.

  50. Apesar disso, a química não é parte da física e deve ser tratada como uma ciência à parte.

  51. A sociologia depende de todas as outras ciências, mas suas leis não influenciam as outras ciências.

  52. Um ramo do conhecimento pode ainda ser metafísico ou teológico quando outros ramos contemporâneos já são positivos.

  53. Precisão não iguala certeza.

  54. A matemática perpassa e valida tudo na ciência.

31 de julho de 2017

O “Diário de um Sedutor”, de Kierkgaard.

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“Diário de um Sedutor” foi escrito por Søren Aabye Kierkegaard. Abaixo, algumas parafrases relacionadas ao texto dele.

  1. Ler o diário de um conhecido é uma experiência e tanto.

  2. Você sempre pode saber algo novo sobre velhos conhecidos.

  3. Algumas pessoas têm tal talento para poesia que se expressam poeticamente, mesmo sem rimar.

  4. Tem gente que vive em um mundo particular tão próprio que, mesmo ao se aproximar e participar do mundo real, acaba não pertencendo à realidade.

  5. Pessoas como essas, isto é, pessoas que vivem mais em seus mundos interiores do que no mundo real, agem do jeito que agem porque a realidade não lhes provê estímulo suficiente para mantê-los interessados.

  6. Não se sensibilizar com a realidade não é uma demonstração de fraqueza, mas de força doentia.

  7. A consciência dessa força doentia agrava a doença.

  8. Uma pessoa não seduz outra só por sexo.

  9. Às vezes, não é claro quem está seduzindo quem.

  10. Não é possível escapar de si mesmo.

  11. Intelectuais também têm sexualidade.

  12. Segredos seduzem.

  13. Uma mulher pode roubar totalmente a atenção de um homem, mesmo quando não está presente.

  14. Quando você seduz uma mulher e faz isso com maestria, depois a trai, espero que ela não tenha ficado obcecada.

  15. É injusto privar alguém do amor uma vez concedido quando esse amor é tudo o que resta a essa pessoa.

  16. Talvez você se arrependa de ter terminado.

  17. A pessoa que se apaixona por um adúltero, mas cujo amor não diminui por causa do adultério, espera o outro se saciar do amor das outras para que o amor por ela ressurja.

  18. Escrever com paixão torna seus sentimentos mais óbvios do que seu raciocínio.

  19. Ninguém é tímido quando se está sozinho.

  20. Uma súplica e uma lágrima têm o mesmo valor: chorar já é pedir pra parar.

  21. Uma mulher é mais bonita sem as bijuterias.

  22. É possível ficar noivo de alguém que você não ama.

  23. Os dentes são como um guarda atrás dos lábios sedutores.

  24. Se quiser fazer alguém se sentir importante, finja que sente timidez diante desse alguém.

  25. Uma relação amorosa pode ser feia mesmo que os envolvidos sejam belos e mesmo que a relação seja bela pra eles.

  26. Um ato pode ser mais aceitável a uma pessoa dependendo de seu estado de espírito.

  27. Se você consegue a confiança de uma estranha, nem por isso aja como se fosse da família ou amigo de longa data, para não faltar com o decoro e perder a confiança que acabou de ganhar.

  28. Dá pena ver alguém chorar porque o amado lhe deu um bolo.

  29. O “sedutor” do diário sabe se aproveitar do estado de espírito de uma pessoa.

  30. O primeiro contato com a pessoa amada é o mais difícil.

  31. Amor primeiro, sexo depois.

  32. Para maximizar o prazer é preciso controlá-lo.

  33. É possível fazer sexo sem vontade.

  34. É necessário variar pra manter o interesse sexual.

  35. O acaso pode decepcionar por ter acontecido, mas também decepciona por não acontecer.

  36. A justiça tem o tabuleiro, mas quem move as peças é o caos.

  37. O tédio leva à loucura.

  38. Se apaixonar fora da sociedade é frustrante: não se sabe onde ela mora, qual é seu nome, de qual família é, se está comprometida.

  39. Saber do estado civil é prioridade.

  40. Ter muitas possibilidades e poucas certezas também enlouquece.

  41. Um casamento arranjado em que uma das partes não ama a outra é receita pro desastre.

  42. Quanto mais você se esconde, mas desagradável é ser encontrado.

  43. Se tiver que se esconder, fique quieto.

  44. Quem não presta atenção nos outros, não percebe que os outros prestam atenção nele.

  45. É possível não se dar conta da própria paixão, estar apaixonado sem saber.

  46. Dizer o que é belo é difícil, mas dizer do que se gosta é mais fácil.

  47. Conquistar uma pessoa amada é mais fácil quando você dá a entender que não é isso que você quer.

  48. Superproteger o filho é um crime que a vida nunca deixa de punir.

  49. Isolamento do mundo prejudica o desenvolvimento da criança.

  50. Aos dezesseis anos, há uma boa chance de você já não ser mais virgem.

  51. A mulher sem produção apela mais aos “homens de verdade”.

  52. É interessante que a mulher tenha amigos homens.

  53. Conquistar alguém requer conhecimento das crenças daquela pessoa.

  54. Faça-se de difícil.

  55. Ensaie o que vai dizer.

  56. Há o sorriso falso, o sorriso educado, o sorriso tímido, o sorriso sarcástico….

  57. Uma mulher de comportamento masculino pode também ser atraente.

  58. Há mulheres que invejam o comportamento social masculino.

  59. O estado de espírito de alguém pode ser sentido nos improvisos dados em uma música aprendida.

  60. A memória não necessariamente é um retrato fidedigno do que aconteceu.

  61. Se você bater à porta, sabendo que a pessoa amada está lá, e ela não responder, não entre, a menos que seja um caso de vida ou morte.

  62. Não é possível aprender a namorar lendo romances.

  63. Uma mulher que só tem beleza e nada mais deve abandonar as esperanças de arrumar alguém.

  64. O mesmo se aplica aos homens.

  65. Quem só teve azar no amor, perde a vontade de tentar.

  66. Você deve dispor de algo que a pessoa amada goste.

  67. Faz parte da sedução a conversa com elogios velados: isso fará com que a moça queira sua presença, mesmo que não de forma romântica (óbvio, amar alguém leva tempo).

  68. Uma pessoa tímida também tem sentimentos, só não sabe lidar com eles.

  69. Se você vai encontrar uma pessoa num local casual, numa ocasião casual, vá vestido casualmente.

  70. Uma mulher que gosta de sentir no controle preferirá homens tímidos, então finja ser tímido e, quando o relacionamento estiver acontecendo, gradualmente abandone o disfarce.

  71. Sentir-se nervoso perto da pessoa amada é uma emoção cuja intensidade varia de pessoa pra pessoa.

  72. Não é possível dizer se eu já senti “amor de verdade”, porque não há como saber qual o tipo de amor mais intenso que existe sem ter se apaixonado por todo o mundo, pra saber com qual pessoa você sente esse amor “de verdade”.

  73. Para reforçar a atitude de “quem não quer nada”, necessária à sedução, se torne amigo de outras pessoas interessadas na amada.

  74. Embora você não precise ensaiar o que vai dizer à pessoa amada, mesmo que seja recomendável, você deve ensaiar o que dirá à futura sogra.

  75. Ganhe a confiança da futura sogra se mostrando útil.

  76. A conversa com a sogra não deve ser sobre a mulher amada.

  77. Uma pessoa pode ser ter doze, parecer que tem catorze e agir como alguém de dezesseis.

  78. Uma pessoa muito jovem não compreende jogos mentais.

  79. A aura de “quem não quer nada” livra o sedutor de suspeitas da família.

  80. Um homem que não está interessado em mulher revolta a mulher, especialmente se ele poderia ser um bom partido.

  81. Essa aura de “quem não quer nada” permite que o indivíduo observe a amada sem que ela o perceba, pois a amada não tem certeza de ser cobiçada ou não.

  82. Seguir um método de sedução à risca não funciona.

  83. Não se arrume demais.

  84. Conquistar alguém pode requerer a ação dos amigos.

  85. Somente depois de ganhar a confiança de todos à volta da moça amada é que você deve deixar sua intenção transparecer.

  86. Faça piada dela, sem maldade, mas sendo engraçado.

  87. Não negue a liberdade dela, mas não permita que ela negue a sua.

  88. É possível se apaixonar por mais de uma pessoa, porque cada pessoa é amada de forma diferente.

  89. Amar um só é pouco.

  90. Na falta de roupa pra ir, peça emprestado.

  91. A amizade entre você e seu rival precisa ser falsa e, no entanto, altamente convincente.

  92. Seduzir é difícil.

  93. Empreste livros à amada.

  94. Tire vantagem dos outros que a querem.

  95. Ao emprestar livros (ou outras mídias) pra sua gata, tem que ser algo que jogue a seu favor.

  96. A atmosfera de incerteza (“ele me quer ou não?”) deve ser mantida até a hora certa.

  97. Manter amizade com os outros pretendentes da gata permite que você antecipe seus movimentos.

  98. Quando alguém é rejeitado, a pessoa que rejeita pode ficar com pena, reavaliar e aceitar.

  99. Não faça promessas ao sabor da paixão.

  100. Se sua amada fizer essas promessas, permita que faça e permita que as quebre, para que ela precise de seu perdão.

  101. O escritor é contra delações premiadas.

  102. Seduzir com classe é manipular a mente e é diferente do amor que se desenvolve de forma natural.

  103. Deixar o amor crescer naturalmente não requer sedução.

  104. Seduzir com classe é querer ser amado mais que tudo.

  105. Quem seduz com classe mantém a vítima interessada mesmo depois do rompimento.

  106. Faça a moça temer que outra pessoa se declare pra ela.

  107. Diga que está apaixonado, não diga por quem.

  108. Tem gente que pagaria pra que alguém lhes escrevesse uma carta de amor pra entregar pra outra pessoa.

  109. Pra quê existe noivado?

  110. Só um artista pode julgar um artista.

  111. Depois que você se declarar e seu rival ficar doido de raiva de você, a essa altura você já deve ter a confiança da sua sogra, então, diga que o noivado foi arranjado por ela e que você está disposto a deixar a moça se o rival puder conquistá-la.

  112. Se você construiu uma amizade “verdadeira” com seu rival, não a perca.

  113. Se você não continuar lutando, o amor já conquistado desaparecerá.

  114. Em um relacionamento de sedução, um dos lados sempre acaba mentindo.

  115. O que mais trai é o que melhor sabe esconder, quer seja homem ou mulher.

  116. Quem melhor seduz é aquele que não seduz por sexo, mas por controle.

  117. O amor é indiferente às histórias de vida dos amantes, sua herança familiar, ficha criminal…

  118. Existe uma moral do amor, que não deve ser ferida durante a relação pré-marital.

  119. A moral do amor não é a moral civil.

  120. Não tem graça seduzir alguém que é forçado a ficar com você.

  121. É preciso, pra manter a relação em bom estado, que se tire dela mais do que simples afeto.

  122. Na sedução, ser honesto não basta.

  123. Use as conversas ao vivo pra incitar a paixão, use as conversas escritas pra moderá-la.

  124. Aprenda com os romances passados.

  125. Adolescentes são ótimos manipuladores, então aprenda deles.

  126. Algumas coisas não são resolvidas sem impulsividade (“salto da donzela”).

  127. Parece que a sua profissão cria um preconceito a seu respeito: é esperado que todos os soldados sejam fortes, que todos os professores sejam sábios, que todos os médicos curem, entre outros, mas isso nem sempre acontece.

  128. Em geral, um bilhete funciona melhor que uma carta, se o que você quer é causar tesão.

  129. Uma conversa não é composta só de palavras, mas também de gestos, expressões faciais e mudanças de tom de voz.

  130. Nunca pergunte se a pessoa leu a mensagem.

  131. Existe um tipo de lisonja para cada situação.

  132. Muitas pessoas têm meios de controle emocional de que não se servem por não saber usá-los.

  133. Quando você ama, quer que os outros amem o amado.

  134. Dê a impressão de que pertence à amada.

  135. Se a mulher não tem o desejo que convém, crie nela o desejo conveniente.

  136. Mesmo que falte à escrita a vivacidade da fala, ela ainda é mais influente.

  137. Prestar atenção aos arredores é um dos passos pra virar filósofo.

  138. Não existe teoria do beijo.

  139. O valor do beijo é perdido se feito com frequência.

  140. Prolongue o noivado até não poder mais.

  141. Cabelo solto é mais bonito.

  142. Para muitos, a vida eterna não vale a pena sem o amado.

  143. A crueldade feminina é inigualável (Eclesiástico 25: 13).

  144. Uma mulher pode ser cruel sem razão aparente ou mesmo sem razão alguma.

  145. A mulher que move o corpo é mais gostosa do que a sedentária.

  146. A dor do parto parece tão lancinante, que um homem pode preferir ir pra guerra do que parir.

  147. O método de sedução varia conforme aquilo que se quer obter.

  148. Um abraço repetido vale mais que uma aliança.

  149. O hedonista não pensa no futuro.

  150. O amor teme ser limitado.

  151. A vitória do sedutor é fazer a moça terminar com ele depois que ele perde o interesse, o exonerando da culpa de largá-la.

12 de junho de 2017

Anotações sobre a essência do cristianismo.

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  1. Os animais não têm religião. Mas têm consciência, em sentido mais geral.

  2. A consciência animal é individual, enquanto a consciência humana é genérica. Esse tipo de consciência, que permite generalizações, permite a ciência. Não basta saber pra mim mesmo, eu quero um conhecimento que sirva sempre, em todo o lugar, pra todos.

  3. Nos animais, vida interior e exterior são uma coisa só, diz Feuerbach. Mas, no caso dos humanos, a vida interior e a exterior são separadas.

  4. Somente o ser humano fala sozinho.

  5. O ser humano, por essa generalização (“somos todos homens” ou “somos todos desta classe”), pode se colocar no lugar do outro.

  6. Para Feuerbach, a religião é um meio de conhecer a si mesmo. Ele diz que o objeto da religião é a própria pessoa. Quem for cristão e se sente desconfortável lendo sobre ateísmo, deve parar agora.

  7. A limitação do ser (nós) é a limitação de nossa consciência. Nós somos finitos. É por isso que somos incapazes de conhecer Deus pela simples razão, porque Deus é infinito. É preciso revelação, se o que se quer é ser religioso.

  8. Um ser humano completo tem três coisas: pensamento, vontade e sentimento. Ou, dito de outra forma, conhecimento, caráter e amor.

  9. Razão, amor e vontade são as três maiores e mais importantes características humanas.

  10. Essas coisas estão em nós, mas de onde vêm?

  11. O ser humano não existe sem essas coisas. O ser humano que não pensa, não ama ou não deseja não é ser humano. É outro tipo de criatura.

  12. Se o ser humano é um animal com consciência, então a consciência não é a única coisa que o distingue do animal, ao menos fora do primeiro momento, porque a consciência opera uma mudança qualitativa no ser por completo. Quem tem consciência, terá outras qualidades que os desprovidos dela não têm. Assim, se há consciência, a diferença gradualmente se expande, outras diferenças vêm a surgir.

  13. Mas será que ter consciência é realmente sempre vantajoso? Pra mim, sim. Pra Feuerbach, não necessariamente, já que ele diz que a falta dessa consciência em sentido estrito, consciência genérica, não diminui o animal.

  14. Quem tem razão, amor ou desejo nunca se liberta dessas coisas. Elas são mais fortes que nós. Não é possível deixar de pensar, amar ou desejar.

  15. A música é o idioma dos sentimentos. O sentimento do compositor fala ao do ouvinte. Rousseau poderia concordar.

  16. É o homem que possui o amor ou o contrário?

  17. Se o homem é quem possui o amor, como se explica a morte por amor? Afinal, todos queremos nosso próprio bem-estar. Se uma pessoa não faz segundo o que é necessário ao seu bem-estar, está sofrendo coação. Mas que coação gostosinha…

  18. E quanto ao estudioso que esquece de si mesmo pra permanecer raciocinando, esquecendo de dormir ou comer?

  19. E quanto ao jejum, que é uma afirmação da força de vontade, de um desejo escolhido sobre outro imposto? O que leva um ser humano a passar tanto tempo sem comer, sem necessidade disso?

  20. O que acontece na religião é que o ser humano tira essas qualidades de si (alavancado pela sensação de que essas qualidades lhe são incutidas por alguém sobrenatural, pois o sobrepujam), as eleva ao grau infinito e a atribui a seres especulados. Pode ser um pra cada qualidade (politeísmo) ou um só para todas (monoteísmo). Parece uma afirmação gratuita.

  21. Para Feuerbach, a distinção entre corpo e “eu”, como se “eu” fosse uma substância que faz uso do corpo, ou “eu” e emoção, como se a emoção atrapalhasse o “eu” no que ele quer fazer, não está suficientemente provada. Para Feuerbach, o ser humano é o conjunto completo, não uma parte dele.

  22. O ser humano é estranho: atribui um valor existencial a coisas aleatórias, porque sua afinidade intelectual com essas coisas lhe desperta sentimentos de profunda afeição. É assim que alguns povos adoravam os astros, como sol, ou mesmo coisas cuja a presença não faz diferença em sua vida. Eu, por exemplo, acreditava que as minhas cartas de baralho eram seres vivos, que pensavam e sentiam. Eu era extremamente apegado ao meu baralho de cartas. Minha mãe achava minha obsessão infantil risível.

  23. Amar o gênero humano, tudo bem. Mas amar só a si é vaidade.

  24. Se algo existe, merece ser conhecido.

  25. Se algo existe, tem valor.

  26. Somos humanos, mas isso não quer dizer que somos todos iguais. Então eu não preciso atribuir aos outros falhas que são minhas como se todos necessariamente as tivessem.

  27. Atribuir a todo o mundo uma limitação que você percebe em si mesmo é uma tentativa de se sentir menos humilhado. Dependendo da falha atribuída, é um ato de mentir pra si mesmo. Por exemplo: nossa sociedade é tão doida por sexo, que assumimos que o celibatário mente ou que os assexuais (pessoas que não sentem atração nem por homens e nem por mulheres) não existem de verdade.

  28. Outro exemplo é supor que ninguém pode conhecer o que não consigo conhecer. Isso é especialmente perigoso, porque uma pessoa que contamina outra com esse pensamento acaba fazendo muitos desistirem de tentar.

  29. Ao fazer isso, a pessoa está tentando se livrar da culpa, dizendo “não é que eu seja burro, é só que a inteligência humana só vai até aqui.” Ela não quer admitir sua incapacidade. É verdade que o ser humano só pode conhecer certas coisas (pois conhece pelos sentidos) e sobre outras só pode especular (pois pode ir além dos sentidos pela razão), mas é interessante que todos tentem, mesmo que alguém diga que é impossível. É assim que a ciência avança. Só tentando se pode dizer se é realmente impossível.

  30. Da mesma forma que não se pode dizer que algo é finito sem ver as bordas, algo infinito pra nós, humanos, pode ser finito pra outros seres.

  31. A pessoa é descrita por suas qualidades, não por suas faltas. Se fôssemos definir uma pessoa só pelo que ela não é, essa definição seria tão longa quanto pobre.

  32. Um ser que se reconhece limitado, isso é, com limitações insuperáveis, se acomoda com essas limitações. Talvez até viva melhor do que aquele que sempre quer se superar, especialmente se este tenta superar um limite que provavelmente não superará em seu tempo de vida.

  33. A inteligência é a área do ser consciente. Quanto mais você sabe, maior é seu mundo. O mundo dos ignorantes é pequeno.

  34. Para Feuerbach, o indivíduo é o próprio deus de seu mundo, isto é, da área da realidade que ele conhece. Isso implica dizer que o indivíduo só precisa do Deus com D maiúsculo se ele sentir que há coisas que ele não conhece. Nietzsche dirá, com seu anúncio da “morte de Deus”, que o progresso científico, quanto mais avança, mais torna a fé desnecessária. A cada geração, o número de crentes tende a diminuir. Ou, pelo menos, é como esses filósofos veem as coisas. Eu, por outro lado, só me tornei religioso por causa da filosofia.

  35. Cometer um erro e ver esse erro é prova de maior inteligência do que a daquele que comete o mesmo erro e não o vê.

  36. Filosofia é um tipo de monólogo. Os resultados da reflexão podem até ser anotados, publicados e debatidos, mas o processo é solitário.

  37. Só Deus pode compreender totalmente a si mesmo.

  38. O deus naturalmente concebível é puro sentimento. Se uma pessoa concebe um deus por outras vias, sua religião não é natural, isto é, ele não chegou a ela sozinho.

  39. Deuses concebidos assim, isto é, naturalmente, são uma egolatria sentimental: o sentimento adorando a si mesmo.

  40. Se o deus natural é puro sentimento, o ateu precisaria se livrar do sentimento pra continuar ateu, diz Feuerbach. Eu tenho minhas dúvidas, já que muitos dos meus colegas ateus são bastante sensíveis.

  41. Se não é possível negar totalmente o sentimento, não é possível um ateu completo, no parecer de Feuerbach. O ateu seria apenas “muito covarde” pra admitir verbalmente “o que o sentimento afirma em silêncio.” Negar o sentimento, pra Feuerbach, é condição de possibilidade pra negar Deus.

  42. Procurar Deus fora do sentimento é um caminho mais fácil pra virar ateu, porque os deuses encontrados fora do simples sentimento não parecem tão reais, diz Feuerbach. A pessoa que trilha esse caminho acaba se perguntando se Deus realmente existe em algum momento.

  43. Feuerbach percebe que seu coração, em seu sentimento, adora a si mesmo, ou seja, não tem outro deus além de si mesmo. Então se procura um deus que o coração possa adorar, uma entidade exterior, colocando nela sentimentos nobres em grau ilimitado. No final das contas, é o coração novamente adorando a si mesmo, mas com o intermédio de uma entidade colocada ali pra disfarçar isso. É assim que Feuerbach conclui que a religião não é a adoração de Deus, mas de nós próprios. É uma prova de amor inconfessável entre indivíduo e humanidade. Isso porque, pra Feuerbach, Deus é uma mistura de tudo aquilo que o ser humano ama em si mesmo.

  44. Para Feuerbach, só é possível crer em Deus sem ter dúvidas confessando que o objeto da religião (a divindade) é o sentimento.

  45. Outros seres fora os humanos podem gostar de matemática ou música.

  46. A religião implica crítica, isto é, julgamento: o que posso ou não posso adorar, o que é e o que não é divino.

  47. Para Feuerbach, o valor de um deus é medido pelo valor de seu adorador. Eu disse que o cristão deveria parar aqui. Nietzsche é mais fácil de engolir sem perder a fé, mas Feuerbach tem alto potencial de erosão.

  48. Para Feuerbach, no final das contas, cada um é seu próprio deus.

  49. Analisando o raciocínio de Feuerbach até agora, ele parece fazer afirmações gratuitas. Ele não diz de onde tira seus pressupostos, por exemplo, de que as coisas mais elevadas no ser humano são razão, amor e vontade. Ele simplesmente pega os pressupostos e executa sobre eles. Se você for religioso e está se sentindo mal lendo, vá ler a Suma Contra os Gentios, tá certo? Ou os Pensamentos. Não precisa continuar se não quiser, filho.

  50. É preciso conhecer Deus antes de adorá-lo.

  51. A religião sempre vem antes da filosofia. Em geral, somos expostos à religião antes de termos maturidade pra pensar por nós próprios.

  52. Pra Feuerbach, a religião que assume que seu deus é o sentimento do próprio adorador é superior à religião que põe seu deus fora do ser humano. Feuerbach diz que a religião que invoca um deus exterior ao adorador é idólatra. Acusação grave. Será que ele foi pro Inferno?

  53. Ainda assim, essa “religião superior” não pode pensar que o sentimento é sobre-humano.

  54. O objetivo do livro é provar que divino e humano são a mesma coisa, logo que o conteúdo do cristianismo é totalmente humano. Pronto, daqui dá pra você dizer se deve continuar ou não. Se você acha que tem a fé fraca demais, não prossiga. Agora é meu último aviso.

  55. O indivíduo que pensa que as características divinas são humanas e são dele, remove de sua divindade todas as qualidades que ela poderia ter. Se seu deus deixa de ter essas qualidades, ele passa a não ter mais efeito na vida da pessoa. E a pessoa pode então dizer que Deus não existe.

  56. Agnosticismo é não atribuir a Deus nenhuma qualidade (afinal, não sabendo se Deus existe, não se lhe atribui qualquer característica). Mas daí pro ateísmo só falta uma confissão. Meu colega, o Beginner, provavelmente tem suas dúvidas sobre isso. Queria ver o que ele diria, já que ele é agnóstico.

  57. Pra Feuerbach, afirmar que Deus existe requer experiência. Deus precisa ter entrado em contato com o adorador, diz Feuerbach. Do contrário, se Deus não fizesse diferença em minha vida, eu nunca poderia afirmar sua existência. Já tive duas orações atendidas, acho que isso conta.

  58. Toda a existência humana implica ofensa. Isso explica porque pessoas muito boazinhas, que não querem ferir ninguém, mas sentem o impulso com crescente frequência e intensidade, se matam.

  59. Se por um lado esvaziar um deus de suas qualidades é anulá-lo, atribuir a ele predicados limitados também não parece correto.

  60. Existem pessoas que enjoam de Deus quando enjoam da religião que praticam. É o caso do meu sobrinho, na época com cerca de nove anos de idade, que disse à minha mãe, que lhe forçava o jeovismo, que não acreditava nem em Deus nem em Satanás. Minha mãe ficou tão confusa quanto ficou indignada. Ela provavelmente pensou “como ele pode não crer, se eu levo ele ao salão do Reino duas vezes por semana, faço estudo bíblico semanal com ele, o faço marcar as revistas, o matriculei na Escola do Ministério Teocrático e ainda por cima leio o Examine com ele todas as manhãs?!” Respondeu a própria pergunta. Nesta semana, os anciãos de congregação falaram com ele (hoje ele recuperou a fé e tem onze anos), pra tentar fazê-lo voltar a atender às reuniões no salão e ele disse categoricamente que ir às reuniões e fazer todas as rotinas de testemunha de Jeová o atrapalha no pleno exercício e aprendizado da fé, a qual ele julga ser capaz de aprender e praticar sozinho. Isso não implica negligenciar os outros cristãos, mas, trocando em miúdos, que ele rejeita o ensino denominacional. Eu e minha irmã estamos orgulhosos do posicionamento do menino, especialmente porque ele permaneceu fiel ao que ele pensa mesmo diante de dois anciãos que a minha mãe chamou pra convencê-lo.

  61. Não adianta dizer que Deus existe, mas que ele não se mostra a mim como ele realmente é, porque eu, como humano, só posso concebê-lo em moldes humanos. Pensar dessa forma, isto é, separar o Deus mesmo de como Deus se mostra a mim, torna impossível a religião, isso é, “a religação” com Deus, porque a religião quer Deus como ele é, não somente sua aparência.

  62. Se o ceticismo é o pior inimigo da religião e a distinção entre “Deus em si” e “Deus para mim” é uma distinção cética, minha fé se torna contraprodutiva, porque estou misturando religião e ceticismo, diz Feuerbach.

  63. Para Feuerbach, bem como para Xenófanes, se outras espécies de animais pudessem imaginar deuses, os moldariam segundo os valores de sua espécie.

  64. Se pensamos que Deus é aquele ser acima do qual não existe outro, já dá pra enumerar outras características dentro desse conceito. Se ele é o maior, deve ser perfeito, sábio, imortal, amoroso, justo, entre outros. Portanto, é ridículo, para Feuerbach, que alguém faça a distinção entre o que Deus é e como ele parece ser. A teologia opera assim, até certo ponto, derivando características do pressuposto de perfeição divina.

  65. Quando o crente pergunta “será que o pastor não está atribuindo caracteres humanos a Deus?”, já está perdendo a fé no que o pastor fala. Já começa a colocar sua religião em dúvida.

  66. O problema do argumento de Feuerbach é que ele pressupõe que o ser humano veio primeiro e que imaginou Deus depois. Assim, faria sentido que tivéssemos colocado em Deus características humanas. Só que isso é um argumento circular: ele pressupõe o que ele quer provar, que Deus não existe. Nós, que somos religiosos, podemos afirmar que Deus veio antes. Então, não é que nós atribuímos a Deus características humanas, mas o contrário: Deus nos dotou, em dose limitada, de características suas (Salmos 82:6). Feuerbach poderia dizer: “mas assim você também pressupõe Deus, também incorre em argumento circular.” E eu diria: “eu acredito, então eu posso, mas você, que se propõe a ‘ser racional’, não pode.” A fé não está subjugada às regras da argumentação correta. Se fosse, seria filosofia, não fé. É claro que é possível fazer filosofia da fé (teologia), mas isso implica, enquanto implicar fé, que eu não posso duvidar de certas coisas. Tem que ser cara lisa.

  67. Pode ser que a tendência a ter fé seja algo natural do ser humano.

  68. O sujeito é o que existe. Os predicados são sua essência. Se existência é predicado, mas não pode haver predicado sem sujeito, quem veio antes?

  69. Parece que Feuerbach está atacando uma teologia feita sem a Bíblia. Porque muitas afirmações teológicas que ele ataca não encontram base bíblica sólida. Falo com a autoridade de quem leu a Bíblia Sagrada inteira duas vezes e que está na terceira leitura.

  70. Duvidar do meu Deus é duvidar da minha escolha, da minha íntima profissão de fé. É, em certo sentido, duvidar de mim mesmo.

  71. Se Deus não precisa de templos (João 4:21), então por que os templos são tão belos? Sim, é pra mostrar que nos importamos, mas não há como dizer que tal coisa é necessária.

  72. Feuerbach diz que os gregos excluíam de seus deuses as emoções e sentimentos baixos ou vis. Isso não é verdade: Zeus traía a mulher, entre outros maus exemplos. Se os humanos, historicamente, só atribuíam aos deuses coisas boas, como se explica os deuses gregos que tinham defeitos, os quais muitos eram, sim, tidos como defeitos mesmo naquela época?

  73. Para Feuerbach, a inexistência de um Deus sábio, vivo e bondoso não inviabiliza a sabedoria, vida ou bondade dos outros seres. Veja a nota 66.

  74. Para Feuerbach, uma qualidade não é divina porque Deus a tem, mas porque a qualidade é, em si, divina. Novamente, essa afirmação é gratuita. Ele está pressupondo o que quer provar (“Deus não existe porque não tem qualidades; ele não tem qualidades porque sou eu que atribuo qualidades a ele; eu faço isso porque eu quero que Deus exista; se eu quero que ele exista é porque ele não existe; ele não existe porque não tem qualidades” e assim vai, mas eu posso afirmar “Deus existe porque tem qualidades; eu tenho qualidades porque ele mas deu; se ele me deu qualidades é porque ele me ama; se ele me ama é porque ele existe; ele existe porque tem qualidades”).

  75. Para Feuerbach, o início da religião é a própria pessoa. Não passa pela cabeça dele a revelação porque ele a descartou antes de começar a escrever.

  76. Existiam deuses do medo e do terror. Mas sentir medo ou causar terror não são qualidades ruins, ou seja, defeitos? Eu só posso atribuir a Deus o que há de mais elevado. Onde no mundo o terror e o medo são maiores que a paz (excluindo a cabeça doente de Hegel)? Logo não faz sentido que em Roma tenham existido templos para o medo e para o terror, mas não para a paz, se o argumento de Feuerbach merece crédito. A única explicação seria que a paz, como um estado natural, não tinha nada de especial. Então não fazia sentido erigir um altar a um deus que se manifesta pelo repouso, ou seja, não se manifesta. Por outro lado, na ocasião de uma guerra, causar medo e terror eram qualidades, mas não sofrer essas coisas. Vou deixar meu contra-argumento aqui de qualquer jeito, mesmo que eu não o veja como forte.

  77. A tendência a atribuir eventos naturais a causas sobrenaturais é o que cria as superstições.

  78. Parece que, para Feuerbach, Deus só existe se eu conhecê-lo. Muito bem, mas Deus, dita a religião, não precisa de nós pra existir. Já pensou se ele existe mesmo que eu não o conheça?

  79. É como se ele dissesse “se eu não posso conhecer, darei por inexistente.” Verdadeiramente estudou com Hegel.

  80. Parece que Feuerbach afirma que emoções ou sentimentos ruins são bons quando justificados. Então, no caso do templo do medo e o templo do terror, eles não seriam coisas ruins se justificados, isto é, se não tiverem o mal como raiz.

  81. Para Feuerbach, o rebaixamento do ser humano diante de Deus é um danoso efeito colateral da religião. Danoso, para ele, porque o ser humano não reconheceria que o deus que ele adora é apenas uma elevação ao infinito de características humanas. Seria como se prostrar a si mesmo e se imaginar menor que si mesmo.

  82. A distância entre Deus e ser humano é sempre maior do que o grau de semelhança entre os dois, conforme diz o Concílio de Latrão.

  83. O preconceito contra os ateus foi que levou a muitas concepções vergonhosas da divindade. Afinal, se eu sou obrigado a crer, crerei em qualquer coisa. É mais ou menos como o preconceito que hoje se tem contra os pedófilos: se o pedófilo deseja crianças, eu então não vou nem tocar nelas. O preconceito leva a atitudes extremas e impensadas, um tipo de formação reativa.

  84. No Ocidente, o pensamento tradicional dita que é a existência de Deus que sustenta a moral. Assim, se Deus não existe, nada é proibido. Só que isso é incorreto. É verdade, eu acredito em Deus, mas eu não acho que seja impossível a um ateu agir moralmente. A diferença é que o ateu usa outros critérios de virtude, como o bem-estar do próximo. O ateu não precisa de religião pra fazer o bem ou identificar o bem.

  85. A Bíblia Sagrada… se contradiz.

  86. Perguntar “como Deus criou um mundo?” já é um prelúdio de ateísmo.

  87. Religião não é teologia.

  88. Embora sejamos todos filhos de Deus, existem graus de proximidade entre Deus e nós. O piedoso é mais próximo de Deus do que o ímpio. Logo, embora sejamos fundamentalmente iguais, nossas ações nos aproximam ou distanciam do Deus eterno. Estranho eu aprender tanto sobre religião com um ateu que tenta colocar a religião abaixo. Feuerbach está acidentalmente aumentando minha compreensão sobre a fé em uma direção que ele próprio talvez não gostaria.

  89. Deus só é Deus pra nós. Com isso Feuerbach conclui que Deus não é Deus se não existissem criaturas que o tratassem como tal. O problema aqui é que o conceito de Deus não exige adoradores. Deus continua sendo Deus mesmo sem nós, porque Deus é criador. Se cria ou pode criar, é Deus. Adorador é acessório.

  90. A trindade: três pessoas, uma essência. Jeová não é o Verbo e nem o Espírito Santo. O Verbo também não é o Espírito Santo. E, no entanto, os três são Deus, é o que diz a doutrina da trindade. É mais ou menos como dizer: Yure não é Guilherme nem Antônio, Guilherme também não é Antônio, no entanto os três são homem. Três pessoas, uma essência: humanidade. Isso equivale a dizer que a trindade prega a adoração a três deuses. Isso é pecado. Pra conciliar isso, a doutrina diz que os três devem ser adorados como uma entidade só, pois são consubstanciais. Pra mim, continua sendo pecado. Deus é um só e esse Deus é Deus Pai.

  91. A trindade é um conceito altamente contraditório.

  92. Feuerbach diz que a Igreja Católica coloca Maria em uma posição que Cristo deveria ocupar. Ela tem mais importância. Isso é uma distorção. Importante lembrar que a Igreja Católica nem sempre foi assim: na Suma Contra os Gentios, Tomás diz que somente Deus deve ser cultuado. Então, se Tomás estivesse vivo hoje pra ver como o catolicismo está, talvez ele virasse protestante. Tenso.

  93. Os sacrifícios de devoção, como o celibato, tornam Deus mais palpável ao crente. Uma fé que é praticada é mais forte. Isso, claro, se você não estiver sendo forçado, como meu sobrinho foi.

  94. Para Feuerbach, “o homem afirma em Deus o que ele nega a si mesmo.” Se o cristão tiver insistido em ler até aqui e estiver passando mal, veja a nota 66.

  95. Para Anselmo, quanto mais desprezível eu for para os outros homens, mais querido sou para Deus. Isso não deve ser entendido de forma literal, mas como um incentivo à humildade (Marcos 10:15).

  96. Se o ser humano fosse desprovido de boas qualidades, isto é, se só Deus tivesse algo de bom, não deveríamos ser capazes, por exemplo, de apreciar um belo quadro, de raciocinar ou de amar. Parece que aqui ocorre um ataque ao ramo protestante, segundo o qual o ser humano, como ser corrupto às últimas consequências, não deveria se importar com seus atos para ser salvo; será salvo de graça. Afinal, um ser tão mal nunca poderia merecer salvação. É assim que existem tantos cristãos malvados, estribando-se nisso como licença pra pecar.

  97. O dogma segundo o qual o Deus perfeito só pode amar a si mesmo, além de estar em flagrante contradição com a revelação (João 3:16), contribui para a imagem de um Deus egoísta.

  98. Para Feuerbach, admitir que Deus pode exibir um comportamento humano é prova de antropomorfismo. Mas, se você pensa que Deus veio antes da humanidade e que dotou o ser humano de características suas (Gênesis 1:26), então não é Deus que exibe um comportamento humano e sim o contrário. Dá no mesmo, isto é, há semelhança entre Deus e homem (Salmos 82:6), sem ser a mesma coisa, isto é, posso afirmar isso sem negar a existência de Deus.

  99. A trindade é uma desculpa pra adorar três deuses em vez de um só e ainda assim afirmar que é um só.

  100. Pense nisso: se a = d, se b = d, se c = d, então a = b = c. Mas a trindade quebra o último momento. Pai é Deus, Filho é Deus e Espírito Santo é Deus e, no entanto, não são a mesma coisa. Não tem lógica.

  101. Se são todos Deus, são três deuses. Mas isso é politeísmo. Então, pra evitar isso, cada um dos três deuses é chamado “pessoa” de um deus maior, que é o trino. É trocar palavras e continuar com o conceito.

  102. Se alguns religiosos afirmam que Deus é indiferente ao nosso comportamento (mas não a nossa fé, por exemplo, conforme Romanos 10:9), por que eles ainda tentam ser bons e agir conforme o caminho ensinado (o mesmo autor que sustenta a fé somente dá recomendações de comportamento em Gálatas 5:19-21 e condiciona a salvação a elas)?

  103. Uma religião que tem a fé como único mandamento acaba sendo uma religião em que os adoradores estão centrados em si, mesmo que digam que amam a Deus (Mateus 15:8).

  104. A razão é indiferente ao sentimento. É por isso que ela nos condena, apontando nossos erros. Ela não se importa com o que sentimos nem como nos sentimos. Ela analisa, recompõe e conclui. Você que se dane. É por isso que sentimos culpa, porque sabemos, pela razão, que erramos. A razão também aponta os erros dos outros, mesmo quando nosso sentimento não deixa que manifestemos isso. É como quando sabemos que a pessoa fede, mas gostamos dela, então não dizemos que fede. Também é o caso do juiz que é forçado a condenar o próprio filho. Se ele decide condenar, está sendo racional. Se absolve, é sentimental, caso o filho seja realmente culpado.

  105. A necessidade espiritual, o “vazio metafísico”, esse desconforto típico de quem deseja Deus sem ter ideia de como encontrá-lo é identificado por Feuerbach com a insatisfação da razão em não ter chegado ao seu grau mais alto. Enquanto o ser humano não aceita um deus, sua razão não se aquieta. A razão, diz Feuerbach, só se conforta quando chega a conceber um ser que é o mais alto. Só então, poderá dizer a si mesma: “nada mais há que ser feito, posso descansar.”

  106. Uma das coisas que leva muitos a crer é a falta de sentido do mundo. Se não há Deus, a vida não faz sentido pra essas pessoas. É preciso algo que governe e que seja racional.

  107. O que é racional é real, diz Feuerbach, com Hegel.

  108. Para Feuerbach, Deus não pode fazer um triângulo de quatro lados.

  109. Para Feuerbach, a medida do meu Deus é a medida da minha razão. É, se eu fosse deísta. Mas como eu creio na revelação, a medida do meu Deus é a medida da minha fé, limitada pela medida da tradução, limitada pela medida das cópias, limitada pela medida da relação entre Deus e os autores sagrados.

  110. O Deus que Feuerbach critica é, em última instância, a opinião de Deus feita pela teologia, que pode ou não corresponder com o Deus bíblico (e normalmente não corresponde).

  111. A razão trabalha pela vontade. Se a pessoa não tem razão madura, se deixa iludir e é facilmente controlada, como o homem cuja esposa o controla pelos sentimentos ou aquele que acredita em cada palavra do Jornal Nacional. Esse tipo de gente desce ao grau de instrumento.

  112. Liberdade é um dom dos que pensam. Os idiotas só pensam que são livres.

  113. Quem tem razão mais madura, esse comanda. É por isso que se diz que quem é esperto comanda sobre os burros.

  114. Algo pode, ao mesmo tempo, ser sujeito e objeto, basta variar os pontos de vista ou atividade exercida.

  115. Se houver outro ser capaz de inteligência, como nós somos, e se sua inteligência for superior, ele provavelmente reterá os mesmos princípios de lógica que nós.

  116. Quanto mais eu leio Feuerbach, mais eu me lembro de como o orgulho prejudica a relação com Deus. Veja que ele só rebaixa Deus pela elevação do gênero humano. Não estou dizendo que o ser humano é desprovido de valor até porque a revelação também não diz isso. Mas que se deve atribuir ao ser humano seu justo valor. E aqui parece que à razão humana é dado um valor excessivamente romântico. Ele não está errado em falar o que ele fala da razão, mas a forma enfática e poética de falar pode levar o leitor a pensar que a razão é mais do que o que ele está tentando expor.

  117. Deus, se é Deus, só pode ser um.

  118. A ideia do livro é tentar demonstrar que Deus não é algo fora de nós, mas em nós: a nossa razão. Afirmação extremamente orgulhosa.

  119. Para Feuerbach, se você deixa de conceber o homem como a religião o concebe, automaticamente deixa de crer na religião.

  120. A religião não contribui com a ciência.

  121. Somente seres com sensibilidade são capazes de misericórdia.

  122. O amor verdadeiro se manifesta pelo prazer em fazer o outro feliz. Se uma pessoa ama você só enquanto você lhe serve como ferramenta para alguma coisa particular, isto é, se ele tem sua felicidade como algo abaixo do objetivo maior pelo qual ele te emprega, não é amor de verdade. Quem realmente ama põe a felicidade do outro em primeiro lugar, no mínimo junto com a própria felicidade, porque a felicidade do outro faz também a sua. Quem ama quer que o amado seja feliz. Então se pode dizer que um pedófilo pode amar uma criança.

  123. Os textos bíblicos que falam do amor são tão importantes, belos e emocionantes que é difícil conceber que alguém tenha ousado adulterá-los.

  124. Se Deus não amasse, não perdoaria pecados.

  125. A teologia, que considera Deus como abstrato e puro, diferente do Deus revelado pela Bíblia Sagrada somente, acaba abstraindo Deus do amor. Passa a impressão de que ele é uma força insensível ao nosso sofrimento.

  126. A prova da existência do amor é o sofrimento. Se não existisse amor, não haveria sofrimento.

  127. Se Deus não amasse, não faria milagres. Afinal, um milagre é uma intervenção direta de Deus sobre a ordem cósmica, ignorando a causalidade, a qual é perfeita. É o fenômeno inexplicável. De fato, Deus não faz isso o tempo todo. Mas se não amasse, não faria de jeito nenhum, porque não iria nunca interferir na sua perfeita criação, ainda mais por um ser tão pequeno como o ser humano.

  128. Partindo do pressuposto de que quem faz Deus é o ser humano, Feuerbach conclui que a pessoa religiosa ama a si mesma pela religião, pois ama a Deus e é amada de volta por ele. A religião seria, então, diz Feuerbach, um amor não-confesso entre a pessoa e o próprio gênero humano.

  129. Quem não ama não tem coração. Quem não acredita no amor não precisa de coração.

  130. Perder o objeto amado é como perder o coração. Se você perder o coração, morre. Se perder o objeto amado, não quer mais viver.

  131. Cristo sofreu por outros. Então deveríamos fazer o mesmo.

  132. A razão e a paixão, Sócrates e Jesus. Sócrates pega o cálice de veneno e bebe convicto. O outro pede pra, se possível, não beber (Mateus 26:39). A filosofia enaltece a razão. Mas nem sempre é bom que a razão nos tire sentimentos propriamente humanos.

  133. Dizer que Deus não tem emoções é estranho. Nós sentimos emoções quando algo acontece com nossos filhos, quanto mais o Pai Celestial quando algo acontece com sua criação.

  134. Diz Feuerbach: o Deus do cristianismo não é o da teologia.

  135. Um ser que não sofre não tem coração.

  136. Repreender o amor-próprio é repreender a existência da pessoa. Se ela deve se odiar, se matará, e ninguém deve dar ao outro um conselho que não seguria na mesma situação.

  137. Todos devemos ter metas ou propósitos. Para muitos, essa meta é Deus.

  138. Para Feuerbach, a trindade é uma tentativa de completar um amálgama de seres que sozinhos não satisfazem o ser humano. Deus é razão. O Verbo é sentimento. E o Espírito Santo? Melhor eu não dizer (Mateus 12:31).

  139. Diz Feuerbach que encarar Maria como mãe de Deus fecha um buraco que havia na trindade: um Pai e um Filho sem nenhum sinal da mãe.

  140. Para Feuerbach, um ateu, a mariolatria (culto à Maria) não é uma prática idólatra. Seria pra Tomás, ironicamente católico. O mundo.

  141. Para Feuerbach, não crer na “mãe” de Deus diminui a crença tanto no Pai quanto no Filho. Eu não sei se não estou conseguindo acompanhar o raciocínio, mas isso parece colheita de cereja: ele mistura sentimento, amor materno e fé, fazendo as ligações que achar necessárias entre três dados que não tem, ou pouco tem, a ver um com outro. Eu não vejo a ligação. O argumento não me convence nada. Mas talvez porque eu acredite em Deus e tenha pouca experiência de antropologia.

  142. Feuerbach diz que o homem que perde um filho se resigna, mas a mãe que perde um filho é inconsolável. Para ele, isso atesta que só a mãe pode “amar de verdade” um filho. Maldito.

  143. Os argumentos para atacar Maria como mãe de Deus, diz Feuerbach, podem ser estendidos a toda a trindade, a ponto de separar totalmente Pai, Filho e Espírito Santo.

  144. O fato de o protestante ser mais liberal em relação ao sexo do que o católico (pois o catolicismo recomenda o celibato, a pobreza e a obediência à igreja como os três votos do religioso) torna mais fácil ao protestantismo excluir a “mãe de Deus” de seu culto, diz Feuerbach.

  145. Para Feuerbach, Deus é mais concreto pra quem sente que necessita dele. Por isso que os ricos ou famosos tendem a esquecer de Deus quando se sentem plenos (Deuteronômio 6:10-12).

  146. Para Feuerbach, a trindade é um conceito morto, sem importância. Mesmo que o Pai, o Filho e o Espírito Santo existam, não faz diferença, de um ponto de vista prático, que um não seja o outro e, no entanto, os três sejam Deus. Isso não influi na prática da fé e, diz Feuerbach, nem no seu lado teórico, isto é, como fundamento para a prática.

  147. Para Feuerbach, quem não ama a mulher não pode amar o homem. Maldito duas vezes.

  148. Para Feuerbach, o interesse na trindade começa pelo interesse por conhecer o Filho. Se bem que, se tivessem interesse em conhecer o Filho pelo Filho, provavelmente abandonariam a trindade, porque abundam argumentos contra ela nos quatro Evangelhos. Por exemplo, se Jesus, isto é, o Verbo é Deus e o Pai também é Deus, eles devem ter a mesma importância, e, no entanto, Jesus frequentemente se põe abaixo de Deus (como em Mateus 7:21). Também se ambos têm a mesma importância, ambos deveriam saber a data exata do fim do mundo e, no entanto, Jesus não sabe (Marcos 13:32). Além disso, se as três pessoas da trindade têm a mesma importância, a blasfêmia contra o Espírito Santo não deveria ser imperdoável, como não é imperdoável a blasfêmia contra Jesus (Lucas 12:10). Então como fica a “prova irrefutável” em João 1:1? Pra mim, consubstancialidade não significa igualdade de importância e não deve ser usada como um meio de divinização, especialmente porque Jesus se colocava abaixo de Deus Pai. Seu exemplo na terra contradiz a doutrina da trindade.

  149. Para Feuerbach, fazer orações aos santos esconde a expectativa secreta de que Deus atende tudo aquilo que o santo pede a ele. Então, entregar o pedido a Deus pelas mãos de um santo é uma tentativa de dobrar a vontade divina por um terceirizado. Na prática, se dá mais importância a quem faz o pedido e consegue do que àquele que realmente concede. Com isso, Feuerbach conclui que isso é idolatria.

  150. Alguns pensadores da Igreja concordam que quem não adora Cristo como Deus não pode ser cristão. Beleza, então eu não sou.

  151. Para Feuerbach, adorar Jesus ao mesmo tempo que se considera Jesus como imagem de Deus é idolatria (Êxodo 20:2-6).

  152. Uma religião de imagens é uma religião idólatra.

  153. A arte sagrada é profana, diz Feuerbach, que se usa da sacralidade como desculpa para exercer fascínio, da mesma forma que a arte profana. Isso não quer dizer que seja ruim, mas que não se deve atribuir a elas um lugar no culto. No final das contas, são só imagens belas. Nada há nelas de sagrado.

  154. É possível que a adoração não seja à imagem, mas ao que ela representa. Mas como fica o caso das relíquias? As pessoas que se ajoelham diante de uma relíquia sagrada adoram que objeto? Claro que isso não exclui a possibilidade de ocorrer erro do crente e não da religião.

  155. A comunicação é tão necessária como o pensamento.

  156. Exagerado…

  157. Falar dos problemas ameniza-os. Parece bobo, mas desabafar realmente ajuda.

  158. O conhecimento da vida humana antecede o da natureza. O universo se torna claro quando o conhecimento sobre nós mesmos também se torna claro. Nosso conhecimento do universo é limitado pelo nosso autoconhecimento.

  159. Cada um é limitado, mas nosso poder cresce quando estamos em conjunto. Um estudioso não está sozinho; ele está com os que estudaram antes dele e produziram o que ele leu. Se cada um começasse do zero, sem levar em consideração o que fora produzido antes, o avanço científico seria quase nulo, com cada indivíduo chegando mais ou menos ao mesmo lugar. Mas continuando de onde o outro parou é que chegamos mais e mais longe.

  160. A maior das dores é o amor não correspondido, diz Feuerbach.

  161. A razão começa com a operação de perguntar e responder. São seus dois primeiros passos.

  162. O analfabeto funcional não entende o que lê a menos que alguém leia para ele. Por isso que faz parte da alfabetização a leitura coletiva em voz alta.

  163. Se Deus é bom, quem criou o mal? Para Feuerbach, é razoável pensar que o mal sempre existiu.

  164. Se o idealismo deixar de se associar à realidade dos fatos, torna-se filosofia vazia.

  165. Diz Feuerbach que, enquanto o conceito de divindade contiver informações contraditórias, é dever da ciência destruir a divindade.

  166. Se a bondade e a conversa não surtem efeito, o jeito é sair no braço, diz Feuerbach.

  167. O conceito de personalidade passa pelo conceito de corpo. É a existência de corpos que nos diferencia uns dos outros em primeiro lugar.

  168. A diferença entre homem e mulher é total, não restrita a certos órgãos e nem tampouco algo meramente superficial.

  169. Para Feuerbach, homem é homem, mulher é mulher, mesmo que não tenham corpo.

  170. Para Feuerbach, há dois tipos de personalidade: masculina e feminina.

  171. Um gênero não trata o outro como seu próprio. É diferente a conversa entre homens da conversa entre homem e mulher, diz Feuerbach.

  172. Diz Feuerbach que é repulsivo que alguém negue seu sexo. Mas, considerando que ele também diz que sexo não depende de corpo, me pergunto do que ele está falando. Se não é corpo, deve ser mente. Se é mente, deve estar falando de identidade de gênero. Claro que isso é esticar a baladeira, já que não se pensava em identidade de gênero na época dele. Mas alguém que entendesse dessa forma não é digno de censura, já que ele diz que sexo pouco tem a ver com corpo.

  173. Ambos os sexos têm um pouco de seu oposto. O homem deve agir de forma feminina se a ocasião assim pedir, diz Feuerbach. Isso não quer dizer agir como mulher, pois o comportamento feminino também implica agir de forma masculina se a situação pede. É confuso, mas eu entendi o que ele quer dizer. O homem, enquanto homem, ainda deve agir de forma feminina na ocasião X e na Y, bem como a mulher, enquanto mulher, deve agir de forma masculina na ocasião A e na B. O homem, por exemplo, que age de forma feminina na ocasião A está cruzando a linha. Embora seja esperado que ele aja de forma feminina na ocasião Y, não é censurável que ele não o faça, embora devesse. Há um problema grave nesse argumento, contudo: ele dá masculinidade e feminilidade como conceitos garantidos, sem os explicar. Devo agir como homem na ocasião A, mas o que significa “agir como homem”?

  174. Para Feuerbach, a diferença entre os sexos é a base da moralidade. Nossa, isso é bem estranho vindo de um ateu, parece papo de protestante.

  175. Dividir a humanidade em dois gêneros, homem e mulher, foi a coisa mais sábia que a natureza já fez, diz Feuerbach.

  176. O primeiro milagre foi a criação.

  177. Mas, diz Feuerbach, milagres não existem. Assim nasceu Górgias.

  178. O milagre é a prova da influência de Deus em nossa vida. Negar a existência do milagre é negar a providência (intervenção divina).

  179. A Bíblia Sagrada contradiz a natureza e vice-versa. Os milagres bíblicos não são possíveis naturalmente. Óbvio, milagres são sobrenaturais. Pra Feuerbach, não é possível acreditar nos dois: na revelação e na natureza. Pra Tomás, é possível, sim.

  180. Deus só faz milagre pra humanos.

  181. Paulo não professava a trindade.

  182. Para Feuerbach, a teologia é antropologia de má qualidade.

  183. Matéria é inseparável do conceito de mundo.

  184. Diz Feuerbach que a ciência começa com o politeísmo, citando inclusive Salomão, que era sábio (1 Reis 4:21-34), mas que abandonou Jeová (1 Reis 10:9). É, mas sua sabedoria, se devemos crédito à revelação, foi dada pelo próprio Deus (1 Reis 1:1-9). Como Feuerbach desconsidera a revelação antes mesmo de começar, ele pode se dirigir a ela descuidadamente. Além disso, pela própria narrativa do Primeiro Livro dos Reis, Salomão abandonou Jeová em idade avançada, ao passo que se tornou sábio ainda jovem.

  185. Quem afirma crer só no necessário, muitas vezes crê só no conveniente.

  186. Para Feuerbach, amar quem Cristo odeia é se revoltar contra Cristo. Só que isso é incorreto: Cristo disse pra amar todo o mundo. Portanto, se revoltar contra Cristo é não amar. Basta lembrar da parábola do bom samaritano (Lucas 10:25-37). Também, no sermão do monte, Jesus diz que não há glória em amar o amigo e odiar o inimigo, que se deve amar até nossos inimigos (Mateus 5:43-48). Ora, mas os inimigos dos cristãos são inimigos de Cristo. Devemos amá-los também. Logo, a afirmação de que o crente, por ser crente, deve odiar o descrente não se sustenta. Jesus desmente isso.

  187. É fácil ser fanático quando há uma ênfase total na fé, como é o caso do protestantismo. Se eu só posso ser salvo pela fé, então eu tenho que crer não importa o quê. Não darei ouvidos a ninguém que discorde de mim, pra não abalar aquilo em que acredito. Daí pra silenciar o outro à força é um passo de distância.

  188. Pra esse tipo de pessoa, tudo é idolatria, exceto a própria fé com a própria doutrina. Cursar faculdade é idolatria. Ter filhos é idolatria. Tudo é idolatria pra o fanático, exceto sua própria crença e o que está de acordo com ela.

  189. A crença no Inferno revela desejo de vingança.

  190. Os cristãos não são os únicos capazes de amar. Aliás, muitos cristãos revelam excepcional aptidão para o ódio. Para Feuerbach, isso acontece porque a fé e o amor se contradizem. Eu não acho que se contradigam, mas essa é a explicação dele. Acho, aliás, que a fé e o amor são inseparáveis. Se eu creio, devo amar, porque Deus me manda, por meio do Verbo, amar. Mas Feuerbach tem razão em dizer que muitos atos de ódio são motivados pela fé cega, isto é, por fanatismo. Então, sim, pode ser que a fé opere contra o amor de muitas pessoas.

  191. Os conflitos religiosos são mais odiosos do que os conflitos nacionais.

  192. Uma das críticas de Feuerbach à religião cristã: muitos cristãos só amam porque Deus manda. Não amam de verdade, mas por medo do Inferno.

  193. Cristo quis que todos se amassem, a despeito de nacionalidade, idade, classe social ou gênero.

  194. Quem não ama não é cristão, pois não faz o que Cristo fez e disse pra fazer. Não está, portanto, em comunhão com ele.

  195. Para Feuerbach, Israel imaginou o Deus que teria imaginado porque era uma nação de egoístas. Muito bem, ele entra pro clube antissemita, junto com Voltaire.

  196. Para Feuerbach, estudar a natureza é idolatria. O intuito dele, com isso, é acirrar, esquentar o conflito entre fé e razão. O cristão que confia na ciência, diante de uma afirmação dessas, seria tolhido talvez a abandonar sua fé em favor da ciência ou talvez a levar uma fé hipócrita, isto é, praticar a ciência sentindo-se culpado por fazê-lo. Mas pra quem lê a Bíblia Sagrada, está claro que idolatria é a divinização de um objeto. Nenhum cientista olha pra nada nesse mundo com a intenção de tratar esse algo como divino. Afinal, se algo é divinizado, não se faz mais ciência sobre ele. Então, é possível conciliar os dois: se faz ciência da natureza, mas não de Deus, à medida que fazer ciência da natureza não implica divinizá-la. Este livro desceu ao nível de propaganda desonesta. É um trabalho de conversão ao ateísmo.

  197. Para Feuerbach, não se pode fazer filosofia da criação, entendida como tirar coisas do nada.

  198. É interessante como Feuerbach chama o Deus de Israel de “Jeová” e a trindade de “Deus”, como se cristãos e judeus tivessem sempre adorado entidades diferentes. Pra mim, Jeová, Verbo e Espírito Santo são entidades de fato, mas só Jeová é Deus, não os três.

  199. O ser humano encontra na interioridade alívio pro seu sofrimento. Ele se recolhe a si mesmo.

  200. Orar, isto é, dizer a Deus suas aflições, implica, obviamente, que aquele que ora acredita nele. E mais: acredita nele como o ser mais chegado, ao qual pode confessar qualquer coisa. Ou seja, aquele que reza dá uma prova patente de que acredita que Deus lhe é mais próximo do que qualquer humano.

  201. Quem não sofre não ora de verdade, diz Feuerbach. Se bem que tem gente que ora de verdade a fim de agradecer.

  202. Quem ora e não tem sua oração atendida pensa: “Deus sabe o que é melhor, então talvez não seja bom que eu seja atendido.” É nesse sentido que entra aquela tão repetida quanto incompreendida citação de Filipenses 4:13 (nem precisei abrir o Xiphos pra pegar essa referência de tanto que escuto evangélico falando nisso): “tudo posso naquele que me fortalece.” Se pensa que isso quer dizer que tudo é possível pra quem tem fé, mas isso é incorreto. “Naquele que me fortalece” quer dizer que meu desejo e o de Deus devem estar em união. Não adianta pedir a Deus algo que contradiz os seus planos. É isso que quer dizer “vã repetição”, insistir em pedir pra Deus o que ele nunca concederá (Mateus 6:7-13), mas comida, perdão, segurança e coisas que tais são coisas que Deus deseja pra nós. Por isso que, no meu entender, rezar o Pai Nosso não é vã repetição, na medida em que se interpreta “vã” como “inútil”.

  203. Para Feuerbach, que parte do pressuposto de que Deus é a exteriorização da afetividade humana, orar é acreditar que o coração humano, nossos sentimentos, são mais poderosos do que a natureza ou a necessidade. O problema é que quem ora não pensa nisso. Quem ora o faz porque crê que Deus é maior que a natureza, não o mero sentimento.

  204. Para Feuerbach, orar é falar sozinho. Lembrando, leia a nota 66.

  205. O amor tem mais poder que o déspota. A pessoa amada não precisa da violência pra ser atendida por quem ama. Parte da razão de eu temer me apaixonar.

  206. Para Feuerbach, o crente pensa que a oração tem poder. Isso também é incorreto. Quem tem poder é Deus somente. A oração tem tanto poder quanto um pedido feito no cotidiano, sozinha ela nada opera. Se a oração é ouvida por Deus e Deus realiza o pedido, quem tem poder é Deus, não a oração, que é só um pedido (ou agradecimento ou conversa, mas Feuerbach diz que é só pedido), uma vocalização.

  207. Para Feuerbach, a verdadeira trindade é fé, amor e esperança.

  208. Quem nega a ressurreição, nega a ressurreição de Cristo. No cristianismo, isso equivale a chamar Deus de mentiroso, prometendo a ressurreição dos justos e nos pregando uma peça na pessoa de Jesus.

  209. Como, no catolicismo, tanto o celibato quanto o casamento são sagrados? Se bem que, para ser justo, o celibato é mais sagrado do que o casamento (Mateus 19:9-12) e, recentemente (no papado de João Paulo II, se não me engano), mesmo que o celibato seja mais sagrado, ele não torna o celibatário melhor do que o casado. A única vantagem do celibato é mais tempo pra se dedicar a Deus, tempo esse que o casado gasta com a esposa. Na contemporaneidade, contudo, há outras vantagens em levar a vida de solteirão.

  210. Diz Feuerbach que o veículo de propagação do pecado original é o esperma. É de lascar.

  211. Para Feuerbach, Deus acha o coito abominável. Mas poxa vida, como é que o humano primitivo iria encher a Terra, então (Gênesis 1:28)? Esperma artificial? Útero mecânico? Outro descaso que Feuerbach comete com a Bíblia Sagrada. Se o ato sexual fosse abominável a Deus, ele não teria criado dois gêneros, nem teria lhes dado ordem pra se reproduzir.

  212. O protestantismo é a afirmação de que fé e vida pública podem ser separadas, pelo princípio de “ somente”. Se a fé é tudo o que é necessário pra salvar (Romanos 10:9), eu posso agir do jeito que eu quiser na vida pública, além de que viver a minha fé na vida pública atrapalha essa vida. É provavelmente o pensamento do Bolsonaro. Importante lembrar que não é isso que Jesus ensina (Mateus 19:16-19).

  213. Se Jesus não tivesse sangrado, seria menos crível.

  214. Feuerbach, com as testemunhas de Jeová, diz que o Espírito Santo é impessoal.

  215. A grande diferença entre cristianismo e paganismo é Cristo. Não fosse Jesus, que seria das outras práticas cristãs, muitas das quais têm práticas análogas em religiões pagãs?

  216. Se Cristo é o Messias, como ele não faria milagre? É claro que o Messias faria milagres. Não se pode dizer que Cristo é o Messias sem lhe atribuir milagre algum.

  217. Todos somos pecadores, mas nossos pecados não são iguais.

  218. Se eu sou um vicioso e tenho amigos virtuosos, posso dizer que ao menos tenho boa índole: se não tivesse, eles não fariam amizade comigo.

  219. Somos diferentes porque isso é necessário. Se não fosse, deveria haver apenas um ser humano no mundo.

  220. Um ser humano é diferente do outro. Mas, mesmo assim, somos todos iguais no cristianismo. Seremos avaliados pelo Salvador pelos mesmos critérios (Lucas 10:25-28).

  221. A cristandade primitiva, como as testemunhas de Jeová, não celebrava aniversários, mas, o que pode parecer estranho, festejava funerais (Eclesiastes 7:1-4). Isso porque já, na época (diferente do que as testemunhas de Jeová hoje pregam), havia a crença na vida eterna logo após a morte, pela transmigração da alma. Então era mais lucro morrer logo. Se o cristão adoecia, não procurava médico, por exemplo, porque a morte era bem-vinda, ocasião de festa com música e guloseimas. Minha professora de filosofia da educação inclusive mencionou que houve uma onda de suicídios dentro do cristianismo durante a Idade Média, fazendo com que o suicídio fosse reconhecido como “pecado mortal”, argumentando que suicídio fere o sexto mandamento, que reza “não matarás” (Êxodo 20:13). Isso, ou acabavam os fiéis.

  222. Se a morte é a condição de possibilidade pra obtenção da vida eterna, então morrer é a única lei que vale a pena seguir, diz Feuerbach. O cristão devoto é casto, faz vigília, jejum, morre todos os dias.

  223. O cristianismo que mata o fiel todos os dias é desnecessário; uma vez só já basta. E nessa vez somos realmente libertos do sono, da fome, da sede, do desejo sexual, dos bens materiais.

  224. Para Feuerbach, a ordem de crescer e multiplicar (Gênesis 1:22) só se refere à terra desabitada, tanto que Jesus nos diz que é recomendável não se casar, o que implica, em um contexto cristão, que a abstinência sexual é recomendável, embora não obrigatória (Mateus 19:9-11), porque a Terra já estava cheia o bastante. Realmente, um colega meu que é homossexual e que recebe pressão do pai pra arrumar uma mulher me pediu auxílio bíblico porque o pai frequentemente usava Gênesis 1:22 pra justificar seu ponto. Eu então falei pra ele de Mateus 19:9-11 e o pai parou de encher o saco.

  225. “Olhar para uma mulher para cobiçá-la” (Mateus 5:28) só é adultério se um dos dois já estiver casado. Nada de errado em pessoas solteiras desejarem uma a outra.

  226. Diz Feuerbach que o cristianismo primitivo condenava o casamento como uma fraqueza. Se você absolutamente não consegue mais se controlar e simplesmente precisa de sexo, pode se casar, mas, para minimizar o dano que se poderia causar pela satisfação do impulso, a pessoa podia ter apenas um parceiro pela vida toda. Pra muitos, ficar solteiro abstinente é melhor do que se casar com uma mulher insuportável, mesmo com todo o sexo do mundo (Eclesiástico 25:16).

  227. Diz Feuerbach que acreditar no Paraíso sem ter uma ideia formada dele já é sinal de irreligiosidade. Tô lascado, então.

  228. Você só embeleza e melhora aquilo que é bom em algum sentido. Algo totalmente ruim não se melhora, mas é jogado fora.

  229. Tem gente que crê por medo da morte. Esse tipo de fé tende a ser errático e fanático. Eu sei porque já fui assim.

  230. Colocar a existência de Deus em dúvida é muitas vezes razão de sentimentos de culpa e vergonha.

  231. Quem crê em Deus normalmente crê também em Satanás. Eu tive um amigo que não acreditava em Deus, mas acreditava em Satã. Eu achei aquilo muito estranho e pedi pra ele explicar. Ele me disse que a existência do mal em tão grande abundância justifica a existência de uma entidade sobrenatural maligna que é mais forte do que uma possível entidade sobrenatural benigna. Se a entidade benigna é fraca, não pode ser um deus. Então, pra esse meu amigo, o deus verdadeiro é Satanás, que quer causar sofrimento por pura diversão. É um raciocínio lucidamente torcido.

  232. Novamente, Feuerbach fazendo contraposições desnecessárias entre ciência e religião, dizendo que sempre se opõem, sem dar uma razão suficiente pra afirmar que a ciência é sempre contra a religião.

  233. Para alguns cristãos da época de Feuerbach, Satanás era uma manifestação de Deus: de sua raiva. Assim, Satã teria sido criado pra castigar em nome de Deus. Isso parece amparado por Jó 1:6-12. Dizem as testemunhas de Jeová que há diferença entre permitir o mal e causá-lo. Eu não vejo essa diferença, mas isso não implica dizer que Deus é mau, apenas que ele é justo. Se ele fosse bonzinho com todo o mundo, não seria justo. Se ele é justo, deve punir e a justiça não pune alisando cabelos (Salmos 18:26-28). Além disso, se Deus precisa punir alguém, ele faz sozinho, sem auxílio de Satã, como fez no caso do dilúvio (Gênesis 6:17). Isso não implica dizer que não possamos alcançar misericórdia (Mateus 6:14-15).

  234. Não acreditar que Deus pode conceder favores materiais após ouvir uma oração já é sinal de falta de fé.

  235. Para Feuerbach, as causas intermediárias prejudicam a religião porque deixam claro que Deus não age diretamente no mundo o tempo todo. Eu acho que se pode acreditar em Deus sem negar as causas intermediárias. Nem tudo precisa ser milagre. Se fosse, ele seria um “Deus do improviso”. É mais digno da divindade o conceito de ordem cósmica, que pode funcionar sem seu auxílio constante, guardando os milagres pra quando for necessário.

  236. Não haverá casamento no Paraíso, do que se pode deduzir que não haverá sexo (Mateus 22:30). É interessante lembrar de como os mórmons discordam disso. Eu não engulo seus argumentos, mas também não acredito que pensar que não haverá sexo no Paraíso seja a única interpretação desse texto. Com efeito, os anjos fazem sexo (Gênesis 6:2-4). Então, não casar e inaptidão pro sexo não andam juntos. Então, é possível interpretar o texto no sentido de que o sexo não será limitado ao casamento, que seria uma instituição abolida. Sexo liberado, imagine só! Mas esse é só um pensamento com o qual eu brinco. Nem eu mesmo o levo a sério, porque eu nunca desejei ter sexo com ninguém e provavelmente morrerei virgem mesmo. Então, se haverá sexo ou não no Paraíso, essa é uma questão indiferente pra mim.

  237. Melhor ser pobre com Cristo do que rico sem ele.

  238. Os cristãos fanáticos, especialmente testemunhas de Jeová fanáticas, chegam a desconsiderar amizades terrenas como falsas. Para esses, somente a amizade com Deus é verdadeira. O amor ao próximo fica difícil assim…

  239. Para Feuerbach, o homem que se sente homem sente que precisará, eventualmente, da mulher, porque desejará se reproduzir. E se eu não quiser me reproduzir? Se eu não quiser me reproduzir, não posso dizer que por isso renego meu sexo biológico, já que faz parte do homem biológico também uma configuração hormonal. Ou vai me dizer que o homem infértil deixa de ser homem?

  240. Um ser que não precisa de semelhantes é necessariamente o único de sua espécie, diz Feuerbach.

  241. Para Feuerbach, todos os seres humanos que amam o que fazem consideram seu ofício como o mais elevado, mas isso é incorreto. Eu não acho que educação, que é o ramo que eu quero seguir, seja o mais elevado ofício na existência. Só acho que é o que eu faria melhor, a área na qual eu seria mais útil com o mínimo de infelicidade. Eu não preciso pensar que programação é o mais importante ofício do mundo porque eu me dedico à programação de todo o coração e me sinto bem ao praticá-la, nem vice-versa.

  242. Se “alma” é princípio de movimento, então pode-se dizer que o nosso objetivo de vida ou ocupação favorita é nossa alma, em certo sentido, pois nos põe em ação.

  243. Para Feuerbach, a imortalidade é nossa garantia de Deus. É como se ele dissesse “não quero nada com Deus se não posso ser imortal por ele.” O desinteresse levaria à descrença, a seu ver.

  244. Deus e imortalidade pessoal são inseparáveis no cristianismo.

  245. Para Feuerbach, Deus é condicionado em minha mente segundo o meu anseio por aquilo que penso conseguir no Paraíso. Então, para cada Paraíso concebido há um deus. que isso é incorreto: não existe “Céu dos Judeus” e, no entanto, eles são religiosos e têm sua divindade, que é Jeová. Então, o conceito de Deus independe do de Paraíso, embora possam coexistir. A menos que ele esteja falando de paraíso em sentido amplo, não no sentido de “céu”.

  246. É possível conhecer a índole de uma religião analisando suas promessas para o pós-vida.

  247. É mais sensato não pensar no Paraíso, mas somente assumir que Deus, sabendo o que é melhor, tem um Paraíso perfeito esperando por nós. Então, não se importe em pensar como deve ser o Céu, se importe em como chegar lá.

  248. Enquanto houver nações diferentes haverá deuses diferentes.

  249. Diz Jerônimo que não querer ser perfeito é pecar.

  250. Embora Feuerbach diga que a ciência deve provar que Deus não existe, ele diz que a ciência não pode fazer isso enquanto se expressar de forma obscura. Ela tem que provar de um jeito que todos entendam e ninguém possa refutar. Senão não serve.

  251. Embora não se falasse muito nisso (porque era tabu), alguns religiosos da época de Feuerbach se perguntavam se porventura Deus não tinha esposa.

  252. Outros religiosos da época dele se perguntavam por que os que nunca conheceram a Deus por vezes vivem melhor do que judeus e cristãos.

  253. É possível compreender a natureza sem recorrer à religião.

  254. A natureza é exuberante. Isso não quer dizer que Deus é redundante, mas que ele quer que nos sintamos bem.

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