<li>Você pode aprender algo de praticamente qualquer pessoa. Seu caráter também decorre de suas companhias.</li>
<li>A natureza do mal é a vergonha e a do bem é a beleza. Assim, o que é bom, é belo. O que é mau é vergonhoso.</li>
<li>As pessoas que consideramos intoleráveis não são dignas de raiva, mas de pena.</li>
<li>É errado passar tanto tempo nos livros.</li>
<li>Devemos sempre dar nosso melhor no que fazemos, mas sem afetação nem excesso de confiança.</li>
<li>Algumas pessoas sofrem por não saber o que pensam os outros. Mas todas as pessoas que não prestam atenção aos próprios pensamentos sofrem. Donde decorre que não vale a pena se preocupar com a intimidade alheia.</li>
<li>O pecado cometido com prazer é pior que o pecado que sofremos ao cometer.</li>
<li>Devemos estar sempre prontos para morrer.</li>
<li>Aquilo que não piora a pessoa não pode piorar sua vida. O que piora a vida da pessoa é ela própria, então uma vida boa depende mais de como a pessoa é, de como ela age. Para piorar a vida de alguém, é preciso desvirtuar esse alguém.</li>
<li>O bem só acontece aos bons e o mal só acontece aos maus. Aquilo que pode acontecer aos dois (dor, riqueza, tristeza, saúde) são neutros, não são bons nem ruins.</li>
<li>Tanto faz viver muito ou pouco; a vida é a mesma...</li>
<li>A filosofia deve nos guiar, porque ela mantém no nosso "espírito" (um espírito sábio com quem dividimos o corpo) livre de coisas que o possam corromper.</li>
<li>Coisas que não estão conforme à natureza são más. O bem é conforme à natureza.</li>
<li>O pessoal quer aumentar seu próprio tempo de vida, mas também temem ficarem velhos. Será que vale a pena continuar vivo se isso significa depender dos outros e declinar em raciocínio? É assim que Aurélio vê as coisas. Não precisamos nos matar, mas não deveríamos desejar viver mais que o que temos que viver.</li>
<li>Ui, ui, "graça sedutora nas crianças"!</li>
<li>Mesmo os acidentes que a natureza comete são atraentes, como a rachadura dos pães durante a preparação. Um pão rachado pela temperatura parece mais gostoso.</li>
<li>Qualquer um pode morrer, mesmo os célebres. Aspirar a fama é bobagem, já que vamos acabar morrendo mesmo. Aliás, pra quê ser lembrado no futuro? Nós mesmos não estaremos ali para aproveitar a memória que os outros têm de nós.</li>
<li>A vida íntima dos outros não importa. Só é lícito atentar para o que os outros fazem quando se está interessado no bem público. Do contrário, é intromissão e vontade de fofocar.</li>
<li>Devemos ocupar nossa mente com pensamentos que não são vergonhosos, com pensamentos que não teríamos vergonha de confessar.</li>
<li>Princípios, razão e instinto são coisas comuns a todos, mesmo aos maus. O que diferencia o bom do mau é o amor, a sabedoria e a justiça.</li>
<li>Não é necessário se isolar dos outros para estar sozinho. É possível se recolher em si próprio.</li>
<li>Não precisamos nos irritar com quem é mau; os maus são ignorantes ao bem. Pecam por falta de sabedoria. Além do mais, também os maus morrerão.</li>
<li>O dano vem de fora e não chega à alma. Isso quer dizer que o que realmente faz mal é nossa atitude frente aos problemas. Se permitimos que o dano chegue à alma, por exemplo, se entregando ao desespero, aí, sim, teremos um problema. Por isso existem pessoas que são felizes na miséria.</li>
<li>Todo o gênero humano participa do mundo, o que o torna como que uma grande cidade.</li>
<li>Tudo acontece segundo uma razão e cada um recebe o que merece.</li>
<li>Marco Aurélio talvez desse um bom professor de direção.</li>
<li>Matutar sobre a vida dos outros é perda de tempo.</li>
<li>Ocupa-te de pouco para viveres satisfeito!</li>
<li>Quem se ocupa de muito não termina nada.</li>
<li>A ordem que existe em nós prova que há uma ordem maior no universo e que ele não é caótico. Pelo menos, na lógica de Marco Aurélio, o universo maior não poderia perder para suas criaturas em ordem e equilíbrio.</li>
<li>Vários aforismos de Marco Aurélio versam sobre a morte. Levando em consideração que esses ele escreveu para si próprio, me pergunto se ele não queria se assegurar de que a morte não era ruim. Como quem teme o escuro e, ao se enfiar na escuridão, repete a si próprio: "não estou com medo."</li>
<li>Que diferença faz morrer agora ou depois? Especialmente para aquele que vive bem.</li>
<li>Todas as pessoas podem receber uma desgraça, mas depende de como se tolera. Por isso que tem gente que se chateia com pouco e tem gente que nunca se queixa de nada.</li>
<li>Quando você acha difícil se levantar da cama porque sente preguiça, pense que você está se levantando para desempenhar sua função na ordem do mundo. Os animais e as plantas fazem o mesmo. O problema é que hoje algumas pessoas não querem se levantar porque sabem que se levantam para desempenhar uma função na ordem do capitalismo...</li>
<li>Fazer aquilo que é correto às vezes acarreta censura. Mas dane-se a censura sobre o que é correto. Alguém escreveu: "se eu fizesse filmes para agradar a crítica, estaria falido."</li>
<li>Pra quê se lamentar do próprio corpo, por exemplo, por não conseguir engordar devido à disposição genética, quando há tantas outras qualidades que podem ser adquiridas com esforço por qualquer um?</li>
<li>O bem deve ser feito espontaneamente, quase "sem querer", e não se deveria cobrar algo em troca.</li>
<li>Mesmo depois de mortos somos úteis ao universo. Morremos para a vida de outros seres. Os elementos nos quais nos decompomos voltam ao todo, onde serão reaproveitados em sua manutenção.</li>
<li>A inteligência se alimenta dos pensamentos que temos. Se pensamos coisas boas, nossa inteligência há de ser boa. Se pensamos coisas úteis, nossa inteligência há de ser útil. Coisas belas, uma inteligência bela; coisas justas, uma inteligência justa...</li>
<li>O ser humano só é genuinamente humano em sociedade. Na sociedade há hierarquia, então que o mais sábio esteja mais alto nela. Só que isso nem sempre acontece...</li>
<li>Aquilo que não lesa a cidade não lesa o cidadão. O que lesa a cidade não necessariamente lesa o cidadão, pois que o que vem de fora não afeta a alma se eu não deixar. Aquilo que melhora a cidade, contudo, melhora o cidadão, porque ninguém se fecha à mudança positiva.</li>
<li>Para afastar quem você não gosta, você deve não se parecer com essa pessoa.</li>
<li>Se o universo é governado por alguém e se mantém bem, então o governador é digno de confiança.</li>
<li>Se deixássemos de atribuir tanto valor aos bens materiais, certamente sentiríamos menos desconfiança, inveja, ciúme e dependência...</li>
<li>Antes de se lamentar pelo que você não tem, talvez queira agradecer aquilo que você já tem. É mais fácil se contentar com pouco dessa forma.</li>
<li>As pessoas querem ser lembradas no futuro, quando morrerem, mas não se importam em louvar uns aos outros no presente. O que me faz lembrar: Michael Jackson vende muito mais agora que está morto. Já o 50 Cent disse que talvez, quando ele morrer, ele fique mais famoso. Vá em paz.</li>
<li>Se algo é difícil, não necessariamente é impossível. Se é possível para alguém, muito provavelmente é possível também para você.</li>
<li>O médico não deve parar de tratar o paciente por este ser queixoso. Tampouco devemos parar o que estamos fazendo se aqueles que trabalham conosco ou precisam de nosso serviço acham que não devemos continuar.</li>
<li>O engano dos outros não é culpa deles. Aprenderam errado ou lhes falta instrução.</li>
<li>Aquilo que ignoramos não existe para nós.</li>
<li>É possível medir o valor de alguém pelos seus objetivos de vida. Se aquilo para o qual a pessoa direciona seus esforços é algo bom, belo, justo ou útil, então ela é boa, bela, justa ou útil.</li>
<li>Não é errado pedir ajuda a quem sabe mais em determinado assunto quando trabalhar com tal assunto for indispensável. Se sua inteligência bastar para a execução da tarefa, contudo, é melhor executá-la sozinho.</li>
<li>Não permaneça no problema depois de tê-lo reconhecido.</li>
<li>A mudança é necessária e não é temível. Nós causamos mudança com nossos atos e nada de bom acontece sem que haja mudança. É pela mudança que somos úteis, porque mudamos o que não gostamos. Então a mudança sobre nós precisa ser aceita quando acontece, porque a mudança é uma operação inevitável da natureza.</li>
<li>É mais fácil amar quem te faz mal quando você lembra de que esses pecam por ignorância.</li>
<li>A dor, quando insuportável, mata de uma vez. Quando a dor não mata, é suportável.</li>
<li>Tudo que o divino faz é feito com uma razão.</li>
<li>Deixe que o tempo de vida seja determinado por Deus. Preocupe-se em viver bem, de forma justa e saudável.</li>
<li>A vida não é como a dança, mas como a luta.</li>
<li>As pessoas se privam da bondade, da justiça e da virtude em geral sem querer. Se soubessem como é bom ser virtuoso e como é mal não sê-lo, mudariam de proceder.</li>
<li>A dor não é insuportável nem eterna, se tiveres em mente os limites da dor e não pensares que ela é maior do que realmente é.</li>
<li>Não se deve odiar um misantropo.</li>
<li>Não somos nosso corpo.</li>
<li>Fugir da nossa própria maldade é possível. Mas a maldade dos outros sempre acaba nos acometendo.</li>
<li>É bom para nós aquilo nos melhora como pessoas. E é ruim aquilo que nos piora.</li>
<li>Pense nas consequências de seus atos. Será que isso fará diferença em minha vida?</li>
<li>Não é preciso temer a mudança; as novas condições logo se tornarão velhas e mudarão de novo, talvez para melhor que antes.</li>
<li>Não precisa ser estudioso pra ser virtuoso.</li>
<li>O sol era considerado um deus.</li>
<li>Ganhar sem orgulho, perder com abnegação.</li>
<li>Nada de insuportável acontece.</li>
<li>O que machuca não é a ação do outro, mas o julgamento que temos dessa ação. Por exemplo: um insulto só é insulto se aquele que insulta e o que é insultado o reconhecem como tal. Se para um deles, o insulto for elogio, ele falha.</li>
<li>Se um obstáculo torna impossível a satisfação de um desejo, é melhor esquecer, porque não é nossa culpa que não possamos realizá-lo.</li>
<li>Não convém indagar por que o mundo é como é.</li>
<li>Ou a morte é ausência de sensação ou <a href="https://pedrapapeletesoura.wordpress.com/2015/01/12/apologia-de-socrates/" target="_blank">mudança</a>.</li>
<li>As pessoas foram feitas umas para as outras. Se alguma é insuportável, se deveria instruí-la.</li>
<li>Injustiça é sempre pecado.</li>
<li>Mentira também.</li>
<li>Mentir é antinatural.</li>
<li>Quem mente sem querer ainda é digno de censura, porque se permitiu ser enganado.</li>
<li>Quem procura o prazer como bem e foge da dor como um mal também peca, porque isso o leva a se revoltar contra o destino, quando este lhe dá uma penalidade.</li>
<li>A busca cega pelo prazer leva à injustiça.</li>
<li>Embora o prazer não seja um mal e a dor não seja um bem, você deveria manter uma posição neutra perante essas coisas, porque essas são coisas neutras. Lembrando que aquilo que acomete o justo e o injusto não é bem nem mal. O bem só acontece aos bons e o mal só acontece aos maus. O que quer que possa acontecer a ambos é neutro.</li>
<li>A morte é uma operação natural. Não deveria ser temida, tal como ninguém teme outras operações naturais, como o aparecimento dos dentes.</li>
<li>É possível ser injusto por omissão.</li>
<li>Parece que o grau de perfeição de uma espécie pode ser medido pela sua capacidade de união e harmonia. Pedras e madeira não se unem. Animais se esforçam para agir em grupo, como os enxames, as manadas, as alcateias. Seres humanos, que são mais próximos da perfeição, se socializam de forma mais refinada. E os astros são perfeitamente harmônicos.</li>
<li>Devemos amar também os <a href="https://pedrapapeletesoura.wordpress.com/2015/05/08/preguica-medo-e-sacerdotes/" target="_blank">inimigos</a>.</li>
<li>Se Deus existe, ótimo. Se o acaso existe, nem por isso deveríamos nós agir ao acaso.</li>
<li>A filosofia deve permitir uma melhora gradual na nossa condição, não uma mudança milagrosa.</li>
<li>A perda é um tipo de mudança. Convém pensar nela não como uma mudança para pior, mas apenas para um estado diferente.</li>
<li>Nem tudo que achamos que é <a href="https://pedrapapeletesoura.wordpress.com/2009/08/19/estudo-biblico-sobre-a-masturbacao/" target="_blank">pecado</a> realmente é.</li>
<li>Para Marco Aurélio, devemos pedir tolerância ao orar, não mudança.</li>
<li>As coisas intoleráveis matam. As que são toleráveis devem ser toleradas. Aquilo que não mata deve ser considerado tolerável.</li>
<li>Não prejudica a parte o que convém ao todo.</li>
<li>Importa que façamos o bem e a justiça. Pouco importam os outros.</li>
<li>Quando alguém te faz algo de ruim, lembre-se de que você mesmo não é perfeito.</li>
<li>A inteligência deve estar pronta para todos os eventos, tal como o olho bom deve estar pronto para todas as cores e o ouvido bom deve estar pronto para todos os sons. A inteligência que espera que coisas específicas aconteçam, em vez de esperar que qualquer coisa pode acontecer, é como o olho que espera por cores específicas.</li>
<li>Há quem ficará feliz com sua morte. Talvez até teus amigos tirem proveito dela.</li>
<li>Quem zela belo bem de todos zela pelo seu próprio.</li>
<li>O corpo não se rebela frente à morte. Por que a razão o faz, se a morte não é um mal?</li>
<li>O único jeito de se permanecer a mesma pessoa ao longo de toda a vida e permanecer perseguindo o mesmo objetivo.</li>
<li>Para ser professor de algo, é necessário ter <a href="https://pedrapapeletesoura.wordpress.com/2014/09/25/os-individuos-querem-saber/" target="_blank">aprendido</a> aquele algo. Não pode ensinar coisas importantes para a vida se não as tiver aprendido.</li>
<li>As mudanças não ocorrem do ser para o não-ser, mas do ser para o ser. O que muda é o modo de ser.</li>
<li>Não devemos ser avessos ao que não depende de nós, mas indiferentes.</li>
<li>Se todos parecem amar mais a si mesmos que a qualquer outro, porque querem ser reconhecidas pelos outros?</li>
<li>Se não somos imortais por natureza, é porque os deuses assim não quiseram. E se não quiseram, é porque é melhor assim.</li>
<li>Não se deve culpar ninguém. As pessoas porque nunca pecam de propósito, os deuses porque não pecam de jeito nenhum.</li>
15 de junho de 2015
Anotações sobre os pensamentos para mim mesmo.
25 de maio de 2015
Anotações sobre a “Carta a Meneceu”.
- Os jovens devem filosofar.
- Se estamos felizes, é como se tivéssemos tudo, mas, se estamos infelizes, fazemos de tudo para sermos felizes.
- A morte não é preferível à vida, mas, se bem e mal residem nas sensações, então a morte, se é ausência de sensação, não é algo tão ruim.
- Aceitar a morte como um sono igual aos sonos que temos cotidianamente permite a fruição plena da vida, porque não dá pra viver plenamente tendo medo da morte o tempo todo.
- A morte chega quando já “não estamos” e, quando estamos, é ela quem não está (normalmente perdemos a consciência antes do corpo parar de funcionar).
- Não é porque temos de aproveitar a vida que o faremos irresponsavelmente.
- O futuro é feito de probabilidade: sempre podemos, com nossas ações, maximizar nossas chances de que algo bom aconteça.
- Prazer e dor são os princípios motrizes da ação humana.
- Devemos perseguir os prazeres que compensam, isto é, aqueles cuja fruição não nos leva a uma dor maior que o prazer.
- Para devastar uma pessoa, permita que ela seja rica por um ano e então, subitamente, tire tudo dela.
- A comida mais sem graça é muito gostosa na boca de alguém mortalmente faminto.
- É necessário abdicar de buscar os maiores prazeres da vida, que são os mais frívolos, porque viver modestamente nos treina para não sucumbir aos cuidados com a riqueza e nos permite tolerar com mais dignidade a pobreza.
- Os prazeres naturais e necessários podem ser buscados sempre; os prazeres naturais, mas não necessários, só devem ser buscados se o benefício compensa o risco de arrependimento; os prazeres artificiais devem ser evitados.
- A prudência é a mais alta das virtudes.
- Não existe destino.
24 de maio de 2015
O que aprendi da “Ética a Nicômaco”.
- Todas as ações visam um bem.
- O fim alcançado pelo estado é mais belo, por beneficiar aos súditos também.
- Mas a política não é ciência exata e a busca pelo bem da cidade é um estudo proximal.
- A política é ação, prática.
- Bem agir e bem viver coincidem com felicidade.
- Para a maioria das pessoas, vive bem e age bem quem procura e encontra o prazer, ou seja, para essas pessoas, felicidade é prazer.
- A busca pela honra é uma busca difícil, porque honra é algo que depende mais de quem reconhece o outro como honrado e não tanto de quem procura a honra.
- A vida virtuosa não necessariamente traz felicidade.
- O dinheiro é apenas útil e é perseguido em nome de um fim maior.
- Há várias ciências que tratam do bem.
- Os bens particulares não diferem muito do bem em si.
- Se não houvessem bens particulares, não haveria sentido em conceber o bem em si, já que ele não poderia explicar nada.
- As ciências tentam alcançar o bem, mas não são elas que explicam o que é o bem.
- Isso porque as ciências visam fins específicos.
- O bem de cada ciência é o fim que ela visa.
- O bem é aquilo que procuramos sem ser em vista de outra coisa, por isso dizem que o dinheiro não traz felicidade: o dinheiro é usado para obter outra coisa que talvez lhe traga felicidade.
- Aristóteles começa suas reflexões usando opiniões correntes porque, se uma das opiniões se mostrar verdadeira, ajudará bastante.
- Quem quer alcançar a felicidade pela virtude precisa praticá-la.
- A felicidade é um estado da alma alcançado por aqueles que se aproximam daquilo que amam.
- Como pode ser feliz mais facilmente aquele que dispõe dos meios, há quem diga que obter felicidade também é questão de sorte.
- A virtude é ensinável.
- Uma felicidade obtida com o próprio esforço é melhor que uma felicidade obtida com sorte.
- Se felicidade é um tipo de atividade, ninguém é feliz depois de morto.
- Porém, existem os que sustentam que não existe felicidade, mas “momentos felizes”, no sentido de que a felicidade não tem caráter estável porque a própria pessoa não o é.
- Mas a felicidade obtida pela virtude é estável, porque ações virtuosas tem resultados de longa duração.
- A pessoa feliz não é imune ao azar, mas a forma como ela lida com o azar faz sua felicidade permanecer ou não.
- A virtude permite lidar melhor com infortúnios.
- Se felicidade é ação, então a pessoa virtuosa será feliz se praticar o bem.
- A felicidade do virtuoso é estável porque não serão pequenos acidentes que o deixarão infeliz.
- A felicidade pessoal também depende da felicidade dos amigos e dos parentes.
- A virtude se ensina pelo hábito.
- Todas as virtudes, tal como as artes, são adquiridas pela prática.
- A forma como alguém age em determinada circunstância o faz bom ou mal em algo.
- A boa ação frente a algo é uma ação comedida, equilibrada: se você foge de tudo, é um covarde, mas se não foge de nada é um imprudente.
- Coisas nobres e vantajosas também se apresentam como agradáveis, prazerosas, enquanto que coisas vis e prejudiciais se apresentam como dolorosas.
- Não é possível ser bom sem prática.
- A teoria de que a virtude não é ensinável torna os filósofos adeptos conformados.
- Platão deixou a definição de virtude em aberto, mas diz que ela é fruto de uma feliz opinião que vem de algum lugar, mas Aristóteles diz que a virtude é uma de três coisas: disposição de caráter, faculdade mental ou paixão.
- Virtudes têm a ver com escolhas.
- A virtude é disposição de caráter, mas, para Aristóteles, disposições de caráter não são inatas.
- A virtude humana é aquilo que nos torna bons ou que nos permite fazer bem nossa função.
- A virtude visa o meio-termo.
- Porém, isso é numa situação em que a pessoa pode dar-se ao excesso, dar-se à falta ou escolher o meio-termo (não existiria a “virtude de não fumar cigarro” porque não existe meio-termo saudável nessa prática).
- Virtude não é o fim das emoções, mas a sua condução correta.
- Isso não é válido somente para as emoções, mas também à ações.
- Mas isso significa que ser virtuoso é difícil: acerto é um só, mas existem vários jeitos de errar a medida.
- Virtude aristotélica numa meia-concha: disposição de caráter relativa a escolha e que consiste na medida correta, que deve ser avaliada segundo cada caso e requer sabedoria prática.
- As proposições gerais precisam estar em harmonia com casos particulares.
- As pessoas que manifestam vícios julgam que os virtuosos são viciosos.
- A virtude é o meio-termo entre dois vícios, um por carência e o outro por excesso.
- Para achar a medida certa ou se aproximar dela, devemos ir na direção do extremo que parece ser o menos danoso.
- É menos digno de censura aquele que peca sem querer.
- Não é voluntária a ação cometida por ignorância ou por compulsão.
- Algumas ações voluntárias podem ser involuntárias dependendo do ponto de vista.
- Ações feitas por ignorância merecem perdão.
- Ação voluntária é aquela praticada pelo indivíduo, de sua vontade e não coagido por força maior, que está completamente ciente do que está fazendo.
- Não podemos culpar nossas emoções por algo que praticamos.
- Desejo e escolha são coisas diferentes.
- As escolhas não podem se basear em opiniões, mas em juízos sólidos de bom ou mau.
- Só que o juízo de bom ou mau varia de pessoa para pessoa.
- Mas pode-se dizer que escolha é a decisão com base em princípios racionais entre duas ou mais opções.
- Deliberações são feitas sobre coisas que estão ao nosso alcance e que podem ser realizadas.
- Não é possível deliberar sobre nossas funções ao mesmo tempo que exercemos essas funções: um cientista, durante suas pesquisas, não deveria parar para se perguntar se aquilo é o que ele deveria estar fazendo.
- Porém, durante o exercício da função, na qual os fins não são questionados, os melhores meios para alcançar o fim ainda são motivo de deliberação.
- Dá pra deliberar sobre nossos fins quando todos os meios de chegar a ele falham.
- Não se delibera sobre o que parece óbvio.
- Em geral, queremos o bem, mas cada pessoa, em particular, julga bom aquilo que lhe parece bom.
- Muitas condições ruins que nos levam a agir malignamente poderiam ser evitadas.
- O medo é a antecipação de algo ruim.
- Existem coisas que devemos temer.
- Existem coisas que só se devem temer em certas situações.
- Existem coisas que não devem ser temidas mais que o necessário.
- Existem coisas que não devemos temer.
- Alguns “corajosos” são movidos por medo de penas ou medo da vergonha.
- A coragem é aquela que não vem da coação.
- A paixão (emoção) auxilia a coragem.
- O bravo está ciente do perigo, mas o otimista supõe que não haja perigo ou que este seja irrisório.
- A coragem é mais evidente quando mais próxima do vício do medo, ficando entre a covardia e o excesso de confiança, mas é mais fácil reconhecer o corajoso em situações que inspiram medo e não nas que normalmente inspiram excesso de confiança.
- É mais fácil se abster do que é bom do que suportar o que é doloroso.
- Intemperança é “mais voluntária” que a covardia.
- O pródigo se arruína porque não julga seus bens com a devida medida, gastando em excesso e dando em excesso.
- Liberalidade é doar na medida certa, sem ser pródigo, nem avarento.
- Ninguém pode ser rico sem esforço, pois mesmo o que nasceu rico, se não se esforçar em manter a riqueza, ficará pobre.
- O pródigo ainda é mais útil que o avaro.
- A magnanimidade é a “coroa das virtudes”: ressalta as virtudes que já temos e não existe sem um conjunto de outras virtudes.
- Magnanimidade é ter para si o devido valor como pessoa.
- Aqueles que pecam pelo excesso de raiva, contra-atacam imediatamente, de forma que sua raiva não permanece por muito tempo.
- É possível também pecar por desejo de agradar.
- Enquanto a modéstia é recusar um elogio que vem, a falsa modéstia é negar as capacidades que possui.
- Há meio-termo também nas piadas.
- É possível conhecer algo pelo estudo de seu oposto: quando estudamos hábitos saudáveis, logo descobrimos que hábitos não são saudáveis, apesar de não tê-los como objeto de estudo inicial.
- O justo é honesto e obediente às leis.
- A justiça é escritora.
- A justiça é a virtude completa, na qual estão compreendidas todas as virtudes.
- O injusto lucra com atos vis.
- O trabalho do juiz é, pela pena, igualar perdas e ganhos entre ofensor e ofendido.
- Os pitagóricos definiam justiça como reciprocidade.
- A justiça deve levar em conta vários fatores para determinar perdas e ganhos.
- O dinheiro foi feito para facilitar a transação de objetos e de serviços.
- O que torna o dinheiro valioso somos nós; o dinheiro não tem valor intrínseco.
- O que faz os preços aumentarem ou diminuírem é a procura.
- O valor do dinheiro é inconstante, mas mais estável que o valor dos próprios objetos.
- Existem ações injustas e pessoas injustas. Roubar uma vez não te torna ladrão. Então, embora, ações injustas sejam injustas sempre, a pessoa que comete um ato injusto não necessariamente é injusta.
- Quando um governante passa a arrogar para si aquilo que ele não merece e, por isso, começa a agir injustamente, ele acaba se tornando um tirano.
- Existem leis naturais e existem leis humanas. As humanas são mutáveis, enquanto as naturais não mudam.
- O que torna o praticante de uma ação injusta uma pessoa injusta é a voluntariedade. Se a pessoa fez, de boa vontade, um ato injusto, ciente de sua injustiça, ela é injusta, por que fez, de propósito, o que sabia ser errado.
- Quando injusto acontece, mas vem de uma fonte externa, temos um infortúnio. Se algo injusto acontece e somos a causa disso, mas por ignorância, temos um engano. Se algo injusto acontece, sabemos que é injusto, mas não fizemos de propósito, temos um ato injusto que não torna o praticante uma pessoa injusta. Se algo injusto acontece, sabemos que é injusto, nós somos a causa e fizemos de propósito, temos um ato injusto que nos caracteriza como injustos.
- Pode alguém aceitar ser vítima de uma injustiça e sê-la voluntariamente?
- Não é possível sofrer injustiça voluntariamente, isto é, se colocar na posição paciente enquanto alguém pratica um dano contra você.
- É possível ser injusto consigo próprio.
- Existem coisas que são impassíveis de ser explicadas universalmente.
- Quando exceções à regra são descobertas, o indivíduo pode permitir-se ajustar a regra.
- Se a universalidade de uma lei é contestada, ela precisa de ajustes.
- Existem três guias da ação: sensação, razão e desejo.
- A origem da ação é a escolha, motivada pelo desejo e feita pela razão.
- Existem cinco manifestações da verdade: técnica, ciência, sabedoria prática, filosofia e razão intuitiva.
- Aristóteles já distinguia indução da dedução (silogismo).
- Os pressupostos usados no silogismo devem vir da indução.
- Os primeiros princípios são apreendidos primeiro pela razão intuitiva.
- A sabedoria é o conhecimento mais perfeito.
- Se o gênero humano não é a melhor coisa do mundo, qualquer ciência que trate das pessoas não é a melhor que existe.
- Sabedoria geral e sabedoria prática não necessariamente coincidem.
- A sabedoria filosófica trata das coisas mais gerais (do que é “certo”), enquanto que a sabedoria prática trata das coisas particulares (do que é “vantajoso”).
- A sabedoria filosófica é conhecimento científico combinado com razão intuitiva.
- A razão do filósofo não ser visto como alguém lá muito útil é simples: ele não busca o conhecimento dos seres humanos para os seres humanos se não acidentalmente, porque está preocupado com o conhecimento das coisas maiores.
- A sabedoria prática é preferível à sabedoria filosófica, porque auxilia na resolução dos problemas mais iminentes: não tem muito juízo quem se preocupa com coisas mais intelectuais sem ter resolvido questões como alimentação, trabalho e abrigo antes.
- A sabedoria prática não versa apenas sobre os universais.
- A deliberação boa não necessariamente produz o bem, porque se pode deliberar como obter um fim que é mau.
- A razão parece transformar predisposições à coragem, temperança e outras em virtudes de fato.
- As virtudes envolvem sabedoria prática.
- O exercício da sabedoria prática leva a pessoa a colecionar todas as virtudes.
- Existem três tipos de moral que devem ser evitadas: vício, incontinência e rudeza.
- O contrário do vício é a virtude e o da incontinência é a continência.
- Continência (refrear desejos presentes) não é o mesmo que temperança (não desejar o que é ruim).
- O conhecimento não necessariamente impede alguém de praticar o que é errado: podemos saber que é errado agredir alguém e ainda o fazer durante um acesso de ira.
- Pode haver excesso mesmo nas coisas boas.
- Porém, se praticamos o excesso de algo bom, somos incontinentes em relação àquilo e não incontinentes em sentido absoluto.
- Não se aplica o nome “incontinente” à pessoas que sofrem de algum mal congênito ou que estão sob condições mórbidas, porque o controle estaria completamente além de suas forças.
- A incontinência em relação à cólera é menos vergonhosa porque a cólera só se mostra quando nos reconhecemos como ofendidos.
- A incontinência em relação aos apetites é mais vergonhosa porque ela é espontânea: a cólera só acontece por um motivo externo, mas você não precisa de um motivo externo para querer comer um pudim fora de hora, não precisa nem mesmo estar com fome, bastaria lembrar de que é bom e o desejo viria.
- Além disso, a raiva é algo que acomete a todos, enquanto que o desejo por coisas como glória, fama, tipos específicos de comida não acomete a todos.
- A cólera é mais justificável por tentar sanar uma dor, enquanto outros excessos não visam sanar dor alguma, mas apenas obter mais prazer.
- A razão também é fonte de maldade.
- É necessário se arrepender para mudar.
- O intemperante não resiste às pulsões que a maioria resiste, enquanto que o incontinente cede à pulsões que a maioria não resistiria.
- O incontinente tem desejo ou tem desejo forte, mas não é capaz de dominar-se.
- O intemperante é pior, porque tem vontade fraca, então imagine se ele tivesse uma boa razão para ser ruim ou se ele estivesse sob um desejo que é humanamente extenuante, como no caso do incontinente: ele seria capaz de um mal maior do que o incontinente, que faz algo errado por ter desejos verdadeiramente fortes.
- O intemperante é “incurável”, porque prefere ouvir o corpo e não a razão.
- Mas só é incontinente aquele que cede ao que é vergonhoso.
- O intemperante prefere ouvir o corpo em lugar da razão, por isso faz o que faz.
- O incontinente sabe que deve ouvir a razão, mas não pode evitar transgredi-la.
- A contemplação é um prazer que não envolve apetite nem dor.
- O prazer não é processo, mas fim.
- Algo não é ruim só porque é buscado por tolos.
- Bondade não necessariamente traz felicidade.
- A amizade parece justificar a vida: não vale a pena viver sem amigos.
- Os ricos e poderosos são os que mais precisam de amigos, porque gastar só consigo mesmo não é o bastante.
- Os ricos também precisam de amigos porque é mais difícil defender sozinho uma grande riqueza.
- O ser humano não é o único capaz de sentir amizade.
- A amizade é produtiva porque multiplica a capacidade de ação e de pensamento.
- Amamos aquilo que nos parece bom.
- Os amigos amam-se um ao outro.
- Amizade é benevolência recíproca entre pessoas que conhecem os sentimentos um do outro.
- Existem pessoas que amam a outra pela sua utilidade prática: quando a pessoa cessa de ser útil, cessa o amor por ela.
- Existem pessoas que amam a outra pelo prazer que proporcionam, mas esse amor também não necessariamente é durável.
- A amizade verdadeira requer que a pessoa queira bem também ao outro, de forma que esta difere das outras formas de amor por não apenas tomar utilidade, mas também oferecê-la, tal como prazer.
- Esse tipo de amizade continua enquanto as duas partes forem boas e a bondade é algo durável.
- A amizade verdadeira é rara como as próprias pessoas boas e requer tempo para se estabelecer.
- A distância interrompe as atividades da amizade, mas não necessariamente a mata.
- Procuramos amigos agradáveis, mas não necessariamente o amigo agradável é bom (amizade falsa).
- É possível se deleitar em amar sem ser amado de volta.
- A amizade é pautada no amor.
- O amor platônico como desejo daquilo que não se tem é criticável: amar alguém porque ela tem uma qualidade que reconhecemos como boa e que nós não temos é um tipo de interesse.
- Diferentes comunidades parecem ter diferentes tipos de amizade.
- Três tipos de governo: monarquia, aristocracia, a moda de Esparta.
- Os tipos de governo podem ser encontrados na família: os irmãos são democráticos entre si, mas submissos ao mando do pai, que forma uma aristocracia com a mãe.
- Num sistema de governo, a amizade é possível quando há justiça.
- É possível ser amigo de um escravo enquanto ele não está sendo mandado.
- Casais com filhos não se divorciam facilmente.
- A amizade pautada na utilidade é a que comporta mais queixas.
- A amizade não é um comércio.
- Quando não podemos saldar uma dívida com um amigo, é nobre que demos o nosso melhor em saldar o que pudermos.
- A proporção preserva a amizade.
- Permitir que o consumidor escolha o preço da mercadoria evita queixas.
- O comprador julga algo segundo o valor que ele pensa que aquela coisa tem, não seu valor depois de comprada.
- Só é possível amar o que se afigura bom.
- Não é possível amar o que se afigura mau.
- Quando nosso amigo se torna mau, não deveríamos romper com ele imediatamente, mas tentar trazê-lo à bondade novamente.
- Antigos amigos ainda podem ser tratados com mais respeito que os desconhecidos.
- Quem não ama a si mesmo, julga não ter nada de amável em si.
- O início da amizade da mais elevada espécie é a benevolência.
- O benévolo ama fazer bem aos outros, como se os outros fossem suas “obras”.
- Existem duas formas de amor a si mesmo: o amor que procura dar-se prazer e o amor que procurar se aperfeiçoar.
- Se a felicidade é atividade, mesmo o que se basta, o sumamente feliz, precisa de amigos aos quais fazer bem, para manter a felicidade.
- Perceber que estamos vivos é “perceber que percebemos” ou que pensamos.
- Amizade é condição de possibilidade da felicidade: não é possível ser feliz sozinho.
- “Medida certa” não precisa ser algo fixo, mas algo que fique entre duas coisas fixas.
- Não devemos ter um grande número de amigos, porque isso prejudica a intimidade.
- A educação dos jovens era feita com os “lemes” do prazer e da dor.
- O prazer é um bem em si mesmo.
- Prazeres que os são para pessoas ruins não são prazeres para pessoas boas.
- O prazer depende da pessoa.
- Como não podemos nos dedicar continuamente, com a mesma intensidade, a uma atividade, não podemos estar sempre contentes.
- Parece que existem diferentes tipos de prazer que atraem de forma diferente diferentes tipos de pessoa.
- Gostar daquilo que fazes te torna produtivo naquilo.
- Quando tentamos prestar atenção em duas coisas, a que é mais prazerosa toma mais atenção.
- Se a felicidade não fosse atividade, bastaria estar deitado para ser feliz.
- Felicidade é fim em si mesma: ninguém se pergunta “por que quero ser feliz?”
- A função da recreação e do divertimento era nos refrescar antes de voltarmos à labuta.
- A vida conforme a razão é a mais feliz.
- Os atos virtuosos parecem depender de oportunidades para acontecer.
- Não é necessário ter muitos bens para ser feliz.
- É a prática que faz a profissão, nunca somente o estudo.
20 de abril de 2015
O que aprendi lendo “Fedro”.
“Fedro” foi escrito por Platão. Abaixo, o que aprendi lendo esse livro.
- Conhecer a si próprio deveria ser o início do conhecimento.
- Não ofereça vantagens em troca de amor ou sexo.
- Ofereça vantagens a quem as merece ou àqueles de quem delas precisam.
- Aqueles que amam sem se deixar levar pela emoção cega o fazem responsavelmente.
- Quem ama irracionalmente fala coisas de que depois se arrepende.
- Os apaixonados, por vezes, reconhecem que são irresponsáveis, mas, ao mesmo tempo, não são capazes de se corrigir.
- O amor irracional fomenta a inveja e o ciúme, afasta os amigos e eventualmente arruína a relação.
- É bom que o amado tenha amigos e, se isso fizer bem ao amado, não faz sentido ficar mal por causa disso.
- O que ama moderadamente não se aborrece com faltas insignificantes do amado.
- Paixão e amizade são duas manifestações de amor.
- Para evitar a vergonha perante o cara, Sócrates profere seu próprio discurso com a cabeça coberta.
- Com quem devemos fazer amizade?
- Quando a razão domina o desejo com que discorda, tem-se temperança.
- A intemperança tem diferentes nomes dependendo do desejo que arrebatou a pessoa.
- O apaixonado quer um amado fácil: se o amado se mostra superior ou igual, ele fica frustrado, porque quer prazer naquele instante, o que só poderia ser obtido se o parceiro fosse pior que ele.
- O irracional trabalha para a degeneração da sabedoria ou capacidades físicas do amado, para mantê-lo sob controle.
- O amante irracional quer que o amado seja também pobre, para mantê-lo dependente.
- O amante apaixonado quer mais é que o amado se ferre, mesmo que ele não se dê conta disso, para que assim ele possa mantê-lo.
- Amantes irracionais são propensos à traição.
- Juramentos feitos por um apaixonado são indignos de confiança.
- O amor irracional é um apetite e, como tal, desaparece quando satisfeito.
- A religião parece ter vindo da inspiração divina.
- A loucura também produz música e poesia.
- Apesar de danoso, o amor irracional deixa feliz aquele que ama.
- As causas não podem regredir infinitamente.
- Mito do carro guiado por dois cavalos alados: a razão quer levar-nos às certezas e à verdade, mas as emoções nos puxam para problemas terrenos que atrapalham a busca pelas coisas eternas.
- O filósofo, quando contempla a verdade, é tido por louco pelos outros, mas é apenas incompreendido.
- A contemplação do belo faz parte do processo de elevação da alma.
- O verdadeiro amante não quer o empobrecimento do amado, mas seu aperfeiçoamento.
- A razão e a emoção são necessárias ao amor.
- O discurso falado que não é elogiado também não é transcrito.
- Os oradores não falam do que é bom, belo, justo ou útil, mas do que parece ser uma ou mais dessas coisas.
- O retórico, conhecendo as opiniões, mas não a verdade, brinca com as opiniões, de forma que o ouvinte seja levado a pensar como ele quer.
- As artes técnicas tratam de coisas reais, mas a retórica que não está comprometida com a verdade não é arte técnica, porque trata de ficções.
- Porém, a retórica, se de posse da verdade, poderia fazer uma pessoa aceitar algo correto mais facilmente.
- A retórica pode desfigurar o objeto em discurso.
- Ela trata de contradições.
- A retórica tem mais poder quando trata de assuntos incertos e duvidosos, por se aproveitar da ignorância do ouvinte e da abundância de opinião.
- Um truque retórico: não explicar o significado dos termos usados no discurso.
- O retórico não tem poder sobre aqueles que entendem do assunto que ele trata.
- Para ser um orador perfeito, o indivíduo precisa ter uma inclinação natural, estudar e exercitar a oratória.
- A oratória perfeita tem potencial construtivo sobre o ouvinte.
- Quem discursa sobre alguma coisa deve ser capaz de descrever a natureza dessa coisa.
- É necessário ser também capaz de definir o objeto de que trata aquilo sobre o que estamos discursando.
- O bom retórico deveria ser capaz não apenas de dizer o que é retórica, mas também o que é a alma, porque a retórica age sobre a alma do ouvinte.
- Nem todo ignorante é igual: o retórico precisa adaptar o discurso segundo o “tipo de alma” que se quer influenciar.
- O retórico deve reconhecer, pela prática de seu ofício, quando usar este, esse ou aquele argumento com esta, essa ou aquela pessoa.
- A retórica se ocupa do verossímil, não necessariamente do verdadeiro.
- Se o retórico quer convencer, se volta para o convincente, não para o verdadeiro (embora a verdade possa ser acessória).
- Isso é especialmente evidente quando acusador e acusado se esforçam para esconder a verdade sobre o caso.
- O retórico não é encorajado a conhecer a verdade, mas o conhecimento da verdade permite criar probabilidades mais convincentes.
- O livro é limitado pelo entendimento do leitor.
- Os discursos escritos dialeticamente têm um limite estendido.
- Almas complexas requerem escritos complexos.
- É necessário conhecer aquilo sobre o que se discursa.
- O melhor discurso escrito é aquele que é escrito para uso do próprio escritor, como meio de consulta posterior, com sua eficácia sendo reduzida se o leitor não for o próprio escritor e diminuindo quanto mais distante o leitor é do escritor.
- Se você tem certeza de que possui a verdade e está apto a defendê-la, já é filósofo.
- Os amigos devem tudo ter em comum.
10 de abril de 2015
Anotações sobre o simpósio.
- O tema do banquete é o amor.
- Eros, o amor, era negligenciado pelos poetas.
- Amor é talvez o deus grego mais velho.
- Amor parece sobrepujar outros desejos, como o de riqueza.
- A vergonha de cometer um ato vergonhoso é maior se a pessoa que vê é a pessoa amada.
- Pessoas morrem por amor. Por amor, se chega ao absurdo.
- O amor por alguém que não retribui o sentimento parece mais generoso.
- Amor é o mais poderoso dos deuses gregos.
- Para um dos participantes, existem dois amores: celestial e popular.
- O amor belo é o que se deve louvar.
- O amor popular, para um dos participantes, é o que afeta homens e mulheres. É desregrado, um tipo de luxúria. O celestial afeta apenas homens, normalmente entre adulto e adolescente. O desejo por crianças faz parte também do popular, porque não há igualdade de juízo, logo seria uma questão de ludibriar. Aristófanes diz que o amor por crianças, contudo, é por vezes legitimado.
- O que valida um ato amoroso como belo ou feio é sua decência.
- O amante popular ama o corpo do outro, não a alma.
- Corpo é transitório. Quem ama corpos deixa de amar os corpos amados quando estes envelhecem.
- Servir a alguém porque sua virtude aumenta dessa forma desqualifica a servidão como adulação.
- A conquista amorosa pela virtude é bela. Conquistar o amado por outros meios é baixo.
- Para outro participante, o amor está não apenas nas almas e nos corpos, mas em toda parte: animais, plantas e minerais.
- A medicina parece estar relacionada ao amor.
- Trazer harmonia ao corpo é fazer os elementos conflitantes se amarem.
- Como na música. O grave e o agudo são díspares, mas podem ser postos de acordo pela arte musical. Juntar opostos sem lhes negar a diferença parece ser o que define uma ciência amorosa.
- Aristófanes narra o mito do humano original, que era homem e mulher ao mesmo tempo, ou duplamente homem, ou duplamente mulher.
- O sentido do mito do humano original é mostrar, por alegoria, que o amor é a busca do amante por complemento.
- É mais fácil falar pra gente burra.
- Até o presente, as pessoas falaram mais das felicidades proporcionadas pelo amor e não tanto do próprio amor.
- Amor, para um terceiro participante, é o mais jovem dos deuses; se fosse o mais velho, os deuses não lutariam entre si, coisa que só pararam de fazer recentemente.
- Amor habita em almas delicadas.
- Gosta de florzinha e tal…
- Amor inspira qualquer um à poesia.
- Amor é poeta porque não poderia ensinar poesia sem o saber.
- Segundo Sócrates, o amor é amor voltado a algo. Quem ama, quer alguma coisa.
- O amor é desejo. Se não é pleno, talvez nem seja um deus.
- Mas, para desejar, é necessário carecer de algo que se deseja.
- É possível também desejar o que já temos, no sentido de que tememos que isso nos seja tirado no futuro.
- Amor ama as coisas belas, logo ele carece de beleza.
- Se o que é belo é bom, amor também carece de bondade.
- Só que carecer de algo não quer dizer, necessariamente, carência absoluta. Amor é meio-termo.
- Opinião correta, por exemplo, é meio-termo entre sabedoria e ignorância. Não é ciência por não ter base racional, mas não é ignorância por acabar acertando a resposta.
- Amor não é belo, feio, bom ou mau, mas o meio-termo destes. Parece conciliar as definições de um dos particpantes, explicando por que o amor às vezes é popular e outras celestial.
- Amor, para Sócrates, é carência de algo. Ora, se o amor carece de beleza e bondade, não é um deus.
- Amor também não é mortal, pois está no meio-termo. Ele ressuscita quando morre, então é efetivamente imortal, mas não totalmente imortal, porque, se fosse, não morreria em primeiro lugar.
- Amor é mensageiro entre deuses e humanos.
- Amor é filósofo, pois deseja coisas belas. Só pode ser filósofo quem se reconhece ignorante, já que o ignorante ignora sua ignorância e se acha sábio, enquanto que o sábio já sabe tudo e não precisa aprender mais nada.
- O amado e bom e belo para o amante.
- Quem ama vê no outro aquilo de que carece. Por isso amantes sentem-se felizes quando juntos, porque sentem-se plenos.
- Amantes querem ter o amado para sempre.
- É possível também amar por instinto de aspiração à imortalidade. Isso é retomado por Schopenhauer. Se reproduzir é o mais perto que podemos chegar de sermos imortais e é esse amor que move os animais irracionais, um desejo de se aproximar da imortalidade pela continuação da espécie. Em Schopenhauer, essa é a principal, se não a única, razão que guia o amor erótico.
- Esse amor pela imortalidade também pode guiar humanos, mesmo os que amam coisas imateriais. Os humanos querem deixar sua marca no mundo, algo pelo qual sejam lembrados. Então, depois de fertilizados pela sabedoria ou pela arte, por exemplo, procuram um local belo onde possam conceber suas obras, gerando sua posteridade.
- O amante deveria fazer uma ascensão gradual de contemplação do belo: primeiro ama a beleza de cada corpo, depois a beleza comum aos corpos, depois a beleza das ciências e das leis, depois a beleza em si mesma.
- Alcibíades é ridículo quando bêbado, transformando um diálogo muito efeminado em um diálogo efeminado demais.
- O diálogo termina com oito páginas de elogio a Sócrates, proferido por Alcibíades.
31 de março de 2015
Anotações sobre “A República”.
- A velhice mata os desejos da juventude, que escravizam os de pouca idade.
- É a sensatez que torna a velhice tolerável.
- Quem consegue dinheiro por conta própria, estima o dinheiro que obteve.
- O insensato muito apegado aos bens materiais, ao chegar perto da morte, se desespera com o futuro de seus bens e de sua alma.
- Justiça não é simplesmente falar a verdade e dar a alguém o que lhe é devido…
- Será que justiça é fazer bem aos amigos e mal aos inimigos?
- Se for, justiça não tem utilidade em tempos de paz.
- Nem sempre sabemos quem são nossos verdadeiros amigos.
- justiça implica fazer bem também aos inimigos.
- Justiça não é conveniência do mais forte.
- Os mais fortes podem promulgar leis injustas.
- Além disso, os governantes às vezes não sabem o que é bom para a nação.
- Se o governante é chefe da justiça, a justiça então volta-se ao mais fraco e não a ele, o mais forte.
- O injusto é ignorante e, por ser ignorante, é mau.
- Justiça gera organização e harmonia.
- Além disso, quem iria querer colaborar com uma pessoa injusta seja no que for?
- Se os deuses são justos, ai dos injustos.
- A alma sem a virtude da justiça não é capaz de governar bem, nem sua própria vida nem as dos outros.
- Se quisermos justificar as vantagens da justiça, basta que vejamos seus efeitos em larga escala.
- Um ser humano não é capaz de viver sozinho.
- As diferenças entre nós nos condicionam à determinadas tarefas.
- Nenhuma cidade se formaria se ninguém dependesse de ninguém.
- Quanto maior e melhor for a cidade, mais aliados ela terá.
- Depois de resolvidas as questões de sobrevivência, a cidade volta-se às coisas ditas “elevadas”, como as artes e a riqueza.
- De fato, um estilo de vida abastado leva a exageros e exageros levam ao estrago do corpo.
- Numa cidade em que o desejo pelo fútil torna-se grande, os bens de sua terra tornam-se insuficientes.
- O ideal seria que cada pessoa tivesse uma profissão apenas, que executasse com perfeição.
- Ser filósofo é querer aprender.
- Existem literaturas boas e literaturas ruins, as ruins sendo as que não reflectem a realidade, sendo mentirosas.
- Os poetas trágicos, Homero e toda a trupe de poetas épicos eram uns épicos mentirosos, que levaram as pessoas a ter concepções erradas mesmo sobre os deuses.
- Os poetas trágicos também incitavam um medo mórbido dos deuses, traumatizando os que tinham pouca idade para ouvir seu trabalho.
- Os poetas e Homero, ao falarem de lutas entre os deuses, muitas vezes por motivos tolos, faziam parecer que a violência entre irmãos era sancionada pela lei divina.
- Supondo que essas histórias tivessem um significado profundo, nem assim deveriam ser contadas, porque não é todo mundo que faz uma separação decente entre real e alegórico.
- Uma criança que aprende algo errado quando tinha pouca idade, muito dificilmente esquecerá o que aprendeu…
- Não se deve culpar os deuses pelo que acontece de ruim.
- A “verdadeira mentira” é aquela que se aproveita da ignorância do ouvinte.
- Para evitar que as pessoas cresçam com medo da morte, é necessário uma censura adicional aos poetas: os poetas não podem falar nada de ruim do pós-vida.
- A poesia apela às emoções, que suspendem a razão.
- Não dá pra ir pra guerra temendo a morte.
- Não preciso chorar a morte daqueles cuja minha existência não depende.
- Homens célebres não deveriam rir e deuses não deveriam ser retratados rindo nos poemas.
- A mentira não deve ser praticada por pessoas comuns, mas apenas por chefes de estado e somente se os seus benefícios para a cidade superarem os malefícios.
- A imagem dos heróis e dos deuses, como figuras de autoridade, não deve ser manchada pelos poetas.
- É terrível para a educação de quem ouve o poema que diz que deuses cometem atos ruins e continuam sendo deuses, porque isso justifica o comportamento ruim da pessoa que ouve.
- Não se deve estimular a juventude a imitar o que é ruim, para que não subestimem o conteúdo do mal.
- Técnicas musicais que favorecem a tristeza devem ser banidas de uma cidade que se propõe perfeita.
- As harmonias “efeminadas” devem também ser eliminadas por lembrarem preguiça e desocupação.
- Instrumentos capazes de muitas harmonias são desencorajados por Platão, por serem capazes de produzir harmonias proibidas.
- Os outros artistas precisam também se adequar a essas restrições.
- A música tem valor educativo.
- O amor verdadeiro deve ser separado da luxúria.
- Aqueles de boa alma procuram aperfeiçoar também o corpo.
- Os guerreiros precisam de dieta própria.
- Variedade culinária deixa o guerreiro mal acostumado e doente.
- Se há uma grande demanda por médicos é porque tem muita gente doente.
- É vergonhoso precisar de um médico para tratar condições que causamos a nós mesmos.
- O juiz tem que conhecer a injustiça sem praticá-la.
- A ginástica tem como função manter o corpo, de forma que ele não precise de médicos, salvo em casos de força maior.
- A ginástica sozinha torna bruto o praticante e a música sozinha amolece.
- Os guerreiros precisam manter-se firmes no que acreditam.
- Os guardiões da cidade não devem ter ouro, prata, terras e nada que não seja de primeira necessidade, para que os guardiões não tenham também que administrar bens, dividindo sua atenção.
- A felicidade coletiva é prioridade sobre a felicidade pessoal.
- Ninguém dever ter tantos bens e recursos a ponto de desviar a pessoa de seu papel na cidade.
- Recursos demais fazem a pessoa trabalhar menos.
- Riqueza e pobreza devem ser evitados, procurando o justo meio.
- Casamento não deveria existir.
- As quatro virtudes cardeais: sabedoria, coragem, temperança, justiça.
- Enquanto que a sabedoria é uma virtude que melhor cabe aos governantes e a coragem aos governados, a temperança precisa existir nos dois.
- Existem quatro grandes classes na república platônica: comerciante, artífice, guerreiro, governante.
- Justiça é a conformação de cada pessoa à classe que lhe compete.
- As ciências se separam porque têm características próprias, o que só acontece quando a razão se volta para objetos novos.
- A alma platônica divide-se em três partes: racional, irascível (emocional), vegetativa (biológica).
- A pessoa é justa quando cada parte da alma desempenha sua função na hierarquia.
- Mulheres devem receber a mesma educação que os homens.
- Não deveriam existir trabalhos de homens e trabalhos de mulheres, mas que cada um deveria desempenhar a função para qual fosse mais apto.
- A lei pode ser antinatural.
- Família nuclear deve ser abolida.
- O estado deve intervir em relacionamentos sexuais, a fim de maximizar as chances de uma boa prole.
- Os jovens com mais habilidade e de ofício mais alto deveriam ter maior direito de procriação.
- Os filhos são criados pelo Estado.
- Quando as mães derem leite, devem amamentar crianças aleatórias, que são mantidas sob a guarda estatal em um bairro à parte, de forma que não reconheçam seu filho.
- As mulheres que devem ter filhos precisam ter entre vinte e quarenta anos. Os homens que procriam devem ter entre trinta e cinquenta e cinco.
- A procriação tem que ser autorizada.
- Como todos são uma grande família, todos chamam “pai”, “filho”, “mãe”, “avô” quem tem idade o bastante para ser chamado assim, dependendo do gênero.
- Os filhos acompanham os pais na guerra.
- É necessário que as crianças que acompanham os pais na guerra para observar aprendam, em primeiro lugar, a fugir.
- Soldados que são levados cativos não devem ser recuperados.
- A ciência discorre sobre as coisas como são e a opinião discorre sobre as coisas como parecem ser, estando assim a meio caminho entre ciência e ignorância.
- O filósofo é aquele que procura o conhecimento estável, não o variável.
- Quem ama a sabedoria é virtuoso.
- O filósofo não tem medo de morrer.
- Mas alguém poderia afirmar que nenhum filósofo se mostrou nem equilibrado e nem útil ao Estado, mas isso porque a maioria é ignorante.
- E, se o filósofo não era equilibrado, é porque os filósofos tinham uma natureza filosófica que foi pervertida pela má educação.
- A filosofia, como tudo o que é grandioso, é perigoso.
- A cidade deve se subjugar à filosofia.
- Mesmo após a adoção de aristocratas filósofos, a constituição perfeita pode levar tempo para aparecer.
- Leis pensadas e bem argumentadas são desejáveis.
- Os governantes, antes de assumirem, têm que mostrar seu amor pela pátria e pela sabedoria.
- O governante deve gostar de estudar.
- Filósofos não devem descuidar nem do corpo nem da alma.
- Se algo não é bom, não iríamos querê-lo.
- Bom e prazeroso nem sempre coincidem.
- Se você é capaz de falar do que os outros pensam, você deveria ser capaz de falar do que você pensa.
- A ciência e a verdade são filhas do bem.
- Escala da clareza, de baixo para cima: suposição, fé, entendimento, inteligência.
- As aparências enganam, então não se deve julgar algo por elas.
- Fazer ciência pode confundir a pessoa, a ponto de ela achar que seria melhor não ter começado.
- O sábio tem pena dos ignorantes.
- O sábio pode se comportar pateticamente na vida pública.
- Apesar disso, o sábio não deve se isolar dos outros.
- Educação é voltar a alma do aluno na direção do ser, e não na do parecer.
- O filósofo deve se ocupar do bem-estar coletivo, não só com o seu.
- O filósofo deve usar as aparências como recurso pedagógico.
- Todos devem saber matemática, mesmo soldados.
- O filósofo que quer atingir a verdade precisa do cálculo.
- Matemática deve ser conteúdo obrigatório.
- A geometria muda completamente o modo de pensar.
- A astronomia também tem utilidade pública.
- Não se deve fomentar o estudo imperfeito.
- O cálculo, a geometria, a astronomia e a dialética afastam o indivíduo da opinião e o conduzem à verdade.
- A dialética depende do conhecimento de ciências exatas.
- Ciências exatas são universalmente válidas.
- A má reputação da filosofia deriva daqueles que se ocupam dela sem estarem à altura do ofício.
- Quem aprende dialética cedo, pode tornar-se rebelde, porque pode descobrir que muitas coisas em que acreditava não estavam corretas.
- A dialética só pode ser ensinada a quem tem mente estável.
- As mulheres podem governar.
- Todo governo humano tem fim.
- Oligarquia é o governo exercido apenas pelos ricos.
- Riqueza e virtude, em geral, vão em direções opostas.
- Um dos problemas da oligarquia é justamente o de que quem é rico, normalmente, tem pouca aptidão para o governo.
- Pobres e ricos conspiram uns contra os outros.
- Os oligarcas vendem seus bens públicos, empobrecem o estado e atraem má fama.
- Um estado com muitos pobres é um estado com muitos crimes, tanto cometidos por pobres (delitos para sustentar a vida) como por ricos (desvio de dinheiro público).
- Uma pessoa ignorante prefere dinheiro em vez de dignidade.
- A revolta popular transforma uma oligarquia numa democracia.
- A eleição dos mais qualificados pode transformar uma democracia numa aristocracia.
- Democracias têm a liberdade em alta conta.
- O tirano procura assegurar que o povo necessite dele.
- O tirano precisa de guerras.
- Isso atrai sobre ele a ira do povo.
- O tirano precisa matar quem se lhe opõe.
- Para controlar seu próprio povo, o tirano recorre a governos vizinhos…
- O tirano apodera-se dos bens públicos para pagar seu próprio exército.
- Existem desejos ferozes e irracionais que todos nós abrigamos.
- São os que, por vezes, se manifestam nos sonhos.
- O tirano é indefeso sem servos.
- Tem gente que pensa que aquilo que não dá lucro é inútil.
- Sob a orientação do filósofo, o ambicioso e o interesseiro podem até desfrutar melhor daquilo que mais gostam (fama e dinheiro).
- Ímpeto e concupiscência devem ser moderados, mas não suprimidos.
- Dinheiro e poder não compensam a decadência da alma.
- Um belo, mas falso discurso destrói a inteligência de quem ouve.
- O artífice faz um objeto material com base num modelo mentalmente concebido.
- Quem parece saber tudo de tudo, mente.
- Ficção é mentira e deve ser tratada como tal, isto é, não deve ser levada a sério.
- A imitação é uma brincadeira; quem crê na ficção é bobo.
- A razão deve moderar o sofrimento.
- A emoção permite o desespero.
- Emoções tolhem a razão.
- Sofrer demais não é masculino.
- Quanto mais você ri, mais difícil será prender o riso da próxima vez.
- O corpo só pode morrer de doença, dano físico ou velhice.
7 de fevereiro de 2015
O que eu aprendi lendo o “Fédon”.
“Fédon” foi escrito por Platão. Abaixo, algumas coisas que aprendi lendo esse livro.
- O livro fala do discurso de Sócrates antes da morte.
- Após o julgamento de Sócrates, ele ficou preso por mais uns dias antes de finalmente tomar o veneno.
- Muita gente assistiu Sócrates morrer…
- Sócrates morreu feliz.
- Alguns dos presentes também estavam felizes, outros estavam tristes, mas a maioria não sabia o que sentir.
- Prazer e dor sucedem-se um ao outro.
- Se nossa vida pertence a Deus, não temos o direito de atentar contra nossa própria vida.
- É bom não aceitar a opinião dos outros tão facilmente.
- O filósofo se diferencia dos outros por se afastar dos cuidados com o corpo e se aproximar dos cuidados com a alma.
- Nossos sentidos são limitados então não podemos lhes dar completo crédito.
- A verdade é alcançável pelo pensamento, não pelo corpo.
- O corpo proporciona dor, a qual tolhe o pensamento.
- Beleza, justiça, bondade são coisas que não podem ser vistas ou ouvidas e só podem ser estudadas pelo pensamento.
- Revoltar-se na hora da morte é sinal capital de que a pessoa é demasiada apegada ao corpo.
- Existem pessoas que desistem de certos prazeres para se entregarem a outros.
- Os sentidos se aproximam da verdade, sem chegar lá.
- Esquecer é perder conhecimento.
- Somos corpo e pensamento.
- A filosofia ensina como se acautelar dos apetites corporais.
- Sócrates tinha plena fé em suas palavras: estava convencido de que a morte não lhe posaria nenhum mal.
- O ódio pelas palavras e o ódio pelo gênero humano vêm do mesmo lugar: da decepção.
- A maioria das pessoas é um meio-termo entre bom e mau.
- Os extremos são raros.
- Ao encontrar-se com argumentos opostos aos seus com muita frequência, a pessoa acaba se desiludindo do próprio pensamento e da própria palavra, o que pode fazê-la desesperar-se da verdade, se ela também sentir que não é possível chegar a nada 100% seguro.
- Procure a verdade para si mesmo e, se ela for mesmo boa, convencerá os outros.
- Mas convencer os outros a pensar como você não deve ser objetivo, mas sim consequência do pensmento.
- Anaxágoras dizia que a mente ou inteligência ordenava todas as coisas, mas, na hora de explicar as coisas do nosso mundo, nunca recorre à inteligência, mas à causas naturais.
- Estou sentado porque quero.
- Os naturalistas não admitem causas imateriais para coisas materiais, a não ser como “coringas”, como no caso de Anaxágoras.
- As famosas “navegações”: o primeiro itinerário consiste em procurar conhecer as coisas sensualmente e o segundo consiste em usar só o pensamento.
- O que faz as coisas belas serem belas é a presença de uma qualidade chamada “beleza”: para dizer por que algo é belo, devemos definir o que é essa beleza em si, em vez de dizer que é porque o objeto tem esta ou aquela aparência.
- Quando algo participa de uma ideia, não aceita seu contrário.
- Sócrates admitia o modelo esférico da Terra, embora achasse que ela estava no meio do universo.
- Não estamos na borda do planeta, já que a borda do planeta é a atmosfera.
25 de janeiro de 2015
O que aprendi lendo “Mênon”.
“Mênon” foi escrito por Platão. Abaixo, o que aprendi lendo esse livro.
- Como adquirimos virtude?
- Não é possível definir virtude fazendo uma lista de virtudes disponíveis: é necessário pensar no que faz uma virtude ser virtude, que é um processo subtrativo.
- Por exemplo, se existe uma virtude para o homem e outra para a mulher, será que são diferentes?
- A saúde é a mesma em todos, por partilhar de características comuns.
- Justiça é uma virtude, não simplesmente “virtude”: tem também a coragem e a temperança, por exemplo.
- Não podemos dizer o que é uma figura dizendo que é “quadrado” ou “círculo”, nem dizer o que é a cor dizendo que é “branco” ou “azul”: uma definição passa por todos esses casos.
- Sócrates tenta definir a forma como “ente que sempre acompanha a cor”, só que ninguém explicou ainda o que é a cor, o que torna a definição de forma imprecisa.
- Você sabe o que é “término” ou “limite”, “sólido” e “superfície”?
- Todos procuram o bem; se procuram algo danoso é por ignorarem que é danoso.
- A virtude, então, parece estar não na vontade de ter coisas boas, mas na capacidade de consegui-las.
- Só que também não funciona dessa forma; é possível conseguir coisas boas injustamente.
- Como é que virtude é conseguir coisas justamente, se justiça por si já é considerada virtude?
- Como buscar o que se ignora, como buscar o que não conheço se nem sei o que procuro?
- A aporia é necessária: faz a pessoa tomar-se conta da própria ignorância.
- Todos parecem ter conhecimento latente que pode ser invocado através de questionamento.
- Se virtude for ciência, pode ser ensinada.
- Qualquer coisa conduzida cientificamente leva ao bem.
- Se virtude é ensinável, como é que não há “professores de virtude” nem gente querendo aprender virtude?
- Quem faz nem sempre é quem ensina e quem ensina nem sempre faz.
- Os sofistas não ensinam virtude.
- Se o homem virtuoso pudesse ensinar virtude, abriria uma escola disso!
- Se houvessem professores de virtude, deveriam concordar quanto ao grau de apreensão da virtude, mas se observa que pessoas virtuosas não estão de acordo quando a virtude ser ou não ensinável.
- Sofistas, por professarem que virtude se ensina ou não dependendo da situação, não são professores de virtude.
- Depois de perdida a virtude, não será a educação capaz de restaurá-la…
- Mesmo os que afirmam que a virtude pode ser ensinada se mostram confusos ao falar da própria virtude.
- Virtude não é ciência.
- Opinião verdadeira não produz resultado inferior à ciência.
- É pelo cálculo que a opinião correta torna-se ciência e, portanto, estável.
- Se a pessoa pode se tornar virtuosa aprendendo, então virtude não é inata.
- A definição de virtude é inclusiva e, como a definição, suas características são também inconclusivas.
16 de janeiro de 2015
Anotações sobre “Alcibíades I”.
- Quando você está em dúvida, você chama um profissional.
- É vergonhoso para o técnico não saber o nome de sua técnica.
- Você não deve entrar em guerra se isso for injusto.
- Não há consenso sobre o que é justiça.
- Não é possível ensinar o que não sabemos.
- Quando uma pessoa se contradiz, ela não sabe muito bem do que está falando.
- Você só pode duvidar quando você sabe que não conhece bem o assunto.
- O pior tipo de ignorância é a do ignorante que acha que sabe alguma coisa.
- Os erros da política vêm da ignorância dos políticos sobre o que é justo e o que não é.
- Quem sabe, ensina.
- Quando você se acostuma com a ignorância, você não a percebe mais.
- A hora de ser corrigido é quando ainda se é jovem.
- Cuidar bem de algo é deixá-lo em condição melhor ou mantê-la em condição boa.
- A arte de cuidar de si mesmo não é a mesma arte de cuidar dos próprios pertences.
- Se você não conhece algo, não pode cuidar dele.
- A pessoa não é seu corpo.
- Podemos chamar de sábio quem se conhece.
- Quem “ama” alguém por sua aparência, não ama a pessoa, mas seu corpo, que é um pertence.
- O conhecimento de si mesmo, isto é, da alma, vem por se reconhecer no outro.
- Sem esse conhecimento, não é possível cuidar de nós mesmos.
- Um político que não pode cuidar de si mesmo não pode cuidar dos outros, logo é um mau político.
- Não é ficando rico que se fica feliz, mas ficando sábio.
- Um povo feliz é um povo virtuoso, não um povo rico.
- Não pode ensinar virtude quem não a tem.
12 de janeiro de 2015
Anotações sobre a “Apologia de Sócrates”.
- Sócrates costumava “tornar mais forte a razão mais fraca“, isto é, mostrar a verdade nos pensamentos incomuns.
- Os comediantes, como Aristófanes, espalharam mentiras.
- Se Sócrates agisse como todo o mundo, não teria sido acusado.
- Sócrates era sábio porque estava ciente de sua ignorância e a admitia.
- Os poetas falam por inspiração, não por sabedoria.
- Os técnicos sabem muito de uma coisa só, não deveriam se julgar sabedores das áreas que não conhecem só porque dominam bem seu ofício.
- A verdadeira razão da condenação de Sócrates parecia ser que ele simplesmente dizia a verdade!
- Meleto acusava Sócrates de não saber o que era bom pra juventude, mas Meleto é que não sabia.
- Se Sócrates corrompeu alguém sem querer, deveria ser instruído, não punido pela lei.
- Meleto se contradiz ao dizer que Sócrates é ateu e acredita em deuses desconhecidos.
- Acusações falsas só revelam o ódio a uma pessoa justa.
- Ninguém sabe exatamente tudo o que acontece depois da morte, mas todos fogem dela como se tivessem certeza de que é o pior dos males.
- Se você ensina o bem, não corrompe.
- Sofrer injustiça é melhor que causá-la.
- Sócrates se recusou a pedir misericórdia.
- A condenação de um sábio já velho à morte traria censura sobre Atenas.
- Sócrates permaneceu com atitude digna na iminência da morte.
- A morte ou é sono eterno ou é mudança da alma de um local para outro.