Então, eu tinha um notebook aqui que tava dando problema na BIOS. Levei ele nos técnicos e eles não conseguiram resolver o problema. Arrumei um computador novo e passei o antigo pra um amigo, que resolveu a BIOS. Ele então me mandou o PC antigo de volta, mas agora eu não tinha uso pra ele. Então o dei pra minha mãe, que sabe mexer em Linux sem maiores problemas, mas também ela não tinha uso pro computador antigo. Ela passou o notebook pra um amigo meu, que é completamente iniciante em Linux, que era o sistema operacional instalado na máquina.
Uma semana depois, o cara me pede socorro, dizendo que não tava se dando com o Linux. Eu já fui fanático por Linux, mas eu fiquei mais tolerante ao Windows e sugeri instalar Windows no PC do sujeito. Mas por que ele não estava se dando com Linux?
Antes de prosseguir, é preciso entender que Linux é um núcleo, não um sistema operacional completo, que imita as maneiras do Unix sem incorporar código diretamente do Unix. Assim, Linux é usado pra construir sistemas operacionais semelhantes a Unix. Um sistema desses tem quatro componentes fundamentais: o núcleo (no caso, o Linux), bibliotecas de código C, interpretador de comandos e programas. Os outros componentes que formarão o sistema completo junto com o Linux geralmente vêm do projeto GNU, daí os sistemas completos serem também chamados de GNU/Linux. Os que eu já usei foram Ubuntu, Tails (óbvio), Debian, Mint, Manjaro e MX.
A máquina que eu mandei pro sujeito estava com MX. Péssimo pra iniciante. A interface gráfica de usuário não é um componente fundamental de um sistema semelhante a Unix, podendo ser modificada, substituída e até completamente removida. Lembra dos tempos do DOS? Pois então, é a mesma mecânica por trás das primeiras três versões do Windows: antigamente, o Windows era simplesmente uma interface que poderia ser instalada no MS-DOS, PCDOS ou DR-DOS, não um sistema completo. Tanto que o Windows poderia ser instalado e depois removido do DOS sem prejuízo pro sistema. Por causa dessa mecânica, se você não gosta da interface do MX, chamada Xfce, você pode substituí-la por GNOME, KDE ou qualquer outra coisa.
O problema é que o iniciante frequentemente não sabe como fazer isso. No Brasil, o Windows 7 é ainda altamente popular, o que não é uma coisa boa. Por isso, a maioria das pessoas que vem do Windows 7 pro Linux não tem nenhuma noção do que seria um repositório de software, que é por onde administradores de sistemas Linux instalam o que precisam, inclusive interfaces. Então, ele eventualmente perdeu a cabeça e pediu arrego.
Não o culpo. O debate sobre o que é melhor, Linux ou Windows, é um concurso de mijo. O melhor sistema é aquele que melhor atende às suas necessidades como usuário. Se você está disposto a sacrificar estabilidade por personalização e facilidade, você usa Windows. Se você prefere sacrificar alguma facilidade em troca de personalização e estabilidade, você vai de Linux. Se você prefere sacrificar um pouco de personalização pra ter estabilidade e facilidade, vai de MacOS. Se você quer fazer algo completamente alienígena, vai de BSD. Ou aquele dos pôneis. E por aí vai.
Só que instalar Windows naquela máquina foi um pesadelo. Eu não imaginava que eu teria que fazer tanta coisa.
Baixando o Windows e preparando o pen drive.
A melhor parte do Windows 10 é que ele é disponível pra download gratuito no próprio site da Microsoft. Não há necessidade de chaves de ativação ou crack. E, realmente, uma das razões pelas quais eu mudei pra Linux foi que eu não estava disposto a fazer algo ilegal só pra ter um sistema funcional. Eu estava disposto a aprender um sistema novo se isso significasse não quebrar nenhuma lei. Isso, claro, porque eu não tinha dinheiro pra uma cópia legítima do Windows Vista Ultimate, que era o que eu usava na época (num Acer Aspire 5315, imagine só).
Baixar foi fácil. Difícil foi criar um dispositivo arrancável. Em Linux, é facinho criar um pen drive pronto pra uma sessão ao vivo… se o sistema no pen drive também for Linux… Eu tentei criar um pen drive arrancável com Windows da mesma forma que eu faço com Linux. Deu ruim. Não dava boot de jeito nenhum. Tirei a BIOS do modo legacy, botei UEFI. Nada. Habilitei e desabilitei secure boot. Nada com nada. Arre, égua! O que deu errado?
WoeUSB.
Eu não faço ideia de onde estava o problema. Enquanto eu tentava encontrar uma solução, eu achei o WoeUSB. É um programa (basicamente um script) que é feito pra preparar pen drives arrancáveis com Windows em uma máquina com Linux, desde que as dependências fossem satisfeitas. Mas eu só achava ele como código-fonte e através de um arquivo pessoal de pacotes, que é uma coisa do Ubuntu. Eu tô no MX, então não dava pra eu usar um arquivo desses. Procurei pelo WoeUSB nos meus repositórios e não achei. Certo… Continuei tentando de todos os outros jeitos, sem conseguir. Eu já tava preparando minha psique pra enfrentar uma compilação, caso eu tivesse que usar o código-fonte do WoeUSB. Quando tudo deu errado, eu vi que eu teria que usar o código-fonte do WoeUSB. Não tinha pra onde fugir.
Felizmente, eu não precisei compilar nada. O WoeUSB é simplesmente um script que opera programas preexistentes no sistema e, como todo script, basta ser executado pelo Terminal. E pensar que eu poderia ter feito isso desde o começo, me poupando uma tarde de trabalho.
woeusb –device /home/yure/windows /dev/sdb
Deu erro: “você não está executando WoeUSB como root!” Ah, é. Esqueci, desculpa.
sudo woeusb –device /home/yure/windows /dev/sdb
Deu outro erro. Aparentemente, meu pen drive (/dev/sdb) não era um “bloco”. Ou seja: nada podia ser escrito nele. Tá bom, vamos tentar formatá-lo… Formatei e tentei de novo. Mesmo problema. Arre, égua! Tá bom, vamos tentar apagar a tabela de partições do dispositivo. Abri o Gparted, pluguei o dispositivo, selecionei a aba “dispositivo” e apaguei a tabela de partições. Acabei com um grande espaço não alocado, o qual formatei como NTFS. Deixei por isso mesmo e tentei de novo. Desta vez, o negócio escreveu. Deu um erro no finalzinho, mas foi um erro meramente cosmético e que podia ser ignorado.
Reiniciei o computador com o pen drive, agora pronto, plugado no PC. Abriu o GRUB e, a partir do GRUB, o Windows 10 começou o processo de instalação. Pensei: “ah, essa é a gambiarra, então.” Por alguma razão, a minha BIOS não iniciava o Windows pelo pen drive, mas, se você tem Linux instalado na sua máquina, supõe-se que a BIOS pode iniciar o GRUB2, que é o carregador de boot de todos os sistemas Linux modernos. O truque é fazer a BIOS iniciar o GRUB, instalado no pen drive junto com o Windows pelo WoeUSB, e deixar que o GRUB inicie o instalador do Windows. Genial! E que aventura…
O que aprendemos hoje.
1) Nem todo o mundo se dá com Xfce, claro.
2) Métodos utilizados pra gravar Linux num pen drive podem não ser suficientes pra gravar Windows, requerendo métodos especiais.
O método utilizado, passo-a-passo.
1) Ligue o computador no qual você quer instalar o Windows e, enquanto ele liga, entre na BIOS (no meu computador, isso é feito apertando F2 enquanto o logotipo da Acer está na tela).
2) Na BIOS, configure boot de UEFI pra legacy e mude a ordem de boot pra que o USB venha em primeiro lugar.
3) Baixe o Windows 10 no site da MS.
4) Abra um Terminal e instale as dependências do WoeUSB (assumindo que você está usando MX Linux, use o comando sudo apt-get install bash coreutils util-linux grep gawk find grub gparted wget).
5) Baixe o WoeUSB (você baixa ele no Github pelo botão code).
6) Renomeie o Windows que você baixou pra windows.iso e o ponha no seu diretório pessoal, vizinho das outras pastas (Documentos e Downloads, por exemplo).
7) Extraia o conteúdo do zip no qual o WoeUSB veio.
8) Dentro do diretório do WoeUSB há uma pasta chamada sbin e, dentro dela, o script.
9) Abra um terminal nessa localização (botão direito do mouse > abrir terminal aqui).
10) Plugue o pen drive, abra o Gparted, selecione o dispositivo alvo (geralmente /dev/sdb) e, na aba “dispositivo”, crie uma tabela de partições do tipo GPT.
11) Ainda no Gparted, crie uma partição NTFS no espaço não alocado.
12) No terminal que você acabou de abrir, dê o comando sudo woeusb –device ~/windows.iso /dev/sdb (observe que o “/dev/sdb” deve ser substituído de acordo com o nome do seu dispositivo).
13) Espere terminar e reinicie o computador sem tirar o pen drive.
Tô esquecendo alguma coisa? Bom, deu certo, isso é o que importa…