Pedra, Papel e Tesoura

12 de fevereiro de 2017

O que aprendi lendo “Metafísica dos Costumes”.

Metafísica dos Costumes” foi escrita por Immanuel Kant. Abaixo, o que aprendi lendo esse livro.

  1. Este livro é uma continuação da Crítica da Razão Prática.
  2. Os livros de filosofia são frequentemente acusados de serem complicados de propósito, só pra parecer que o autor é mais inteligente do que na verdade é.

  3. Todos os autores de filosofia deveriam escrever de um jeito que os que não são filósofos possam entender.

  4. Muitas vezes, o processo filosófico não pode ser popularizado, por requerer uma linguagem que está distante do vulgo, mas isso não quer dizer que os resultados da reflexão ou da pesquisa não possam ser oferecidos em linguagem leiga na conclusão.

  5. Popularizar um texto que não foi escrito por mim abre espaço para que eu possa torcer o significado original do texto.

  6. Se considerarmos a filosofia como um corpo de conhecimentos filosóficos, então existem várias filosofias, cada uma dando sua contribuição ao pensamento moderno.

  7. Mas se consideramos a filosofia como um conhecimento só, então há um processo que se aperfeiçoa e se purifica ao longo do tempo.

  8. Então, não podemos dizer que a filosofia anterior não tem importância: ela serviu como meio de aperfeiçoamento e purificação que possibilita o estado atual do pensamento filosófico.

  9. Uma obra de filosofia ou de ciência, então, nunca é totalmente sua: ela foi construída sobre uma bagagem cultural que você tem e que foi adquirida com o estudo de outros autores, seja através de professores ou de livros.

  10. Existem leis que não precisam ser promulgadas.

  11. É lícito universalizar a experiência, mas é preciso estar pronto pra quando sua universalidade for desmentida.

  12. Uma lei desnecessária deve deixar de ser lei.

  13. A ética é experimental.

  14. O caminho pra felicidade individual passa pela experiência íntima do indivíduo.

  15. Assim, o que traz felicidade a um pode não trazer ao outro.

  16. “Concupiscência” é o desejo que pode ser transformado em ato, mas que ainda não foi transformado em ato.

  17. “Livre arbítrio” é a escolha feita com base na razão somente: se eu faço algo movido por forte emoção, podemos dizer que fiz sem querer.

  18. O arbítrio humano nem sempre é livre, mas nunca é animal.

  19. “Lei moral” diz respeito ao uso da nossa liberdade.

  20. “Lei jurídica” diz respeito somente aos atos externos.

  21. O conceito de dever deriva do de obrigação, o qual, por sua vez, deriva seguramente do imperativo categórico: eu sou obrigado, pelo sentimento moral, a agir de um jeito que beneficiaria todos, se todos adotassem meu comportamento.

  22. Obrigação é uma necessidade moral, que deve ser preenchida com um ato livre: eu posso ser obrigado a uma coisa e ainda assim recusar.

  23. “Imperativo” é uma regra que dá caráter de necessidade a algo que antes não tinha esse caráter.

  24. “Dever” é algo que sou obrigado a fazer, ou seja, uma ação específica, particular, que visa preencher a necessidade moral enunciada pela obrigação, que por sua vez se sustenta no imperativo categórico.

  25. Se algo não é proibido, é automaticamente permitido.

  26. Se algo é permitido, é moralmente indiferente.

  27. Uma “pessoa” é um sujeito responsável por suas ações, que é capaz de livre-arbítrio.

  28. O contrário de “pessoa” é “coisa”.

  29. Uma ação que contradiz o dever é chamada “transgressão”.

  30. Quem transgride é sempre culpado, mas quem transgride sabendo que o que ele faz é errado, esse é criminoso.

  31. A lei natural precede à positiva.

  32. É imoral a máxima (regra de conduta pessoal) que não leve em conta a universalidade: eu devo agir como se todo o mundo fosse agir como eu, como se eu estivesse o tempo todo dando exemplo.

  33. Máximas procedem da escolha, mas leis partem de outra fonte.

  34. Um imperativo categórico é um comando.

  35. Não é estranho que se punam os maus, mas não se recompensem os bons?

  36. A lei ética é a que deixa seu objetivo claro.

  37. Se você cumpre seus deveres, só está fazendo sua obrigação.

  38. Honrar os compromissos mesmo quando não há risco de punição por desconsiderá-los ainda é um ato de virtude.

  39. A doutrina do direito é a soma de todas as leis que podem se manifestar externamente.

  40. Uma ação é justa se não fere a liberdade de ninguém ao mesmo tempo que está de acordo com uma lei respeitada por todos.

  41. Um juiz não pode emitir uma decisão sem condições definidas: é preciso que haja dados sobre os quais ele possa pensar antes de emitir uma decisão.

  42. É lícito fazer violência a quem não me fez nada de mal?

  43. A lei não pode punir quem comete um crime a fim de se manter vivo: não há pena que a lei possa emitir que seja maior que a morte.

  44. As pessoas não são somente meio, mas sempre são também fim.

  45. Não cause prejuízo.

  46. Assegure sua propriedade sem tomar a do outro.

  47. O único direito inato é a liberdade, os outros direitos têm que ser adquiridos.

  48. Mentir é dizer falsidade de propósito.

  49. “Meu” é algo cujo uso está ligado a mim de tal forma que seu uso por outros, sem meu consentimento, me seria prejudicial.

  50. É possível possuir algo fisicamente (tendo o objeto) ou juridicamente (tendo direito ao objeto).

  51. Eu só posso dizer que algo é meu se ele permanece sendo meu (conforme nota 52) mesmo quando eu não estou em sua posse física.

  52. É possível que eu chame de “meu” um serviço prestado por outros.

  53. Se alguém já ocupa uma terra, invadi-la é lesar o ocupante.

  54. Um conhecimento empírico é sempre subjugado a espaço e tempo.

  55. Um objeto externo não é um objeto longe, mas um objeto distinto.

  56. É possível ser dono do que nunca se usará.

  57. Dizer que algo é meu implica dizer que ninguém pode usar aquele algo sem minha permissão.

  58. Você não pode ter o que já é de alguém, salvo no caso de a posse ser partilhada de comum acordo entre as partes.

  59. Mesmo que eu possua um ser humano como posse, eu não tenho direito de usá-lo como objeto, uma vez que todos os humanos que são meios precisam também ser fins.

  60. Quem adquire primeiro tem mais direito.

  61. A Terra é redonda, ainda bem; facilita os seres humanos a se encontrarem.

  62. Se a Terra fosse um plano infinito, as comunidades não se formariam.

  63. A terra desocupada é do primeiro ocupante que chegar lá.

  64. A posse definitiva só é possível graças às leis: no estado de natureza, uma posse minha pode ser subtraída a qualquer momento.

  65. Não se deve tomar a terra que já pertence a seus habitantes.

  66. Uma terra na qual não se pode viver é de todos.

  67. Cada ser humano é responsável pela humanidade.

  68. “Alienação” é a transferência de propriedade.

  69. Um contrato me garante uma promessa, não necessariamente a coisa prometida.

  70. “União sexual” é o uso recíproco dos corpos e das habilidades, uma espécie de acordo no qual um se servirá intimamente do corpo alheio.

  71. Não é possível adquirir o membro do outro sem adquirir seu corpo inteiro.

  72. Os casados têm posse dos bens materiais um do outro.

  73. Um casamento “de verdade” deve ser feito entre pessoas da mesma classe social, para evitar que a diferença de status dê ocasião à desigualdade no matrimônio.

  74. O simples romance, sem sexo, é amizade, não matrimônio.

  75. A criança é uma pessoa.

  76. O filho não pediu pra nascer: se nós trouxermos uma criança para uma vida ruim, nós somos criminosos.

  77. O filho deve ter dupla educação: pragmática (como sobreviver) e moral (como ser honesto).

  78. A maioridade só chega quando o filho é capaz de se sustentar sozinho.

  79. Dinheiro” é qualquer coisa que só tem valor quando é dada: com efeito, o valor do dinheiro só aparece quando o gastamos.

  80. Se tivermos muito dinheiro, mas não o gastarmos, é o mesmo que estarmos pobres.

  81. Toda a força de trabalho pode ser trocada por dinheiro.

  82. Quanto mais trabalho , mais dinheiro é posto em circulação.

  83. Para que o dinheiro funcione, ele deve ser difícil de obter.

  84. Um trabalho serve a outro trabalho, sendo esses trabalhos mediados pelo dinheiro.

  85. Conhecimento tem preço.

  86. Somente o dinheiro legal pode ser chamado de “moeda”.

  87. O autor fala por si, o editor fala pelo autor.

  88. Publicar um livro sem autorização põe em risco os lucros do editor legítimo.

  89. É possível ter mérito depois da morte.

  90. Se uma pessoa me empresta algo, mas não cobra seu retorno e nem vem buscar, o objeto passa a ser meu.

  91. Prove que algo é seu.

  92. Não se deve denegrir a imagem de alguém que está ausente e não pode se defender, a menos que se esteja completamente certo do que se está falando.

  93. Caluniar uma pessoa morta deve ser julgado pelo público e não por um tribunal.

  94. Antes de pedir algo emprestado você deve avisar ao dono que você será responsável (pela perda do objeto caso algo aconteça com o objeto emprestado).

  95. Antes de você emprestar algo, determine os termos de ressarcimento caso o objeto emprestado seja danificado ou perdido.

  96. Você não pode adquirir algo de alguém que não dono do objeto.

  97. Por causa disso, é errado comprar mercadoria roubada.

  98. Quem adquire mercadoria roubada sem saber não deveria ser punido.

  99. Eu deveria ser capaz de recuperar o que é meu mesmo que esteja longe.

  100. Estranho um povo jurar pelos mortos sem contudo acreditar em vida após a morte.

  101. Eu não posso ser obrigado a jurar.

  102. É possível usar a religião para torturar.

  103. O tribunal é a justiça de um país.

  104. Se eu tenho que viver junto dos outros, adotarei o estilo de vida da maioria.

  105. Uma constituição representa a vontade do povo e o mantém unido.

  106. Os três poderes que representam, ou melhor, deveriam representar a vontade geral: o soberano legislativo, os governantes executivos, os juízes do judiciário.

  107. O legislativo deve ser o próprio povo ou pessoas do povo escolhidas pelo povo.

  108. Se o poder executivo também legisla, temos um governo despótico.

  109. O executivo não tem poder de julgamento.

  110. Pra o criminoso ser justamente punido, é preciso que se assuma que ele fez aquilo de caso pensado ou que isso fique assim demonstrado: quem comete um crime sem querer não merece punição.

  111. Se o povo deixa de se interessar por religião, as posses clericais estão em risco.

  112. Se você não diz pra polícia o que você está fazendo quando esta lhe pergunta, você é automaticamente suspeito e passivo de prestar depoimento ao delegado ou juiz, sob pena de ser detido.

  113. A polícia não pode invadir minha casa, a menos que tenha ordem judicial pra isso.

  114. O dinheiro dos impostos deve sempre ir para serviços públicos.

  115. O estado pode forçar os ricos a arcar com as necessidades dos pobres.

  116. Assim nasce o imposto sobre propriedade e o imposto sobre atividade comercial.

  117. Se você jogar muito na loteria, você ficará pobre.

  118. Igreja não é religião: “igreja” é uma instituição cristã voltada para o culto público de Deus, mas religião vem de dentro, do espírito, é uma coisa pessoal, não necessariamente associada à igreja, templos ou locais especiais (João 4:20-24).

  119. Os humanos têm necessidade espiritual, o estado não pode banir uma religião sem causar revolta.

  120. Os impostos da igreja devem ser saldados com o dízimo.

  121. O senhor assume a guarda dos filhos dos servos junto com esses servos, isto é, a responsabilidade de mantê-los e educá-los.

  122. A justiça à venda é injusta.

  123. A punição pelo crime deve ser agravada pela posição social da pessoa: o presidente que comete crime deve ser mais severamente punido, já que ele está servindo de exemplo à nação o tempo todo.

  124. Se você rouba, você deixa implícito que não tem problema roubar, o que expõe você a ser roubado.

  125. Os cidadãos têm o direito de se mandar do país.

  126. Nada de errado em um senhor de terras chamar estrangeiros pra morar com ele.

  127. O senhor de terras pode banir um indivíduo de seu território, isto é, deportá-lo.

  128. Uma república genuína representa o povo: uma república que não representa o povo é ilegítima.

  129. A república ideal é aquela na qual o povo é soberano.

  130. Por que os presidentes não lutam na guerra?

  131. Para entrar em guerra, é preciso renunciar à paz primeiro.

  132. Onde há armas, a lei emudece.

  133. Num tratado de paz costuma rolar anistia.

  134. Depois de vencer uma guerra, se pode pilhar os bens públicos, mas não os bens particulares, isto é, os bens de cada súdito do governo vencido.

  135. Um adversário que falta contra o imperativo categórico é um adversário injusto. Numa guerra contra ele, não se deve usar meios injustos, mas se pode usar os meios justos em toda a sua extensão.

  136. A finalidade do direito é a paz perpétua.

  137. Colonizaram a América sob o pretexto de civilizar as pessoas do local e de mandar para lá os criminosos do país colonizador, na espera de que esses criminosos se tornassem melhores em solo americano. Isso não justifica a violência dos meios utilizados para tais objetivos.

  138. Se não consegues provar a positiva, podes tentar provar a negativa.

  139. Se não consegues provar nem a positiva e nem a negativa, podes tentar demonstrar que a pergunta é sem sentido.

  140. Não interessa se a paz é possível ou não; é preciso agir como se fosse. Trabalhar pela paz, mesmo que esta seja impossível, não vai deixar nosso mundo pior. Isto é, dependendo do meio usado pra obter a paz…

  141. Exemplos ilustram sem provar.

  142. Se incorporam conceitos metafísicos mesmo nas afirmações que visam utilidade prática. A metafísica é necessária.

  143. Mesmo que trabalhem e recebam salário, os filhos que não deixaram a casa dos pais ainda lhes devem obediência.

  144. Para Kant, os estupradores e os abusadores de menores devem ser punidos com a castração, enquanto que os que têm relações sexuais com animais devem ser punidos com banimento. E se quem abusa da criança for uma mulher? Kant cala sobre isso. Donde decorre que, em sua cabeça, abuso de menores é penetração com órgão genital. Logo, se não há penetração, não há crime de pederastia. Se a pederastia for algo além da penetração, a punição não pode ser castração, mas algo que também possa afetar uma mulher infratora.

  145. Uma injustiça que subsiste por muito tempo não se torna, por isso, direito.

  146. É melhor ter pouco dinheiro e alguma liberdade do que viver num lugar luxuoso sem liberdade nenhuma.

  147. A igreja deve ser subordinado ao estado também.

  148. A metafísica engloba um conjunto de conceitos racionais puros, isto é, tidos por corretos pela lógica, sem a necessidade de provas empíricas.

  149. O filósofo prático é aquele que usa a razão visando uma melhor ação prática, agregando a uma reflexão prática o conhecimento que for necessário.

  150. Kant nunca intencionou destruir a metafísica e frequentemente afirma sua necessidade.

  151. Será que eu tenho forças pra fazer o que me requerem?

  152. Dois objetivos que também são deveres: amor ao próximo e autoaperfeiçoamento.

  153. Aperfeiçoamento é pessoal: eu não posso aperfeiçoar outra pessoa (pense em todas as pessoas más que têm ótima educação).

  154. Felicidade é estar satisfeito com sua condição.

  155. Se eu quero manter minha integridade moral e só posso fazer isso se eu for feliz, então a felicidade deixa de ser fim, tornando-se meio.

  156. O amor-próprio implica o desejo de ser amado.

  157. Benevolência (boa vontade) não é o mesmo que beneficência (boa ação): você pode querer o bem pra uma pessoa sem fazer o bem a ela.

  158. Quando se diz que certa pessoa “não tem consciência”, se está querendo dizer que ela não presta atenção nas acusações que sua consciência faz: ela prefere ignorar essas acusações.

  159. Faça bem à humanidade, mesmo que ela não mereça, porque você tem o dever de zelar por ela.

  160. Assim, no futuro, a humanidade poderá ser digna de ser amada.

  161. Faça bem também a quem não ama.

  162. Praticando o bem mutuamente, o amor pode se seguir por consequência.

  163. Quando uma prova basta, não é necessário provar de outras maneiras.

  164. Ter virtude “além da medida” já é vício.

  165. A sabedoria, em sentido estrito, é prática: o filósofo cuja filosofia não tem implicação prática pode muito bem não estar interessado em sabedoria.

  166. É possível ser mais virtuoso do que o suficiente.

  167. O método dialogal é uma tentativa de trazer à consciência algo que já se sabe.

  168. Se eu chego à conclusão de que tenho uma responsabilidade inevitável, automaticamente estou me obrigando a ela.

  169. Um dever para comigo mesmo é automaticamente um dever para com toda a humanidade.

  170. Devo me aperfeiçoar além do ponto em que a natureza me colocou ao nascer.

  171. Eu devo preservar minha vida.

  172. Suicídio é homicídio.

  173. Eu não posso, por interesse, me livrar de uma parte saudável do meu corpo.

  174. Provar que a masturbação é errada é uma tarefa difícil, porque a masturbação não faz mal a ninguém.

  175. É possível guardar algo em seu coração e falar algo completamente oposto ao que se sente.

  176. Drogas só devem ser usadas em situação medicinal: usá-las por prazer é abuso.

  177. Um banquete é um convite formal ao excesso.

  178. “Mentira” é inverdade intencional: se você disse algo errado sem querer ou porque não sabia a verdade, você não mentiu, mas se equivocou.

  179. Não se deve fazer o bem através da mentira.

  180. O ser humano mente pra si mesmo, com frequência.

  181. A pessoa mente pra si mesmo ao professar algo em que não acredita por causa de uma possibilidade de ganhar algo com isso.

  182. Outro exemplo é eu dizer que eu, como cristão, amo as leis de Deus, quando na verdade só tenho medo de punição.

  183. “Avareza” é não gastar quando necessário.

  184. Não há meio-termo entre verdade e mentira.

  185. Ser mesquinho é ser pobre de propósito: de que serve o dinheiro se você não gasta?

  186. Se achar acima da lei é arrogância.

  187. Não é digno de um ser humano se curvar diante de outro ser humano, posto que são fundamentalmente iguais.

  188. Quem se faz de capacho deve ser pisado.

  189. A consciência é um fórum interior.

  190. É possível deixar de dar atenção à consciência, mas não se pode deixar de ouvir sua voz.

  191. O primeiro comando de todos os deveres para consigo mesmo: conhece-te a ti mesmo.

  192. Embora não haja relação de direitos e deveres entre seres humanos e seres não-humanos, o ser humano ainda tem, ao menos, deveres para com a natureza em geral, como um todo, devendo zelar pelas belezas naturais a fim de exercitar sua capacidade de amar e se abstendo da crueldade contra animais para preservar sua capacidade de sentir empatia.

  193. O animal deve ser recompensado por um trabalho bem-feito.

  194. O dever para com o animal é um dever para consigo próprio, pois auxilia no aprimoramento de sua humanidade, o qual tem repercussão no próprio trato entre humanos.

  195. Todo o mundo deveria ter uma religião.

  196. O ser humano tem obrigação de desenvolver suas capacidades.

  197. Mesmo que se esteja satisfeito com as habilidades que já se tem, é sempre útil melhorá-las ainda mais.

  198. Organize suas habilidades segundo seu objetivo.

  199. Ciência é teórica, sabedoria é prática.

  200. A educação física é tão importante quanto o estudo das ciências; o cientista, se não tiver corpo ou tiver um corpo que não é saudável, a ponto de não servir ao seu propósito, não pode colocar o conhecimento que tem em prática.

  201. Escolha como profissão aquilo em que você seria mais útil, ou seja, aquilo que você faz melhor.

  202. O aprimoramento deve ser direcionado ao objetivo que você persegue.

  203. Como nunca alcançaremos a perfeição, então sempre há como melhorar.

  204. Há dois tipos de deveres que mantemos com os outros: os que implicam obrigação mútua e os que não implicam.

  205. Amor e respeito não são a mesma coisa.

  206. “Filantropia” é amor a todos os seres humanos.

  207. “Misantropia” é o oposto, é o ódio a todos os seres humanos.

  208. “Egoísmo” é amor só a si mesmo e indiferença em relação aos outros.

  209. “Timidez” é a falta meios de expressão para o amor que se sente.

  210. Tenho que fazer aos outros o que eu quero que me seja feito.

  211. O princípio do amor se divide em: beneficência, gratidão e solidariedade.

  212. É preciso cuidar do próprio corpo.

  213. Quando você se sente bem com o bem-estar dos outros, você é benevolente.

  214. Quando você trabalha pelo bem-estar dos outros, você é beneficente.

  215. É raro encontrar alguém que faça do bem-estar dos outros o seu objetivo.

  216. Trabalhar pela felicidade dos necessitados é dever de todos.

  217. Se o outro está precisando, conceder-lhe um benefício não deve ser feito visando algo em troca.

  218. O limite da beneficência é o próprio prejuízo.

  219. Eu não posso ser beneficente ao outro impondo a ele meus próprios padrões de felicidade: eu tenho que saber o que torna a pessoa feliz e então fazer isso a ela.

  220. Uma pessoa é rica quando tem mais ou melhores meios do que necessita para alcançar seus objetivos.

  221. O governo pode ser injusto a ponto de tornar seus cidadãos pobres deliberadamente a fim de torná-los necessitados de sua beneficência.

  222. Se eu causo um prejuízo a alguém e depois o reparo, isso não é beneficência.

  223. Reconhecimento é um tipo de gratidão.

  224. Os antigos merecem respeito, mas isso não quer dizer que os novos sejam piores.

  225. É mais fácil fazer o bem se o mal incomoda.

  226. Os vícios que trabalham contra o amor: inveja, ingratidão, malícia.

  227. A inveja que não se manifesta externamente é chamada “ciúme”.

  228. A inveja é o mal-estar ao ver os outros se dando bem.

  229. Inveja só ocorre em pessoas insatisfeitas com a própria condição.

  230. Malícia é se contentar com o mal-estar dos outros.

  231. Se algo ocorre a algum ser humano, é de nosso interesse.

  232. Um tipo de malícia é o desejo de vingança.

  233. Na medida em que vingança é uma aplicação da minha própria visão do que é justo, ela não é justa, porquanto algo só pode ser justo se for para todos.

  234. No final das contas, justiça perfeita é só a de Deus.

  235. Nenhuma punição deve ser feita de cabeça quente; a raiva nos leva a punir em excesso, ou seja, a cometer abuso.

  236. Um crime que tornaria a natureza humana detestável é o que chamamos de “inumano”.

  237. O ser humano está entre o anjo e o animal, mas isso não o torna um híbrido dos dois.

  238. Tudo tem valor, mesmo que tal valor seja negativo.

  239. Um ser humano deve se tratar como humano e aos outros humanos como humanos que são.

  240. É imoral tratar um ser humano como se fosse menos que isso.

  241. Honra é respeito alheio: se te respeitam, você é honrado.

  242. Não se deve desprezar um ser humano por causa de uma de suas falhas, porque uma falha sozinha não torna ninguém uma má pessoa.

  243. Um “escândalo” é uma ofensa à honra acompanhada de mau exemplo.

  244. “Soberba” é querer que os outros se humilhem a nós.

  245. A soberba é contraprodutiva: quanto mais se exige respeito, menos os outros o respeitam.

  246. O respeito deve ser merecido antes de ser reivindicado.

  247. “Detratação” é tornar público um defeito particular, causando escândalo, isto é, fofoca.

  248. Não precisa fofocar pra estar errado, basta querer saber da vida alheia.

  249. “Escárnio” ou “zombaria” é transformar as falhas de alguém em objeto de riso, diferindo de “gracejo”, que é transformar as qualidades em objeto de riso.

  250. “Amizade” é união de duas ou mais pessoas por amor e respeito mútuos.

  251. Amigos respeitam os limites um do outro: uma pessoa que te irrita ou te rebaixa de propósito não é sua amiga.

  252. É um ato de amor um amigo dizer, com tato, onde você está errado.

  253. O amigo de verdade continua lá pra você mesmo quando você passa necessidade.

  254. É de lascar quando uma pessoa briga com a outra só pra depois ter o prazer de se reconciliar com ela.

  255. Há uma necessidade de revelar nossos segredos, porque queremos ser aceitos.

  256. O amigo ouvirá seus segredos e não os revelará.

  257. Amigos bons são raros.

  258. Não se isole.

  259. A virtude deveria ser moda!

  260. Virtude não é inata.

  261. Existem duas formas de ensinar ciência: palestra (aula expositiva) e por questionamento (construindo o raciocínio por meio de perguntas lançadas à plateia).

  262. No modo de ensino por perguntas, há uma divisão: é possível perguntar à razão do aluno ou é possível perguntar à memória dele.

  263. Se perguntamos à razão, a aula torna-se diálogo.

  264. Para que uma aula dialogada entre razões funcione, é importante que o aluno também pergunte ao professor.

  265. O professor tem que dar bom exemplo porque crianças aprendem também imitando.

  266. Não diga pra alguém seguir o exemplo de outro; se você o fizer, essa pessoa terá inveja do exemplo que deveria seguir e não quererá segui-lo.

  267. Se o exemplo é bom, a pessoa o seguirá se tiver bom senso.

  268. Um coração “suficientemente bom” quer ao menos dividir sua felicidade com outros.

  269. Se o aluno não sabe a resposta, sugira uma.

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