- Quando você sucede o governante anterior, a tendência é a de que os súditos se acomodem mais com a sua vinda, especialmente se a família é querida. Por exemplo: o Partido dos Trabalhadores está no poder há doze anos. Depois de oito anos de Lula, nossa governante foi bem recebida. Ela foi eleita pelo povo especialmente porque, sendo do mesmo partido que o do Lula, as pessoas esperavam que ela fosse continuar o legado do Lula, que se tornou um dos presidentes mais bem vistos do mundo da política. Mas, apesar da presidenta ter decepcionado um bocado, foi reeleita, parcialmente porque o povo já estava acostumado ao modo de governo do Partido dos Trabalhadores. Apostar em outro partido é último caso. Apostar no Partido do Movimento Democrático Brasileiro, porém, jamais. Aliás, pra um partido com o termo “democrático” em seu nome, esta administração é o contrário disso.
- É necessário apoio popular pra se invadir um lugar. Afinal, depois de conquistar um povo, você não pode ameaçar todo o mundo de morte por desobediência, considerando que o número de componentes do povo é maior que o número de componentes do exército, naturalmente. E, mesmo que todos se rebelassem e você matasse todos, sobre quem você iria governar?
- Para evitar o motim dos cidadãos, o novo governante não pode já chegar alterando as leis e os impostos. Não mesmo; essas são as últimas coisas a mudar. Temer não obedeceu a esse preceito e de repente tinha bomba no Ministério da Educação.
- Se você conquista um território com leis e idioma diferentes do seu, você deve se mudar para lá, em vez de controlar o lugar à distância: um rei presente é mais amado (porque as pessoas podem apelar para ele mais facilmente) e mais temido (porque as pessoas estão sob sua vigilância). Além disso, se você se mantém longe por causa dos costumes e da língua do país conquistado, você só será notificado dos problemas locais quando seus representantes já não puderem mais controlar tais problemas. A sua resolução seria mais difícil. Então, a presença do rei permite que se veja os problemas tomando forma já no começo, quando são ainda fáceis de resolver.
- Além disso, a presença do rei, que coordena a ação do exército, mesmo que indiretamente, tal como media a relação entre povo e exército, aumenta as chances de vitória numa guerra.
- A criação de colônias assusta o povo e limita seu campo de ação contra o exército.
- A ofensa que se faz a alguém deve ser tal que não se deva temer a vingança deste. Ou seja, se você acha necessário ofender alguém, você só deve fazê-lo se puder suprimir ou aguentar o que ele pode fazer em resposta. É o que Temer parece estar fazendo.
- A criação de colônias é mais discreta. A população local perde suas terras e sua grana, de forma a tornarem-se inócuas ao Estado. Então, criar duas colônias no país assusta o povo, que passa a temer o governante, mas assusta moderadamente, porque poucas pessoas são prejudicadas, embora muito prejudicadas.
- O governante deve enfraquecer os mais fortes, mesmo que tenha que se aliar aos mais fracos para isso.
- É necessário cuidar dos problemas presentes sem se descuidar de evitar os problemas futuros. O governo deve ser capaz de se prevenir do que possa lhe acontecer de mau.
- Como a tuberculose: no início, diagnosticar é difícil e curar é fácil; no fim, diagnosticar é fácil e curar é difícil.
- Prever os problemas do Estado é coisa digna de alguém prudente. Os problemas do governo devem ser resolvidos antes que venham ao conhecimento público.
- A guerra é inevitável, mas pode ser adiada.
- Os valores morais vigentes mudam com o tempo. O que é mal hoje pode ser bom amanhã.
- Um piso em falso leva a outro.
- O governante não pode eliminar a camada fraca da sociedade, porque ficaria sem “armas” para combater a camada mais forte, que poderia vir a rivalizar com ele.
- No âmbito político, não se deve ser causa do aumento do poder de entidade alguma senão cautelosamente. Por exemplo, segundo Maquiavel, a França aumentou o poder da Igreja em seu território. Resultado: a Igreja arruinou a França. O governante não pode produzir armas contra si mesmo. Ele deve se manter no poder e no máximo poder, sem contudo atrair a ira dos súditos.
- Se há um só governante, é difícil tomar o governo, mas é fácil mantê-lo: toda a lealdade dos súditos será direcionada ao novo governante na medida em que ele não faz nenhuma besteira. Se há vários governantes, como, por exemplo, um monarca e vários barões, é fácil tomar um governo e difícil mantê-lo, por causa dos barões.
- Se há barões, abre-se brecha para a traição.
- Um invasor pode subornar um barão para obter fácil entrada na cidade. Ou ainda: o barão pode chamar um invasor por querer tomar o poder.
- Além do mais, depois da invasão, os barões podem começar uma guerra civil contra o novo governante ou até entre si para ocupar o poder.
- Se houver autoridades poderosas no Estado invadido, o povo pode se voltar para elas e não para o conquistador.
- Se sabemos que não podemos resolver algo por conta própria, talvez seja melhor fazer aquilo que já deu certo com outra pessoa, e copiá-la da melhor maneira que pudermos. Assim, mesmo que não possamos ser como a pessoa que resolveu o problema originalmente, talvez possamos resolver o problema minimamente.
- Manter o poder mais seguramente requer se apoiar o mínimo possível na sorte.
- Moisés manteve Israel unido na medida em que fazia o que Deus dizia para ele fazer. Outros governantes sem inspiração divina fizeram coisas parecidas. Isso me lembra de Tomás, para quem um raciocínio secular bem conduzido se aproxima do que é ensinado pela revelação divina. Afinal, a revelação é a verdade. Um raciocínio é tanto mais seguro quanto mais da verdade se aproxima.
- A sorte é inevitável. Não se deve esperar pela sorte, mas ainda se deve saber se defender do azar e aproveitar as oportunidades pela sorte trazidas.
- Ser chefe e dar ordens é um ofício perigoso e duvidoso.
- É fácil levar alguém a crer em algo, mas você pode precisar da força e da violência para mantê-lo crente naquilo.
- Quando se recebe algo pela sorte, você pode dizer que obteve sem esforço. Mas quando um cara de sorte recebe um benefício, encontra mais dificuldade para mantê-lo, em relação ao que o obteve pelo próprio esforço.
- A má sorte pode também sobrevir a qualquer um. Lembrando que sorte e azar são manifestações de acaso e acaso não quer dizer efeito sem causa, e sim efeito inesperado de causa desconhecida.
- A população não se rebela contra um bom governo. Um mau governo é causa dos crimes lá cometidos.
- Se necessário, sejamos cruéis com os criminosos no começo. Depois que o governo for tido como “bom”, podemos diminuir a crueldade.
- Mas é importante que não pareça que a culpa da crueldade seja do governador. Ele deve ter um ministro expiatório.
- Governar requer parcerias com autoridades. Se você não pode extinguir as autoridades locais que podem rivalizar com seu poder, você deveria enfraquecê-las ou subjugá-las. É possível enfraquecer uma autoridade de maneira indireta, manipulando os contatos que ela tem, em vez de atacar a autoridade em si. Por exemplo, enfraqueça instituições relacionadas ou, sei lá, mate quem lha dá apoio. É por isso que tem uma piada na universidade que diz que O Príncipe é a bíblia da bandidagem, escrita quando Maquiavel estava detento.
- Não dê poder a quem você ofendeu no passado.
- Se alguém te causa dano, ou é por ódio… ou por medo.
- Melhorar de vida, de governo ou obter um grande benefício que te faça viver melhor e mais seguramente, não garante que você vá esquecer as ofensas que te fizeram. É um engano pensar que aqueles que passam a ter uma vida estável ou mesmo luxuosa necessariamente perdoam as desfeitas passadas. Não é o contrário que acontece muitas vezes? Agora que a pessoa está numa condição melhor que a sua é que ela vai de atacar.
- Maquiavel não condena a criminalidade como meio de obter o poder, embora esse seja um meio arriscado de obtê-lo. Ouvi do meu professor supervisor de estágio que o lance do príncipe é ensinar o leitor a obter o poder e a manter-se nele. Então, aceitar que o crime é um caminho viável para a obtenção do poder parece lícito para o pressuposto da obra. Até porque isso acontece, fato.
- Um dos governantes da Siracusa, depois de virar pretor, combinou com seus soldados de matar todos os ricos e senadores do local, depois de convocar uma reunião com estes, para que todos estivessem num mesmo lugar.
- Conseguir o poder pelo crime requer que não se conte com a sorte.
- Conseguir o poder pelo crime não é nem um pouco virtuoso, nem glorioso. Mas, se era o que você queria, parabéns.
- Conseguir o poder pelo crime causa medo nas populações vizinhas.
- Trazer o pessoal que se quer matar para um local onde todos possam ficar iludidos juntos parece funcionar com ricos, políticos, nobres e seguidores de Baal.
- Depois de eliminar de uma vez aliados importantes, podemos tolher pelo medo o governo vigente, que terá sua defesa reduzida. Vale lembrar que todos esses modos requerem uma milícia antes.
- Como, depois de atos tão cruéis, esses governantes se mantém no poder sem que a população lhos queira assassinar? Segundo Maquiavel, a crueldade foi bem administrada: foi momentânea, desapareceu, seus efeitos foram convertidos em benefício. Se ela tivesse continuado após a tomada do poder, sem necessidade, e causassem dor à população, surgiriam conspiradores. A crueldade não pode ser mantida constantemente em altos níveis e deve terminar em algo que a população possa chamar de benefício mais tarde. Dava pra escrever um artigo entre a política na ditadura militar e o Príncipe maquiavélico. Não, dava pra escrever uma monografia.
- “Aqueles que observam o primeiro modo de agir, podem remediar sua situação com o apoio de Deus […].” Morri de rir.
- As ofensas precisam ser todas feitas ao mesmo tempo, ou com o mínimo de lapso entre uma e outra, para que a população não deguste o mal por muito tempo, o que poderia fazer aparecer oposição.
- Nunca vi escritor de cara tão lisa.
- Quando o governo quer oprimir o povo e o povo não quer ser oprimido, ou acontece o caos, ou acontece a liberdade, ou o povo escolhe outra pessoa a quem servir (em geral, do próprio povo).
- Quando um político dá apoio a alguém que está em ascensão na comunidade, isso não é feito de graça: o político procura benefício com isso.
- Maquiavel, quando pensa sobre as diferentes formas de obter e manter, sempre as categoriza em “fácil” ou “difícil”, seja de “obter” ou de “manter”. Então, algumas vezes é fácil obter o poder e difícil mantê-lo, outras vezes é difícil obtê-lo e fácil mantê-lo, e por aí vai.
- Se você é elevado a governante pelo favor do povo, não vai facilmente encontrar alguém do povo que não te queira obedecer.
- O governante precisa se manter sempre com o mesmo povo.
- O governante, se consegue o cargo de governante por meio do auxílio de um outro governante que está contra o povo, deve ganhar o apreço popular.
- Se alguém espera que você faça o bem e você faz o bem, as pessoas gostam de você. Se alguém espera que você faça o mal e você faz o bem, as pessoas de amam.
- Nunca ganhe a inimizade do povo.
- No instante em que o Estado tem paz, todos querem morrer pela pátria. Quando o Estado está em guerra, cadê esses suicidas?
- Esteja sempre pronto pra guerra: tenha muros altos, tenha fossos, artilharia e suprimentos de reserva, estocados e renovados para caso de conflito.
- Para manter o povo sob controle em uma situação preocupante, é necessário saber moldar a opinião pública.
- Se obtém um principado eclesiástico pela virtude… ou pela grana.
- Quem chega a ser governante religioso, por padrão, fica no poder até não poder mais; a religião o sustenta. Se seu direito de governar parecer divinamente fundamentado, ele permanece no poder mesmo que ele seja ateu.
- O governo eclesiástico e seguro e feliz: os súditos não ligam, só obedecem; o próprio governante não luta suas batalhas e não ordena seus exércitos.
- O papado anterior favorece o seguinte. Além disso, a Igreja Católica da época tinha tropas, tinha grana, tinha influência. De fato, um papa não podia levar a cabo um plano muito longo porque o tempo de vida humano não permitia, mas, se ele precisasse fazer algo grande, aqui e agora, tinha poder pra isso.
- As bases de um bom Estado: boas leis, boas armas.
- As leis dependem das armas pra funcionar. E, se você tem armas, acabará promulgando leis.
- Não funde seu governo nas armas dos mercenários.
- O mercenário ajuda na medida em que você pode dar algo em troca. Então, em tempos de paz, você esgota seus recursos com os mercenários para manter a paz. Se você depende deles para ter paz em seu Estado, os mercenários é quem são os governantes: se você não puder pagar, você fica sem armas e os mercenários tomam o Estado de você. Se você tem armas, se apoie em suas armas.
- O mercenário se vende a quem oferecer mais.
- Por causa disso, não arriscam a vida numa guerra. Não se pode contar com mercenários em tempos de severa dificuldade.
- Apoiando seu governo em mercenários, se obtém lentas e medíocres conquistas, mas rápidas e lendárias perdas.
- Também não se deveria fazer acordos com estrangeiros para a defesa de seu próprio país, a menos que você seja capaz de trazer as tropas ao seu território para combater seu inimigo e depois ser capaz de tirá-las dali caso resolvam tomar o poder de você quando a guerra acabar.
- O lance aqui é não atrair nem riscos e nem dívidas.
- Se você chama alguém para lutar por você, a vitória não é sua. Para o governante, é melhor perder com suas próprias armas do que “ganhar” com as armas dos outros.
- Usando as armas dos outros, você fica impedido de dar devido valor às suas.
- O Estado tem que ter seu próprio exército.
- Não tendo exército próprio, o governante está se expondo à sorte.
- O príncipe deve saber das coisas da guerra mais que qualquer outro, porque só ao governante cabe começar e terminar uma guerra.
- As armas são a prioridade do Estado. Desarmar-se é abrir mão do governo.
- A guerra pode elevar os normais à condição de chefe e governante.
- A guerra tanto é o ofício próprio do governante que quem sabe guerrear consegue o governo. O governante que não sabe guerrear o perde.
- O governante desarmado não está seguro. O cidadão armado, se bem armado, está seguro contra o governo. Vê-se com o crime organizado e o tráfico de drogas. O governo não toca neles.
- A arte da guerra depende da geografia.
- Ler as histórias dos célebres exércitos anteriores ajuda também na arte da guerra, para que o capitão não fique sem repertório de ações quando lhe sobrevir o acaso e o imprevisto.
- Polemizando com A Cidade do Sol, A República e a Utopia, Maquiavel diz que o melhor modo de conceber a política é partir de como ela é, não de como ela deveria ser. A política do dever-ser só funcionaria se todos fossem virtuosos, mas como não é o que acontece… convém analisar como lidar com as coisas no aqui e agora, com auxílio do passado, visando o bastante e a manutenção do bastante, em vez de ficar pensando em como as coisas deveriam ser para ficarem perfeitas.
- Segundo Maquiavel, não é possível prosperar fazendo somente o bem (dever-ser). Isso porque o bonzinho é eliminado pelos malvados, que constituem maioria.
- Ser bom depende da necessidade, ele diz.
- Miserável é o que tem medo de usar os recursos que tem.
- É justo sacrificar respeito e cometer um ato tido por “mau” para a manutenção do Estado. Se um governante fosse completamente bom e só tivesse qualidades tidas por “boas”, ninguém o temeria, ele hesitaria em usar suas armas, não asseguraria o direito. É preciso ser bom, mas que o governante seja mau quando necessário, é o que diz Maquiavel.
- Nem tudo que parece vício não é virtude. Nem tudo que parece virtude não é vício.
- Você pode até ser liberal, isto é, pode se importar com a condição do próximo e dar-lhe dinheiro em sua necessidade. Mas imagine se o número de pessoas que sabem da sua liberalidade crescesse. Elas iriam a você com seus problemas esperando ajuda sua, duas, três, de repente, dez pessoas. E se você negasse? “Pão duro!”
- O príncipe não deveria perseguir o título de “liberal” e nem repudiar o título de “miserável”. Dividir os recursos públicos com sabedoria é que é o necessário. Que o povo aprenda a não exigir muito além disso de você.
- O governante que não gasta demais não precisa roubar o povo. Mas antes miserável que liberal, diz Maquiavel.
- Você precisa de recursos para ser governante. Se você quer ser príncipe, ou seja, ainda não é, mas quer ser, não pode ser liberal.
- Se você obtém dinheiro público, que o gaste liberalmente. Despojos de guerra devem ser divididos também pelo exército, liberalmente. Mas seu dinheiro, o seu “salário” de governante, deve ser administrado com parcimônia.
- Se você for um governante bom, mas cruel, poderá ferir com penas os criminosos. Antes matar uns poucos bandidos do que deixar que muitos cidadãos morram por causa desses poucos bandidos. A população criminosa é minoria. Se você fosse governante e, por piedade, não os punisse ou punisse brandamente, como você asseguraria a segurança de seu Estado? Os criminosos se aproveitariam de sua piedade e a população seria escrava deles.
- O dono de um Estado recém-fundado precisa ser cruel.
- A crueldade precisa ser moderada.
- É possível ser temido e amado, mas não na mesma medida. Se o governante quer se manter no poder, tem que ser mais temido que amado. Isso não quer dizer que se deva ser “mau”, mas que a população, apesar de gostar de você e ter carinho por você, ainda tenha medo do que você possa fazer com elas se elas ferirem o direito. Complicado jogo é a política.
- Não é possível contar com uma amizade comprada. Convém imaginar que todos os cidadãos são possíveis traidores. Então não dependa do amor deles para sustentar o Estado.
- É mais fácil fazer mal a quem ama você. Mas tente fazer mal a quem você teme e você constatará o ponto de Maquiavel.
- Amizades nascem, crescem e morrem muitas vezes em que ocorrem. Mas o medo de punição é um sentimento perene enquanto a causa está lá.
- É possível ser temido e não odiado, caso não seja possível ser temido e amado.
- Não se pode abusar do poder de matar. Se a população te odiar… o povo se revelará.
- É mais difícil esquecer um roubo do que a morte de um ente querido.
- Se não se tiver um nível decente de crueldade, não é possível manter o exército sob seu controle.
- Aníbal tinha muitas virtudes que lhe garantiam a admiração de seu exército, mas ele era desumano quando queria ser cruel com alguém. Então, ele era venerado e terrível, mantendo seu exército unido.
- Se você é muito piedoso com seu exército, os soldados se rebelam contra você. E aí, seu governador reclama de você.
- Algumas pessoas que traem a confiança de outras se dão muito bem.
- Combater com as leis é humano, combater com a força é animal. Mas, como combater com leis nem sempre é suficiente…
- O governante precisa ser tanto humano como animal.
- Não é necessário, para Maquiavel, que o príncipe mantenha a palavra dada se isso se mostrar prejudicial a ele. Se as razões que o levaram ao trato deixaram de existir, também não é necessário manter o trato.
- Se todos no mundo fossem bons, isso não seria necessário, e seria desencorajado. Mas, como a política é cheia de pessoas ruins, o bonzinho não sobrevive muito tempo lá dentro.
- Quem engana sempre encontra a quem enganar.
- Na política, parecer é mais importante que ser.
- A prática política muitas vezes se opõe à prática ética. Embora parecer religioso, piedoso, virtuoso seja bom para obter admiração e respeito, você não pode manter o Estado se você realmente agir segundo essas virtudes que aparenta ter. E é por isso que O Príncipe é apontado por muitos como o livro que cindiu ética e política, mostrando que são coisas diferentes e que o sucesso político não apenas independe do sucesso ético como também pode ser prejudicado pela virtude ética do governante. O governante não precisa ser de todo mau, mas tem que saber ser cruel, miserável e mentiroso. E de fato, na visão de Maquiavel, não é possível fazer boa política de outra forma. Mesmo que os fins do governante sejam bons, ele ainda precisará recorrer a meios maus para obter tais fins. Por isso se chama “maquiavélico” aquele para quem “os fins justificam os meios”.
- Quem tem boas armas terá bons amigos.
- Não é possível conspirar contra quem é amado pela maioria. Se o governante não for odiado pela maioria, então a maioria não pensa que o povo estaria melhor sem ele. Ora, mas a conspiração visa o bem do povo pela eliminação do governante. Logo, se o governante é amado ou não odiado, ninguém intrigará contra ele, porque o povo não tiraria proveito de sua morte.
- Se o governante for odiado, o povo procurará meios de matá-lo. Se ele for amado, o povo matará os assassinos.
- Seria interessante que as atividades que poderiam atrair o ódio do povo sobre o príncipe fossem transferidas a um ministro. Assim, o povo poderia odiar o ministro, mesmo que ele fosse ordenado pelo príncipe.
- Se você tiver que ser odiado por alguém, que não seja por alguém poderoso.
- Se alguma parte do governo é corrupta e você depende dela pra fazer alguma coisa, você precisa se corromper também. Por que você acha que o governo do Lula conseguiu fazer tanto pelo povo, mas foi um governo com alto índice de corrupção? Não é possível uma boa intenção passar ilesa pela nossa Câmara dos Deputados sem algum tipo de suborno.
- Armar os cidadãos não é má ideia. No final das contas, as armas dos súditos acabam sendo “suas”.
- Não é necessário armar todos os cidadãos, mas apenas aqueles que estariam dispostos a fazer alguns favores ao Estado em troca do direito de portar armas.
- Desarmar os súditos os faz duvidar da índole do governo.
- Porém, desarmar os súditos é necessário se você acaba de invadir e conquistar um novo território. Afinal, alguém no território conquistado pode não gostar muito da sua administração.
- É necessário manter o Estado unido, porque divisões são do que menos precisamos em tempos de guerra.
- As pessoas dão valor aos que superam dificuldades. Então, para adquirir respeito do povo, é interessante causar inimizades para depois superá-las. Porém, não pode ser evidente que você é causa de algum problema, embora se deva se certificar de que o povo veja que você o solucionou.
- Se a nação que você conquistou estava contente com o governo antigo, os habitantes provavelmente posaram obstáculo à conquista. Mas é mais fácil contentá-los. Por outro lado, se você conquistou uma nação insatisfeita com o governo anterior, você provavelmente achou apoio na própria população. Mas é mais difícil contentá-los, porque os habitantes agora têm expectativa de que você conserte os problemas causados pela administração anterior.
- Fortalezas são úteis se você tem medo do povo, mas não muito úteis se você tem medo dos estrangeiros.
- Não se deve evitar fazer algo necessário por medo dos riscos. Se é necessário para manter o Estado fazer algo arriscado, faça.
- Fazer festas distrai o povo.
- A qualidade dos ministros depende da prudência do príncipe.
- Se ele faz uma boa escolha, é visto como sábio. Se ele escolhe mal, os ministros passam a ser causa de vergonha para o príncipe.
- O ministro que pensa mais em si do que em você é um mau ministro.
- Mas isso não significa que você deva desprezar seu ministro: ele tem que amar o trabalho dele e ser bem pago.
- Para evitar a adulação, você deve dar crédito somente aos sábios, os quais devem saber que você não se sentirá ofendido se te disserem a verdade sobre sua administração.
- Isso não significa acatar cegamente um sábio. Você deve julgar o posicionamento deles.
- Não convém ouvir mais ninguém além desses sábios.
- Não aceite o conselho que você não pediu.
- Peça conselhos quando achar necessário e deixe claro que é a verdade que você quer ouvir, não alguma mentira confortável.
- Receber um conselho, em si, requer sabedoria.
- Por padrão, o ser humano é ruim. É a necessidade que os torna bons.
- Um príncipe novo é mais vigiado pelo povo do que o hereditário, porque o povo está curioso sobre seu modo de governar.
- O leigo se compraz no presente. Se o presente é bom, que importa o passado?
- Se perde o Estado quando o povo passa a ser seu inimigo, quando se perde poder militar ou quando os ricos e poderosos do território não são devidamente controlados.
- Um vício comum na bonança é não se preocupar com a tempestade. Não é porque estamos em tempos de paz que a guerra não pode acontecer.
- Se Deus e o acaso governassem todas as nossas ações, não seria possível o livre-arbítrio, que é dádiva divina.
- Deus e o acaso controlam nossa vida apenas em parte. Nós temos, sim, controle sobre nossas vidas… até certo ponto.
- Aprendendo com nossos erros e se precavendo, podemos minimizar danos causados por problemas aleatórios.
- Pensar que tudo é obra de Deus ou do acaso e que, por causa disso, tudo é inevitável. Eis uma imprudência que levou países à ruína.
- O grau de sucesso de um rei que se apoia na sorte varia segundo a sorte.
- Nem concordar plenamente com seu tempo e nem discordar completamente dele, se o que se quer é prosperar.
- Riqueza e glória podem ser obtidas por diferentes meios.
- Também conceitos metafísicos mudam com o tempo. O conceito de “bem”, por exemplo, tão caro a Platão. Se os tempos mudam a ponto de requererem vícios para prosperar, agir conforme o bem platônico traz prejuízo. Ou seja, o bem torna-se mal e hábitos antes tidos por vícios podem se tornar virtudes. Imagino que Platão se defenderia dizendo que o conceito de virtude é imutável, mesmo que aquilo que entra no conceito possa mudar, tal como a ideia de bem como algo bom não muda, embora mudem os bens particulares. Ou ainda, ele poderia dizer que o agir vicioso, mesmo quando faz bem ao bolso, faz mal à alma, alimentando o cavalo mestiço que nos mantém apegados ao mundo sensível.
- Quando o acaso é inevitável, ainda está em nosso pode se adaptar da melhor forma às consequências desse acaso. Mas se as novas condições exigem um comportamento completamente oposto ao que se tinha antes, o governo pode não se adaptar a tempo. Também por isso, nenhum governo humano dura pra sempre.
- O governante não consegue manter um bom governo se as tendências do governo contradizem suas tendências pessoais de comportamento.