Nesta semana, continuo minha leitura de Além do Bem e do Mal (Nietzsche), Antricristo (Nietzsche), Arte de Escrever (Schopenhauer), Arte de Lidar com as Mulheres (Schopenhauer) e Alma (Voltaire). Também começo a leitura de Assim Falou Zaratustra (Nietzsche).
Além do bem e do mal, ou prelúdio de uma filosofia do futuro.
Já observou como o catolicismo é mais forte no hemisfério sul e o protestantismo é mais forte no hemisfério norte? Pra Nietzsche, isso acontece porque os povos do norte descendem de povos bárbaros, os quais não tinham uma religião de rituais (ou tinham uma de rituais mínimos). No sul, as religiões primitivas eram religiões de obras. Por causa disso, povos do sul já tinham a ideia de que Deus requer um determinado comportamento e não simplesmente uma fé.
Nietzsche inclusive diz que uma pessoa do sul, ao se revoltar contra o catolicismo, causa um impacto social maior do que uma pessoa do norte ao se revoltar contra o protestantismo, porque o homem do norte que faz isso simplesmente está agindo conforme o espírito nacional original. Pra Nietzsche, na Alemanha, tal espírito é justamente não ter espírito religioso. E, realmente, ao renegar o catolicismo, você renega os sacramentos, as práticas, as orações, os rituais, mas renegando Lutero você só renega a fé, que a única coisa que você tem.
Eu consigo ver um católico se converter ao protestantismo antes de se dar por ateu, mas é muito mais difícil imaginar um evangélico virando católico. Nietzsche também observou algo parecido, pois ele diz que, na Alemanha de seu tempo, é o ensinamento teístico que está em crise, mas não a fé. As pessoas continuam crendo em Deus, só estão deixando de acreditar na igreja. E não me admira. Até mesmo intelectuais, quando têm um lado espiritual, se afastam da igreja, pois sabem quantas coisas horrorosas foram feitas na história em nome da fé. Alguns se dirão contrários ao cristianismo, sem saber que muitas ideias modernas se configuram como uma forma de cristianismo sem Cristo.
Mas a herança étnica não é a única coisa que faz o protestantismo ser tão dominante no norte. É também a falta de tempo. Se dedicar aos rituais, às preces, ao rosário, às penitências, tudo isso requer tempo.
Olha como os Estados Unidos são ricos. Num país onde se trabalha tanto pra garantir o próprio sustento, especialmente com a sombra de uma recessão monstruosa pairando sobre nação tão poderosa, quanto tempo sobra pra se praticar uma religião de obras? Você acha que o catolicismo iria ser dominante na China? Quando uma nação trabalha muito, os povos são mais atraídos às religiões que afirmam que é possível se salvar com menos esforço. Se a pessoa for especialmente pragmática, ela deixará totalmente a religião porque dela não é possível fazer negócio (se bem que há controvérsias). Uma religião que, no máximo, apenas requer coisas que não interfiram com seus negócios seria mais fácil de pegar em nações com menos tempo livre. Pequenos empresários de classe média provavelmente são evangélicos.
Isso nos leva ao assunto dos santos. Não há santos no protestantismo, porque a santidade implica um estilo de vida e, como tal, atitudes. Mas há vários santos no catolicismo, que adquiriram esse título por terem se entregado a Deus de tal forma que renegaram a própria vontade. Esse fenômeno sempre causou admiração. Para dominar a própria vontade, o santo deve ser alguém muito forte e a força é algo que todos desejamos. Um monte de gente pratica o ascetismo hoje visando alcançar a santidade. Mesmo entre os que não querem ou não podem seguir tal caminho, o santo provoca admiração.
Mas por que alguém iria querer ser santo? Qual é o benefício de agir de tal forma? Será que o santo sabe de algo que eu não sei? Por isso o santo acaba reunindo discípulos ao redor de si. As pessoas querem saber suas razões e seus meios, a fim de viver melhor. A religião de hoje não pede mais sacrifícios humanos. Os sacrifícios requeridos hoje são ações, atitudes. O altar não espera frutas ou animais, mas suas vontades “erradas”. Mas será que vale a pena se sacrificar tanto?
Antes de passar pro próximo assunto, Nietzsche nos notifica que a religião grega, quando era aristocrática, era uma religião de gratidão. Você era grato aos seus deuses por tudo de bom que você tinha. Foi quando a religião grega se tornou coisa do povão (novamente, Nietzsche demoniza o povo), ela se tornou uma religião de temor. Em vez de grato pelo que os deuses te davam de bom, você passava a ter medo do que ele poderia te fazer de ruim! É mais difícil ser grato a quem pode te matar.
Alma.
Ao contrário de hoje, a crença na imortalidade da alma não era muito popular na antiguidade ocidental e seitas que acreditavam que a alma perecia com o corpo eram numerosas e tinham muitos adeptos. Inclusive os primeiros cristãos tinham suas dúvidas sobre a alma ser ou não imortal. Quando a crença na alma imortal tornou-se hegemônica, começaram as perseguições aos dissidentes. Antes disso, as seitas que tinham opiniões diferentes sobra a alma viviam em paz e harmonia.
Parece que o preconceito e o ódio aparecem mais em pessoas que têm certezas. Se nós assumíssemos que não sabemos, a não ser pela fé, se a alma é ou não imortal, talvez algumas perseguições históricas teriam sido evitadas, graças a humildade que vem do reconhecimento da própria ignorância. Se você admite que apenas tem fé em algo, é mais fácil ver sua crença como algo pessoal e até protegido de argumentos contrários (porque fé e razão são opostos, mesmo quando apontam na mesma direção). Já se você raciocina as coisas que vêm da fé, você irá argumentar contra quem não partilha de suas crenças, dando oportunidade aos cismas. Ao separar fé e razão, será possível ter os dois. A necessidade de deixar um dos dois pra trás só existe se você tenta misturá-los. Quando separadas, a fé não pode ferir a razão e nem o contrário. Mas, juntas, uma das duas será sacrificada.
Giovanni Battista Gaulli. Fonte: Wikimedia Commons.
É uma crença professada até hoje a de que animais inumanos não têm alma imortal. O fundamento pra tal crença é a falta de razão entre animais. Voltaire levanta então a objeção: a criança que, por defeito congênito, tem raciocínio incapacitado… essa criança tem alma imortal? Ou ela recebe um desconto porque veio de pais humanos? Analogamente, que certeza temos de que animais vivos, sensíveis e que aprendem truques, inclusive uma forma rudimentar de comunicação com o dono, não raciocinam? Quanta razão um ser precisa ter pra que sua alma seja elegível à imortalidade, onde será recompensada ou punida?
A criança de três anos tem alma imortal? Voltaire pergunta porque observa que o gato de seis semanas, o canário de um ano e um cachorro bem treinado têm habilidades o suficiente pra sobreviverem sozinhos, enquanto que a criança de três anos não sabe nada ainda. Na verdade, estudos mostram que a inteligência de um porco e a de uma criança de três anos são comparáveis. Se a medida da imortalidade da alma é a razão, então o porco que virou salsicha e a criança que morre de diarreia aos três anos, tanto um como o outro são imortais, a menos que você esteja disposto a admitir que nenhum dos dois é.
Esse tipo de problema só se resolve pela fé. No campo da razão, por uma questão de bom senso, você não deve procurar uma causa indeterminada pra um fenômeno de causa conhecida. No caso, se tivermos que usar a razão e não a fé, é o cérebro que nos permite pensar e não uma alma. Ora, mas o cérebro é material! Isso quer dizer que a matéria pode pensar. Tal coisa é possível pra Deus, que pode tudo. Ninguém pode dizer que Deus não pode conceder à matéria a faculdade de pensar. Além disso, tal ideia é compatível com a possibilidade de que a alma seja uma energia, como a luz, que existe na matéria.
O anticristo.
Já se perguntou por que Nietzsche odeia a religião cristã? Bom, ele tem suas razões. A primeira é que o cristianismo coloca num pedestal as coisas que Nietzsche identifica como negadoras da vida. A castidade, o jejum, a pobreza, essas coisas não favorecem o aprimoramento do homem, pensa Nietzsche. A segunda razão e a mais importante é que a fé que o homem exerce em sua religião o impede de ver a vida de outra forma. Sua religião já determinou o que é verdadeiro e falso, certo e errado, justo e injusto. Ele nunca verá como bom pra ele aquilo que é bom pra humanidade, porque ele identifica o bem pra humanidade com aquilo que é ordenado por Deus. Essa também é minha visão e Nietzsche me detestaria por isso. Uma pena.
Então, resumindo, Nietzsche odeia o cristianismo porque ele ordena coisas que tornam o homem medíocre ao mesmo tempo que impede, através da fé, que seus seguidores vejam o próprio erro. É assim que ele pensa. Pra ele, uma religião dessas acaba com o potencial humano ao se tornar hegemônica. Ela é especialmente perigosa quando ascende ao poder. Nisto eu devo concordar, porque, embora eu creia que Deus saiba o que é melhor, admito que suas ordens estão em um texto o qual deve ser interpretado. Se uma determinada interpretação se torna hegemônica e tal interpretação estiver errada, teremos um problema. Assim, tanto eu como Nietzsche concordamos que o cristianismo não deveria aspirar ao poder político, mas afirmamos isso por razões diferentes.
Nietzsche nos revela que a filosofia alemã é fortemente influenciada pelo protestantismo. Como a denominação cristã que prioriza a fé sobre tudo o mais (enquanto que o catolicismo vê a fé e a razão como conciliáveis), ela é o lado mais sentimental do cristianismo. Mas, como vimos na Alma de Voltaire, fé e razão são mesmo de natureza diferente. Se você prioriza a fé, rebaixa a razão.
Nietzsche chama o protestantismo, inclusive, de paralisia da razão. E é essa paralisia que está subjacente em toda a filosofia alemã, ele diz. A primazia do sentimento sobre a razão nos leva a ver nossos sentimentos, o “eu creio”, como argumentos. Quanto mais forte for o sentimento, mais a pessoa se julga acima da razão. Essa intuição é mais perniciosa quando propaga verdades, não métodos. Se você descobre um método, você pode testá-lo pra saber se funciona. Se você descobre uma verdade, sem método (porque sentimento não é método), como você vai saber se aquilo é mesmo verdade?
Se assim é, claro que uma moral falida como a de Kant seria alardeada como revolucionária. Falida, porque impraticável: pra Kant, se você faz algo porque é prazeroso, mesmo que esteja agindo bem, não está fazendo por dever. Logo, sua ação não é moral. Pra Kant, a pessoa só age moralmente se age sem prazer. Lascou-se pra quem gosta de defender causas sociais. Isso acaba com o potencial dos que fazem o bem por prazer, justamente aqueles que têm mais habilidade de fazer o bem. Também perigosa: uma nação que se guia pelo imperativo categórico, pelo que “é certo”, não pelo que lhe é vantajoso (porque vantagem é prazer), se torna presa das nações que não observam esse princípio. O mesmo se diz do homem individual: quem é muito bonzinho sempre se ferra.
A virtude deve ser julgada como tal segundo o quão benéfica ela é à nossa vida. Tudo o que atenta contra nossa vida não é virtude. Nietzsche põe Kant, Leibniz e Lutero na categoria de “empecilhos à integridade alemã”.
A arte de escrever.
Schopenhauer faz uma distinção entre informação e instrução. Informação é a descrição das coisas: sua definição, sua constituição, seu processo de feitura, sua serventia (ou efeitos). Mas isso é inferior à instrução. A instrução é a capacidade de usar essa informação. Quando você sabe apenas pra mostrar que sabe, você é informado, mas não instruído. Quando você usa a informação que tem pra melhorar sua vida ou pra construir seu próprio pensamento, você é instruído, mesmo que, às vezes, mal informado.
Esse problema é apontado por Roberto Machado, pra quem as aulas de matemática no curso de pedagogia e no curso escolar parece que só servem dentro da escola. Os alunos não sabem pra quê usar as fórmulas que aprendem sofregamente no ensino médio, por exemplo. A informação sem instrução é inferior. É preciso que cada aluno tenha pensamento próprio e seja capaz de aplicar em sua vida o que aprendeu. Ter erudição sem pensamento próprio é como ter uma peruca (cabelo de outros) por não ser capaz de produzir o próprio cabelo.
Mas a instrução sem informação também é péssima! Se você constrói o pensamento próprio com informações desencontradas, falsas, tendenciosas ou incompletas, você vai virar um astrólogo e morar em Virgínia. É um erro comum entre os neófitos da faculdade de filosofia pensar que é possível ser filósofo sendo somente original, elevando sua opinião ao grau de verdade. Tanto o excesso de aprendizado quanto o excesso de ensino, tanto o excesso de escrita quanto o excesso de leitura, essas coisas prejudicam o pensamento próprio. Informação e instrução precisam estar equilibradas. Num ensino básico que vai do infantil (creche) até o médio (adolescência), é indisculpável que a escola não guarde, pelo menos, um quinto desse tempo pra instruir os alunos, em vez de só informá-los.
Mas surge uma dúvida: se a instrução depende da informação, como saber se uma informação é boa? A maioria das pessoas, quando precisa se instruir, procura recomendações. Tipo, quando alguém se pergunta o que ler agora, ele pega o jornal e vê quais livros estão em alta. Schopenhauer diz que todo o mundo tem o direito de falar besteira, mas que comentar a besteira dita pelos outros deveria ser ilegal. Justamente porque tem gente que procura recomendações pra saber o que ler. Se você faz uma resenha de um livro ruim, as pessoas que esperam esse conteúdo serão atraídas ao livro através da sua resenha. Por causa disso, você só deveria comentar os livros bons que você leu (ou filmes que tenha assistido, jogos que tenha jogado, músicas que tenha ouvido).
Mas você ainda precisa julgar o que foi produzido. Não comentar não é o mesmo que não experimentar. Se alguma doutrina, pensamento ou posição se torna popular na sociedade (como quando é professado por alguém que tem estima entre o povo ou entre acadêmicos), os intelectuais deveriam se ocupar dele e ter seu parecer sobre ele, mesmo que não o comentem. Além disso, o fato de Schopenhauer dizer que algumas posições não deveriam ser comentadas não quer dizer que eu concorde com ele. Algumas posições precisam ser contestadas, mesmo que isso implique em sua divulgação.
Schopenhauer se volta, então, à diferença entre os que estudam por prazer e os que estudam porque são pagos pra isso. Sim, você pode ser pago pelo estado pra estudar. Isso se chama “pesquisa e desenvolvimento” e é necessária a qualquer nação. É graças aos pesquisadores muito bem pagos que a vacina contra o coronavírus está em desenvolvimento. Schopenhauer observa que as grandes descobertas são feitas por aqueles que colocam o dinheiro em segundo plano, mesmo que estejam sendo pagos.
Se você faz ciência visando dinheiro, você fará uma ciência completa o bastante pra ganhar o dinheiro que você quer. Aliás, esse é o tipo de pessoa que falsificaria a verdade científica se a mentira pagasse mais que a verdade! Por isso que uma sociedade se arruína quando todos só pensam no benefício próprio, especialmente se intelectuais são levados a agir de tal forma.
Se você faz ciência porque gosta, você fará uma ciência muito mais abrangente, porque não a verá como trabalho. Se ciência é divertido pra você, nunca você vai parar de praticá-la e irá mais fundo no seu objeto de estudo, mesmo que você descubra algo tão massa que nenhum estado do mundo poderia te pagar adequadamente. Claro que isso requer certo grau de independência: se você depende de alguém, você terá que conformar sua ciência àqueles que te sustentam.
Assim falava Zaratustra.
Zaratustra, aos trinta anos, deixou seu país pra morar dez anos na montanha. Um belo dia, ele olhou o sol e teve uma epifania: a glória do sol não é nada se não tiver quem necessite da luz solar. Se não houvesse gente no mundo, não houvesse plantas ou bichos, o sol não teria significado. Seria uma bola de fogo ali. Zaratustra quer ser como o sol. Ele, julgando-se sábio, entende que sua sabedoria vale pouco ou nada se ele não se encontrar com aqueles que necessitam dessa sabedoria. E assim começa a história dele, com a ideia de que aqueles que creem ser sábios devem ir atrás de quem deles necessite.
Eu não me considero sábio, só um cara que estuda. Mas como eu acho que tem gente que precisa ler o que os filósofos pensaram, embora não tenham tempo nem forças pra compreender seus livros, eu dei tal propósito a este blog. Se você tem algo a dizer e acha que outros se beneficiariam do que você diz, por que você não fala? O sábio silencioso é inútil.
A arte de lidar com as mulheres.
Após passar um capítulo inteiro falando bem da poligamia, inclusive dizendo que a poligamia acabaria com a necessidade de prostituição, por ele vista como um ofício duro e inevitável, Schopenhauer admite que a poligamia tem uma desvantagem. É a única desvantagem por ele apontada à poligamia: o número de sogras. O estereótipo de sogra exigente vem de muito tempo e é perfeitamente compreensível. Afinal, você está se casando com o filho de alguém. Esse filho tem mãe e a mãe não vai querer que seu filho case com qualquer um. Eu li em algum lugar, não lembro onde, que o Islã permite você ter várias esposas, desde que elas não sejam irmãs entre si. O escritor do texto rapidamente adiciona: seria fácil entrar no Paraíso se você tivesse dez mulheres e uma só sogra. Eu não sei se Schopenhauer tá falando sério agora, depois de falar tão bem da poligamia. Talvez esta desvantagem seja uma piada. Ou uma verdade contada em tom comédico. Quem sabe?
Passando pra outro assunto, Schopenhauer fala dos direitos iguais. Lembre que Schopenhauer, à época da escrita de Parerga e Paralipomena, era misógino. Então, é claro que ele escreveria que a mulher não deveria ter direitos iguais aos dos homens se também não lhe fosse concedido o intelecto masculino. Pra nós, hoje, isso soa muito errado, mas talvez fizesse sentido na época de Schopenhauer, pelo simples fato de que o acesso à educação era mais difícil à mulher.
Isso também estaria por trás da ideia que Schopenhauer fazia das mulheres artistas. Pra ele, a mulher tem zero sensibilidade artística. A isso, gostaria de contrapor a autora de Fullmetal Alchemist. Mas Schopenhauer rapidamente diria, se estivesse vivo e ainda fosse machista, que uma exceção não altera a regra. Na verdade, ele diria que a mulher que se “força” às belas artes é como uma mulher que coloca silicone. Como? Porque, pra Schopenhauer, isso não seria natural. Uau, isso foi tão pesado que até eu, que não sou mulher, fiquei ofendido.
A reclamação de Schopenhauer quanto a essa “falta de intelecto” é de que a mulher, ele diz, ao receber os bens do marido quando morre, não os gerencia bem, os dissipa, desperdiça e estraga. Schopenhauer diz que esse problema seria resolvido se a mulher tivesse seu direito de herança limitado. A viúva, na medida em que também não trabalha, deveria receber auxílio do governo até a morte. E é isso. Ela não teria direito ao capital ou bens imobiliários do marido finado. Me pergunto pra onde iriam esses bens e capital então. Pros filhos, mas sobretudo aos meninos: a herança só seria da esposa se o homem não tivesse deixado filhos do sexo masculino. Ele também era contra a ideia de que a mulher deveria ficar com a guarda dos filhos, porque a pessoa que precisa de tutela não pode tutelar.
Isso constituiria razão suficiente pra não casar. Mas Schopenhauer, como sempre, dá mil e uma razões pra não casar. Deveria haver um livro só sobre isso: Conselhos Filosóficos Contra o Casamento. Então, Schopenhauer diz, com muito acerto, que o casado “carrega todo o fardo da vida”, mas o solteiro carrega “só a metade”. Porque o solteiro tem tempo livre pra atividades intelectuais. Schopenhauer, por isso, aconselha que o homem com inclinação científica, filosófica ou artística deveria permanecer solteiro. Já o homem que se casa, vai virando burro de carga, ele diz, e é notável como as mulheres tratam subalternos. Bom, já estou na página noventa deste livro. Daqui a pouco o termino. Portanto, paciência.