Pedra, Papel e Tesoura

25 de maio de 2020

Leituras da semana #4.

Filed under: Livros — Tags:, , — Yure @ 22:40

Nesta semana, continuo minha leitura de Além do Bem e do Mal (Nietzsche), Antricristo (Nietzsche), Arte de Escrever (Schopenhauer), Arte de Lidar com as Mulheres (Schopenhauer) e Alma (Voltaire). Também começo a leitura de Assim Falou Zaratustra (Nietzsche).

Além do bem e do mal, ou prelúdio de uma filosofia do futuro.

Já observou como o catolicismo é mais forte no hemisfério sul e o protestantismo é mais forte no hemisfério norte? Pra Nietzsche, isso acontece porque os povos do norte descendem de povos bárbaros, os quais não tinham uma religião de rituais (ou tinham uma de rituais mínimos). No sul, as religiões primitivas eram religiões de obras. Por causa disso, povos do sul já tinham a ideia de que Deus requer um determinado comportamento e não simplesmente uma fé.

Nietzsche inclusive diz que uma pessoa do sul, ao se revoltar contra o catolicismo, causa um impacto social maior do que uma pessoa do norte ao se revoltar contra o protestantismo, porque o homem do norte que faz isso simplesmente está agindo conforme o espírito nacional original. Pra Nietzsche, na Alemanha, tal espírito é justamente não ter espírito religioso. E, realmente, ao renegar o catolicismo, você renega os sacramentos, as práticas, as orações, os rituais, mas renegando Lutero você só renega a fé, que a única coisa que você tem.

Eu consigo ver um católico se converter ao protestantismo antes de se dar por ateu, mas é muito mais difícil imaginar um evangélico virando católico. Nietzsche também observou algo parecido, pois ele diz que, na Alemanha de seu tempo, é o ensinamento teístico que está em crise, mas não a fé. As pessoas continuam crendo em Deus, só estão deixando de acreditar na igreja. E não me admira. Até mesmo intelectuais, quando têm um lado espiritual, se afastam da igreja, pois sabem quantas coisas horrorosas foram feitas na história em nome da fé. Alguns se dirão contrários ao cristianismo, sem saber que muitas ideias modernas se configuram como uma forma de cristianismo sem Cristo.

Mas a herança étnica não é a única coisa que faz o protestantismo ser tão dominante no norte. É também a falta de tempo. Se dedicar aos rituais, às preces, ao rosário, às penitências, tudo isso requer tempo.

Hércules na encruzilhada. Autor: Jan_van_de_Hoecke. Fonte: Wikimedia Commons.

Olha como os Estados Unidos são ricos. Num país onde se trabalha tanto pra garantir o próprio sustento, especialmente com a sombra de uma recessão monstruosa pairando sobre nação tão poderosa, quanto tempo sobra pra se praticar uma religião de obras? Você acha que o catolicismo iria ser dominante na China? Quando uma nação trabalha muito, os povos são mais atraídos às religiões que afirmam que é possível se salvar com menos esforço. Se a pessoa for especialmente pragmática, ela deixará totalmente a religião porque dela não é possível fazer negócio (se bem que há controvérsias). Uma religião que, no máximo, apenas requer coisas que não interfiram com seus negócios seria mais fácil de pegar em nações com menos tempo livre. Pequenos empresários de classe média provavelmente são evangélicos.

Isso nos leva ao assunto dos santos. Não há santos no protestantismo, porque a santidade implica um estilo de vida e, como tal, atitudes. Mas há vários santos no catolicismo, que adquiriram esse título por terem se entregado a Deus de tal forma que renegaram a própria vontade. Esse fenômeno sempre causou admiração. Para dominar a própria vontade, o santo deve ser alguém muito forte e a força é algo que todos desejamos. Um monte de gente pratica o ascetismo hoje visando alcançar a santidade. Mesmo entre os que não querem ou não podem seguir tal caminho, o santo provoca admiração.

Mas por que alguém iria querer ser santo? Qual é o benefício de agir de tal forma? Será que o santo sabe de algo que eu não sei? Por isso o santo acaba reunindo discípulos ao redor de si. As pessoas querem saber suas razões e seus meios, a fim de viver melhor. A religião de hoje não pede mais sacrifícios humanos. Os sacrifícios requeridos hoje são ações, atitudes. O altar não espera frutas ou animais, mas suas vontades “erradas”. Mas será que vale a pena se sacrificar tanto?

Antes de passar pro próximo assunto, Nietzsche nos notifica que a religião grega, quando era aristocrática, era uma religião de gratidão. Você era grato aos seus deuses por tudo de bom que você tinha. Foi quando a religião grega se tornou coisa do povão (novamente, Nietzsche demoniza o povo), ela se tornou uma religião de temor. Em vez de grato pelo que os deuses te davam de bom, você passava a ter medo do que ele poderia te fazer de ruim! É mais difícil ser grato a quem pode te matar.

Alma.

Ao contrário de hoje, a crença na imortalidade da alma não era muito popular na antiguidade ocidental e seitas que acreditavam que a alma perecia com o corpo eram numerosas e tinham muitos adeptos. Inclusive os primeiros cristãos tinham suas dúvidas sobre a alma ser ou não imortal. Quando a crença na alma imortal tornou-se hegemônica, começaram as perseguições aos dissidentes. Antes disso, as seitas que tinham opiniões diferentes sobra a alma viviam em paz e harmonia.

Parece que o preconceito e o ódio aparecem mais em pessoas que têm certezas. Se nós assumíssemos que não sabemos, a não ser pela fé, se a alma é ou não imortal, talvez algumas perseguições históricas teriam sido evitadas, graças a humildade que vem do reconhecimento da própria ignorância. Se você admite que apenas tem fé em algo, é mais fácil ver sua crença como algo pessoal e até protegido de argumentos contrários (porque fé e razão são opostos, mesmo quando apontam na mesma direção). Já se você raciocina as coisas que vêm da fé, você irá argumentar contra quem não partilha de suas crenças, dando oportunidade aos cismas. Ao separar fé e razão, será possível ter os dois. A necessidade de deixar um dos dois pra trás só existe se você tenta misturá-los. Quando separadas, a fé não pode ferir a razão e nem o contrário. Mas, juntas, uma das duas será sacrificada.

A morte de Adônis. Autor:
Giovanni Battista Gaulli. Fonte: Wikimedia Commons.

É uma crença professada até hoje a de que animais inumanos não têm alma imortal. O fundamento pra tal crença é a falta de razão entre animais. Voltaire levanta então a objeção: a criança que, por defeito congênito, tem raciocínio incapacitado… essa criança tem alma imortal? Ou ela recebe um desconto porque veio de pais humanos? Analogamente, que certeza temos de que animais vivos, sensíveis e que aprendem truques, inclusive uma forma rudimentar de comunicação com o dono, não raciocinam? Quanta razão um ser precisa ter pra que sua alma seja elegível à imortalidade, onde será recompensada ou punida?

A criança de três anos tem alma imortal? Voltaire pergunta porque observa que o gato de seis semanas, o canário de um ano e um cachorro bem treinado têm habilidades o suficiente pra sobreviverem sozinhos, enquanto que a criança de três anos não sabe nada ainda. Na verdade, estudos mostram que a inteligência de um porco e a de uma criança de três anos são comparáveis. Se a medida da imortalidade da alma é a razão, então o porco que virou salsicha e a criança que morre de diarreia aos três anos, tanto um como o outro são imortais, a menos que você esteja disposto a admitir que nenhum dos dois é.

Esse tipo de problema só se resolve pela fé. No campo da razão, por uma questão de bom senso, você não deve procurar uma causa indeterminada pra um fenômeno de causa conhecida. No caso, se tivermos que usar a razão e não a fé, é o cérebro que nos permite pensar e não uma alma. Ora, mas o cérebro é material! Isso quer dizer que a matéria pode pensar. Tal coisa é possível pra Deus, que pode tudo. Ninguém pode dizer que Deus não pode conceder à matéria a faculdade de pensar. Além disso, tal ideia é compatível com a possibilidade de que a alma seja uma energia, como a luz, que existe na matéria.

O anticristo.

Já se perguntou por que Nietzsche odeia a religião cristã? Bom, ele tem suas razões. A primeira é que o cristianismo coloca num pedestal as coisas que Nietzsche identifica como negadoras da vida. A castidade, o jejum, a pobreza, essas coisas não favorecem o aprimoramento do homem, pensa Nietzsche. A segunda razão e a mais importante é que a fé que o homem exerce em sua religião o impede de ver a vida de outra forma. Sua religião já determinou o que é verdadeiro e falso, certo e errado, justo e injusto. Ele nunca verá como bom pra ele aquilo que é bom pra humanidade, porque ele identifica o bem pra humanidade com aquilo que é ordenado por Deus. Essa também é minha visão e Nietzsche me detestaria por isso. Uma pena.

Então, resumindo, Nietzsche odeia o cristianismo porque ele ordena coisas que tornam o homem medíocre ao mesmo tempo que impede, através da fé, que seus seguidores vejam o próprio erro. É assim que ele pensa. Pra ele, uma religião dessas acaba com o potencial humano ao se tornar hegemônica. Ela é especialmente perigosa quando ascende ao poder. Nisto eu devo concordar, porque, embora eu creia que Deus saiba o que é melhor, admito que suas ordens estão em um texto o qual deve ser interpretado. Se uma determinada interpretação se torna hegemônica e tal interpretação estiver errada, teremos um problema. Assim, tanto eu como Nietzsche concordamos que o cristianismo não deveria aspirar ao poder político, mas afirmamos isso por razões diferentes.

Nietzsche nos revela que a filosofia alemã é fortemente influenciada pelo protestantismo. Como a denominação cristã que prioriza a fé sobre tudo o mais (enquanto que o catolicismo vê a fé e a razão como conciliáveis), ela é o lado mais sentimental do cristianismo. Mas, como vimos na Alma de Voltaire, fé e razão são mesmo de natureza diferente. Se você prioriza a fé, rebaixa a razão.

Virgem do apocalipse. Autor: José de Ibarra. Fonte: Wikimedia Commons.

Nietzsche chama o protestantismo, inclusive, de paralisia da razão. E é essa paralisia que está subjacente em toda a filosofia alemã, ele diz. A primazia do sentimento sobre a razão nos leva a ver nossos sentimentos, o “eu creio”, como argumentos. Quanto mais forte for o sentimento, mais a pessoa se julga acima da razão. Essa intuição é mais perniciosa quando propaga verdades, não métodos. Se você descobre um método, você pode testá-lo pra saber se funciona. Se você descobre uma verdade, sem método (porque sentimento não é método), como você vai saber se aquilo é mesmo verdade?

Se assim é, claro que uma moral falida como a de Kant seria alardeada como revolucionária. Falida, porque impraticável: pra Kant, se você faz algo porque é prazeroso, mesmo que esteja agindo bem, não está fazendo por dever. Logo, sua ação não é moral. Pra Kant, a pessoa só age moralmente se age sem prazer. Lascou-se pra quem gosta de defender causas sociais. Isso acaba com o potencial dos que fazem o bem por prazer, justamente aqueles que têm mais habilidade de fazer o bem. Também perigosa: uma nação que se guia pelo imperativo categórico, pelo que “é certo”, não pelo que lhe é vantajoso (porque vantagem é prazer), se torna presa das nações que não observam esse princípio. O mesmo se diz do homem individual: quem é muito bonzinho sempre se ferra.

A virtude deve ser julgada como tal segundo o quão benéfica ela é à nossa vida. Tudo o que atenta contra nossa vida não é virtude. Nietzsche põe Kant, Leibniz e Lutero na categoria de “empecilhos à integridade alemã”.

A arte de escrever.

Schopenhauer faz uma distinção entre informação e instrução. Informação é a descrição das coisas: sua definição, sua constituição, seu processo de feitura, sua serventia (ou efeitos). Mas isso é inferior à instrução. A instrução é a capacidade de usar essa informação. Quando você sabe apenas pra mostrar que sabe, você é informado, mas não instruído. Quando você usa a informação que tem pra melhorar sua vida ou pra construir seu próprio pensamento, você é instruído, mesmo que, às vezes, mal informado.

Esse problema é apontado por Roberto Machado, pra quem as aulas de matemática no curso de pedagogia e no curso escolar parece que só servem dentro da escola. Os alunos não sabem pra quê usar as fórmulas que aprendem sofregamente no ensino médio, por exemplo. A informação sem instrução é inferior. É preciso que cada aluno tenha pensamento próprio e seja capaz de aplicar em sua vida o que aprendeu. Ter erudição sem pensamento próprio é como ter uma peruca (cabelo de outros) por não ser capaz de produzir o próprio cabelo.

Mas a instrução sem informação também é péssima! Se você constrói o pensamento próprio com informações desencontradas, falsas, tendenciosas ou incompletas, você vai virar um astrólogo e morar em Virgínia. É um erro comum entre os neófitos da faculdade de filosofia pensar que é possível ser filósofo sendo somente original, elevando sua opinião ao grau de verdade. Tanto o excesso de aprendizado quanto o excesso de ensino, tanto o excesso de escrita quanto o excesso de leitura, essas coisas prejudicam o pensamento próprio. Informação e instrução precisam estar equilibradas. Num ensino básico que vai do infantil (creche) até o médio (adolescência), é indisculpável que a escola não guarde, pelo menos, um quinto desse tempo pra instruir os alunos, em vez de só informá-los.

Mas surge uma dúvida: se a instrução depende da informação, como saber se uma informação é boa? A maioria das pessoas, quando precisa se instruir, procura recomendações. Tipo, quando alguém se pergunta o que ler agora, ele pega o jornal e vê quais livros estão em alta. Schopenhauer diz que todo o mundo tem o direito de falar besteira, mas que comentar a besteira dita pelos outros deveria ser ilegal. Justamente porque tem gente que procura recomendações pra saber o que ler. Se você faz uma resenha de um livro ruim, as pessoas que esperam esse conteúdo serão atraídas ao livro através da sua resenha. Por causa disso, você só deveria comentar os livros bons que você leu (ou filmes que tenha assistido, jogos que tenha jogado, músicas que tenha ouvido).

Inspiração do poeta. Autor: Nicolas Poussin. Fonte: Wikimedia Commons.

Mas você ainda precisa julgar o que foi produzido. Não comentar não é o mesmo que não experimentar. Se alguma doutrina, pensamento ou posição se torna popular na sociedade (como quando é professado por alguém que tem estima entre o povo ou entre acadêmicos), os intelectuais deveriam se ocupar dele e ter seu parecer sobre ele, mesmo que não o comentem. Além disso, o fato de Schopenhauer dizer que algumas posições não deveriam ser comentadas não quer dizer que eu concorde com ele. Algumas posições precisam ser contestadas, mesmo que isso implique em sua divulgação.

Schopenhauer se volta, então, à diferença entre os que estudam por prazer e os que estudam porque são pagos pra isso. Sim, você pode ser pago pelo estado pra estudar. Isso se chama “pesquisa e desenvolvimento” e é necessária a qualquer nação. É graças aos pesquisadores muito bem pagos que a vacina contra o coronavírus está em desenvolvimento. Schopenhauer observa que as grandes descobertas são feitas por aqueles que colocam o dinheiro em segundo plano, mesmo que estejam sendo pagos.

Se você faz ciência visando dinheiro, você fará uma ciência completa o bastante pra ganhar o dinheiro que você quer. Aliás, esse é o tipo de pessoa que falsificaria a verdade científica se a mentira pagasse mais que a verdade! Por isso que uma sociedade se arruína quando todos só pensam no benefício próprio, especialmente se intelectuais são levados a agir de tal forma.

Se você faz ciência porque gosta, você fará uma ciência muito mais abrangente, porque não a verá como trabalho. Se ciência é divertido pra você, nunca você vai parar de praticá-la e irá mais fundo no seu objeto de estudo, mesmo que você descubra algo tão massa que nenhum estado do mundo poderia te pagar adequadamente. Claro que isso requer certo grau de independência: se você depende de alguém, você terá que conformar sua ciência àqueles que te sustentam.

Assim falava Zaratustra.

Zaratustra, aos trinta anos, deixou seu país pra morar dez anos na montanha. Um belo dia, ele olhou o sol e teve uma epifania: a glória do sol não é nada se não tiver quem necessite da luz solar. Se não houvesse gente no mundo, não houvesse plantas ou bichos, o sol não teria significado. Seria uma bola de fogo ali. Zaratustra quer ser como o sol. Ele, julgando-se sábio, entende que sua sabedoria vale pouco ou nada se ele não se encontrar com aqueles que necessitam dessa sabedoria. E assim começa a história dele, com a ideia de que aqueles que creem ser sábios devem ir atrás de quem deles necessite.

Triunfo de Galateia. Autor: Rafael. Fonte: Wikimedia Commons.

Eu não me considero sábio, só um cara que estuda. Mas como eu acho que tem gente que precisa ler o que os filósofos pensaram, embora não tenham tempo nem forças pra compreender seus livros, eu dei tal propósito a este blog. Se você tem algo a dizer e acha que outros se beneficiariam do que você diz, por que você não fala? O sábio silencioso é inútil.

A arte de lidar com as mulheres.

Após passar um capítulo inteiro falando bem da poligamia, inclusive dizendo que a poligamia acabaria com a necessidade de prostituição, por ele vista como um ofício duro e inevitável, Schopenhauer admite que a poligamia tem uma desvantagem. É a única desvantagem por ele apontada à poligamia: o número de sogras. O estereótipo de sogra exigente vem de muito tempo e é perfeitamente compreensível. Afinal, você está se casando com o filho de alguém. Esse filho tem mãe e a mãe não vai querer que seu filho case com qualquer um. Eu li em algum lugar, não lembro onde, que o Islã permite você ter várias esposas, desde que elas não sejam irmãs entre si. O escritor do texto rapidamente adiciona: seria fácil entrar no Paraíso se você tivesse dez mulheres e uma só sogra. Eu não sei se Schopenhauer tá falando sério agora, depois de falar tão bem da poligamia. Talvez esta desvantagem seja uma piada. Ou uma verdade contada em tom comédico. Quem sabe?

Passando pra outro assunto, Schopenhauer fala dos direitos iguais. Lembre que Schopenhauer, à época da escrita de Parerga e Paralipomena, era misógino. Então, é claro que ele escreveria que a mulher não deveria ter direitos iguais aos dos homens se também não lhe fosse concedido o intelecto masculino. Pra nós, hoje, isso soa muito errado, mas talvez fizesse sentido na época de Schopenhauer, pelo simples fato de que o acesso à educação era mais difícil à mulher.

Amor e Psiquê. Autor: William-Adolphe Bouguereau. Fonte: Wikimedia Commons.

Isso também estaria por trás da ideia que Schopenhauer fazia das mulheres artistas. Pra ele, a mulher tem zero sensibilidade artística. A isso, gostaria de contrapor a autora de Fullmetal Alchemist. Mas Schopenhauer rapidamente diria, se estivesse vivo e ainda fosse machista, que uma exceção não altera a regra. Na verdade, ele diria que a mulher que se “força” às belas artes é como uma mulher que coloca silicone. Como? Porque, pra Schopenhauer, isso não seria natural. Uau, isso foi tão pesado que até eu, que não sou mulher, fiquei ofendido.

A reclamação de Schopenhauer quanto a essa “falta de intelecto” é de que a mulher, ele diz, ao receber os bens do marido quando morre, não os gerencia bem, os dissipa, desperdiça e estraga. Schopenhauer diz que esse problema seria resolvido se a mulher tivesse seu direito de herança limitado. A viúva, na medida em que também não trabalha, deveria receber auxílio do governo até a morte. E é isso. Ela não teria direito ao capital ou bens imobiliários do marido finado. Me pergunto pra onde iriam esses bens e capital então. Pros filhos, mas sobretudo aos meninos: a herança só seria da esposa se o homem não tivesse deixado filhos do sexo masculino. Ele também era contra a ideia de que a mulher deveria ficar com a guarda dos filhos, porque a pessoa que precisa de tutela não pode tutelar.

Isso constituiria razão suficiente pra não casar. Mas Schopenhauer, como sempre, dá mil e uma razões pra não casar. Deveria haver um livro só sobre isso: Conselhos Filosóficos Contra o Casamento. Então, Schopenhauer diz, com muito acerto, que o casado “carrega todo o fardo da vida”, mas o solteiro carrega “só a metade”. Porque o solteiro tem tempo livre pra atividades intelectuais. Schopenhauer, por isso, aconselha que o homem com inclinação científica, filosófica ou artística deveria permanecer solteiro. Já o homem que se casa, vai virando burro de carga, ele diz, e é notável como as mulheres tratam subalternos. Bom, já estou na página noventa deste livro. Daqui a pouco o termino. Portanto, paciência.

20 de março de 2020

Alma, espírito, consciência, inteligência…

Filed under: Livros, Passatempos — Tags: — Yure @ 14:10

O texto abaixo é uma honesta aula filosófica baseada em Alma, escrito por Voltaire, com sugestões de como as ideias contidas em tal escrito podem ser usadas para desenvolver o país e ajudar as pessoas a se compreenderem.

Definição de alma.

Na religião, alma é vida e a vida está no sangue. Como a filosofia tenta explicar as coisas sem recorrer à religião, essa ideia pode não satisfazer. O problema é que a filosofia é incapaz de dizer o que é alma e quais são suas propriedades. Naturalmente, como acontece com um bom número de entidades metafísicas. Diz o bom senso que a filosofia e a ciência não devem se pronunciar publicamente sobre o que não podem compreender ainda. Quando algo ainda não é compreendido, deve-se refletir sobre ele até que seja compreendido, não dar aula sobre isso. Então, tentemos refletir sobre o que é a alma, pra que a compreendamos racionalmente. Vamos lá: o que é a alma? Se tivermos que julgar pelo vocábulo, “alma” significa “aquilo que anima”, ou seja, vida. Muito bem, estamos chegando a algum lugar. Agora: ela é corpórea ou não? Agora, a coisa começa a complicar…

De um lado, existem matérias vivas e matérias mortas. Então, podemos argumentar que a vida é uma propriedade material, como a solidez ou a liquidez, presente em alguns, mas não todos os corpos. Mesmo na religião, isso pode encontrar amparo: Deus pode vivificar qualquer matéria e até fazê-la pensar e os pais da igreja sustentavam, com os judeus, que a alma é parte do corpo, de forma que a matéria poderia pensar. Uma alma material pode também ser imortal, já que é improvável que haja um dia em que a matéria venha a deixar de existir no universo (eu acho). Por outro lado, muitas pessoas afirmam ter visto e até conversado com entes queridos que morreram. Se essas pessoas estão vivas, mas seus corpos se decomporam, como pode a alma ser corpórea? Isso é um fenômeno tão comum, que a maioria das culturas primitivas acreditava na imortalidade da alma, inclusive os egípcios, chineses e caldeus.

Mas isso não era uma unanimidade: os primeiros judeus, que receberam a Lei de Moisés, não receberam nenhum ensinamento sobre vida eterna, porque Moisés nunca ensinou que a alma é imortal, tanto que todas as recompensas e punições, de Gênesis a Deuteronômio, pra observação dos mandamentos divinos eram materiais, com efeito imediato (fartura, saúde, vida longa, paz, entre outros). A questão não está fechada. Mas isso é o menor problema. O maior problema é que, tal como muitos outros problemas metafísicos, essa questão nunca fechará.

A alma é incognoscível pela razão. O único jeito de responder definitivamente questões anímicas é pela fé, não pela razão. Geralmente, apelamos pro sobrenatural quando não compreendemos o material. Isso acontece porque a razão precisa de informação sensorial pra trabalhar. Assim, se algo não passa pelos sentidos, não é possível raciocinar sobre aquilo (isso não quer dizer que a realidade é como parece ser, mas que os dados sensoriais são o ponto de partida). Isso torna absurdo atribuir a uma causa imaterial algo cuja causa já foi apontada na matéria, a menos que estejamos trabalhando com a fé.

Observe que isso não quer dizer que só existe aquilo que podemos ver, ouvir ou sentir, mas que, se a razão precisa de informação sensorial como ponto de partida pra suas reflexões, sendo que o ser humano só tem cinco sentidos limitados em alcance, segue-se que podem existir coisas imperceptíveis aos nossos sentidos e sobre as quais não é possível raciocinar. Se a alma não é perceptível pelos sentidos, isso não quer dizer que ela não exista, mas que ela precisaria, se existir, ser revelada. A partir do momento em que algo precisa ser revelado, saímos da razão e entramos na fé. Se Deus criou a alma e a alma é incognoscível ao homem, cabe a Deus revelá-la, se ele quiser. A razão é melhor empregada na filosofia (desde que lide com coisas que a razão pode alcançar) e na ciência.

Pra muitas coisas, a religião ainda é a melhor resposta. Como a religião se funda na fé e a ciência se funda na razão, sendo que fé e razão são de natureza diferente, segue-se que a ciência nunca será capaz de acabar com a religião. A filosofia ou a ciência nunca serão incômodos à religião. Isso é tão verdade que existem filósofos e cientistas que também são religiosos.

Se alma é vida, então constantemente vemos que a alma existe, já que a vida existe. Mas como se define isso? Como colocar “alma” ou “vida” em palavras? Esse tipo de problema é tão estressante quanto desnecessário. Muitas vezes, usamos palavras sem saber seu significado exato, por amor à praticidade. Mas, na filosofia, você só deve falar do que você conhece. Enquanto não houver uma definição fechada do que é a alma, a filosofia não pode trabalhar com esse conceito. Quando um problema metafísico chega a esse grau de selvageria, a ponto de ser uma discussão tão irritante quanto infrutífera, é melhor mesmo ficar com a religião. Afinal, de que serve essa discussão? Saber exatamente o que é a alma e quais suas propriedades não vai resolver o problema da fome no Nordeste. Por causa disso, a maioria da população mundial não acha a discussão sobre a alma relevante. Saber o que é a alma provavelmente não resolverá nenhum problema.e um quarto, mesmo se engajando em tal discussão, é incapaz de concluí-la.

Parece que nenhum povo é capaz de compreender a alma. Como o nosso povo estaria melhor equipado pra isso? Alguém pode dizer: “temos ciência, que torna acessível até às crianças o que antes era segredo dos sábios, e isso é uma vantagem.” Neste caso, não é, porque a ciência só pode ser feita onde há espaço pra experiência e pra matematização. Não se pode colocar a alma em laboratório e nem formular regras gerais de regularidade sobre ela. É preciso ter a modéstia de dizer quando uma questão supera suas forças de resposta. Algo precisa ser material ou, pelo menos, afetar a matéria pra que seja congnoscível. Logo, não é possível se pronunciar com segurança sobre a alma.

Alma, espírito, consciência, inteligência…

A situação fica ainda mais estranha quando se considera o “espírito”, a soma das faculdades mentais da pessoa, nosso “eu”, que comanda o corpo. A ideia de espírito vem do fato de que o pensamento é imaterial, mas se origina em nós, dando a entender que temos uma parte que é imaterial. Dizem que tal espírito, particularmente o pensamento, é a essência do homem. Isso é estranho: quer dizer que o homem deixa de ser homem quando para de pensar? Se assim é, deixamos de ser homens ao dormir e voltamos a sê-lo ao acordar. Some-se a isso o fato de que não sabemos exatamente o que é o pensamento e teremos ainda mais dificuldades. Além disso, se o espírito comanda o corpo e o espírito é o “eu”, como se explica que existem órgãos que funcionam sem meu controle?

Os animais pensam? Certamente são capazes de aprender, se aperfeiçoar e se adaptar ao ambiente em que estão. Pra isso, é preciso pensar. Eles também são capazes de sentimentos e emoções, às quais reagem. Inclusive, muitas emoções humanas também são sentidas pelos animais. Além disso, estão vivos. Então, eles têm alma e espírito? Se pensa, tem espírito. E o mesmo conjunto de questões que se referem aos homens se referem aos outros animais: a alma (ou espírito) é material, imaterial, mortal, imortal? Por que pensamos que o animal, coitado, não tem alma? Só pode ser por orgulho. Além disso, se só tem alma aquilo que “raciocina”, a criança pequena não teria alma também!

Além disso, qual é a relação entre espírito e alma? Se originam do mesmo princípio? Vêm do mesmo lugar? Somos uma substância pensante que habita a matéria, da qual nos servimos, ou somos uma matéria que pensa? Tentando resolver um problema desses, Platão chegou a afirmar que o homem tem três almas: vegetativa (vida), irascível (emoções) e intelectual (pensamento). Assim, há uma alma que mantém a vida, uma que provoca emoções e outra que pensa, todas imortais e imateriais. Olha como ele complica as coisas. Será que faz sentido dizer que cada homem tem três almas? Ele pode provar a imaterialidade, principalmente da alma vegetativa? Não obstante, se alma é vida, a inteligência ou consciência deve ser um princípio separado, talvez dependente da alma (“talvez” porque alguns admitem que o espírito, a consciência, a personalidade sobrevivem à morte, não dependendo, portanto, da vida pra existir). Alguém pode dizer: “ah, alma e espírito são a mesma coisa!”. Muito bem, mas você tem uma definição fechada de espírito? Definições circulares não valem. Ninguém realmente sabe.

Requisitos de sistema.

Suponhamos que a alma dependa de um cérebro, uma criança sem cérebro venha ao mundo. Se admitirmos que espírito acompanha a alma (ou com ela se identifica), a criança tem alma, ou espírito, tendo nascido sem cérebro? Quais os requisitos pra que se tenha alma? A alma é comum a todos os seres humanos, inclusive aos que não pensam? Se for, basta estar vivo pra ter alma e, com isso, alma nada tem a ver com espírito (consciência, personalidade).

Mas surge outro problema: se a alma, ou o espírito, é imortal, a criança sem cérebro estará no paraíso depois da morte? Alguém pode argumentar que uma pessoa sem cérebro não pode estar viva. Muito bem, mas seus órgãos vitais funcionam: o coração bate, há movimento peristáltico e a pessoa pode absorver nutrientes se lhes forem injetados. Se alma é o mesmo que vida, a criança está viva e tem alma. Além disso, ainda supondo que a alma dependa de um cérebro, o que provavelmente implica uma identificação de alma e espírito, como podem pessoas de cérebro igual terem capacidades mentais tão diversas? Será que almas diferem entre si, por isso pessoas de cérebro igual têm níveis diferentes de inteligência (a ponto de a distância entre elas ser maior que a distância entre homem e animal)? Em todo caso, morreremos antes de ter essas respostas, provavelmente.

Não há nenhuma diferença entre o cérebro do Einstein e o seu. No entanto, o Einstein revolucionou a física e você tá sentado aí, lendo esta papagaiada. Podia ser pior: pelo menos você não tá lá, no Corona Fest, onde várias pessoas com o cérebro tão bom quanto o do Einstein se reúnem pra desperdiçar tamanha concessão divina. Se Deus nada faz sem propósito, então qualquer animal que tenha um cérebro o recebeu pra usá-lo, não pra repetir que o coronavírus nunca matou e nem matará ninguém.

A religião, o estado e a imortalidade da alma.

Se você é fiel a Deus, não precisa temer a morte, porque, se a religião afirma que a alma é imortal (ou que haverá uma ressurreição dos mortos) e que a sua pós-vida é condicionada pelas boas ações coletadas em vida, tudo vai bem. Você será recompensado depois da morte, então fique tranquilo. Porém, se você acredita que a vida acaba na morte, porque a imortalidade da alma é questionável, e não há nada depois dela, não há nenhuma forcinha pra você andar dentro da lei, inclusive das leis do estado democrático de direito.

Do ponto de vista da pessoa que morre, a experiência é igual a de pegar no sono ou desmaiar. É, pelo menos, o fim do sofrimento. Num país que aplica a pena de morte, matar um sujeito que vê a morte apenas como o fim da sensação não é realmente uma “pena“, porque a morte seria algo positivo pra essa pessoa. Grande coisa morrer! Dessa forma, cometer suicídio é a fuga perfeita após cometer um crime grave. Observe que o mesmo é válido pra denominações cristãs que afirmam que a fé basta pra salvar, como é o caso do protestantismo tradicional (sola fide). Pra essas pessoas, a fé, sem as obras, basta pra salvar. Se assim é, morrer marca a ida da pessoa pro paraíso, onde será recompensada por sua fé, mesmo que tenha cometido os piores crimes em vida. Assim, enquanto que a morte é o fim do ateu, ela é só o começo da festa do evangélico e do terrorista fanático.

Isso mostra como as crenças que temos em relação à morte podem ajudar a pessoa a se manter obediente à lei (parece que todo crime é pecado, embora nem todos os pecados sejam crimes) ou mesmo encorajá-la a quebrá-la. Se você se perguntava como os Estados Unidos podem ser uma nação tão perversa, aí está sua resposta: é um país de maioria protestante. Isso é especialmente verdade quando se fala de neopentecostais, os quais cultivam a ignorância dos fiéis. Você não pode questionar a igreja deles. Impedir a liberdade de pensamento engendra ignorância e o movimento neopentecostal parece que é uma escola que te ensina a não pensar e que só estimula sua imaginação pra te tornar mais receptivo às mais absurdas mentiras. Observe que muitos protestantes são boas pessoas com ideias de valor, então não pense que todos os evangélicos estão errados em tudo só porque existem pastores explorando a ignorância dos fiéis. Seria um salto enorme e provavelmente intolerância religiosa.

A liberdade de pensamento.

Voltando ao assunto, nações onde há mais liberdade de pensamento são mais cultas. O que suscita uma discussão culta em uma nação pode suscitar a violência em outra. Mesmo entre pessoas que se ajudaram ainda ontem. Isso só é possível porque alguém em posição de poder crê estar sempre certo e não admite provas do contrário. Esse é um sinal de falta de tolerância, algo que afasta os homens uns dos outros, mas não é o único sinal: em tempos onde ninguém admite o outro que pensa diferente, uma pessoa pode perder o emprego por ter ofendido outra, mesmo que tenha falado a verdade. É também o tempo em que não se combate uma ideia com argumentos, mas com risos, violência e táticas de envergonhamento. É que a pessoa não tem como defender suas ideias, então tenta fazer você deixar de professar as suas próprias estimulando o medo ou a vergonha de dizer o que você pensa.

Isso é péssimo pra sociedade, porque silencia também boas ideias no processo de censurar ideias “más” (isto é, ideias que discordem das ideias dominantes). Se a sociedade for tolerante às opiniões divergentes, contudo, teremos avanços na filosofia, na ciência, no comportamento humano e na política, porque haverá plataforma pras ideias boas, mas também impopulares. Isso permite a mudança pra melhor. Se a tolerância permite a mudança e a intolerância permite a manutenção do estado presente, segue-se que qualquer intolerância, mesmo quando vem da esquerda, é conservadora por natureza.

Se é a ignorância que prejudica a república, ao passo que a liberdade de pensamento e expressão a aprimora (porque tais liberdades estimulam a tolerância, a cooperação e a saudável competição entre ideias), segue-se que o religioso fanático e o político cego por sua ideologia são os verdadeiros venenos que ameaçam a república, enquanto que a filosofia e a ciência são o antídoto. Especialmente venenoso é o sujeito que combina as duas coisas, misturando religião e política, tentando transformar em política pública suas convicções pessoais. Isso não deveria acontecer, por exemplo, entre pessoas de diferentes religiões abraâmicas: se o Deus é o mesmo, por que não tratamos uns aos outros como irmãos, filhos do mesmo pai celestial? O ideal é que cada um pense como quiser. Isso não quer dizer que a pessoa tenha que ser eximida de responder por seus atos e pelas consequências desses atos.

Recomendações.

Como todo ente metafísico, a alma é uma coisa que não podemos experimentar sensorialmente e da qual não se extraem leis absolutas. A alma não pode, também, ser expressa matematicamente. Então, discutir sobre a alma implica especulação, se a discutirmos pela metafísica. No entanto, a religião tem suas verdades sobre a alma. Se a metafísica e a religião debatem o mesmo tópico, a religião, ao menos, já tem uma resposta.

Pela razão, não é possível saber ao certo as propriedades da alma, de onde ela vem, de que é feita nem pra onde ela vai depois que o corpo perece. Por causa disso, a discussão racional sobre é alma nunca será fechada. Além do mais, precisamos reconhecer que discussões como essas não resolvem nenhum problema do homem. Saber o que é a alma e quais são suas propriedades não curará nenhuma doença, não erradicará a fome, não proporcionará a paz mundial e nem irá gerar empregos. Se este é um problema metafísico e, portanto, especulativo, mas também provavelmente inútil, é melhor ficar com o que a religião diz e empregar a razão em outras coisas.

2 de dezembro de 2017

Notes on “Candid or Optimism”.

Filed under: Livros, Saúde e bem-estar — Tags:, , — Yure @ 10:41

“Candid or Optimism” is a text written by Voltaire. Below are some statements made in the book. They are not quotations, but paraphrases, and may not reflect my opinion on this subject.

  1. Back when the book was written, it was common to believe that things, as long as they were done with a goal in mind, always tended for the best.
  2. But, if everything tends for the best, why do things fail so badly?
  3. A person who is often busy thinking about “higher” things, ends up becoming a big goof in normal, everyday life.
  4. If everything tends for the best, why do nations make war against each other?
  5. A philosopher trembles when participating in war.
  6. If everything tends for the best, why do we fall ill?
  7. If this really is the best possible world, it’s pointless to believe in the devil.
  8. It’s ridiculous to say that all “small” misfortunes contribute for the greater good.
  9. God didn’t give us weapons to destroy each other, but we made them anyway because we feel the need for them (a need that wouldn’t arise without the existence of hatred).
  10. If everything tends for the best, why do good people die and so many bad people are filthy rich?
  11. The belief that everything tends to the best is an indirect nod to fate in opposition to freedom.
  12. If everything tends to the best, then all deaths are necessary.
  13. Everyone is religious when a tragedy happens.
  14. You need to be abnormaly naive to believe that everything tends to the best or that this world is the best possible world.
  15. If a perfect world really exists, then it sure isn’t this one.
  16. There’s hate in every religion, as no religion is free of people who are willing to hate.
  17. The strongest thing that keeps a desperate person from suiciding is fear.
  18. If this really is the best possible world, then how come so many people hate their own lives?
  19. If this is the best possible world, why some of us feel the need to commit crimes?
  20. Nature is nothing like an optimist thinks.
  21. You can’t really argue with hungry cannibals about how killing others, even if for food, is sinful.
  22. Every culture has it’s laws.
  23. There’s always civilization around rivers.
  24. If you walk aimlessly, even if you don’t find something good, you will certainly find something different.
  25. Whenever possible, mix the useful and the pleasurable in a single thing.
  26. When a nation starts to relate with other nations, it loses it’s original innocence.
  27. Gold and jewels only have value where they are rare.
  28. If you are already sure that you have what’s needed for survival, you don’t need to ask anything else from God, but you are supposed to be thankful.
  29. In a country where everyone knows the religion, there’s no need of priests at all.
  30. Staying in the same place can make you treat your opinions as truths, even if your opinions are wrong, meaning that you must travel to compare your culture with others to correct your own.
  31. The best greeting is a hug.
  32. If you feel alright in a place, there’s no need to move.
  33. If this is the best world possible, then how come we can improve it?
  34. Love can last longer than wealth.
  35. There’s an implied dark past behind a lot of items that you buy.
  36. How come we treat each other so badly when we are all brothers and sisters?
  37. Optimism is saying that everything is going well, even when it’s not.
  38. There’s not a single place in Earth where no problems ever happen.
  39. We so much evil in the world, you shouldn’t be surprised if you hear that the Devil rules it.
  40. Grudge can be worse than misery.
  41. The judgement of something as “diabolical” or “divine” varies from person to person.
  42. World can be so cruel that it’s okay if someone thinks that the world is only there to be a source of frustration.
  43. Everyone wants to befriend a rich person.
  44. Treating small ailments can make you sick.
  45. A person can laugh out of anger.
  46. There are people who earn money criticizing others, to the point of needing to criticize flaws that do not exist.
  47. A bad hand is a proof of your bad luck in that game.
  48. Trash talking others is often a defense mechanism employed by those who want to feel important or accepted.
  49. If this is the best world possible, how come we sometimes can’t stand our own families?
  50. Money submits people.
  51. A person can kill another just to make others scared of disobeying.
  52. Some nations are so evil that it’s not worth it to touch their territory with your feet.
  53. A person can feel optimist when things are going good for them.
  54. If this is the best world possible, why people endure domestic violence from people they don’t even love?
  55. It’s risky to be an ill husband of a jealous wife who was trained in medicine.
  56. The life of a prostitute is far from easy.
  57. When a person seems to be feeling good all the time, maybe they are just good at hiding their sadness.
  58. There are unhappy people in religious temples too, often children who are forced to attend to church.
  59. A person will feel displeased with their job if their only criteria for picking that job was money.
  60. Giving money to a person won’t always improve someone’s condition and, in fact, it can even worsen that condition.
  61. Several bad experiences can make a person face life with cynism.
  62. A person may seen happy, despite not being so, because we don’t understand their suffering.
  63. Do not marry a person who has trouble controlling pride.
  64. Living too well causes boredom.
  65. A complex song that doesn’t sound good is a bad song.
  66. There are books that people buy without meaning to read them.
  67. While reading a book, you need to be aware of the possibility of an author being mistaken in his or her conclusion.
  68. You can’t learn anything from a person who puts everything in doubt, who doesn’t accept anything as right or wrong.
  69. You need to write what you think, not what people want you to think.
  70. If people don’t think like you, it’s not a big deal, just keep doing your thing.
  71. When you have high standards, you may deprive yourself of pleasure.
  72. A good stomach isn’t the one that rejects all food, but the one that rejects just bad food.
  73. Banker today, unemployed tomorrow.
  74. If this is the best world possible, the nation rulers were supposed to be the best possible, but not even them are safe from tragedy.
  75. No one’s safe.
  76. If this is the best possible world, how come tragedies come in sequence?
  77. One shouldn’t demand everyone to suffer equally when facing the same problems.
  78. Suffering is subjective, varies from to person to person.
  79. Suffering brings men together.
  80. If this is the best world possible, how come crimes aren’t punished proportionally?
  81. There are philosophers who continue to spread misinformation, knowing it’s misinformation, just because they don’t want to admit that they are wrong.
  82. The pessimistic person is more lucid and becomes frustrated less often.
  83. If you try a political career, remember you can die from it.
  84. Work is a good medicine against boredom, vice and need.
  85. Better have your own stuff thanks to your own effort.
  86. Men were born to work (to make his life easier by actions).

5 de outubro de 2016

Anotações sobre “Candido ou o Otimismo”.

Filed under: Livros, Passatempos — Tags:, , , — Yure @ 16:37

“Candido ou o Otimismo” foi escrito por Voltaire. Abaixo, algumas afirmações feitas no texto. Elas não são citações, mas paráfrases, e podem não refletir o que eu penso sobre este assunto.

  1. Uma crença da época é a de que as coisas, sendo feitas para um fim, sempre visam o melhor fim possível pra elas.
  2. Se tudo vai bem, porque muitas coisas terminam mal?
  3. O metafísico muito aplicado acaba ficando ignorante das coisas deste mundo.
  4. Se o mundo é o melhor possível, porque ocorrem guerras?
  5. O filósofo treme quando participa da guerra.
  6. Se este é o melhor dos mundos possíveis, por que adoeceis?
  7. A crença de que este é o melhor mundo possível e que tudo se ordena para o melhor e que todo o mal é aparente nos leva a duvidar de que o Diabo exista.
  8. É ridículo dizer que todas as “pequenas” desgraças contribuem pra um bem maior.
  9. Deus não deu armas para os humanos destruírem uns aos outros, mas nós as fizemos porque sentimos necessidade, a qual não teria surgido sem ódio e interesse.
  10. Se tudo vai tão bem, por que os bons morrem e os maus prosperam?
  11. A crença de que tudo vai bem é uma afirmação indireta do destino, em oposição à liberdade.
  12. Se este é o melhor dos mundos possíveis então todas as mortes são necessárias.
  13. Todo o mundo é religioso quando acontece uma tragédia.
  14. A crença no melhor dos mundos possíveis só se sustenta numa mente muito ingênua.
  15. Se o otimismo metafísico estivesse pelo menos parcialmente certo e houvesse mesmo um mundo melhor possível, provavelmente não é este.
  16. Existe ódio em todos os lugares.
  17. O medo é a principal força que nos impede de cometer suicídio quando a vida deixa de dar lucro por ser vivida.
  18. Se este é o melhor dos mundos possíveis, então por que muita gente está descontente com a própria vida?
  19. Se este é o melhor dos mundos possíveis, porque muitas vezes nos vemos obrigados a cometer crimes?
  20. A natureza verdadeira não é como querem os otimistas metafísicos.
  21. Não é uma boa ideia argumentar com canibais sobre como matar outros humanos, mesmo que para saciar a fome, é pecado…
  22. Todas as culturas têm leis e estatutos.
  23. Sempre há civilização perto de rios.
  24. Se você está desesperado e anda sem rumo, mesmo que não encontre algo agradável, encontrará algo novo.
  25. Sempre que possível, junte útil e agradável.
  26. Quando um povo se relaciona com outros, perde essa inocência original.
  27. O ouro e as jóias só têm valor aonde são raros.
  28. Se você já tem certeza do necessário, por definição não há necessidade de pedir algo a Deus, então apenas agradeça.
  29. Num país onde todos conhecem bem a religião, não há necessidade da classe sacerdotal.
  30. Permanecer sempre no mesmo lugar consolida opiniões, mesmo que sejam opiniões erradas.
  31. Não há melhor cumprimento que o abraço.
  32. Quando se está bem em algum lugar, não há necessidade de mudar.
  33. Se o mundo é o melhor possível, porque podemos deixá-lo melhor?
  34. O amor pode durar mais que a riqueza.
  35. Existe um passado negro implícito em muitos bens de consumo.
  36. Se somos todos irmãos, como é que nos tratamos tão mal?
  37. Otimismo é sustentar que tudo está bem, mesmo quando não está.
  38. Não há lugar na Terra onde tudo vá bem.
  39. Com tanto mal no mundo, é escusável pensar que o Diabo é seu governante.
  40. A mágoa interior pode ser pior que a miséria pública.
  41. Do ponto de vista humano, um acontecimento pode ser diabólico ou divino dependendo de quem julga.
  42. O mundo pode ser tão cruel que há quem pense que ele só existe pra nos frustrar.
  43. Quando se é rico, todos querem ser teus amigos ou, pelo menos, te prestar serviço.
  44. Tratar doenças leves pode agravá-las.
  45. É possível rir de raiva.
  46. Existem pessoas que ganham a vida criticando outras e, como isso dá dinheiro, criticam defeitos que não existem.
  47. Uma mão ruim é um registro da má sorte que se teve ao longo do jogo.
  48. Falar mal dos outros muitas vezes é uma tentativa de obter atenção e sentir-se importante.
  49. Se este o melhor dos mundos possíveis, como até as relações familiares e fraternais podem ser insuportáveis?
  50. O dinheiro submete.
  51. Matar alguém sem necessidade serve para assustar os outros e mantê-los na linha.
  52. Algumas nações são tão ruins que não vale a pena tocar seu solo com os pés.
  53. É natural se sentir otimista quando as coisas vão bem.
  54. Se este é o melhor dos mundos possíveis, por que existem mulheres que apanham por causa de homens que não amam?
  55. É arriscado ser o marido doente de uma médica ciumenta.
  56. Prostitutas não têm vida fácil.
  57. Quando tudo parece bem com alguém, cogite a possibilidade de essa pessoa estar dissimulando sua tristeza.
  58. Existe infelicidade também nos templos religiosos, pois muitos seguem a religião forçados pelos pais ou, de alguma outra forma, à contragosto.
  59. Insatisfação profissional acontece quando pessoas escolhem uma profissão tendo o lucro que ela pode dar como único critério.
  60. Dar dinheiro a alguém não necessariamente melhora a situação dela e há casos em que dar mais dinheiro piora as coisas.
  61. Várias experiências ruins levam a pessoa a encarar a vida com todo o cinismo.
  62. Quando uma pessoa parece feliz pra nós, pode ser que o seja porque não entendemos o sofrimento dela.
  63. Mulheres orgulhosas fazem péssimas companheiras.
  64. Viver muito bem causa tédio.
  65. A música complexa, se não for bela, não presta.
  66. Há livros que são adquiridos por pessoas sem intenção de lê-los.
  67. É preciso ler ciente da possibilidade de que o escritor pode se enganar.
  68. Os céticos, que duvidam de tudo, admitem que sabem tanto quanto o vulgo, ou seja, o vulgo não deve recorrer ao cético pra aprender filosofia.
  69. É bom escrever o que se pensa.
  70. Não se importe tanto se os outros não pensam como você.
  71. Quando você tem padrões muito altos, se priva do prazer.
  72. Os melhores estômagos não são os que rejeitam os alimentos.
  73. Hoje banqueiro, amanhã desempregado.
  74. Se este é o melhor mundo possível, por que nem os governantes estão a salvo da desgraça?
  75. Ninguém está a salvo da desgraça.
  76. Como este é o melhor dos mundos possíveis se problemas vêm em sequência?
  77. Não se deve cobrar que todos sofram de igual maneira diante das mesmas causas.
  78. Sofrimento é subjetivo.
  79. O sofrimento aproxima os homens.
  80. Se este é o melhor dos mundos possíveis, por que crimes pequenos são ora punidos como grandes?
  81. Há filósofos que permanecem no engano somente para não se contradizerem.
  82. O pessimista acaba sendo mais lúcido e se frustra menos.
  83. Morrer na política é um risco de que todos os parlamentares estão cientes.
  84. O trabalho atua contra o tédio, contra o vício e contra a necessidade.
  85. Obter seus bens pelo trabalho é mais construtivo do que obtê-los sem esforço.
  86. O homem nasceu pra trabalhar.

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