Pedra, Papel e Tesoura

13 de junho de 2014

Anotações acerca do Górgias.

Filed under: Livros — Tags:, , , , — Yure @ 07:30

Meu professor mandou-me escrever sobre a visão platônica da retórica, que é explicitada em Górgias. Antes de escrever o trabalho final, farei algumas anotações sobre o texto para só então assemblá-las em algo conciso. Quero partilhar minhas anotações com outros alunos que receberam o mesmo trabalho, então fiquem à vontade para pescar de mim. Por outro lado, é importante que não copiem minhas palavras tal e qual estão dispostas aqui, como alguém fez com meu artigo sobre As Moscas.


  • A Retórica pode ser usada para confundir o interlocutor e subtilmente o levar para longe do ponto de partida da discussão, como demonstrado por Sócrates, depois que Polo tentou distraí-lo da pergunta que ele havia feito no começo.
  • A Retórica ocupa-se dos discursos.
  • Porém, as retórica não se ocupa de todos os discursos.
  • Sócrates tenta pegar o Górgias ao dizer que a Medicina se ocupa dos discursos médicos, a Ginástica dos discursos de sua área e por aí vai…
  • Não se deveria dizer que essas artes também são Retórica, já que se ocupam dos seus discursos específicos, embora não de todos, como Górgias concordou?
  • A Retórica, segundo Górgias, ocupa-se do discurso em si, não de discursos específicos, como no caso das artes manuais, por isso o discurso Médico não é retórico, embora possa fazer uso da Retórica.
  • As artes que nada tem a ver com Retórica, são aquelas que podem ser exercidas em silêncio.
  • A Retórica está próxima da aritmética, do Cálculo e de outras artes que demandam o uso do discurso.
  • Mas a Retórica é distinta dessas outras artes.
  • A Retórica atinge seu objetivo por meio do discurso, mas que objetivo é esse?
  • Seriam os “negócios humanos”.
  • Mas os negócios humanos mais importantes são a saúde, a beleza e a riqueza e a Retórica não está comprometida com essas coisas.
  • A Retórica está comprometida com o controle, com a dominação.
  • Com a Retórica, pode-se convecer qualquer um e escravizar os outros, mesmo os médicos, ginastas e economistas.
  • Em última análise, a Retórica, enquanto estudo do discurso em si, está comprometida com a persuasão.
  • Mas aí surge o problema: existem outras artes comprometidas com a persuasão em maior ou menor grau, como a Educação.
  • Mas a Retórica persuade na política e na ética.
  • Existem duas formas de persuasão: conhecimento e crença, onde a crença pode ser falsa, mas não existe um coisa tal como “conhecimento falso”.
  • A Retórica não está comprometida com o conhecimento, mas com a crença.
  • Por isso, o retórico nunca é chamado para opinar sobre algo muito técnico, como Arquitetura.
  • Porém, se um retórico e um arquiteto forem chamados para opinar em determinada obra, o arquiteto não terá chance de ser ouvido.
  • A Retórica pode ser usada de forma positiva e não se deve perseguir os professores de Retórica se os alunos estão fazendo mal uso do que lhes foi ensinado.
  • A Retórica só funciona com ignorantes, contudo, posto que o retórico não pode vencer um médico numa discussão sobre Medicina diante de outros médicos.
  • O retórico parece ser sábio, mas somente aos ignorantes.
  • O bom discurso a ser exposto em determinada área demanda um conhecimento daquela área; o retórico poderá fazer um discurso mais convincente aos médicos se ele já conhecer Medicina antes.
  • Para proferir um discurso sobre a justiça, o retórico precisa saber o que é justo.
  • Se quem pratica Música é músico, quem pratica Ginástica é ginasta, então é justo é aquele que pratica justiça.
  • Para que o retórico discorra sobre justo ou injusto, precisa ele ser justo, mas, sendo justo, não quererá praticar um injustiça, logicamente, segundo Sócrates.
  • A cadeia de perguntas socráticas levou Górgias a admitir que o retórico precisa, necessariamente, ser justo e nunca praticar injustiça na medida em que versa sobre justiça, como os sofistas faziam na Grécia Antiga, nos tribunais.
  • Se a Retórica ocupa-se dos “negócios humanos”, como a justiça; se o retórico não pode ser injusto, mas alguns alunos podem fazer mal uso da Retórica, do contrário isso não precisaria ser levado em consideração durante a reflexão acerca dos professores de Retórica; Górgias entrou em contradição ao admitir que a Retórica necessariamente é justa, após implicar que alunos podem usá-la injustamente.
  • Se Górgias entrou em contradição, sua definição de Retórica como estudo dos discursos voltados aos “negócios humanos” é inválida.
  • Sócrates então propõe que a Retórica simplesmente não é arte de nenhum tipo, não é técnica de nenhuma natureza.
  • Ela simplesmente produz prazer e satisfação.
  • Ou seja, é “adulação”, no sentido de rotina que induz prazer naquele desfruta dela.
  • Mais que isso, é um simulacro da política.
  • Usando da adulação, ela “fisga” os ignorantes pelo prazer e, como na democracia todos participam e é natural que apenas uma pequena parte de um contingente humano seja intelectual, a Retórica obtém sucesso entre as multidões fazendo-se parecer com a justiça, mas na verdade sendo apenas uma confusão das mentes inocentes.
  • O retórico, assim, rouba o prestígio dos médicos ao discursar sobre Medicina, dos ginastas ao discursar sobre Ginástica e por aí vai.
  • Mas o retórico não está completamente cônscio do que faz, visto que ele não conhece a fundo as coisas sobre as quais discursa (ele conhece o discurso para convencer, mas não o discurso para formar, trabalha com crença e não com conhecimento).
  • Vou começar a carregar punhais e dizer por aí que sou tirano; quero ver se dizem que posso queimar uma casa (dá-lhe punhal, parte XXV).
  • Parte do poder do retórico consiste em juntar o máximo possível de pessoas para pensar como ele, para que, pela força da maioria, seja mais fácil convencer ainda mais pessoas.
  • O grande problema da Retórica como simulacro da justiça é atrapalhar o curso normal da justiça e do castigo justo, vistos como bens que afastam o castigado dos vícios da alma, os que causam  os maiores males.
  • E é isso que fazem os retóricos, persuadem para livrarem-se dos castigos da justiça pública.
  • Mas existe um tipo bom de orador que é aquele que dirige a alma do ouvinte para a justiça e para a temperança (se você tiver lido Contra os Retóricos, poderá pensar que esse é o conciso e enxuto orador dialético).
  • O sofista, o usuário da Retórica com intenções formadoras, é ainda melhor que o orador político, porque o orador político não se importa com a formação do ouvinte.
  • “Adulação” é empregado também no sentido de “satisfação imediata e inconsequente de uma necessidade”.

14 Comentários »

  1. Mandei um e-mail de teste, responde por lá.

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    Comentário por Doce de Caju — 18 de junho de 2014 @ 11:45

  2. Enviei um e-mail com as fotos, depois responda pelo e-mail o que achou.

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    Comentário por Doce de Caju — 16 de junho de 2014 @ 08:57

    • Eu vi. Você continua uma gracinha.

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      Comentário por Yure Kitten — 17 de junho de 2014 @ 10:50

      • Eu gostaria que você fosse mais profundo na analise da minha forma hahaha.

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        Comentário por Doce de Caju — 17 de junho de 2014 @ 12:22

        • Meio difícil com você vestido.

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          Comentário por Yure Kitten — 17 de junho de 2014 @ 13:12

          • Não me achou mais gordo?

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            Comentário por Doce de Caju — 17 de junho de 2014 @ 15:59

            • Achei, sim. Mas quase não deu pra notar. Perdoe, sou meio trouxa às vezes quando se fala de aparência. Afinal, eu curso filosofia.

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              Comentário por Yure Kitten — 17 de junho de 2014 @ 19:31

  3. Interessante o artigo, isso eu utilizo muito no meu dia-a-dia de vendas.
    O que você acha da Dialética Erística?
    Te mandarei a foto hoje a noite.

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    Comentário por Doce de Caju — 13 de junho de 2014 @ 12:41

    • Nem é artigo ainda, bebê gostoso. O artigo está ainda sendo escrito, agora que terminei as anotações do Górgias. Agora estou misturando com anotações que fiz do Contra os Retóricos, do senhor Sexto Empírico. Quando o professor der a nota pro meu trabalho, aí, sim, colocarei aqui um artigo conciso. Acho que qualquer coisa erística precisa ser tomada com muita cautela.

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      Comentário por Yure Kitten — 13 de junho de 2014 @ 16:33


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