Pedra, Papel e Tesoura

30 de maio de 2015

Anotações sobre “A Tranquilidade da Alma”.

“A Tranquilidade da Alma” foi escrito por Sêneca. Abaixo, algumas afirmações feitas no texto. Elas não são citações. Perguntas podem ser feitas nos comentários.

  1. Se você se sente tentado, é porque está despendendo esforço para resistir.
  2. Boas intenções podem se colocar entre você e a virtude.
  3. Você está tranquilo quando não tem nenhum problema pra resolver no momento.
  4. Buscar a tranquilidade é buscar o sossego, no qual não há sofrimento, mas também não há fortes alegrias.
  5. É necessário desejar pouco.
  6. Se você tem muitos desejos, se frustrará com mais frequência.
  7. Você não obterá a felicidade sem antes ficar satisfeito consigo próprio.
  8. Aprenda a tolerar quando necessário.
  9. Seja útil a si mesmo e aos outros.
  10. O universo é sua pátria.
  11. É necessário equilibrar atividade e repouso.
  12. Mesmo quando mudos, podemos ensinar pelo exemplo.
  13. Trabalhe no que lhe dá prazer.
  14. Não se comprometa com o que não pode fazer.
  15. Os males causados pela riqueza são piores que todos os outros males.
  16. É melhor nunca ter sido rico do que perder sua fortuna.
  17. Se dinheiro fosse tão bom, Deus teria.
  18. As únicas dívidas que se deve ter são as dívidas para com nós mesmos.
  19. Não seja apaixonado por dinheiro, o que não implica não ter nenhum dinheiro.
  20. Não deveríamos comprar coisas pela sua aparência, mas pela sua utilidade.
  21. Coma quando tem fome, não por prazer.
  22. Não compre livros se não for lê-los.
  23. É imoral ostentar livros que não lemos.
  24. O que caracteriza o vício é o excesso.
  25. Acontecimentos ruins fazem parte da vida.
  26. Só se desespera quem quer.
  27. Evite as grandes ambições para evitar grandes decepções.
  28. O sábio não se inquieta em frente à sorte.
  29. Se você aceitar que vai morrer, pode aceitar qualquer coisa.
  30. É inútil se revoltar contra aquilo que não depende de nós.
  31. Seja pessimista, nunca espere que algo dará certo depois de tentar.
  32. Não se esqueça que o que acontece de ruim a alguém pode acontecer com você.
  33. Não tente fazer algo que não vale a pena ou que provavelmente não dará certo.
  34. Triste quando uma pessoa tem vontade de fazer alguma coisa, mas não sabe o que gostaria de fazer.
  35. Fofoca é vício.
  36. Não prometa.
  37. Tudo tem um lado bom.
  38. É possível encarar os problemas com bom humor.
  39. Quando uma desgraça acontecer, você não precisa reagir como os outros.
  40. Não é preciso se sentir mal por alguém que não sofre com o que lhe acontece.
  41. Omitir não é mentir.
  42. A solidão nos restaura as forças.
  43. Trabalhe, mas também divirta-se.
  44. Trabalhar demais prejudica a produtividade.
  45. Termine o que começou.

25 de maio de 2015

Anotações sobre a “Carta a Meneceu”.

“Carta a Meneceu” foi escrita por Epicuro. Abaixo, algumas afirmações feitas nesse texto. Elas não são citações, mas paráfrases, e não necessariamente refletem minha opinião sobre o assunto.

  1. Os jovens devem filosofar.
  2. Se estamos felizes, é como se tivéssemos tudo, mas, se estamos infelizes, fazemos de tudo para sermos felizes.
  3. A morte não é preferível à vida, mas, se bem e mal residem nas sensações, então a morte, se é ausência de sensação, não é algo tão ruim.
  4. Aceitar a morte como um sono igual aos sonos que temos cotidianamente permite a fruição plena da vida, porque não dá pra viver plenamente tendo medo da morte o tempo todo.
  5. A morte chega quando já “não estamos” e, quando estamos, é ela quem não está (normalmente perdemos a consciência antes do corpo parar de funcionar).
  6. Não é porque temos de aproveitar a vida que o faremos irresponsavelmente.
  7. O futuro é feito de probabilidade: sempre podemos, com nossas ações, maximizar nossas chances de que algo bom aconteça.
  8. Prazer e dor são os princípios motrizes da ação humana.
  9. Devemos perseguir os prazeres que compensam, isto é, aqueles cuja fruição não nos leva a uma dor maior que o prazer.
  10. Para devastar uma pessoa, permita que ela seja rica por um ano e então, subitamente, tire tudo dela.
  11. A comida mais sem graça é muito gostosa na boca de alguém mortalmente faminto.
  12. É necessário abdicar de buscar os maiores prazeres da vida, que são os mais frívolos, porque viver modestamente nos treina para não sucumbir aos cuidados com a riqueza e nos permite tolerar com mais dignidade a pobreza.
  13. Os prazeres naturais e necessários podem ser buscados sempre; os prazeres naturais, mas não necessários, só devem ser buscados se o benefício compensa o risco de arrependimento; os prazeres artificiais devem ser evitados.
  14. A prudência é a mais alta das virtudes.
  15. Não existe destino.

24 de maio de 2015

O que aprendi da “Ética a Nicômaco”.

“Ética a Nicômaco” foi escrita por Aritóteles. Abaixo, algumas coisas que eu aprendi sobre esse texto.

  1. Todas as ações visam um bem.
  2. O fim alcançado pelo estado é mais belo, por beneficiar aos súditos também.
  3. Mas a política não é ciência exata e a busca pelo bem da cidade é um estudo proximal.
  4. A política é ação, prática.
  5. Bem agir e bem viver coincidem com felicidade.
  6. Para a maioria das pessoas, vive bem e age bem quem procura e encontra o prazer, ou seja, para essas pessoas, felicidade é prazer.
  7. A busca pela honra é uma busca difícil, porque honra é algo que depende mais de quem reconhece o outro como honrado e não tanto de quem procura a honra.
  8. A vida virtuosa não necessariamente traz felicidade.
  9. O dinheiro é apenas útil e é perseguido em nome de um fim maior.
  10. Há várias ciências que tratam do bem.
  11. Os bens particulares não diferem muito do bem em si.
  12. Se não houvessem bens particulares, não haveria sentido em conceber o bem em si, já que ele não poderia explicar nada.
  13. As ciências tentam alcançar o bem, mas não são elas que explicam o que é o bem.
  14. Isso porque as ciências visam fins específicos.
  15. O bem de cada ciência é o fim que ela visa.
  16. O bem é aquilo que procuramos sem ser em vista de outra coisa, por isso dizem que o dinheiro não traz felicidade: o dinheiro é usado para obter outra coisa que talvez lhe traga felicidade.
  17. Aristóteles começa suas reflexões usando opiniões correntes porque, se uma das opiniões se mostrar verdadeira, ajudará bastante.
  18. Quem quer alcançar a felicidade pela virtude precisa praticá-la.
  19. A felicidade é um estado da alma alcançado por aqueles que se aproximam daquilo que amam.
  20. Como pode ser feliz mais facilmente aquele que dispõe dos meios, há quem diga que obter felicidade também é questão de sorte.
  21. A virtude é ensinável.
  22. Uma felicidade obtida com o próprio esforço é melhor que uma felicidade obtida com sorte.
  23. Se felicidade é um tipo de atividade, ninguém é feliz depois de morto.
  24. Porém, existem os que sustentam que não existe felicidade, mas “momentos felizes”, no sentido de que a felicidade não tem caráter estável porque a própria pessoa não o é.
  25. Mas a felicidade obtida pela virtude é estável, porque ações virtuosas tem resultados de longa duração.
  26. A pessoa feliz não é imune ao azar, mas a forma como ela lida com o azar faz sua felicidade permanecer ou não.
  27. A virtude permite lidar melhor com infortúnios.
  28. Se felicidade é ação, então a pessoa virtuosa será feliz se praticar o bem.
  29. A felicidade do virtuoso é estável porque não serão pequenos acidentes que o deixarão infeliz.
  30. A felicidade pessoal também depende da felicidade dos amigos e dos parentes.
  31. A virtude se ensina pelo hábito.
  32. Todas as virtudes, tal como as artes, são adquiridas pela prática.
  33. A forma como alguém age em determinada circunstância o faz bom ou mal em algo.
  34. A boa ação frente a algo é uma ação comedida, equilibrada: se você foge de tudo, é um covarde, mas se não foge de nada é um imprudente.
  35. Coisas nobres e vantajosas também se apresentam como agradáveis, prazerosas, enquanto que coisas vis e prejudiciais se apresentam como dolorosas.
  36. Não é possível ser bom sem prática.
  37. A teoria de que a virtude não é ensinável torna os filósofos adeptos conformados.
  38. Platão deixou a definição de virtude em aberto, mas diz que ela é fruto de uma feliz opinião que vem de algum lugar, mas Aristóteles diz que a virtude é uma de três coisas: disposição de caráter, faculdade mental ou paixão.
  39. Virtudes têm a ver com escolhas.
  40. A virtude é disposição de caráter, mas, para Aristóteles, disposições de caráter não são inatas.
  41. A virtude humana é aquilo que nos torna bons ou que nos permite fazer bem nossa função.
  42. A virtude visa o meio-termo.
  43. Porém, isso é numa situação em que a pessoa pode dar-se ao excesso, dar-se à falta ou escolher o meio-termo (não existiria a “virtude de não fumar cigarro” porque não existe meio-termo saudável nessa prática).
  44. Virtude não é o fim das emoções, mas a sua condução correta.
  45. Isso não é válido somente para as emoções, mas também à ações.
  46. Mas isso significa que ser virtuoso é difícil: acerto é um só, mas existem vários jeitos de errar a medida.
  47. Virtude aristotélica numa meia-concha: disposição de caráter relativa a escolha e que consiste na medida correta, que deve ser avaliada segundo cada caso e requer sabedoria prática.
  48. As proposições gerais precisam estar em harmonia com casos particulares.
  49. As pessoas que manifestam vícios julgam que os virtuosos são viciosos.
  50. A virtude é o meio-termo entre dois vícios, um por carência e o outro por excesso.
  51. Para achar a medida certa ou se aproximar dela, devemos ir na direção do extremo que parece ser o menos danoso.
  52. É menos digno de censura aquele que peca sem querer.
  53. Não é voluntária a ação cometida por ignorância ou por compulsão.
  54. Algumas ações voluntárias podem ser involuntárias dependendo do ponto de vista.
  55. Ações feitas por ignorância merecem perdão.
  56. Ação voluntária é aquela praticada pelo indivíduo, de sua vontade e não coagido por força maior, que está completamente ciente do que está fazendo.
  57. Não podemos culpar nossas emoções por algo que praticamos.
  58. Desejo e escolha são coisas diferentes.
  59. As escolhas não podem se basear em opiniões, mas em juízos sólidos de bom ou mau.
  60. Só que o juízo de bom ou mau varia de pessoa para pessoa.
  61. Mas pode-se dizer que escolha é a decisão com base em princípios racionais entre duas ou mais opções.
  62. Deliberações são feitas sobre coisas que estão ao nosso alcance e que podem ser realizadas.
  63. Não é possível deliberar sobre nossas funções ao mesmo tempo que exercemos essas funções: um cientista, durante suas pesquisas, não deveria parar para se perguntar se aquilo é o que ele deveria estar fazendo.
  64. Porém, durante o exercício da função, na qual os fins não são questionados, os melhores meios para alcançar o fim ainda são motivo de deliberação.
  65. Dá pra deliberar sobre nossos fins quando todos os meios de chegar a ele falham.
  66. Não se delibera sobre o que parece óbvio.
  67. Em geral, queremos o bem, mas cada pessoa, em particular, julga bom aquilo que lhe parece bom.
  68. Muitas condições ruins que nos levam a agir malignamente poderiam ser evitadas.
  69. O medo é a antecipação de algo ruim.
  70. Existem coisas que devemos temer.
  71. Existem coisas que só se devem temer em certas situações.
  72. Existem coisas que não devem ser temidas mais que o necessário.
  73. Existem coisas que não devemos temer.
  74. Alguns “corajosos” são movidos por medo de penas ou medo da vergonha.
  75. A coragem é aquela que não vem da coação.
  76. A paixão (emoção) auxilia a coragem.
  77. O bravo está ciente do perigo, mas o otimista supõe que não haja perigo ou que este seja irrisório.
  78. A coragem é mais evidente quando mais próxima do vício do medo, ficando entre a covardia e o excesso de confiança, mas é mais fácil reconhecer o corajoso em situações que inspiram medo e não nas que normalmente inspiram excesso de confiança.
  79. É mais fácil se abster do que é bom do que suportar o que é doloroso.
  80. Intemperança é “mais voluntária” que a covardia.
  81. O pródigo se arruína porque não julga seus bens com a devida medida, gastando em excesso e dando em excesso.
  82. Liberalidade é doar na medida certa, sem ser pródigo, nem avarento.
  83. Ninguém pode ser rico sem esforço, pois mesmo o que nasceu rico, se não se esforçar em manter a riqueza, ficará pobre.
  84. O pródigo ainda é mais útil que o avaro.
  85. A magnanimidade é a “coroa das virtudes”: ressalta as virtudes que já temos e não existe sem um conjunto de outras virtudes.
  86. Magnanimidade é ter para si o devido valor como pessoa.
  87. Aqueles que pecam pelo excesso de raiva, contra-atacam imediatamente, de forma que sua raiva não permanece por muito tempo.
  88. É possível também pecar por desejo de agradar.
  89. Enquanto a modéstia é recusar um elogio que vem, a falsa modéstia é negar as capacidades que possui.
  90. Há meio-termo também nas piadas.
  91. É possível conhecer algo pelo estudo de seu oposto: quando estudamos hábitos saudáveis, logo descobrimos que hábitos não são saudáveis, apesar de não tê-los como objeto de estudo inicial.
  92. O justo é honesto e obediente às leis.
  93. A justiça é escritora.
  94. A justiça é a virtude completa, na qual estão compreendidas todas as virtudes.
  95. O injusto lucra com atos vis.
  96. O trabalho do juiz é, pela pena, igualar perdas e ganhos entre ofensor e ofendido.
  97. Os pitagóricos definiam justiça como reciprocidade.
  98. A justiça deve levar em conta vários fatores para determinar perdas e ganhos.
  99. O dinheiro foi feito para facilitar a transação de objetos e de serviços.
  100. O que torna o dinheiro valioso somos nós; o dinheiro não tem valor intrínseco.
  101. O que faz os preços aumentarem ou diminuírem é a procura.
  102. O valor do dinheiro é inconstante, mas mais estável que o valor dos próprios objetos.
  103. Existem ações injustas e pessoas injustas. Roubar uma vez não te torna ladrão. Então, embora, ações injustas sejam injustas sempre, a pessoa que comete um ato injusto não necessariamente é injusta.
  104. Quando um governante passa a arrogar para si aquilo que ele não merece e, por isso, começa a agir injustamente, ele acaba se tornando um tirano.
  105. Existem leis naturais e existem leis humanas. As humanas são mutáveis, enquanto as naturais não mudam.
  106. O que torna o praticante de uma ação injusta uma pessoa injusta é a voluntariedade. Se a pessoa fez, de boa vontade, um ato injusto, ciente de sua injustiça, ela é injusta, por que fez, de propósito, o que sabia ser errado.
  107. Quando injusto acontece, mas vem de uma fonte externa, temos um infortúnio. Se algo injusto acontece e somos a causa disso, mas por ignorância, temos um engano. Se algo injusto acontece, sabemos que é injusto, mas não fizemos de propósito, temos um ato injusto que não torna o praticante uma pessoa injusta. Se algo injusto acontece, sabemos que é injusto, nós somos a causa e fizemos de propósito, temos um ato injusto que nos caracteriza como injustos.
  108. Pode alguém aceitar ser vítima de uma injustiça e sê-la voluntariamente?
  109. Não é possível sofrer injustiça voluntariamente, isto é, se colocar na posição paciente enquanto alguém pratica um dano contra você.
  110. É possível ser injusto consigo próprio.
  111. Existem coisas que são impassíveis de ser explicadas universalmente.
  112. Quando exceções à regra são descobertas, o indivíduo pode permitir-se ajustar a regra.
  113. Se a universalidade de uma lei é contestada, ela precisa de ajustes.
  114. Existem três guias da ação: sensação, razão e desejo.
  115. A origem da ação é a escolha, motivada pelo desejo e feita pela razão.
  116. Existem cinco manifestações da verdade: técnica, ciência, sabedoria prática, filosofia e razão intuitiva.
  117. Aristóteles já distinguia indução da dedução (silogismo).
  118. Os pressupostos usados no silogismo devem vir da indução.
  119. Os primeiros princípios são apreendidos primeiro pela razão intuitiva.
  120. A sabedoria é o conhecimento mais perfeito.
  121. Se o gênero humano não é a melhor coisa do mundo, qualquer ciência que trate das pessoas não é a melhor que existe.
  122. Sabedoria geral e sabedoria prática não necessariamente coincidem.
  123. A sabedoria filosófica trata das coisas mais gerais (do que é “certo”), enquanto que a sabedoria prática trata das coisas particulares (do que é “vantajoso”).
  124. A sabedoria filosófica é conhecimento científico combinado com razão intuitiva.
  125. A razão do filósofo não ser visto como alguém lá muito útil é simples: ele não busca o conhecimento dos seres humanos para os seres humanos se não acidentalmente, porque está preocupado com o conhecimento das coisas maiores.
  126. A sabedoria prática é preferível à sabedoria filosófica, porque auxilia na resolução dos problemas mais iminentes: não tem muito juízo quem se preocupa com coisas mais intelectuais sem ter resolvido questões como alimentação, trabalho e abrigo antes.
  127. A sabedoria prática não versa apenas sobre os universais.
  128. A deliberação boa não necessariamente produz o bem, porque se pode deliberar como obter um fim que é mau.
  129. A razão parece transformar predisposições à coragem, temperança e outras em virtudes de fato.
  130. As virtudes envolvem sabedoria prática.
  131. O exercício da sabedoria prática leva a pessoa a colecionar todas as virtudes.
  132. Existem três tipos de moral que devem ser evitadas: vício, incontinência e rudeza.
  133. O contrário do vício é a virtude e o da incontinência é a continência.
  134. Continência (refrear desejos presentes) não é o mesmo que temperança (não desejar o que é ruim).
  135. O conhecimento não necessariamente impede alguém de praticar o que é errado: podemos saber que é errado agredir alguém e ainda o fazer durante um acesso de ira.
  136. Pode haver excesso mesmo nas coisas boas.
  137. Porém, se praticamos o excesso de algo bom, somos incontinentes em relação àquilo e não incontinentes em sentido absoluto.
  138. Não se aplica o nome “incontinente” à pessoas que sofrem de algum mal congênito ou que estão sob condições mórbidas, porque o controle estaria completamente além de suas forças.
  139. A incontinência em relação à cólera é menos vergonhosa porque a cólera só se mostra quando nos reconhecemos como ofendidos.
  140. A incontinência em relação aos apetites é mais vergonhosa porque ela é espontânea: a cólera só acontece por um motivo externo, mas você não precisa de um motivo externo para querer comer um pudim fora de hora, não precisa nem mesmo estar com fome, bastaria lembrar de que é bom e o desejo viria.
  141. Além disso, a raiva é algo que acomete a todos, enquanto que o desejo por coisas como glória, fama, tipos específicos de comida não acomete a todos.
  142. A cólera é mais justificável por tentar sanar uma dor, enquanto outros excessos não visam sanar dor alguma, mas apenas obter mais prazer.
  143. A razão também é fonte de maldade.
  144. É necessário se arrepender para mudar.
  145. O intemperante não resiste às pulsões que a maioria resiste, enquanto que o incontinente cede à pulsões que a maioria não resistiria.
  146. O incontinente tem desejo ou tem desejo forte, mas não é capaz de dominar-se.
  147. O intemperante é pior, porque tem vontade fraca, então imagine se ele tivesse uma boa razão para ser ruim ou se ele estivesse sob um desejo que é humanamente extenuante, como no caso do incontinente: ele seria capaz de um mal maior do que o incontinente, que faz algo errado por ter desejos verdadeiramente fortes.
  148. O intemperante é “incurável”, porque prefere ouvir o corpo e não a razão.
  149. Mas só é incontinente aquele que cede ao que é vergonhoso.
  150. O intemperante prefere ouvir o corpo em lugar da razão, por isso faz o que faz.
  151. O incontinente sabe que deve ouvir a razão, mas não pode evitar transgredi-la.
  152. A contemplação é um prazer que não envolve apetite nem dor.
  153. O prazer não é processo, mas fim.
  154. Algo não é ruim só porque é buscado por tolos.
  155. Bondade não necessariamente traz felicidade.
  156. A amizade parece justificar a vida: não vale a pena viver sem amigos.
  157. Os ricos e poderosos são os que mais precisam de amigos, porque gastar só consigo mesmo não é o bastante.
  158. Os ricos também precisam de amigos porque é mais difícil defender sozinho uma grande riqueza.
  159. O ser humano não é o único capaz de sentir amizade.
  160. A amizade é produtiva porque multiplica a capacidade de ação e de pensamento.
  161. Amamos aquilo que nos parece bom.
  162. Os amigos amam-se um ao outro.
  163. Amizade é benevolência recíproca entre pessoas que conhecem os sentimentos um do outro.
  164. Existem pessoas que amam a outra pela sua utilidade prática: quando a pessoa cessa de ser útil, cessa o amor por ela.
  165. Existem pessoas que amam a outra pelo prazer que proporcionam, mas esse amor também não necessariamente é durável.
  166. A amizade verdadeira requer que a pessoa queira bem também ao outro, de forma que esta difere das outras formas de amor por não apenas tomar utilidade, mas também oferecê-la, tal como prazer.
  167. Esse tipo de amizade continua enquanto as duas partes forem boas e a bondade é algo durável.
  168. A amizade verdadeira é rara como as próprias pessoas boas e requer tempo para se estabelecer.
  169. A distância interrompe as atividades da amizade, mas não necessariamente a mata.
  170. Procuramos amigos agradáveis, mas não necessariamente o amigo agradável é bom (amizade falsa).
  171. É possível se deleitar em amar sem ser amado de volta.
  172. A amizade é pautada no amor.
  173. O amor platônico como desejo daquilo que não se tem é criticável: amar alguém porque ela tem uma qualidade que reconhecemos como boa e que nós não temos é um tipo de interesse.
  174. Diferentes comunidades parecem ter diferentes tipos de amizade.
  175. Três tipos de governo: monarquia, aristocracia, a moda de Esparta.
  176. Os tipos de governo podem ser encontrados na família: os irmãos são democráticos entre si, mas submissos ao mando do pai, que forma uma aristocracia com a mãe.
  177. Num sistema de governo, a amizade é possível quando há justiça.
  178. É possível ser amigo de um escravo enquanto ele não está sendo mandado.
  179. Casais com filhos não se divorciam facilmente.
  180. A amizade pautada na utilidade é a que comporta mais queixas.
  181. A amizade não é um comércio.
  182. Quando não podemos saldar uma dívida com um amigo, é nobre que demos o nosso melhor em saldar o que pudermos.
  183. A proporção preserva a amizade.
  184. Permitir que o consumidor escolha o preço da mercadoria evita queixas.
  185. O comprador julga algo segundo o valor que ele pensa que aquela coisa tem, não seu valor depois de comprada.
  186. Só é possível amar o que se afigura bom.
  187. Não é possível amar o que se afigura mau.
  188. Quando nosso amigo se torna mau, não deveríamos romper com ele imediatamente, mas tentar trazê-lo à bondade novamente.
  189. Antigos amigos ainda podem ser tratados com mais respeito que os desconhecidos.
  190. Quem não ama a si mesmo, julga não ter nada de amável em si.
  191. O início da amizade da mais elevada espécie é a benevolência.
  192. O benévolo ama fazer bem aos outros, como se os outros fossem suas “obras”.
  193. Existem duas formas de amor a si mesmo: o amor que procura dar-se prazer e o amor que procurar se aperfeiçoar.
  194. Se a felicidade é atividade, mesmo o que se basta, o sumamente feliz, precisa de amigos aos quais fazer bem, para manter a felicidade.
  195. Perceber que estamos vivos é “perceber que percebemos” ou que pensamos.
  196. Amizade é condição de possibilidade da felicidade: não é possível ser feliz sozinho.
  197. “Medida certa” não precisa ser algo fixo, mas algo que fique entre duas coisas fixas.
  198. Não devemos ter um grande número de amigos, porque isso prejudica a intimidade.
  199. A educação dos jovens era feita com os “lemes” do prazer e da dor.
  200. O prazer é um bem em si mesmo.
  201. Prazeres que os são para pessoas ruins não são prazeres para pessoas boas.
  202. O prazer depende da pessoa.
  203. Como não podemos nos dedicar continuamente, com a mesma intensidade, a uma atividade, não podemos estar sempre contentes.
  204. Parece que existem diferentes tipos de prazer que atraem de forma diferente diferentes tipos de pessoa.
  205. Gostar daquilo que fazes te torna produtivo naquilo.
  206. Quando tentamos prestar atenção em duas coisas, a que é mais prazerosa toma mais atenção.
  207. Se a felicidade não fosse atividade, bastaria estar deitado para ser feliz.
  208. Felicidade é fim em si mesma: ninguém se pergunta “por que quero ser feliz?”
  209. A função da recreação e do divertimento era nos refrescar antes de voltarmos à labuta.
  210. A vida conforme a razão é a mais feliz.
  211. Os atos virtuosos parecem depender de oportunidades para acontecer.
  212. Não é necessário ter muitos bens para ser feliz.
  213. É a prática que faz a profissão, nunca somente o estudo.

20 de maio de 2015

Como consertei o som do LMDE.

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SoFurry – The furry creativity home.

Depois de atualizar o LMDE1 para o LMDE2, comecei a experimentar um problema muito irritante: o som das minhas caixas de som havia desaparecido. Procurando soluções online, vi que eu podia redirecionar o som para as caixas de som utilizando o pavucontrol. O pavucontrol (Controle de Volume do Pulseaudio) denuciou que, depois da atualização, o som estava sendo enviado para os fones de ouvido, os quais não existiam, logo não havia som. Redirecionei o som usando o pavucontrol e tudo deu certo…

Até que eu tive que encerrar a sessão e voltar, apenas para ver que o problema estava ali novamente. Procurei soluções por dois dias, mas sem sucesso. Então eu tive que raciocinar. Em algum momento, eu quebrei o som completamente, de forma que nem o pavucontrol resolvia. Então entrei em outra conta e verifiquei se o problema acontecia lá também. Não acontecia. Então, o problema era relativo à minha conta, o que é uma pista e tanto! Isso significa que o problema residia em algum arquivo de configuração no meu diretório pessoal.

Existe um diretório oculto na pasta pessoal chamado .config, onde ficam os arquivos de configuração, inclusive, do Pulseaudio. Por alguma razão, esses arquivos de configuração estavam sendo reescritos a cada início de sessão. Eu já tive um problema parecido. Seguinte:

  1. Vá ao diretório pessoal.
  2. Aperte Ctrl+H, isso mostrará os diretórios e arquivos ocultos.
  3. Entre em .config.
  4. Apague o diretório pulse dentro de .config.
  5. Encerre sua sessão.
  6. Entre novamente.
  7. Chame o Controle de Volume do Pulseaudio.
  8. Direcione o som para as caixas de som. Isso irá criar um arquivo de configuração correto no diretório de configuração, mas ainda precisamos impedir que ele seja reescrito.
  9. Volte para ~.config/pulse.
  10. Altere as permissões de todos os arquivos lá dentro, de forma que apenas o proprietário tenha permissões de escrita sobre eles (isso é feito pelas propriedades do arquivo, acessíveis pelo menu de contexto).
  11. Volte para ~.config.
  12. Mude as permissões do diretório pulse, para que ele também fique somente leitura.
  13. Mude as permissões do pavucontrol.ini, um arquivo também naquele diretório, para somente leitura.
  14. Encerre sua sessão.

18 de maio de 2015

Poxa, que bom que isto aconteceu.

Filed under: Computadores e Internet — Tags:, , , — Yure @ 00:49

apt dist-upgrade

via Upgrade from LMDE 1 to LMDE 2 – Linux Mint Community.

Eu estava aqui me lamentando porque não havia saído a atualização do Linux Mint Debian Edition para a versão dois e, quando fui checar na Internet, vi que a atualização havia sido lançada ontem. E vi isso nas primeiras horas do dia (literalmente na primeira hora). Estou fazendo a atualização neste instante. De repente, meu sono se foi.

Como se não bastasse esse ser talvez o meu penúltimo semestre na faculdade, meu amigo de infância ter se mudado para perto de mim, eu ter levado meu PC para manutenção e tê-lo recebido novo em folha, ainda recebo a maravilhosa notícia de que meu sistema operacional já é elegível para uma tremenda atualização. Que excitante! Vejamos se é bom como nos filmes.

O que se pode esperar é que o Linux Mint Debian Edition agora seja baseado em Debian Stable, mas com as atualizações de componentes-chave ocorrendo constantemente. Isso significa que nós, usuários de Debian Edition, somos como que porquinhos da Índia ou cobaias. Certos aplicativos serão nos dado ainda em fase de testes e isso me deixa alegre; usar a versão mais recente de programas como o Cinnamon, mas sem abdicar da estabilidade de programas do repositório do Debian Stable me equilibra entre o novo e incerto e o velho, mas seguro. Quando Debian Stable for atualizado, eu receberei a atualização imediatamente também e eu gosto de ter a versão estável mais recente. Me anima que essas atualizações possam vir automaticamente sem que eu tenha que escolher (porque minha escolha sempre é sim e eu não podia automatizar essas escolhas).

8 de maio de 2015

Manual do cristão.

Filed under: Livros, Saúde e bem-estar — Tags:, , , — Yure @ 16:06

Preguiça de pensar e medo de errar. As pessoas que vão para igrejas muitas vezes sofrem de um dos dois problemas, talvez até dos dois. Permitindo que um padre ou pastor interprete a linguagem divina por eles, eles podem se dar ao luxo de simplesmente seguir aquilo que ele diz, se poupando de um esforço de leitura e hermenêutica que poderia não apenas treinar suas mentes, mas também desenvolver uma relação mais pessoal com o divino. Por outro lado, elas têm medo de que, fazendo isso, sejam mais propícias ao erro do que aqueles que já fazem isso há muito tempo. Então, resolvi compilar versículos dos evangelhos que trazem a moral cristã. Essa compilação traz as leis que foram repassadas por Jesus, poupando a pessoa de ter de caçar esses textos em meio às páginas bíblicas. Porém, não elimina a necessidade de interpretação. Aliás, a moral cristã é simples, não precisa ser um estudioso para entender esses versos. Então, espero que com isso as pessoas vejam que o conteúdo moral bíblico não é difícil e que, assim, elas não precisam de um líder religioso que lhes diga o que é certo e o que é errado. Bastaria ler. E, justamente por sua simplicidade, a chance de errar na hora de interpretar é muito baixa.

Mas aí vem a pergunta: por que apenas os evangelhos? As Bíblias protestantes, em geral, tem sessenta e seis partes, contando livros e cartas, mas existem Bíblias de até oitenta e uma partes, que, inclusive, levando em consideração também a Septuaginta, divergem até em número de capítulos por livro. E não apenas cristãos têm suas dúvidas: muitas críticas feitas por judeus caem sobre a Septuaginta, acusada de pobre e de fazer adições indevidas ao Antigo Testamento. E ainda tem o evangelho segundo Allan Kardek e o Livro de Mórmon. Logo, a minha escolha de crer somente nos evangelhos como norma de conduta moral não tem menor mérito em relação a qualquer outra escolha: estamos todos perdidos aqui.

Mas ainda preciso justificar minha escolha em particular de usar apenas quatro livros para orientar minha conduta religiosa. Bom, se todo cristão acredita nas palavras de Jesus, então acredita que ele é o caminho, a verdade, a vida e que ninguém vai ao Pai se não por ele.1 Ele é o único caminho e sua doutrina está nos evangelhos. Então me parece seguro que aquele que ama Jesus guarde seus mandamentos.2 Por outro lado, isso não significa que os outros ensinos bíblicos estão errados. Então não há necessidade de jogar fora nem a Bíblia de sessenta e seis livros, nem a de oitenta e um, mas deveria haver um interesse em analisar tantos livros quanto for possível e “pescar” deles o que quer que esteja em consonância com o que foi passado por Jesus.3 Especialmente porque ter vida eterna requer conhecimento sobre Deus, o que requer estudo e leitura, não apenas oração.4 Começar pelos evangelhos é crucial, porque eles contém a moral e as normas de conduta. Depois de lidos os evangelhos, recomendo a lida dos Atos dos Apóstolos, das epístolas de Paulo e das revelações do Apocalipse, que são também relevantes ao cristão. Depois, ler o Antigo Testamento, para reforçar a fé e compreender a tragetória judaica até a vinda do Messias, além de verificar que profecias foram cumpridas.

Justificada minha escolha, voltemos à compilação. A seguir, temos os ensinamentos passados às pessoas por Jesus enquanto ele estava na Terra. Então, se você gostaria de saber se está fazendo tudo certinho, continue lendo e avaliando seu comportamento. Se você sente falta dos ensinamentos feitos em outros livros da Bíblia, poderá lê-los por conta própria, tanto em Bíblias de fato, quanto em Bíblias online. Nunca foi tão fácil ter acesso às escrituras como hoje, então faça uso dessas novas tecnologias se você se sentir forte e hábil. Ou pode continuar usando Bíblias físicas, já que nem sempre se pode usar o computador e livros são mais fáceis de levar. Mas, caso a minha introdução te tenha deixado em dúvida sobre a validade dos outros livros, lembre que eles são seguros na medida em que concordam com o que foi dito por Jesus. E o que ele disse, moralmente, é o que copiei abaixo. Lembre-se que seguir essas regras perfeitamente nos torna mais próximos de Deus e que Jesus nos recompensará segundo nossas práticas.5

Provavelmente, a primeira moral a ser apresentada nos evangelhos é “não tenterás o Senhor.”6 Isso significa não colocar Deus à prova. Em outras palavras, não devemos testar para saber se Deus está ali ou não, mas assumir que ele está, sem ao mesmo tempo abusar de sua presença. Na medida do possível, devemos procurar resolver nossos problemas por contra própria, recorrendo a Deus em momentos trágicos, isto é, quando algo ruim e inevitável nos acontece, sem que tenhamos forças para nos recuperar. Isso não significa se aproximar de Deus somente quando o pior acontece, mas também para agradecer, como se verá depois, nas considerações sobre a oração.

A segunda moral é a de adorar apenas um Deus, que é este Deus, cujo nome está além da pronúncia (YHWH, que alguns traduzem como Javé, Iavé ou Jeová).7 Por “adoração” deve-se entender o culto e por “culto” deve-se entender rituais, preces, sacrifícios e todos os comportamentos normalmente dispensados às religiões. Algumas igrejas consideram culto também comportamentos obsessivos sobre coisas fúteis, como ídolos da mídia e bens materiais. Poderíamos, então, por extensão, também considerar culto o amor às coisas do mundo físico quando esse amor supera o amor que temos por Deus. Mas os critérios para avaliar o amor que sentimos é muitas vezes subjetivo. A pessoa talvez precise de um companheiro que possa prover um julgamento externo sobre a conduta, de forma que o erro, se presente, fique mais evidente, o que não implica uma relação de hierarquia (salvo quando o batismo for requisitado, porque ainda deve haver uma relação de hierarquia entre batizador e batizado).8

Como prêmio por essas condutas, temos a salvação, que é mais precisamente definida como “vida eterna”. Essa é uma salvação que pertence aos mansos, aos misericordiosos e aos justos.9 Mas “justiça” é um termo cuja a interpretação varia. Após uma lida nos evangelhos, vê-se que o conceito de justiça normalmente é invocado quando Jesus dá algum sermão sobre os fariseus. Os fariseus eram um grupo judaico que lucrava com a adoração dos fiéis, mas que quebravam às escondidas as leis que eles exigiam que o povo cumprisse. Então, ao mesmo tempo, eles eram hipócritas e obtinham para si uma quantidade desproporcional de lucro. O conceito de justiça é relacionado ao de proporção, algo presente no conceito de justiça de muitos de nós. Então, talvez, o conceito de justiça seja o de proporção lícita. Não devemos ter para nós mais que o devido, de forma que o nosso enriquecimento empobreça outrem, tal como deveríamos dar a alguém o devido respeito (por exemplo, devemos amar a Deus sobre todas as coisas porque ele nos criou e adorá-lo mais que a qualquer outro ser é nada menos que justo, pois ele recebe assim o devido respeito) ou ajudá-lo em sua necessidade, para que estabeleçamos harmonia entre ele e sua condição, isso parece ser a justiça. Se praticamos bem ao próximo, então estamos agradando a Deus e, negando o bem ao outro, não estamos trabalhando para a justiça e estamos o desagradando. É como se aquilo que fazemos pelo próximo fosse feito ao próprio filho de Deus. Se fazemos bem, é a ele que fazemos bem.10 Logo, justiça pode ter a ver com medida, harmonia e proporção, tanto material como moral. Da mesma forma, não devemos exigir dos outros o que não exigimos de nós mesmos. Se isso parece confuso, você pode considerar como justiça divina as ordens que devemos seguir. Continue lendo.

Já que Deus nos criou e merece nosso respeito, lhe devemos obediência. E isso inclui obedecer a regras que, aparentemente, proibem coisas inócuas. Por exemplo, o repúdio da mulher sem razão sexual.11 Hoje, o divórcio acontece com frequência, mas Jesus diz que não deveríamos nos separar a menos que um dos parceiros tenha praticado algum sexo ilícito. Talvez seja porque, naquela época, a separação implicava esse tipo de infração, logo as pessoas separadas eram vistas de forma diferente, talvez com desprezo. Então, se separar sem a devida razão atrairia para o separado uma má fama que lhe era injusta, isto é, indevida. Muitos discordarão disto e talvez se levante a pergunta: “qual seria a razão de proibir o divórcio sem razão sexual hoje?”. Eu não tenho ideia, mas, se Deus mandou e eu lhe devo obediência, só posso concordar. Talvez haja uma razão que eu venha a descobrir no futuro ou talvez Deus tenha razões que eu, como ser humano, não entenda.12

A moral seguinte é a dos juramentos. Nós não podemos fazer juramentos de forma alguma, nem por nós mesmos (porque poderíamos quebrá-los, o que nos culpabilizaria) nem pelos outros (porque isso é falar em nome de alguém que não consentiu e poderia lhe permitir a ferir a honra da pessoa pela qual você jurou). É mais seguro não jurarmos de forma alguma para diminuir nossas chances de desonra.13 Assim, devemos responder com sim ou não, em vez de juro que sim ou prometo que não.14

A próxima moral é a da resistência à injustiça. Embora possamos evitar sermos vítimas de injustiças pela ação sábia, não deveríamos revidar injustiças cometidas contra nós.15 Na verdade, deveríamos amar aqueles que nos ofendem dessa forma (aliás, devemos amar a todos, tal como Jesus nos amou, o que significa também repreender quando necessário).16 Mas amor não é um sentimento doentio de completa submissão. Quem ama quer o aperfeiçoamento do amado. Então a disciplina e a admoestação fazem parte do amor.17 Porém, se a pessoa insiste em fazer o que é errado apesar de alertada sobre as consequências, o bom cristão só pode aceitar e se compadecer do erro em que a pessoa incorre.

Depois temos a moral da modéstia. Ao fazer alguma boa ação, devemos guardá-la para nós mesmos em vez de fazer divulgações desnecessárias. Por exemplo, nos tempos de Jesus, quando ele fazia suas pregações, insistia com muitas pessoas que seus milagres fossem mantidos em secreto. Não devemos atrair atenção pelas coisas boas que fizemos.18 A oração também deve ser particular.19 Os fariseus gostavam de atrair atenção pelos dízimos que faziam e pelos jejuns.20 Também faziam orações públicas, talvez em alta voz também, para que as pessoas os vissem e os vestissem de um valor que não lhes era próprio, já que estavam fazendo a vontade de Deus publicamente, mas quebravam a lei quando sozinhos.21 A razão de quererem chamar tanta atenção talvez fosse a fama e a riqueza que obtinham dos outros fiéis, mas Jesus ensina que devemos ser humildes, modestos, como crianças.22 E uma característica das crianças é a inocência, a ingenuidade, a aceitação sem dúvidas. Um dos requisitos para obter a vida eterna é justamente crer na vinda de Deus “como uma criança crê”, isto é, sem duvidar.23

Quanto a oração, embora ela possa seguir um programa, não pode ser repetida da mesma forma todas as vezes, sem necessidade. A oração não pode ser automática.24 Quando memorizamos um texto e o recitamos, tendemos a não prestar atenção em seu significado e o texto torna-se vazio para nós. Então a oração não pode ser recitada, mas feita de forma pessoal a cada vez. Além disso, não há uma posição específica ou roupagem especifíca para orar, embora isso não significa que possamos assumir postura desrespeitosa ou, por exemplo, orar nus.25 Primeiro, Deus deve ser invocado e elogiado, devemos pedir pela vinda do reino, que sua vontade seja cumprida. E depois devemos fazer nossos pedidos, como comida, perdão e proteção. Vale lembrar que o perdão de Deus só é concedido aos que perdoam aos seus irmãos (e, por irmãos, falo de qualquer ser humano).26 Ao orar, tenha fé em suas próprias palavras e fé de que Deus as ouvirá. A oração com dúvidas não parece ser ouvida.27 A oração precisa ser feita a Deus em nome de Jesus.28

Riqueza não é tudo.29 Jesus disse que não deveríamos buscar as riquezas, mas ressalva que elas nos serão adicionadas se nós procurarmos fazer a vontade de Deus em primeiro lugar.30 A riqueza, se procurada em primeiro lugar, põe, necessariamente, a vontade de Deus embaixo, tornando a riqueza um senhor.31 Como não podemos ter dois senhores, é melhor que façamos uma escolha sensata.32 Além do mais, Deus pode prover riqueza também, desde que o coloquemos em primeiro lugar. Além do mais, nossos olhos, como a candeia da mente, precisam estar voltados para coisas dignas. Se visamos apenas a riqueza, a tentação de obter riqueza ilicitamente é maior.33 Além disso, ter um apego excessivo à riqueza nos torna avarentos e menos capazes de ajudar o próximo financeiramente.34 Por último, se buscamos as riquezas, a comida e os cuidados com a vida e nos esquecemos das coisas que realmente importam, seremos surpreendidos pelos acontecimentos dos últimos dias.35

A próxima moral é muito importante: devemos fazer aos outros aquilo que queremos que nos seja feito e não fazer a eles o que não queremos que seja feito a nós.36 Por exemplo: a menos que você queira ser julgado, você não deveria julgar os outros ou, se você quer ser perdoado, deveria ser capaz de perdoar.37 Isso parece resumir toda a lei que havia antes de Jesus. Válido também para intenções. Não deveríamos nem sequer nutrir desejos de fazer algo errado para com o próximo e parece sábio evitar pensamentos ou ações que nos levariam a tanto (cobiçar a parceira do outro pode nos levar a querer tomá-la para nós, por exemplo). Não devemos também nutrir raiva dele. Amar Deus sobre todas as coisas e o próximo como a nós mesmos são os maiores de todos os mandamentos e são condição de possibilidade do perdão de nossos pecados.38 Quem é incapaz de perdoar não obtém perdão pelas suas próprias faltas. E absolutamente precisamos de perdão porque erramos muito.39 Quanto aos julgamentos, existe um tipo de julgamento válido com o qual devemos medir atos e que permite críticas construtivas: o julgamento segundo a reta justiça, que ultrapassa as aparências.40

Como Jesus é nossa salvação, negá-lo também significa negar a salvação eterna provida por Deus.41 Se realmente queremos nos salvar, temos que ter apreço por Jesus, nossa salvação, e seus ensinamentos, mesmo quando segui-los implicar nossa morte.42 Não devemos nos envergonhar de dizer que acreditamos em Cristo como a salvação provida por Deus.43 Caso sejamos tentados em situações extremas, como, por exemplo, por pregar em um local onde tal coisa é proibida, precisamos manter a calma e nos defender em tribunal com sinceridade e espontaneidade.44 Isso implica que seguir a moral divina pode requerer alguns sacrifícios.45

Apesar de aqueles que aceitam a doutrina de Jesus como entregue por Deus não precisarem seguir as leis dos judeus integralmente, a maioria dos dez mandamentos está ainda em voga.46

As coisas que contaminam o ser humano são suas ações, não coisas exteriores. Para evitar más ações, precisamos colocar nosso “coração” (emoções e sentimentos) atrás da razão. Porque é do coração de onde vem a vontade de fazer o que é errado.47

Deus nos recompensará proporcionalmente às nossas ações.48 Então, para que nós possamos ter a maior recompensa possível, temos que sacrificar o máximo possível, mesmo que isso signifique abandonar família e amigos. Por isso está escrito que é difícil um rico entrar no reino dos céus. Afinal, um sacrifício proporcional, para que ele estivesse em condição perfeita, seria vender tudo o que tem.49

Que não digamos blasfêmias contra o Espírito Santo, porque essa é uma ofensa imperdoável.50

A próxima moral é a dos inimigos de Jesus. Não deveríamos proibir que façam milagres em nome de Jesus.51 Isso porque aqueles que fazem milagres em nome dele não falam mal dele. Observe que se trata de milagres verdadeiros, não aquelas palhaçadas que vemos na televisão. Hoje, por exemplo, vemos na televisão pessoas operando milagres obviamente falsos, combinados, ou aplicando golpes e induzindo histeria. Não devemos acreditar neles. Muitos virão ostentando o nome de Cristo.52 O verdadeiro Cristo, quando vier, nos dará um sinal inconfundível e evidente. Então, qualquer dessas igrejas que se proclama a “verdadeira”, mas que não valorizam estas coisas basilares que escrevo, é genuinamente falsa. Pelos frutos se conhece a árvore.53 Importante também é entender que os inimigos de Jesus são aqueles que conscientemente agem contra o que ele ensinou. Aqueles que são neutros, como os que não conhecem a verdade, por exemplo, também jogam a nosso favor.54

A próxima moral é a moral dos impostos e das dívidas com o mundo. Deveríamos pagar impostos ou arcar com demandas mundanas? Sim, na medida em que isso não transgride a lei maior, que é a de Deus.55 Mesmo os impostos injustos devem ser pagos.56

Existe uma festa na qual se come pão e se bebe vinho, conhecida como páscoa e que pode ser praticada uma vez por ano, normalmente. Ela parece ser necessária também, pois o pão é o corpo simbólico de Jesus, tal como o vinho representa seu sangue. Nos foi requisitado comemorá-la para “estarmos” nele.57 E, se estamos em Jesus, tudo o que pedirmos a Jesus nos será dado.58

Multiplique estas palavras e tenha fé no que Jesus nos disse, pois que Jesus nos disse o que Deus queria que soubéssemos. Tenha fé e multiplique, para que todos saibam o que devem fazer para agradar a Deus por meio de Jesus.59 Amém.

1João 14:6.

2João 14:15; 14:21; 15:10.

3João 5:39.

4João 8:19; 12:50; 17:3.

5Mateus 5:48; 16:27.

6Mateus 4:7. Lucas 4:12.

7Mateus 4:10. Lucas 4:8.

8Mateus 23:8, 9, 10. Marcos 9:50. João 3:5.

9Mateus 5:5, 7, 20.

10Mateus 25:40; 25:45; 26:52. Marcos 9:37.

11Mateus 5:32; 19:9. Marcos 10:11, 12. Lucas 16:18.

12Marcos 10:9.

13Mateus 5:34.

14Mateus 5:37.

15Mateus 5:39. Lucas 6:27, 28, 29, 30; 18:14.

16Mateus 5:44. João 13:34; 15:12, 17.

17Mateus 18:15. Lucas 17:3.

18Mateus 6:2, 4.

19Mateus 6:6.

20Mateus 6:16.

21Lucas 12:1.

22Mateus 18:4; 23:12. Marcos 9:35. Lucas 18:16.

23Marcos 10:15. Lucas 18:17. João 20:29.

24Mateus 6:7.

25João 4:24.

26Mateus 6:14. Marcos 11:25, 26.

27Marcos 11:24.

28João 16:23.

29Lucas 12:23.

30Mateus 6:19. 33. Lucas 12:31.

31Lucas 6:24.

32Mateus 6:24. Lucas 16:13.

33Lucas 11:34.

34Lucas 12:15.

35Lucas 21:34; 21:36.

36Lucas 6:31, 35, 36, 37, 38.

37Mateus 7:1, 12; 18:33, 35. Marcos 4:24.

38Marcos 12:29, 30, 31, 33. Lucas 10:27.

39Lucas 13:3.

40João 7:24.

41Mateus 10:33, 37, 39. Lucas 12:9. João 5:23; 12:48.

42Mateus 24:13. Marcos 8:35. Lucas 6:22, 23; 12:5. João 12:25.

43Marcos 8:38. Lucas 9:26.

44Marcos 13:11.

45Lucas 9:62; 14:33.

46Mateus 15:4; 19:18, 19. Marcos 10:19. Lucas 18:20.

47Mateus 15:19, 20.

48Lucas 12:33; 14:11. João 5:29.

49Mateus 19:21, 29.

50Marcos 3:29. Lucas 12:10.

51Marcos 9:39.

52Marcos 13:21.

53Lucas 6:45. João 14:24.

54Marcos 9:40. Lucas 9:50. João 15:23.

55Mateus 22:21. Marcos 12:17.

56Lucas 16:11, 12.

57João 6:56.

58João 15:7.

59Mateus 28:19. Marcos 11:22; 13:10; 16:16. João 3:16, 18, 36; 5:24; 6:29, 39, 47; 8:51; 12:36.