Pedra, Papel e Tesoura

23 de agosto de 2016

O que aprendi lendo “Diálogos entre Hylas e Philonous”.

“Diálogos entre Hylas e Philonous” foi escrito por Berkeley. Abaixo, o que aprendi lendo esse livro.

  1. O contato com a natureza revigora a mente.
  2. O ceticismo total (segundo o qual a única verdade é a de que não há verdade em nada mais) é prejudicial, pois põe tudo no relativismo.
  3. Uma das causas do ceticismo é o fato de que pessoas de autoridade, como filósofos e cientistas, por vezes afirmam que não existe nenhum conhecimento seguro ou professam como verdade coisas extravagantes e se contradizem.
  4. Por vezes, o conhecimento do leigo é mais seguro.
  5. Se aproximar de um objeto ingenuamente pode dar mais resultado do que se aproximar do mesmo com ciência.
  6. Quando você é convencido de que está errado, mude seu proceder.
  7. Cético é quem duvida de tudo.
  8. Quem nega não é cético; o cético duvida, isto é, nem afirma e nem nega.
  9. Se durante uma discussão, o oponente fala uma besteira, mas uma besteira pequena, não vale a pena discutir sobre ela.
  10. Negar a matéria não nega a matemática.
  11. O “verdadeiro cético” não afirma sequer a realidade sensível.
  12. O que é uma “coisa sensível”: aquilo que posso aprender somente pelos sentidos ou aquilo que eu posso apreender com ajuda de instrumentos que auxiliam os sentidos?
  13. Por exemplo: lendo um livro, eu vejo letras e vejo a palavra “gato”.
  14. Porém, o que diz que aquela palavra é gato é a mente, que aprendeu a interpretar os sinais daquela forma.
  15. Os olhos podem apenas dizer que as letras G, A, T e O estão escritas ali.
  16. Então, o que é sensível: a palavra “gato” ou as letras que compõem o nome?
  17. Agravado quando a palavra se refere a algo somente inteligível, mas não sensível, como o amor.
  18. As causas e a relação de causalidade são inferências racionais, não sensíveis.
  19. A linguagem é arbitrária: não temos razão para chamar o gato de gato (quem deu esse nome só o deu porque precisava dar um nome ao bicho e esse foi o primeiro que lhe veio à mente).
  20. O calor tem existência real ou é uma sensação nascida em nós?
  21. Se ele fosse totalmente dependente de nós, não o sentiríamos nunca, porque o calor só se manifesta como sensação se estamos próximos de uma fonte de energia que nos produza essa sensação.
  22. O grande problema aqui é de onde vêm as sensações: se forem reativas, são subjetivas; do contrário, são objetivas.
  23. Não existe sensação intensa que não provoque dor ou prazer.
  24. Como definir prazer ou dor sem acabar explicando o que é sensação?
  25. Para alguns, dor e prazer não são distintos das sensações que os provocam.
  26. O prazer e a dor existem na mente apenas e dispõem as sensações em intensidade.
  27. Usar critérios subjetivos para graduar calor e frio leva a absurdos.
  28. Prazer e dor existem só na mente e a prova disso é que algo que é prazeroso para uns é doloroso para outros (o chamado “gosto pessoal”).
  29. A linguagem em plena acepção da palavra é a linguagem vulgar: se eu estiver falando e você estiver me entendendo, então perfeito.
  30. A mesma coisa se mostra diferente dependendo do método de observação.
  31. Se o microscópio é mais confiável, nossa visão normal é falha.
  32. “Movimento” pode ser entendido como a mudança de posição de um corpo em relação a outro corpo, usado como referência.
  33. A razão de a cor ser uma característica subjetiva é que diferentes pessoas e animais percebem diferentes espectros.
  34. Animais pequenos percebem o mundo em escala diferente.
  35. “Rápido” e “lento” são subjetivos.
  36. A velocidade é inversamente proporcional ao tempo em que determinado objeto chega a um objetivo.
  37. As qualidades secundárias, como cor e sabor, são identificadas pelo prazer e pela dor, enquanto as primárias não causam nem um e nem outro.
  38. Mesmo quando assumimos que as coisas têm existência objetiva, a ideia que fazemos delas é subjetiva.
  39. Se a extensão for subjetiva, não seria parte da matéria.
  40. Filosoficamente, substância e substrato são a mesma coisa.
  41. Cuidado para não usar termos filosóficos por hábito, sem saber realmente o que querem dizer.
  42. O que é a matéria, afinal?
  43. Se a filosofia trabalha com conceitos, então, a menos que tenhamos um conceito fechado do que é matéria, não será possível fazer filosofia da matéria.
  44. Se você concebe algo em sua mente, não há garantia de que esse algo exista fora dela.
  45. Não é possível dizer a distância exata de algo só olhando pra ela.
  46. Se eu concebo distância como uma “linha” entre o olho e o objeto focado, não vejo essa linha; ela é hipotética.
  47. Se eu vejo uma estátua de Júlio César, eu estou vendo a estátua; quem me diz quem ela representa é a razão.
  48. Muitas vezes, a conexão de uma ideia à outra é puro costume, como é o caso de preconceitos.
  49. Eu escuto o veículo ou o som que ele produz?
  50. Só é possível ouvir o som, ó é possível ver a imagem, ó é possível perceber o fenômeno, o que não necessariamente nos dá uma ideia segura do objeto que o produz.

11 Comentários »

  1. […] essas relações são frequentemente subjetivas, os céticos achavam que verdades absolutas não era possíveis, porque tudo seria questão de ponto de vista: […]

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    Pingback por Anotações sobre o “Ensaio Sobre o Entendimento Humano”, de Locke. | Analecto — 13 de agosto de 2018 @ 16:46

  2. Sem falar que suas anotações lembram, pela forma, as anotações feitas pelo próprio Berkeley, e editadas em português do Brasil com o nome de Comentários filosóficos.

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    Comentário por Alguém — 16 de agosto de 2017 @ 03:36

    • Não conheço. Pode ser que eu vá atrás.

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      Comentário por Yure — 16 de agosto de 2017 @ 08:43

  3. Olá, Yure,

    enquanto lia sua postagem, para não perder o fio da meada e poder fazer um comentário coerente, fui anotando minhas observações e objeções. O resultado foi um texto relativamente grandinho para um comentário. Então publiquei estas objeções no meu recém criado blog. Espero que possa ser produtivo.
    https://salvadordal1.wordpress.com/2017/08/16/hylas-philonous-de-george-berkeley/

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    Comentário por Alguém — 16 de agosto de 2017 @ 02:40

  4. […] estes temas terão o trabalho (embora prazeroso) de não apenas ler a minha postagem, mas antes ler a postagem de outra pessoa, a qual dirijo a minha […]

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    Pingback por Resposta às “Anotações sobre os diálogos entre Hylas e Philonous” feitas por Yure | Meu JE-NE-SAIS-QUOI — 16 de agosto de 2017 @ 02:33

  5. […] Existiam dois tipos de idealista na época de Kant: os que achavam que existência de coisas fora de nós era duvidosa e os que a achavam ser impossível. […]

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    Pingback por Anotações sobre a crítica da razão pura. | Pedra, Papel e Tesoura. — 31 de janeiro de 2017 @ 10:58

  6. […] A inclinação de procurar o prazer e se afastar da dor não pode virar lei, porque cada um procura o prazer e foge da dor à sua maneira. Isso não quer dizer que é errado, mas que é pessoal. […]

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    Pingback por Anotações sobre a crítica da razão prática. | Pedra, Papel e Tesoura. — 22 de janeiro de 2017 @ 20:35

  7. […] é subjetivo. Não pode ser […]

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    Pingback por Anotações sobre o Candido ou o otimismo. | Pedra, Papel e Tesoura. — 5 de outubro de 2016 @ 16:38

  8. […] sentidos são a primeira coisa que ele elimina como sendo “duvidoso”. Os sentidos enganam. Ora, mas os sentidos são seguros! Sim, mas Descartes quer algo de que não se pode duvidar. Se é […]

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    Pingback por Anotações sobre as meditações metafísicas. | Pedra, Papel e Tesoura. — 28 de setembro de 2016 @ 18:32

  9. […] critica Berkeley: se nada é corpo e tudo são ideias do nosso espírito, como é que eu morro se levar um […]

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    Pingback por Anotações sobre o dicionário filosófico. | Pedra, Papel e Tesoura. — 27 de setembro de 2016 @ 14:20


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