Pedra, Papel e Tesoura

28 de abril de 2018

Anotações sobre “Ética”.

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“Ética” foi escrita por Espinoza. Abaixo, algumas anotações que fiz sobre o texto dele.

  1. “Causa de si” não significa que algo fez a si mesmo, mas algo que contém existência em seu conceito, isto é, algo que não podemos nunca dizer que não existe sem estarmos automaticamente errados.
  2. Um corpo não pode ser limitado por um pensamento e um pensamento não pode ser limitado por um corpo.
  3. “Atributo” é algo que eu percebo em uma essência numa substância.
  4. “Livre” é algo que não deriva sua existência de algo externo e não tem sua vontade condicionada por nada externo.
  5. Se sua existência é derivada de outra coisa ou se sua vontade é condicionada por coisas que lhe são externas (como leis da natureza), você não é livre.
  6. Se algo não pode, logicamente, ter sua existência derivada de algo externo, é causa de si (ver nota 1).
  7. Se uma causa age, há efeito, ao passo que não há efeito sem causa.
  8. Não é possível conhecer um efeito sem conhecer a causa.
  9. Um efeito carrega características de sua causa, o que significa que uma causa não pode gerar um efeito que nada tenha a ver com ela.
  10. Muitas vezes, explicar a natureza de algo não basta, se houver coisas relacionadas ao objeto que não são explicadas pela sua natureza.
  11. Deus existe.
  12. Potência é existência latente.
  13. A substância divina contém existência.
  14. Perfeição põe existência, enquanto que imperfeição a retira, então um ser sumamente perfeito deve existir.
  15. No campo conceitual, uma substância não pode ser dividida em decorrência de um atributo.
  16. Se uma substância infinita pudesse ser dividida, as substâncias resultantes não seriam infinitas (o que não pode ser) ou seriam infinitas (mas não pode haver mais que uma substância infinita), de forma que, pela lógica, uma substância infinita não pode ser dividida.
  17. Algo infinito não é resultado da soma de finitos.
  18. Se duas coisas infinitas pudessem existir, uma não seria maior que a outra.
  19. Uma substância não é o objeto corpóreo a que ela corresponde.
  20. Deus é a causa primeira de tudo o que seu intelecto poderia ter concebido.
  21. A vontade divina não pode ser coibida, de forma que ele é livre.
  22. Você não pode forçar Deus a agir.
  23. Dizer que Deus já criou tudo o que poderia criar, ou seja, que a criação está concluída, não é nenhuma blasfêmia.
  24. Se Deus criasse tudo o que é possível ser criado, continuaria sendo onipotente.
  25. O intelecto e a vontade divinos são diferentes do intelecto e da vontade humanos.
  26. O intelecto divino é criativo, enquanto que o humano é apreensivo.
  27. Eu criei meu filho como pessoa, mas não como essência (eu não criei a espécie humana).
  28. Se a substância de algo implica existência necessária, podemos dizer que tal substância é eterna.
  29. Um ser determinado por outro não pode se tornar indeterminado por si mesmo.
  30. Há diferença entre ser necessário (sempre existe), contingente (pode ou não existir) e impossível (nunca existe).
  31. Quando Deus age, ele não tem em vista o bem, como se o bem fosse algo fora dele ao qual Deus tivesse que se conformar.
  32. Deus existe, é único, determinado somente por si mesmo e única causa livre do universo.
  33. Se você pode saciar suas vontades e necessidades, isso não te torna livre, uma vez que você não pode escolher desejar ou necessitar de algo.
  34. Você não pode supor que tudo na natureza foi feito com uma função específica.
  35. A natureza não foi feita em função de você.
  36. A ideia de que os deuses castigam encontra apoio na crença de que nada na natureza é feito sem razão, de forma que doenças e catástrofes devem também ter uma função.
  37. Causa final é invenção humana e só existe na mente humana.
  38. Deus não pode ser controlado por sistemas de ação e recompensa, como se ele fosse fazer tudo o que você quer porque você vai pra igreja, por exemplo.
  39. Se as pessoas deixarem de ser ignorantes, deixarão de procurar padres e pastores.
  40. Pecado e mérito são dependentes da liberdade: se não fôssemos livres, nada seria nossa culpa e nada seria nosso mérito.
  41. Não confunda imaginação e intelecto.
  42. A natureza é amoral e deve ser julgada por si própria, não por nosso ponto de vista moral.
  43. Um sentimento ou emoção depende de uma ideia que cause aquele sentimento ou emoção.
  44. Implica dizer que só têm sentimentos os seres que têm mente.
  45. Deus é capaz de pensar.
  46. Humanos têm corpo e também mente e ambas as coisas são como as sentimos.
  47. A mente só sabe que o corpo existe porque este a afeta.
  48. Você é sua mente e seu corpo, não somente sua mente, com o corpo à disposição como uma ferramenta.
  49. O que não significa que a mente conhece totalmente o corpo.
  50. Entender o que seu corpo sente não implica que você conhece adequadamente seu corpo.
  51. A mente também não tem um conhecimento claro de si própria.
  52. Estar ignorante é diferente de estar errado.
  53. Se você ignorar as causas de sua determinação, se achará livre.
  54. Até ideias tidas por universais variam em cada pessoa, segundo a forma como essas pessoas comumente concebem tais ideias.
  55. Portanto, trabalhar com conceitos “universais” não será garantia de que você não irá errar em seu raciocínio.
  56. Se você duvida, não tem conhecimento seguro sobre o objeto da dúvida.
  57. Por outro lado, ter certeza não significa que você tem razão.
  58. Maior parte dos erros de raciocínio acontecem por causa de definições precárias (chamar as coisas pelo nome errado).
  59. Controvérsias ocorrem quando as pessoas não sabem se explicar… e porque também não sabem entender o que o outro está dizendo.
  60. Duas pessoas podem estar numa discussão feia pensando que estão discordando uma da outra, quando, na verdade, estão de acordo, mas utilizando palavras diferentes.
  61. Qualquer conteúdo mental pode ser tomado em sentido afirmativo ou negativo.
  62. Mesmo que admitamos que a vontade é maior que o intelecto, ela ainda é menor que a percepção (não posso querer o que não sei que existe).
  63. O conhecimento de Deus lhe trará a felicidade.
  64. A mente humana não deve servir somente como alvo de censuras.
  65. Emoções e sentimentos não são tão ruins como a filosofia clássica nos leva a crer.
  66. Nossos afetos e nossas ações não devem ser abominados.
  67. A natureza é sempre a mesma.
  68. Você não pode dizer que a natureza “cometeu um engano”.
  69. Um efeito pode ter mais de uma causa simultânea.
  70. Quando nossa mente é a única causa em ato sobre alguma coisa, estamos agindo, mas, quando nossa mente não é a única causa agindo sobre nós, então estamos sendo afetados.
  71. Essa afetação pode ser uma paixão.
  72. Há animais com mais habilidade física ou sensorial do que os seres humanos têm.
  73. Se a mente morre, também o corpo…
  74. Mas, se o corpo morre, também a mente!
  75. A habilidade de estudar um objeto depende dos sentidos.
  76. O corpo pode dobrar a força de vontade, que é um atributo mental.
  77. Logo, a mente não manda no corpo sem também ser mandada por ele.
  78. Fazemos coisas por impulso pensando que as fizemos de caso pensado.
  79. O fato de eu estar consciente de minhas ações não prova que sou livre.
  80. Você não pode esquecer de propósito.
  81. Não existem “prazos de validade” absolutos para seres, isto é, um ser não pode, por sua própria essência, estipular uma data de autodestruição.
  82. Não é possível afetar o corpo sem afetar a mente.
  83. Quando você sente alegria ao pensar ou estar na presença de um objeto, pode-se dizer que você tem amor por aquele objeto.
  84. Ódio é o contrário: a associação da tristeza (entendida como qualquer emoção que empobreça a capacidade de agir ou pensar) com um objeto específico.
  85. Quem ama, quer manter o amado em bom estado.
  86. Amor e ódio não são mutuamente excludentes.
  87. A perspectiva de amor ou de ódio são a origem de outros sentimentos como segurança, esperança, medo, decepção e outros que se relacionam com o passado ou futuro.
  88. Quando a pessoa ou objeto amado é afetado por alegria ou tristeza, também nós somos afetados pela mesma emoção.
  89. Quando amamos, fazemos um julgamento acima do justo da coisa amada, ao passo que fazemos um juízo abaixo do justo das coisas que odiamos.
  90. Quando você deixa os outros alegres, acaba ficando alegre também.
  91. Vergonha é a sensação de que você não está a altura de seus próprios padrões.
  92. Se alguém ama o que você ama, você passa a amar mais, mas, quando alguém odeia o que você ama, você tende a amar menos.
  93. É por isso que, quando amamos algo, nos esforçamos para que os outros também amem esse algo, mas, quando odiamos algo, queremos que todos também odeiem.
  94. Queremos que os outros vivam de acordo com nossas próprias inclinações, o que é uma manifestação de ambição.
  95. Mas isso não é verdade quando derivamos alegria de algo que não pode ser partilhado.
  96. Quando amamos algo semelhante a nós (como uma pessoa), queremos ser amados por esse algo.
  97. “Ciúme” deriva do amor que sentimos por alguém e da inveja que sentimos por outra pessoa que também ama quem amamos.
  98. Quanto mais amamos, mais sentimos ciúme quando a inveja se faz presente.
  99. O ciúme mata o amor antes sentido, de forma que passamos a odiar quem antes amávamos.
  100. Quando odiamos alguém que antes amávamos, a tendência é que o ataquemos mais do que o atacaríamos se nunca o tivéssemos amado.
  101. Se odiamos alguém, sentiremos vontade de fazer mal a esse alguém, a menos que tiremos um mal maior pra nós mesmos se fizermos mal a essa pessoa.
  102. “Bem” é um termo genérico para todos os tipos de alegria, enquanto que “mal” é um termo genérico para todos os tipos de tristeza.
  103. Como nossas fontes de alegria e de tristeza variam, bem e mal variam de pessoa para pessoa.
  104. Se alguém nos odeia sem razão, provavelmente atacaremos essa pessoa.
  105. No entanto, se alguém nos odeia e sabemos que seu ódio é justo, termos vergonha.
  106. Analogamente, se alguém nos ama sem razão aparente, provavelmente o amamos de volta.
  107. Quando fazemos o bem a quem nos fez bem, estamos sendo gratos.
  108. Crueldade é fazer o mal a quem te ama.
  109. Ódio recíproco gera mais ódio.
  110. Não há esperança sem medo, e vice-versa.
  111. Eu julgo os afetos dos outros segundo meus afetos (se alguém tem medo do que eu não tenho, o chamarei de medroso, por exemplo, mas, se ele não tem medo de algo que eu temo, o terei por corajoso).
  112. “Arrependimento” é derivar tristeza de algo que você fez.
  113. Quando você está com muito medo de alguma coisa, você se esquece de pensar em como evitar essa coisa.
  114. Existem emoções e sentimentos para os quais ainda não existe nome.
  115. Nossa impotência nos entristece.
  116. Só é possível sentir inveja pelas conquistas de semelhantes (ninguém inveja as conquistas de gente muito mais forte, inteligente ou rica, mas só daqueles que estão próximos, porque fica a sensação de “poderia ter sido eu”).
  117. Um pai pode treinar seu filho pra causar inveja aos outros.
  118. As três emoções fundamentais são a alegria, a tristeza e o desejo, com todas as outras emoções e sentimentos sendo derivados dessas três.
  119. A mente é posta em movimento pela alegria e pelo desejo, enquanto que a tristeza a retarda ou mesmo para.
  120. Desejo varia segundo disposição corporal.
  121. Desejo é nossa natureza tentando nos fazer agir de determinada forma.
  122. Se você tem certeza, não tem esperança, mas segurança.
  123. A menos que você tenha certeza de algo ruim; nesse caso, é desespero.
  124. Uma pessoa que se odeia logo pensará que todos o odeiam.
  125. Humildade pode muito bem ser uma forma passiva-agressiva de manifestar seguramente a inveja.
  126. Sentimos vergonha quando fazemos algo que outros poderiam desaprovar.
  127. É diferente de pudor, que é o medo de passar vergonha.
  128. “Saudade” é o desejo por alguma coisa, intensificado pela memória dessa coisa, mas refreado pela memória de que essa coisa provavelmente não existe mais.
  129. É possível desejar algo só porque todo o mundo deseja (emulação).
  130. Se você, por humildade, gostaria de evitar a glória, não assine seus trabalhos.
  131. Se você não pode controlar suas emoções e sentimentos, é escravo deles.
  132. Algo está “perfeito” quanto atende às expectativas do dono.
  133. Se o criador concluiu o trabalho, mas alguém diz que podia ser melhor, a obra ainda é perfeita, uma vez que atendeu às expectativas do criador.
  134. Por causa disso, não podemos dizer que o mundo é imperfeito, na medida em que não sabemos qual era a intenção de seu criador.
  135. Não podemos chamar de imperfeito algo que não fizemos, a menos que estejamos usando os critérios do criador da coisa que estamos julgando.
  136. Não se pode dizer que as coisas naturais são perfeitas ou imperfeitas sem estarmos na posse dos planos do criador.
  137. “Contingente” é algo que pode deixar de existir, enquanto que “possível” é algo que pode vir a existir.
  138. Existem coisas mais potentes que nós, as quais podem nos aniquilar.
  139. Somos parte da natureza.
  140. Uma pessoa nunca se suicida por sua própria natureza, mas é levada a isso por causas exteriores contra as quais se sente impotente.
  141. Auto-preservação está por trás de todas as virtudes, o que implica interesse próprio.
  142. Se dois objetos concordam por suas ausências, não estão realmente de acordo.
  143. Emoções são causa de discórdia.
  144. A razão é causa de concórdia.
  145. Somos movidos mais pela inveja do que pela razão.
  146. Uma vida solitária é dolorosa.
  147. É mais fácil obter o que queremos ao trabalharmos juntos.
  148. A coisa mais útil a um ser humano é outro ser humano.
  149. Animais têm sentimentos.
  150. O estado civil não é o estado natural.
  151. A existência de uma sociedade implica que seus integrantes abriram mão de seu direito de exercer sua própria justiça, confiando no sistema de justiça oferecido por aquela sociedade.
  152. As leis não são obedecidas por serem racionais, mas por causarem medo.
  153. Se alguém te diz que a tristeza é uma virtude, essa pessoa tem inveja da tua felicidade.
  154. Rir faz bem.
  155. Não retribua o mal com mal.
  156. Quem não faz bem aos outros, seja por razão ou por comiseração, não é humano.
  157. Humildade e arrependimento trazem mais benefício do que dano.
  158. Uma pessoa corajosa e idiota é um problema de segurança pública.
  159. Humildade predispõe à razão.
  160. Agir virtuosamente é agir racionalmente.
  161. Se você não se conhece, você não conhece a fundação da virtude.
  162. Se a virtude é um ato guiado pela razão e você não conhece a fundação de seus atos (você mesmo), então você não sabe nada sobre virtude.
  163. Uma pessoa incapaz de agir racionalmente se deixa levar pelo que dizem dela.
  164. Sentir-se sem valor e sentir-se superior aos outros são, ambos, demonstrações de ignorância.
  165. Agir dessa forma é agir com emoção, não racionalmente.
  166. É mais fácil ajudar alguém frágil do que alguém orgulhoso.
  167. O soberbo odeia a companhia de alguém que não lhe puxe o saco.
  168. Uma pessoa orgulhosa não quer ser lembrada de quem ela realmente é.
  169. Você também é orgulhoso se você pensa que os outros são inferiores a você, mesmo que você tenha uma ideia humanizada e correta de você mesmo.
  170. Se você é assim, você não mudará facilmente; na verdade, se você só busca a companhia de pessoas que concordam com você, a tendência é piorar.
  171. O desejo de um bem futuro pode ser mais facilmente refreado se a pessoa tiver um bom nível de satisfação presente.
  172. Ensinar a fazer o bem através do medo do mal tornará o aluno tão infeliz quanto o professor que lhe ensina tal coisa.
  173. É por isso que as pessoas odeiam profetas do apocalipse moderno.
  174. Se você fizer o bem, evitará o mal por consequência.
  175. Uma boa punição é motivada tão somente pelo desejo de fazer o bem ao público, não por ira, ódio, preconceito ou histeria.
  176. Se você está feliz, não pensará na morte.
  177. A sabedoria vem da meditação sobre a vida e não da meditação sobre a morte.
  178. O objetivo da educação deve ser “ensinar os estudantes a conduzir racionalmente suas vidas.”
  179. Uma pessoa sozinha não pode acabar com a pobreza.
  180. Boa alimentação é alimentação variada: um pouco de tudo, não muito de uma coisa só.
  181. Infelizmente, isso não é barato.
  182. Quanto mais você estuda uma emoção, menos ela te afeta.
  183. Se você fala contra a glória e a vaidade do mundo, provavelmente quer receber glória por dizer tal coisa.
  184. Falar contra algo que você gostaria de fazer revela impotência de ânimo para mudar as circunstâncias e obter o que você deseja.
  185. Compreenda suas emoções para controlá-las.
  186. O ódio é algo diferente da coisa odiada.
  187. Infância é um estado inferior, em termos de mente e de corpo, então não devemos coibir o passo de maturação de ninguém (menor infantilizado).
  188. Pelo contrário: temos que oferecer aos menores cada vez mais meios de maturação.
  189. Porque o caminho para a beatitude é difícil de encontrar e difícil de seguir, requerendo mente e corpo em bom estado.

26 de junho de 2016

O que aprendi lendo “Monadologia”.

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Monadologia” foi escrito por Leibniz. Abaixo, o que aprendi lendo esse texto.

  1. A “mônada” não tem partes.
  2. Ela é simples, e entra na composição de outras substâncias.
  3. Se não houver algo que não possa ser dividido, não é possível explicar a multiplicidade de coisas compostas.
  4. Deve haver algo que não possa ser dividido.
  5. Sendo simples, as unidades espirituais não foram formadas: ou elas sempre existiram ou “apareceram”.
  6. No caso, elas apareceram milagrosamente e somem também milagrosamente.
  7. A célebre afirmação de que as unidades espirituais “não têm janelas” deve ser entendida no sentido de que nada entra ou sai da mônada, sendo ela simples.
  8. Se é simples, é totalmente compacta em si: não recebe acréscimo e não pode sofrer subtração.
  9. O problema do átomo de Demócrito é que ele não explica as diferenças qualitativas entre os seres e as substâncias, porquanto Demócrito conceituava os átomos como diferentes apenas em formato.
  10. Embora a mônada não possa ser destruída senão milagrosamente, ela está sujeita ao devir.
  11. Mônadas mudam por causa de uma qualidade interna: se não podem receber acréscimo ou subtração, a mônada muda sozinha, sem que haja agente externo.
  12. O mecanicismo, a ideia segundo a qual os fenômenos naturais podem ser explicados por analogia a produtos do artifício humano não explica a percepção.
  13. Existem percepções inconscientes: se só percebemos, por exemplo, sons enquanto conscientes, como o barulho pode nos acordar do sono?
  14. A mônada não corresponde à alma.
  15. Para despertar a prudência (“consecução”, em Leibniz), não são necessárias várias impressões: uma experiência traumática, mesmo que seja uma só, pode produzir o mesmo efeito de várias pequenas experiências ruins.
  16. O que difere o ser humano dos outros animais é a capacidade de fazer ciência, não simplesmente a razão.
  17. Classicamente, “alma” é princípio de movimento, ao passo que “espírito” é somente a parte racional da alma.
  18. Existem dois tipos de verdade: as de razão (a priori, “todo solteiro é um não casado”) e as de fato (a posteriori, “algo aconteceu de tal e tal forma”).
  19. As verdades de razão são necessárias e não podem ser de outro modo, as de fato são contingentes e podem ser de outro modo.
  20. Existem verdades que não precisam de prova.
  21. Deus existe.
  22. Vemos que o mundo material é contingente, isto é, sujeito à geração e à corrupção.
  23. Ele só pode ter sua origem em um ser necessário.
  24. Deus tem perfeito entendimento, então, só pode fazer boas escolhas.
  25. Não há nada de morto no universo.
  26. As coisas espirituais seguem causas formais e finais.
  27. As coisas físicas seguem causas materiais e eficientes.
  28. A penitência do pecado é sua consequência ruim, seja a longo prazo ou a curto prazo.
  29. Não existe ação sem consequência: as boas são recompensadas e as más são punidas.

23 de junho de 2016

O que aprendi lendo “Novo Sistema da Natureza”.

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Novo Sistema da Natureza” foi escrito por Leibniz. Abaixo, o que aprendi lendo o texto dele.

  1. Divulgue seus textos.
  2. Sábios deveriam colaborar mais frequentemente.
  3. A dificuldade sentida pelos sábios em trabalhar juntos se deve aos termos usados de forma diferente dependendo do pensador.
  4. Não publique um texto imediatamente; dê-o a outras pessoas que conhecem o assunto pra ver se elas encontram falhas, daí, após corrigir quaisquer falhas, publique.
  5. Se seu texto for revisado por outros intelectuais, valerá mais a pena lê-lo.
  6. Animais não são máquinas.
  7. Juntar vários pedacinhos não forma algo contínuo.
  8. Matéria agregada não é capaz de formar consciência ou intelecto.
  9. Separar a ciência da metafísica restringe seu avanço.
  10. A vida é um milagre atribuível a Deus.
  11. As coisas espirituais não podem ser explicadas pelas leis da matéria.
  12. Ressurreições ocorrem na natureza.
  13. Assumir que se pode explicar a natureza da mesma forma que se explica os produtos do artifício humano (mecanicismo) é presunção.
  14. O mecanicismo não explica o pensamento nem a consciência.
  15. A concordância entre todas as substâncias em algo que faça sentido só seria possível se a causa delas fosse a mesma, em última instância.

6 de junho de 2016

O que aprendi lendo “Leviatã”.

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“Leviatã” foi escrito por Thomas Hobbes. Abaixo, algumas coisas que aprendi lendo esse texto.

  1. Se não ocorrem críticas de quem é mais poderoso que ambos os lados, então tudo bem.
  2. Não é possível escrever um trabalho imparcial e não ser criticado por ambas as posições extremas as quais tal trabalho evita.
  3. Máquinas são as criaturas do ser humano.
  4. O governo também nasce (pelo contrato), cresce (pela prosperidade), adoece (pela sedição) e morre (pela guerra civil).
  5. A sabedoria é adquirida pela “leitura” das pessoas, enquanto que a leitura dos livros, embora traga conhecimento, não produz sabedoria (se a definirmos como conhecimento sobre a condição humana).
  6. Seres humanos são fundamentalmente iguais.
  7. As paixões são as mesmas em todos nós, mas os objetos que as despertam variam.
  8. O governante deve levar em consideração o ser humano como espécie.
  9. Pensamentos não são as coisas, mas representações delas.
  10. A natureza de um pensamento depende do órgão que capta o objeto e de como o objeto se apresenta.
  11. A sensação precede o conhecimento.
  12. Movimento produz movimento.
  13. Visão é percepção do objeto pela vista.
  14. Se algo está em movimento, não parará enquanto outra força não agir sobre ele.
  15. Dizer que a pedra tende para baixo porque deseja se conservar na melhor condição é atribuir conhecimento e volição a coisas inanimadas.
  16. Imaginação e memória são duas manifestações da mesma habilidade.
  17. Experiência é acúmulo de memória.
  18. A imaginação pode ser simples, quando concebemos uma ideia normal, ou composta, quando concebemos uma ideia que resulta da mistura de várias.
  19. A matéria prima da imaginação é a natureza.
  20. O sonho é mais claro que o pensamento normal porque só podemos prestar atenção no sonho quando dormimos.
  21. Você só sabe que é um sonho depois que acorda.
  22. Sensações que temos ao dormir influenciam o sonho.
  23. Os curtos sonos nos fazem ter sonhos altamente convincentes.
  24. O conteúdo do sonho pode ser interpretado como aparição ou “visão”.
  25. Histórias de terror, ambientes escuros e coisas que tais nos tornam propensos a pesadelos e, se estivermos com dificuldade para dormir, alucinações.
  26. Se você viu um manto assustador perambulando pelo cemitério, vai ver era só um traficante.
  27. Muitas aparições fantasmagóricas são farsas feitas para alimentar a superstição.
  28. A superstição é um obstáculo à obediência civil.
  29. Se você ensina que os bons pensamentos que temos são sempre colocados lá diretamente por Deus, então todo o mundo é profeta inspirado e todas as boas intenções, mesmo conflitantes, são fruto da vontade divina, o que alimenta os megalomaníacos.
  30. Também animais têm entendimento, pois podem aprender coisas que os donos ensinam.
  31. Algo se forma na imaginação com base em sensação presente ou prévia.
  32. Quando pensamos algo, não há certeza sobre o que se pensará depois, pois muitos pensamentos são espontâneos ou invasivos.
  33. Se pensamos muito em alguma coisa, nossos pensamentos tomam aquela direção quase naturalmente.
  34. Procuramos na experiência causalidades que possam se aplicar ao problema tratado: “se algo parecido já aconteceu antes, como foi resolvido?”
  35. Essa tendência a usar a experiência adquirida na resolução de problemas futuros chama-se “prudência”.
  36. Só o presente existe.
  37. Um “sinal” de algo que está porvir é uma evidência de um efeito que se está desenrolando.
  38. Alguns animais desenvolvem prudência mais rápido que o ser humano.
  39. Mais importante que a invenção da imprensa foi a invenção do alfabeto.
  40. A linguagem é condição de possibilidade para o governo e para a paz.
  41. É possível usar a linguagem de maneira dolorosa, para insultar ou punir.
  42. Os nomes são universais, mas referem-se a coisas particulares.
  43. Usamos o sistema decimal porque, em algum instante da história, contávamos usando os dedos, que só são dez nas mãos normais.
  44. As definições das palavras-chave de um raciocínio são as coisas que devem ser explicadas primeiro.
  45. O mau uso das palavras era o principal problema da filosofia da época.
  46. Aprender algo da maneira errada é pior do que não ter aprendido.
  47. Não é possível raciocinar sem algum tipo de linguagem.
  48. Os nomes negativos como “ninguém” ou “nada” servem, não para indicar presença de algo, mas para indicar que não se deve assumir essa presença.
  49. Existem frases sem significado: “esta frase é falsa” não é um enunciado (pois um enunciado precisa fazer sentido), mas apenas som produzido com a boca.
  50. Idiomas que herdam do grego e do latim são cheios de situações assim.
  51. Como virtude e vício dependem do julgamento de cada um, não devem ser tomadas como base de qualquer discurso que tenha pretensão universal.
  52. O raciocínio é equivalente ao cálculo: enquanto que no cálculo operamos números a fim de obter um total, o raciocínio opera palavras a fim de obter uma conclusão.
  53. A dedução é o equivalente linguístico da subtração, enquanto que a indução é o equivalente linguístico da adição.
  54. Só é possível raciocinar sobre coisas que comportam adição e subtração de informações.
  55. Tornar o raciocínio um processo simples não elimina a possibilidade de erros: todos erram.
  56. É preciso sempre julgar o que se lê.
  57. Existe verdadeiro, existe falso e existe absurdo: absurdos são enunciados que não fazem sentido, como “esta sentença é falsa”, “quadrado redondo” e coisas que tais.
  58. A filosofia é cheia de absurdos: diferente da geometria, que começa seus raciocínios com definições dos termos que serão importantes, os filósofos em geral não explicam os significados dos termos que usam, os quais deixam de ser claros para eles próprios.
  59. Extensão não é sinônimo de corpo.
  60. Num discurso científico, não se usa linguagem coloquial.
  61. Todos podem raciocinar bem quando têm bons princípios, mas o esquecimento permite o erro mesmo em operações simples sobre princípios sólidos.
  62. A razão não nasce conosco; ela é adquirida.
  63. O primeiro sinal da razão em um ser humano é a linguagem.
  64. Raciocinar leva tempo, então decisões rápidas são tomadas por hábito.
  65. A ignorância nos leva a querer saber.
  66. A prudência falha mais que a ciência.
  67. O sinal capital de que alguém sabe alguma coisa é a capacidade de ensiná-la.
  68. Os movimentos vitais são involuntários.
  69. “Esforço” é o movimento entre intenção e escopo da ação.
  70. “Desejo” é o impulso para buscar aquilo de que se gosta.
  71. É possível odiar o que não se conhece por medo.
  72. Desespero é a sensação de que determinado desejo não pode ser satisfeito.
  73. Esperança é a sensação de que determinado desejo pode ser satisfeito.
  74. Autoconfiança é a tendência a ter muita esperança: a constante sensação de que é possível conseguir.
  75. Ser pusilânime é o contrário de ser magnânimo: o magnânimo não se importa com coisas pequenas ou desprezíveis, enquanto que o pusilânime se importa demais com o que não tem importância.
  76. O ciúme implica que a pessoa ciumenta não acredita que a pessoa amada a ame na mesma proporção que é amada.
  77. Pânico é o medo coletivo sem causa justa.
  78. Vanglória é um tipo de confiança que é adquirida por suposições de seu próprio poder ou por consecutivos elogios: é contar vantagem sobre habilidades que não tem.
  79. Desalento é uma tristeza que vem da impotência para algo.
  80. Rir da desgraça alheia é manifestação de pusilanimidade: sua condição é tão ruim que você acaba gostando de ver alguém pior que você.
  81. Se acostumar a rir ou a chorar diminui sua frequência: se rimos de muitas piadas, ficamos exigentes e só piadas muito boas nos farão rir.
  82. Vergonha é um tipo de tristeza, oriunda do reconhecimento de uma falha desonrosa, isto é, que pode acarretar má reputação ou desrespeito.
  83. Se dizemos que pensamos sobre algo que já aconteceu, não podemos usar o termo “deliberar”, porque só é possível deliberar sobre o futuro.
  84. Os animais também deliberam.
  85. O ato de querer é chamado vontade.
  86. A capacidade de querer é chamada volição.
  87. Quando se diz um palavrão por hábito, quando se está com raiva, muitas vezes o sentido da palavra é subtraído, ou seja, a palavra sai sem seu significado.
  88. O conhecimento do passado e do futuro é condicional, silogístico: se isso aconteceu, aquilo também. Se isso acontecer, aquilo também irá.
  89. Se acreditamos que a Bíblia é a palavra de Deus, sem que Deus tenha nos dito isso, nós acreditamos, sim, em Deus, mas em primeiro lugar na Igreja, porque ela é quem diz que a Bíblia é inspirada.
  90. O mesmo é válido para a História, para a Ciência e para todas as outras artes de que não disponho de meios para demonstrar.
  91. Não acreditar na Bíblia não necessariamente significa não acreditar em Deus, mas certamente significa duvidar dos autores sagrados.
  92. Se todos fossem iguais, nenhuma característica humana seria apreciável.
  93. Talento natural é caracterizado por persistência em determinado fim, tema ou foco, tal como facilidade em compreendê-lo.
  94. Estupidez é só ter pensamento devagar.
  95. Enquanto que talento é ser bom em uma coisa, juízo é ser bom em comparar coisas.
  96. Muita imaginação atrapalha o gênero da dissertação, mas ajuda o gênero poético.
  97. Cada habilidade tem seu lugar nas ciências e nas artes: a imaginação vai na literatura, o juízo vai na história e na filosofia, e coisas que tais.
  98. Muita imaginação e pouca discrição em um trabalho de ficção é quase sempre um sinal de falta de talento.
  99. Se o objetivo é agradar, evite falar de coisas sujas ou obscenas.
  100. Se o objetivo é ser útil, use todas as palavras que precisar, mesmo que sejam sujas ou obscenas.
  101. Embora pessoas de mesma idade possam ser igualmente experientes, o uso da experiência varia conforme os objetivos de cada um.
  102. A astúcia é o emprego de meios desonestos no exercício da prudência.
  103. O que nos traz aperfeiçoamento é a ambição.
  104. Loucura é paixão demasiada por determinado objeto.
  105. Existe um tipo de loucura para cada paixão (emoção).
  106. A loucura pode ser causada por dano corporal, mas também a loucura pode causar dano corporal.
  107. Emoções podem se combinar e criar outras mais fortes.
  108. A emoção doentia é louca e tanto mais louca quanto mais doentia.
  109. A loucura, enquanto não se manifesta em atos ou palavras, passa despercebida.
  110. O vinho nos tira a dissimulação e nos cega em relação aos danos que podem ser causados pelas nossas próprias paixões, revelando, portanto, quem realmente somos e o que realmente pensamos, pois tanto deixamos de levar em consideração a gravidade dos nossos atos como passamos a não ter vergonha de cometê-los.
  111. Os intelectuais também têm desejos reprováveis, por isso raramente são vistos bebendo.
  112. Durante uma representação da tragédia de Andrômeda num dia muito quente, as pessoas começaram a adoecer a recitar coisas estranhas por um bom tempo, até a chegada do inverno.
  113. Um surto de suicídios femininos acometeu a Grécia certa vez, até que alguém teve a ideia de declarar que toda mulher que se suicidava seria exposta nua em praça pública.
  114. Os suicídios cessaram, porque as mulheres deprimidas sentiam vergonha de serem expostas daquela forma, mesmo que depois de mortas, ou seja, a vergonha da nudez foi maior do que o desejo de morrer.
  115. A salvação da alma não depende de conhecimento teológico.
  116. Uma pessoa que parece possuída por um espírito pode estar realmente possuída… ou apenas delirante.
  117. Pode ser chamado “poder” qualquer coisa que conquiste amor ou temor de muitas pessoas.
  118. A ciência é menos popular que a arte porque é mais difícil compreender a ciência.
  119. O seu valor é atribuído pelos outros.
  120. Honra é respeito público: você é honrado quando os outros respeitam você.
  121. Obedecer é honrar: você obedece ao reconhecer superioridade.
  122. Portanto, desobedecer é desonrar.
  123. Sempre que te imitarem, estão te honrando.
  124. Demorar pra se decidir implica que o indivíduo está avaliando também coisas de ínfima importância, o que é pusilanimidade.
  125. Houve um tempo, em que o roubo fora dos limites das cidades gregas era legal e visto como trabalho legítimo pelos próprios gregos.
  126. Honra e desonra variam segundo o contexto histórico e geográfico, pois ações dignas de honra aqui e agora podem não ser no futuro ou em outro lugar.
  127. O desejo de poder nos leva necessariamente à violência, porque a essência do poder é a capacidade de subjugar alguém.
  128. Se as ciências exatas pudessem servir contra os interesses pessoais de pessoas influentes, seriam tornadas relativas, como as humanidades.
  129. Se as pessoas não gostam dos efeitos, culpam as causas que vêem.
  130. A religião tem laços com a política.
  131. Os gregos tinham uma entidade espiritual patrona do pinto.
  132. O adivinho só faz sucesso aonde há um número suficiente de pessoas que acredita nele.
  133. Dizer que Deus é contra o crime, isto é, contra o que é proibido pela lei humana, é uma vitória e tanto do Estado.
  134. Se Deus é Deus da Terra inteira, os judeus são “o povo de Deus” em virtude de um pacto pessoal feito com ele, o que não significa que Deus seja Deus somente dos judeus ou que só os judeus possam reconhecê-lo.
  135. A religião é natural ao ser humano.
  136. Quando alguém recebe, por “revelação divina”, uma crença, ritual ou ensinamento que contradiga aquilo que já está estabelecido como sendo revelado, algum profeta aí é falso.
  137. Se a religião se mostra injusta, a fé de seus seguidores diminui.
  138. A impureza doutrinária também ajuda a confundir os fiéis e diminuir sua fé.
  139. O fator que leva católicos, protestantes e ortodoxos a mudar de uma denominação para outra não é tanto a forma da doutrina, mas sobretudo a conduta dos sacerdotes (padres ou pastores).
  140. As três razões principais de discórdia: competição, desconfiança e glória.
  141. A menos que exista um poder superior capaz de manter as pessoas em concórdia, elas estarão em guerra de todos contra todos.
  142. A guerra começa antes do primeiro ataque.
  143. Paz é ausência de guerra e ausência de desejo beligerante: se há intenção de guerra, não há paz, mesmo que a guerra não tenha começado.
  144. A lei é feita depois do crime.
  145. Não há crime na guerra porque todos os atos são justificáveis pelo medo da morte.
  146. Justiça e injustiça só fazem sentido na sociedade, sendo conceitos que não têm valor na cabeça de alguém que vive isolado de todos os outros.
  147. O medo pode também unir as pessoas, porque é mais seguro estar junto dos outros.
  148. Direito (posso ou não posso) não é o mesmo que lei (devo ou não devo).
  149. A liberdade total de todos permite o natural estado de guerra entre os seres humanos.
  150. A linguagem é condição de possibilidade para a política.
  151. Não posso prometer algo que contradiga uma promessa feita anteriormente.
  152. Renunciar ao direito de autodefesa é impossível.
  153. O testemunho prestado sob tortura não é válido.
  154. Embora Deus seja um poder maior do que as pessoas, é frequentemente menos temido do que as pessoas.
  155. Juras desnecessárias a Deus são desrespeito ao seu Nome, portanto violação do mandamento terceiro (não usar o Nome em vão).
  156. Se não é injusto, é justo; não há meio-termo entre esses dois.
  157. Se a punição pela quebra de um acordo não é maior que benefício que se poderia tirar dessa quebra, o contratante quererá quebrá-lo.
  158. O que cada um tem o direito de ter é definido pela lei.
  159. Fazer acordos é natural.
  160. Pessoas justas são as que praticam atos justos.
  161. Iniquidade e injustiça são a mesma coisa.
  162. Existe um tipo de justiça que é estabelecido entre os próprios contratantes e outro tipo de justiça que é estabelecido com a mediação de um juiz.
  163. Se você conquista a boa vontade de alguém, não a perca.
  164. O que procura manter a paz nos grupos em qual entra é chamado sociável.
  165. Quem não perdoa os que se arrependem se mostram avessos à paz, pois preferem continuar punindo alguém que já reconheceu seu engano e se comprometeu a não mais cometê-lo.
  166. Se vingar só para se vingar é infantil.
  167. Causar dano sem razão é crueldade.
  168. Orgulho é se perceber como sendo melhor que os outros.
  169. Não tem sentido eleger um juiz se ele não for imparcial durante o exercício.
  170. Essas leis naturais de Hobbes se resumem da mesma forma que a Lei: faz aos outros o que gostarias que fosse feito a ti.
  171. Como essa lei tem origem interna, por vezes sua simples promulgação interna não basta para cumpri-la.
  172. Hobbes aponta um fato interessante: tudo aquilo que quebra esse preceito é automaticamente injusto e provoca a ira das pessoas quando descoberto ou manifesto.
  173. Na vida em sociedade, a vida segundo esse preceito preserva a paz.
  174. Uma ação virtuosa depende do fim que se quer atingir.
  175. O dono de algo não necessariamente é seu inventor.
  176. É possível representar os interesses de coisas inanimadas, como uma escola ou hospital.
  177. Os interesses das crianças são sempre representados pelos adultos.
  178. Porém, essa prática só pode se dar numa situação em que haja Estado para dizer que a criança deve ser representada pelo adulto.
  179. Não condenar é absolver.
  180. Se o voto da maioria puder ser anulado pelo voto de uma só pessoa, não tem sentido votar.
  181. Às vezes é preciso forçar alguém a ser bom.
  182. Pacto sem punição por rompimento é nulo.
  183. Se duas forças opostas se unem para combater um inimigo comum, elas voltam a se opor quando o inimigo comum é eliminado.
  184. Porque as abelhas não sentem orgulho, nem procuram a honra, elas não entram em guerra.
  185. As abelhas não vêem distinção entre bem individual e bem comum.
  186. As abelhas vivem em harmonia porque não vêem como seu comportamento poderia ser melhor.
  187. As pessoas, diferente das abelhas, são capazes de mentir.
  188. Quanto mais satisfeita, menos a abelha ofende os outros.
  189. As outras espécies não precisam de Estado porque seus “acordos” são naturais, enquanto que os acordos humanos são artificiais.
  190. Hobbes se mostra bem democrático quando diz que uma só pessoa ou uma assembleia deve reduzir a vontade de todos a uma só vontade por meio da pluralidade dos votos e que os votos da maioria devem ser contados como sendo os votos de todos.
  191. A tarefa do Estado é assegurar a paz entre os que lhe são sujeitos.
  192. Além do mais, se o governante eleito pelo povo promulga uma lei que prevê punição para determinado comportamento e depois o súdito incorre nesse comportamento e é punido por ele, é, no fim das contas, inventor de seu próprio castigo.
  193. O povo é culpado das ações do governante eleito.
  194. Pegar em armas para defender uma opinião indica que não há paz instaurada ainda.
  195. Quem tem direito a um fim tem direito aos meios.
  196. Quando todos têm direito a tudo, ocorre guerra.
  197. Embora o Estado deva zelar pela paz de seus súditos, não há impedimento político quanto à guerra contra outros Estados, se isso redundar em benefício público.
  198. Num regime monárquico, democrático, absolutista, totalitário ou o que quer que seja, a natureza do poder é a mesma: os súditos reconhecem um Estado e um Estado governa os súditos.
  199. Todos vêem os problemas atuais como maiores do que os problemas futuros, resolvendo os problemas de qualquer jeito.
  200. Só existem três formas de governo: monarquia, democracia e aristocracia.
  201. A tirania e a oligarquia são formas degeneradas da monarquia e da aristocracia, não tipos distintos de governo.
  202. A riqueza e a fama de um monarca dependem da riqueza e da fama de seu povo: se seu povo sofre, os outros governos o veem como um mau monarca.
  203. Se o povo é fraco, o monarca é fraco.
  204. Um dos problemas democráticos são as faltas na assembleia: pode um julgamento ser justo se metade da oposição faltou à reunião no dia dessa decisão?
  205. As decisões democráticas nem sempre são motivadas pela razão, mas muitas vezes pela raiva e pela inveja.
  206. Enquanto que a decisão democrática pode ser confundida pela retórica, a decisão monárquica pode ser confundida pela adulação.
  207. A tentação do nepotismo é maior numa assembleia do que numa monarquia: o monarca só tem seus parentes com os quais se corromper, mas cada membro da assembleia também tem seus parentes.
  208. Acusar requer menos eloquência: a condenação é mais facilmente vista como justiça do que a absolvição.
  209. Um grande problema da monarquia: descendentes que ainda são crianças.
  210. Quem deve nomear o tutor do sucessor é o antecessor.
  211. O tutor deve ser alguém que não poderia se beneficiar da morte do aluno!
  212. Existem “monarquias eletivas“, em que o monarca exerce por um limite de tempo e depois o sucessor é votado.
  213. Se um povo governa outro povo, é uma monarquia de um povo sobre outro, pois aquele que governou o povo oprimido é uma pessoa só.
  214. O direito de sucessão é importante para o Estado; de outra forma, o Estado teria que morrer e ser feito novamente com regularidade.
  215. O testamento do governante deve ser revelado por ele próprio antes da morte, para evitar que se forje testamento falso por algum súdito.
  216. Na falta de um sucessor apontado diretamente, o sucessor deve ser escolhido segundo o costume local.
  217. Se não houver costume, deve ser o filho.
  218. Se não houver filho, seja a filha.
  219. Se não houver filha, seja o irmão.
  220. Se não houver irmão, seja a irmã.
  221. E por aí vai.
  222. A venda de cargos é nefasta, especialmente se for para um rico incompetente ou estrangeiro.
  223. O direito do pai sobre o filho tem que ser reconhecido pelo filho, do contrário, o filho subverterá a vontade do pai quando tiver oportunidade.
  224. Nem sempre o pai tem prioridade na educação do filho porque nem sempre o pai é o mais indicado para isso.
  225. Um bom critério seria de que o pai tem prioridade na educação do filho e a mãe tem prioridade na educação da filha.
  226. A obediência da criança é devida a quem a cria, a quem a alimenta, a quem cuida, não necessariamente a quem gerou.
  227. Isso quer dizer que a criança não precisa dever obediência aos pais se foi abandonada por tais pais, mas deve obediência a quem a acolher.
  228. Por outro lado, se a mãe é submissa ao pai, então a autoridade passa para o pai, caso o acordo de prioridade não seja feito.
  229. O avô tem domínio sobre o neto.
  230. O déspota só é reconhecido se o povo teme ser exterminado por tal déspota.
  231. O vencedor de uma guerra não precisa poupar a vida dos vencidos se estes não se submeterem.
  232. O senhor é dono das coisas do servo.
  233. A família é uma pequena monarquia.
  234. Os livros de Samuel, as cartas de Paulo e a Lei sancionam a autoridade terrena e a sujeição a ela.
  235. O ato de Adão e Eva de cobrirem a própria nudez já foi, em si, um desafio a Deus, o qual os havia criado nus.
  236. A maioria ou a tradição nem sempre estão corretas.
  237. Se você quer fazer algo e nada há que te impeça, você tem liberdade para fazer.
  238. Porém, a liberdade está condicionada ao poder que se tem de agir: se eu não posso criar um par de asas para voar é porque isso não está dentro dos limites da ação humana, logo eu não posso escolher (não há liberdade sem escolha).
  239. É impossível criar um código penal perfeito que cubra todas as ações humanas, especialmente se precisarmos classificá-las como boas ou más e ainda mais se queremos dizer quais são piores e quais são mais brandas.
  240. Se a lei não vê como crime, então é permitido.
  241. Só há liberdade individual na democracia.
  242. O governo tem os direitos que lhe são concedidos no momento em que ele é criado.
  243. Não sou obrigado a me matar.
  244. Se você é um soldado pago com dinheiro público, será punido por fugir da batalha.
  245. Se um súdito é banido, não é mais súdito.
  246. Se você não concorda com as leis de seu país, pode procurar outro no qual morar.
  247. Se um país subjuga outro, o senhor do país vencedor torna-se senhor da população de súditos do país conquistado.
  248. Público é o que é feito entre súdito e governo, privado é o que é feito entre súdito e súdito.
  249. Uma iniciativa privada é permitida na medida em que o governo permite.
  250. Se alguém faz algo que não é aprovado pelo governo, está fazendo por conta própria.
  251. Os mercadores que se juntam em corporações para juntar esforços são espertos: podem comprar a preço baixo a mercadoria de sua terra e vendê-la a preços altos onde essa mercadoria é rara, o que requer maiores quantidades de investimento, quantidades que são melhor obtidas em grupo.
  252. Em adição, pode-se comprar mercadoria que é comum em determinado lugar a fim de vendê-la em sua própria terra natal, onde ela é rara.
  253. Se a mercadoria pode ser vendida para muitos, ela pode ser mais cara, pois não faltarão compradores.
  254. Quanto menos interesse há em comprar determinada mercadoria, mais o preço diminui.
  255. Não pode haver dois soberanos para o mesmo povo.
  256. Os mendigos podem se reunir para traçar um plano de mendicância mais eficiente e, juntos, obter mais lucro.
  257. Se o governo não puder saber o que determinado grupo ou associação quer, então esse grupo ou associação é automaticamente fora da lei.
  258. Às vezes, promover a justiça requer dinheiro.
  259. Nas reuniões estatais, qualquer que não partilhar do interesse que será discutido não bem-vindo.
  260. O Estado é como um corpo humano: as organizações legítimas são como órgãos, enquanto que as organizações ilegítimas são como tumores e cálculos.
  261. Um ministro é uma pessoa encarregada pelo Estado de realizar determinada missão e que goza de recursos estatais para realizar tal missão.
  262. Enquanto a escola for um dispositivo ideológico do Estado, os professores podem ser considerados ministros.
  263. Ninguém pode ser juiz em causa própria.
  264. É justo escolher um juiz para sua causa, para evitar que se escolha um juiz com quem se tenha uma inimizade anterior.
  265. Alimentação é fácil achar, mas obtê-la pode requerer trabalho.
  266. Nenhum Estado produz tudo de que precisa.
  267. A força de trabalho pode ser vendida.
  268. Manter alguma coisa somente pela sua própria força leva à incerteza.
  269. Sem leis não há heranças materiais nem propriedade privada.
  270. Justiça: a cada um o que é seu.
  271. Se o governante faz algo que o povo não gosta, bem feito: o povo, ao elegê-lo, sancionou todas as suas ações.
  272. O que não significa que o povo deve aceitar tudo.
  273. A distribuição agrária é tarefa do soberano.
  274. Levadas pela ânsia de lucro, algumas pessoas vendem aquilo que na verdade faz mal, tal como as drogas.
  275. Não existe conhecimento inútil.
  276. Os súditos devem ter comércio entre si e oferecer serviços uns aos outros.
  277. Mas o Estado deve regular também essas práticas.
  278. Pelo bem da exportação e da importação de todos os bens, o valor do ouro e da prata não devem ser alterados por nenhum Estado, a fim de que seu valor seja usado como referência para câmbio, por exemplo.
  279. Reservas de metais preciosos podem ser usadas como último recurso em guerras, para firmar pactos de paz.
  280. Como o valor do ouro não muda, ao passo que o valor de uma moeda pode diminuir, contratos de paz firmados em dinheiro e não em ouro são voláteis e inseguros.
  281. Uma frase imperativa pode se tornar opinativa dependendo de quem fala, quem ouve e de quando e onde fala ou ouve.
  282. Não confunda conselho e ordem.
  283. A ordem visa a satisfação da vontade do que ordena, o conselho visa a satisfação de quem ouve.
  284. Conhecer a lei é obrigação de todos os cidadãos.
  285. Deve haver harmonia de intenções entre o conselheiro e o aconselhado: se o conselheiro tiver intenções dissonantes com as do aconselhado, pode querer dar mau conselho.
  286. O conselho deve ser limpo, claro, não deve ter metáforas, não deve ser longo, não deve excitar paixões, não deve ser ambíguo, não deve ter expressões difíceis…
  287. Os conselheiros políticos devem ser intelectuais.
  288. O conselheiro deve ter experiência.
  289. Quem não tem juízo, dá mau conselho.
  290. Na falta de regras absolutas de julgamento, quem tiver maior experiência em determinado assunto terá melhor julgamento.
  291. Numa assembléia, alguém que defende determinada opinião, ao ouvir um discurso muito bom que defende a opinião contrária, pode ficar com vergonha da sua própria decisão e mudá-la, para não parecer bobo na frente dos outros que aplaudiram a opinião contrária.
  292. Se o que você quer é um simples conselho, consultar uma pessoa de confiança é o bastante.
  293. Existem leis comuns a todos os Estados.
  294. Se o soberano pode revogar leis quando ele quiser, então ele praticamente não está sujeito a elas.
  295. Se você faz um voto a si mesmo, não fez voto nenhum.
  296. Se não há lei contra, então não é crime.
  297. Se não há governo, não há lei.
  298. A função das leis é tolher a liberdade mesmo.
  299. Quem tem o direito de dissolver uma associação também tem direito de controlá-la.
  300. Os dois braços do Estado: as leis e a força.
  301. Se você estuda muito uma coisa só, se expõe ao risco de estar despendendo muito tempo estudando uma matéria que não comporta verdade alguma.
  302. A lei só é válida para quem é capaz de firmar um pacto.
  303. Qualquer pessoa que não puder aprender as leis por qualquer razão que seja está escusado de observá-las.
  304. Regra de ouro: não faça aos outros o que você não gostaria que fosse feito a você.
  305. Se alguém te dá um cargo e não diz como exercê-lo, você é obrigado a usar a razão para achar um meio de exercê-lo perfeitamente.
  306. A conclusão que você chega nesse processo não deve ser dissonante com a decisão estatal.
  307. Então, use o cargo dado da forma a melhor garantir os interesses do Estado.
  308. Quem deveria ensinar as leis às pessoas são os próprios juízes.
  309. Existem casos em que tal não é necessário: a pessoa deve recorrer às leis escritas quando puder.
  310. Antes de processar alguém, certifique-se de que essa pessoa realmente cometeu o crime.
  311. A regra de ouro pode ser má interpretada, embora unicamente por ocasião de má-fé.
  312. Leis curtas podem ser mal interpretadas, então muito mais as leis longas.
  313. A interpretação correta de uma lei depende da posse das causas finais: para quê esta lei foi feita?
  314. Se o filósofo formula uma lei revolucionária, ela não vale nada se o Estado não a sancionar.
  315. O juiz deve representar a vontade do soberano.
  316. Céu e terra passarão, mas a Lei não passará e esta é a Lei e os profetas: faz ao próximo aquilo que gostarias que te fosse feito.
  317. Os comentários às leis não são interpretação.
  318. Se o juiz viu que o ato criminoso não foi cometido pelo réu, mas por outra pessoa, ele deve pedir que outro juiz ordene o caso, ao passo que ele próprio deve se tornar testemunha.
  319. O advogado estuda as leis, mas quem as interpreta são os juízes.
  320. Existem dois tipos de lei: moral e positiva.
  321. A moral é a que sempre existiu, baseada nas virtudes humanas que tendem para a paz.
  322. A positiva é a que é escrita pelos soberanos.
  323. Existem dois tipos de lei positiva: humana e divina.
  324. Das leis humanas, existem dois tipos: as distributivas (determinam os direitos dos súditos) e as penais (determina os deveres e as punições por desrespeito a estes).
  325. As leis positivas divinas são aquelas reveladas pelos profetas.
  326. Leis positivas que contradigam as leis morais não devem ser obedecidas.
  327. Existem dois tipos de lei: fundamental e não fundamental.
  328. O Estado se dissolve e deixa de existir se não houver leis fundamentais, que são as leis que asseguram a existência do Estado.
  329. Direito é liberdade.
  330. Ter fantasias do tipo “como seria legal se eu tivesse a esposa daquele cara pra mim”, mas sem ter a intenção de tomá-la, não necessariamente infringe o mandamento que diz “não cobiçarás a mulher do próximo”.
  331. Da mesma forma, ter fantasias do tipo “oxalá aquele cara morresse” não necessariamente significa que eu tenho desejo de matá-lo.
  332. Sentir prazer em fantasias é inerente ao ser humano.
  333. Crime é qualquer ato que seja proibido pela lei, tal como qualquer omissão de esforço para realizar deveres legais.
  334. O termo “pecado”, originalmente, significa violação da lei em questão.
  335. Se não houver lei, não há pecado.
  336. Entendimento não significa raciocínio.
  337. Fazer aos outros o que não se faria a si mesmo é sempre crime.
  338. Se você se muda para o estrangeiro e você não teve meios de aprender as leis locais, não deveria ser punido por quebrar uma lei que ignora.
  339. Se você quebra uma lei e se defende dizendo “eu não sabia que a pena seria tão alta”, você acaba de se condenar, porque está dizendo que não veria problema em cometer crimes se as penas fossem brandas.
  340. Se você comete um ato, está assumindo todas as consequências desse ato.
  341. Se a punição for pouca e a pessoa diz que não teria feito se a pena fosse mais alta, isso é um indício de que a lei não está punindo adequadamente, porque as pessoas, vendo benefício na prática criminosa, não se sentem intimidadas pela pena.
  342. Se um comportamento é tornado crime hoje, os que incorreram em tal comportamento ontem não podem ser punidos.
  343. O fato de que a justiça foi violada com êxito várias vezes ao longo da história não a torna um conceito vazio.
  344. Basear as leis nesse tipo de precedente, isto é, tornando justo tudo o que antes deu certo, mesmo que tenham sido atos viciosos, perturba o Estado, o qual precisa de leis estáveis para manter a paz.
  345. Algumas pessoas acreditam poder manipular a lei por serem capazes de manipular as pessoas das quais depende sua aplicação.
  346. A ocasião faz o criminoso.
  347. Matar em legítima defesa nunca é crime.
  348. Se só houver ameaça, eu devo pedir ajuda às autoridades.
  349. Dependendo das circunstâncias, a pena por um crime pode ser atenuada.
  350. Quebrar as leis para sobreviver não é crime.
  351. Quebrar a lei por presunção de impunidade pela força é mais digno de punição do que quebrar pela presunção de impunidade pela fuga.
  352. Quem incita a cometer um crime é também culpado.
  353. O crime cometido por impulso ou descontrole é menos culpável do que o crime premeditado.
  354. O tempo despendido entre a prática criminosa e o conhecimento da lei deve ser despendido meditando sobre como conformar suas paixões à lei.
  355. Se a lei é ensinada publicamente, nas escolas, por exemplo, todos os crimes são mais culpáveis.
  356. Se a lei for de difícil acesso, todos os crimes são menos culpáveis.
  357. Roubar dinheiro público é pior do que roubar dinheiro privado, porque o roubo de dinheiro público é o roubo feito a muitos ao mesmo tempo.
  358. Falsificação de dinheiro, usurpação de cargos e qualquer crime relacionado a serviços públicos é pior do que os crimes feitos contra pessoas privadas.
  359. Roubar um pobre é mais grave do que roubar um rico.
  360. A pena por um crime só pode ser dada pelo Estado.
  361. Existem penas físicas, penas de cargo, penas pecuniárias, penas prisionais e penas de exílio.
  362. A punição de alguém deve ser benéfica para o Estado.
  363. Um Estado não pode ter apenas punições; deve ter também recompensas para os que fazem boas ações.
  364. Um governo pode se dissolver porque o governante recusa assumir parte do poder que lhe é necessário ser investido.
  365. Fé e razão são conciliáveis.
  366. Uma das causas de rebelião contra a monarquia é a leitura dos livros de história pelos jovens.
  367. Numa monarquia, livros de história não devem ser lidos em público, a não ser por pessoas que sejam capazes de filtrar o conteúdo deles.
  368. Se temos a igreja declarando uma lei e o Estado declarando outra, temos o problema de que as pessoas estão sujeitas a dois senhores.
  369. Existem outras doenças do Estado, como súditos muito poderosos e carismáticos, cidades muito independentes em recursos e outros elementos sob seu controle, mas que podem rivalizar com ele se desejarem.
  370. Segurança não compreende apenas a saúde física, mas também a posse dos bens.
  371. Quem desamparar os meios, ignora os fins.
  372. Quem desamparar os fins, ignora os meios.
  373. O Estado precisa informar os súditos de seus direitos, porque o povo que sente que tem poucos direitos é mais propenso à rebelião.
  374. Não existe lei contra rebelião.
  375. Os princípios que fundamentam a lei devem ser seguros.
  376. A dificuldade em entender esses princípios que fundamentam as leis não vem tanto dos princípios, mas da índole dos que tentam aprender, que procuram harmonizar os princípios com seus interesses.
  377. As pessoas simples entendem esses princípios mais facilmente, pois não tem os recursos abundantes que impedem o freio das paixões e nem o orgulho dos doutores.
  378. O que faz um governo prosperar não é o fato de ser monárquico, aristocrático ou democrático, mas o fato de que há concórdia entre os súditos.
  379. Dos dez mandamentos, os quatro primeiros se resumem em “ame Jeová de todo coração, de toda alma e toda a mente”, ao passo que os seis seguintes se resumem em “ame o próximo como a ti mesmo.”
  380. Os maus costumes se instalam porque as pessoas não dispõem dos fundamentos das leis, que são obtidos pelo estudo e pela meditação, duas coisas para as quais muitos não têm tempo.
  381. Ricos e pobres devem ser punidos igualmente.
  382. Qualquer quebra de lei é ofensiva ao Estado.
  383. Para evitar o desemprego, deve-se regular tantos trabalhos quanto for possível, tornar legítimos empregos uma quantidade cada vez maior de atividades.
  384. Boas leis são leis justas.
  385. Isto é, leis que tanto o governo como a população aceitam.
  386. Não se deve promulgar leis desnecessárias.
  387. Uma lei que beneficia só o soberano não é uma boa lei, porque o bem do Estado é um só, o bem do governo e o do povo.
  388. Em vez de leis extensas, leis curtas acompanhadas da razão de sua criação, para facilitar sua interpretação.
  389. Os crimes que devem ser mais severamente punidos são os que ameaçam as coisas públicas.
  390. Não vá acidentalmente recompensar um mau comportamento, para que outros não se comportem mal também.
  391. Política é mais difícil que geometria, logo não pode ser exercida sem método.
  392. Um bom conselho não é dado imediatamente, mas depois de algum tempo de reflexão.
  393. A humanidade parece nunca estar contente com o presente.
  394. São súditos de Deus todos aqueles que creem nele, em sua providência e no fato de que ele pune ou recompensa quem merece ser punido ou recompensado.
  395. Deus se manifesta de três formas: pela razão, pela revelação interna (conosco, diretamente) e pela revelação externa (através dos profetas).
  396. Sendo onipotente e sumamente sábio, Deus quererá governar e irá governar.
  397. Honrar a Deus é sempre supor dele o melhor.
  398. Culto é prestar honras a Deus.
  399. É possível cultuar alguém por atos: se amamos a Deus, queremos fazer o que ele nos diz pra fazer.
  400. Alguns atos que servem de culto são as orações, as ações de graças e a obediência.
  401. Para um sinal ser chamado de sinal deve ser entendido.
  402. Se Deus é a causa do mundo, então o panteísmo (que afirma que Deus é o mundo) não é possível.
  403. Deus, para ser Deus, é preciso ser eterno (isto é, sem começo e sem fim).
  404. Se Deus não se importasse conosco, não teria nos dado ordens de culto.
  405. Deus, sendo Deus, é um só.
  406. Aquele que confecciona estátuas não está fazendo deuses: os deuses são feitos por aqueles que oram pra essas estátuas.
  407. A idolatria é pecado do fiel e não do artífice.
  408. A teologia é um vasto território do pecado: tentando estudar Deus segundo preceitos filosóficos ou científicos, que são imperfeitos por natureza, é aceitar a possibilidade de blasfemá-lo.
  409. As orações devem ser pensadas, as palavras devem ser bem escolhidas.
  410. Os pagãos celebram seus deuses com muita submissão e ações de graças, então por que os cristãos deveriam prestar menos submissão e cultuar de qualquer jeito ao Deus que afirmam ser o verdadeiro?
  411. Obediência é melhor que o sacrifício.
  412. Se não há maioria religiosa expressiva, o Estado não tem religião oficial.
  413. Todos os prazeres comportam determinado grau de dor.
  414. Assim, a intemperança é punida com doenças, a covardia é punida com a opressão, a negligência com a rebelião, o orgulho com a ruína…
  415. Essas punições são ministradas pela lei da natureza.
  416. De fato, governar é difícil, requerendo um governante que é também filósofo.
  417. Mas o governo pode se basear em princípios fáceis.
  418. Ser religioso não necessariamente implica viver irrefletidamente.
  419. Se o soberano obriga os ateus a praticar determinado culto, isso não muda o fato de que ainda são ateus.
  420. Se alguém diz que foi divinamente inspirado por Deus a fazer alguma coisa, que teve um sonho no qual Deus falou com ele, ou que Deus lhe apareceu, todas essas coisas são duvidosas…
  421. O único jeito de saber se alguém é profeta é através de dois sinais simultâneos: realização de milagres e ensinamento concorde.
  422. O Deuteronômio não foi terminado por Moisés, óbvio, ele não podia ter escrito sobre sua própria morte e nem sobre o fato de seu sepulcro nunca ter sido encontrado.
  423. O nome do livro não é indicativo seguro de seu escritor.
  424. O livro denuncia quando foi escrito.
  425. Se o Livro dos Juízes, capítulo 18, verso 30, que diz que alguém foi sacerdote até o dia do cativeiro, referir-se ao cativeiro babilônico, então Juízes foi escrito quase concomitantemente com Jeremias ou mesmo depois.
  426. Também os livros de Samuel, embora falem de Samuel, não foram escritos por ele.
  427. Alguns livros da Bíblia fazem menção a livros que não existem mais.
  428. O fato registrado é mais velho que o registro.
  429. Os livros do Velho Testamento foram mesmo atualizados, pois há evidências de que a forma atual de alguns dos Salmos não é a forma original intencionada por Davi.
  430. Embora os Provérbios tenham sido proferidos por Salomão e outros dois autores, a escrita do livro dos Provérbios, como compilação dessas sentenças, é posterior.
  431. De acordo com os livros apócrifos, a Lei havia sido queimada durante o exílio babilônico e reescrita por Esdras sob inspiração divina.
  432. Com exceção das epístolas de Paulo, do Santo Evangelho Segundo São Lucas e dos Atos dos Santos Apóstolos, todos os livros e cartas do Novo Testamento foram escritos por discípulos de Jesus ou por testemunhas oculares.
  433. O único objetivo das Escrituras Sagradas é reconverter o povo a Deus.
  434. Deus é o escritor dos textos inspirados.
  435. Universo é coletivo de corpo.
  436. “Espírito” não necessariamente quer dizer fantasma.
  437. Dizer que o “espírito de vida” estava nas rodas, quer dizer que as rodas estavam vivas.
  438. Se alguém tem uma alucinação, outros não a terão ou terão uma alucinação diferente.
  439. Hobbes interpreta as Escrituras por via da exegese, isto é, mantendo suas dúvidas iniciais ao longo do texto até que o próprio texto, em outra passagem ou numa leitura posterior, esclareça essas dúvidas.
  440. Anjos são mensageiros.
  441. Anjos não são putti.
  442. Anjos são porta-vozes divinos e indicativos de presença divina simbólica.
  443. “Substância incorpórea” é uma expressão contraditória para Hobbes.
  444. O Reino de Deus tem uma faceta terrena, ministrada por Jesus, pois Jesus, afirmando-se rei, tornou-se inimigo de César.
  445. O Reino de Deus não é metafórico.
  446. Quando uma pessoa é chamada “santa”, não quer dizer que ela não peca ou nunca pecou, mas que leva uma vida de dedicação a Deus.
  447. Existem graus de santidade.
  448. No Velho Testamento, só há dois sacramentos: a circuncisão e a páscoa.
  449. No Novo Testamento, só há dois sacramentos: o batismo e a ceia do Senhor.
  450. “O Verbo fez-se carne” pode significar cumprimento (fez-se) da promessa (Verbo, pois promessas são feitas de palavras) em sua forma física (carne), pois Deus prometeu enviar seu filho e a promessa fora cumprida.
  451. A razão também forma ilusões.
  452. Moisés era amigo de Deus.
  453. Hobbes, apesar de tudo, diz que a forma como Deus falava com os profetas era incompreensível.
  454. Se alguém diz “faça isto para ser feliz”, está querendo comandar todas as pessoas, porque todas querem ser felizes.
  455. Então, instituir um caminho para a felicidade, equivale a tentar instituir uma moral universal.
  456. Alerta de Hobbes: a maioria dos profetas é falsa.
  457. O próprio Deus nos dá critérios de julgamento para saber se um profeta é ou não falso.
  458. Diz Hobbes: se alguém nega que Jesus já veio e prega que o Messias ainda virá, é um anticristo.
  459. As pessoas se admiram de duas coisas: acontecimentos raros ou sem precedentes e acontecimentos de causa natural desconhecida.
  460. Se um evento é as duas coisas ao mesmo tempo, isto é, raro ou sem precedentes e de causa natural desconhecida, podemos chamar isso seguramente de milagre.
  461. O milagre normalmente é feito com uma razão, que é adquirir crédito ao profeta.
  462. O Estado pode permitir alguém a vida ou ordenar a morte a alguém, mas, enquanto a Bíblia Sagrada prometer vida eterna após a morte e enquanto as pessoas tiverem a crença no Inferno como um lugar de tormento eterno, a autoridade do Estado não será totalmente sólida.
  463. O paraíso será na Terra.
  464. Sendo nós imortais na vida eterna, não haverá necessidade de geração, nem de sexo, nem de casamento.
  465. As almas (vidas) serão ressuscitadas.
  466. Quando as Escrituras falam de Reino dos Céus, referem-se a um governante celeste que reinará sobre uma população terráquea.
  467. Só o filho do homem pode ascender ao céu, porque veio de lá.
  468. Nesta vida, não somos imortais de forma alguma.
  469. Só podemos ser imortais depois da ressurreição.
  470. O Inferno é a sepultura.
  471. O Inferno de fogo é metafórico e exprime, na verdade, a “segunda morte”.
  472. A associação entre Inferno e fogo tem raiz etimológica.
  473. Tudo o que se diz sobre o Inferno não deve ser entendido literalmente.
  474. Todos ressuscitarão, mas nem todos viverão para sempre: os que forem reprovados no julgamento morrerão de novo.
  475. “Mas livra-nos do mal” pode referir-se a males particulares ou o mal em geral.
  476. Ambas as coisas coincidem.
  477. Se formos privados do pecado original, seremos imortais.
  478. Não faça afirmações religiosas sem apoio das Escrituras.
  479. “Igreja” não é o prédio, mas é o coletivo de “cristãos”: se houver três cristãos num lugar, tem-se ali uma igreja, mesmo que sejam um católico, um ortodoxo e um protestante.
  480. Não existe uma igreja universal porque existem cristãos em todos os países, cada um sujeito a leis diferentes.
  481. O fato de um governo ser terreno não exclui a possibilidade de também ser espiritual, como é o caso das teocracias.
  482. Se duas doutrinas são ensinadas como absolutas, uma delas necessariamente está errada, o que não exclui a possibilidade de ambas estarem erradas.
  483. O governo não pode fiscalizar os pensamentos.
  484. Só há um líder religioso na religião do livro: depois de Moisés, Jesus o substituiu.
  485. Qualquer que pretenda ocupar o lugar de Jesus precisa do direito divino para isso.
  486. Devemos fazer o que Jesus disse, não refletir sobre as razões por trás do que ele disse.
  487. Somente o soberano (Moisés no Velho Testamento, Jesus no Novo Testamento) pode designar governantes que ministrem em sua ausência.
  488. Enquanto que na época dos juízes os sacerdotes eram também governantes, embora sob o mando de Deus, os reis que se seguiram eram puramente terrenos.
  489. Na verdade, o rei podia destituir um sacerdote de seu direito sacerdotal (Salomão fez isso).
  490. O rei, se lhe aprouvesse, poderia conduzir orações a Deus.
  491. Acusações falsas levaram dez tribos para longe do filho de Salomão e todo o mundo sabe o que aconteceu.
  492. Os reis de Israel e de Judá, na medida em que ouviam aos profetas, prosperavam.
  493. No final das contas, de um jeito ou de outro, os profetas acabavam governando Israel e Judá, porque os reis que se arrependiam voltavam para ouvir o conselho divino.
  494. Jesus tinha três papeis a desempenhar: redentor, mestre e rei.
  495. Jesus se sacrificou para que nós pudéssemos ter expiação por nossos pecados.
  496. O último papel de Jesus, o de rei, só será concluído depois da ressurreição.
  497. Tudo o que Jesus fez foi ensinar e fazer milagres, coisas que não são pecado na lei de Moisés.
  498. O ensinamento de Jesus não se opunha às leis da época, porque não existe governo que se oponha às leis de natureza (faça ao próximo o que você gostaria que fosse feito a você, por exemplo).
  499. Existe um Pai, existe um Filho, existe um Espírito Santo, mas eles não formam uma entidade una e trina.
  500. O poder eclesiástico não recebe de Jesus o poder de comandar, mas somente de ensinar.
  501. A menos que um sacerdote seja também rei, ele não pode exigir observância da religião.
  502. Não é possível ser testemunha para outra testemunha.
  503. “Herege” é o que, estando na Igreja, professa uma opinião proibida pela Igreja.
  504. É interessante que a heresia não parece ser, nas Escrituras, razão de excomunhão.
  505. Excomunhão implica igreja: o cristão que não faz parte de igreja alguma, isto é, de comunidade alguma, não pode ser excomungado.
  506. Também uma igreja não pode excomungar outra.
  507. Cada evangelista era intérprete de seu próprio evangelho (pregação).
  508. Não há problema em cada um ter sua interpretação da Bíblia Sagrada.
  509. Só é possível forçar uma interpretação da Bíblia se o governante for ao mesmo tempo rei e sacerdote.
  510. Interessante notar que a aceitação como canônico vem do ouvinte e não do mestre.
  511. Uma boa regra: desconsidere o que contradiz o que já está estabelecido como lei.
  512. Jesus não destruiu a Lei de Moisés, mas também não obrigou os gentios a ela, então os judeus não estão errados por continuarem observando a lei.
  513. Só pode ser apóstolo em plena acepção da palavra aquele que viu Jesus, conviveu com ele e testemunhou sua ressurreição.
  514. Os doze legítimos apóstolos integravam a Igreja de Jerusalém.
  515. Ancião de congregação é o mesmo que bispo.
  516. Servo ministerial é o mesmo que diácono.
  517. Uma pessoa pode desempenhar múltiplas funções na Igreja.
  518. O dízimo deve ser dado de boa vontade, na quantidade que aprouver ao que dá o dízimo.
  519. No primeiro século, exigir o dízimo era impraticável, porque a organização da Igreja era principalmente didática.
  520. Argumentar que Pedro recebeu as “chaves do Céu” não prova que ele foi o primeiro papa.
  521. Anticristo é qualquer um que nega que Cristo veio em carne e osso, isto é, que nega o evangelho.
  522. A Bíblia, na verdade, atesta contra a autoridade do Papa.
  523. O Papa não ter poder de mando, só de instrução.
  524. A autoridade do Papa não é válida para todos os cristãos do mundo.
  525. O Decreto Apostólico (abstenção da fornicação, do sangue, de animais não tiveram o sangue drenado e da idolatria) é conselho.
  526. Obedecer a Deus e ao Estado é obedecer a dois senhores, algo proibido por Jesus: um dos dois deve se sobrepor e ser chamado propriamente de Senhor.
  527. Se alguém erra por causa do sacerdote, o sacerdote prestará contas e não o fiel.
  528. João diz em sua carta que devemos experimentar os espíritos, testá-los, para saber se falam a verdade, porque muitos falsos profetas estão à solta.
  529. Se o bispo recebe sua autoridade a partir de Deus, como pode o Papa tirá-la depois?
  530. Onde diz na Bíblia que um bispo recebe seu direito diretamente de Deus?
  531. Para alguns sujeitos da época de Hobbes, se o rei for excomungado e ainda assim não mandar os hereges embora de seu território, os cristãos locais não pecam se fizerem rebelião.
  532. Existem vários países oficialmente católicos, mas quantos deles se obrigam ao Papa?
  533. Jesus nunca deu aos seus seguidores o poder de mandar, de julgar ou de castigar.
  534. Amar a Deus acima de todas as coisas (cumpre os mandamentos para dar testemunho disso) e ao próximo como a si mesmo (faça aos outros o que você gostaria que fosse feito a você) te torna elegível à salvação.
  535. Não há evidência bíblica da infalibilidade da Igreja.
  536. Purgatório não é bíblico.
  537. Acreditar que Jesus é o Cristo implica uma cadeia de crenças afluentes.
  538. A prova de que a crença em Jesus implica obras está no capítulo dezoito do Evangelho segundo Lucas.
  539. A Bíblia foi escrita e compilada para o estabelecimento do Reino de Deus.
  540. A Bíblia, se mal interpretada, pode servir como meio de afastar as pessoas de Deus.
  541. O Evangelho é a suma verdade divina entregue por Cristo e a razão é a mais poderosa ferramenta de interpretação que temos.
  542. Se a fé que se tem em um pastor não está te guiando para um aperfeiçoamento espiritual, ele tá fazendo errado.
  543. A história da cristandade é marcada pelo desentendimento e pela guerra.
  544. Erros de interpretação bíblica frequentemente ocorrem entre os que não conhecem a Bíblia: será que seu pastor já leu a Bíblia inteira?
  545. Erros de interpretação bíblica frequentemente ocorrem entre os que misturam diferentes religiões: será que seu pastor não mistura cristianismo e outras coisas?
  546. Erros de interpretação bíblica frequentemente ocorrem entre os que usam meios além da exegese: será que seu pastor não utiliza a lógica de Aristóteles para interpretar tudo?
  547. Erros de interpretação bíblica frequentemente ocorrem entre os que tentam harmonizar a Bíblia com suas tradições: será que seu pastor não está interpretando à luz da sua história?
  548. Esses erros levam os fieis a crenças falsas.
  549. O Reino de Deus não é a cristandade atual.
  550. O cristão promete obediência a Cristo e não ao líder religioso local.
  551. A devoção ao padre ou pastor, de maneira fanática, leva o fiel a agir como se o líder religioso fosse Deus, acatando sua palavra mesmo quando vai contra o que Jesus ensinou.
  552. A crença de que o dízimo é dez por cento da sua renda tem origem católica, instaurada na Idade Média, e já naquele tempo era considerada abusiva.
  553. O poder papal era tanto na Idade Média que ele podia até isentar os cristãos de pagarem imposto ao Estado.
  554. A consagração do pão e do vinho não é uma mudança de substância.
  555. Dizer que o pão se torna, na consagração, o corpo de Jesus e que o vinho se torna o sangue de Jesus pode levar o fiel à idolatria.
  556. Jesus diz “isto é meu corpo, isto é meu sangue”, mas isso não quer dizer que todas as refeições noturnas do Senhor depois daquela seriam marcadas por uma mudança literal de substância.
  557. Inferno não existe, diz Hobbes.
  558. Nas Escrituras, alma significa vida (princípio de movimento).
  559. A alma é a vida que anima o corpo.
  560. Se a alma não é imortal, então não existem fantasmas, não existe psicografia, espiritismo é lorota, tormento eterno no Inferno não existe, purgatório não existe…
  561. Frente à morte, pessoa e animal têm o mesmo valor.
  562. Antigamente se batizavam mortos.
  563. O purgatório foi uma mentira de grande sucesso.
  564. Cristo pode até ter descido ao Inferno (sepultura), mas nunca ao purgatório.
  565. As crenças pagãs eram facilmente manipuladas em nome da paz pública.
  566. Se os espíritos malignos existissem, por que sua criação não é narrada no Gênesis?
  567. Não se deve cultuar imagens, nem pelas imagens e nem pelos santos que representam.
  568. Não é possível fazer imagens de coisas invisíveis.
  569. Não é possível pintar ou esculpir o infinito.
  570. Muitas vezes, há pouco compromisso do artífice com a fidelidade da imagem que está a fazer.
  571. O ídolo não precisa ser uma escultura: ele pode ser o Sol, a Lua, as estrelas, os animais e qualquer coisa tomada como um deus e que recebe culto de alguém.
  572. Se prostrar diante de alguém como ato de reconhecimento de sua autoridade humana não é idolatria, mas se prostrar diante de alguém para cultuá-lo é idolatria.
  573. Reconhecer algo como sagrado e parte do culto não é idolatria, mas reconhecer algo como um deus, sem ser Deus, e lhe prestar culto é idolatria.
  574. Os gregos também atribuíam onipotência a seus deuses.
  575. “Escândalo” é o ato de fazer alguém assumir um comportamento errado, ou seja, levar outro a pecar.
  576. Os santos estão mortos e mortos não ouvem orações.
  577. A canonização dos santos tem origem na apoteose romana.
  578. A procissão também tem origem pagã.
  579. Muitas festas católicas têm origem pagã.
  580. A experiência e a prudência, aliadas à memória, são comuns a homens e animais.
  581. Estudar filosofia não equivale a praticá-la.
  582. Quando ninguém tem o que fazer, faz filosofia.
  583. A filosofia não começou com os gregos.
  584. A raiz etimológica de “escola” é a mesma de “ócio”.
  585. Também o modo judaico de pensar foi tocado pela filosofia grega.
  586. A geometria, quando bem executada, nunca erra e por isso ela nunca se sujeitou a Estado algum.
  587. O fato de quase não errar levava as pessoas a duvidar das certezas geométricas, pois a mente humana parece medir o grau de crédito de algo pela sua possibilidade de ser falso.
  588. Toda a filosofia deveria depender de um tipo de “filosofia primeira”, responsável por definir os termos importantes, de forma a ditar uma linguagem a qual todos os filósofos deveriam falar.
  589. A reflexão sobre isso recebe o nome de “metafísica”, é a parte da filosofia que se propõe a ser a mais elevada, a que diz o que as coisas são.
  590. O que dá força às palavras é o costume.
  591. Como o fogo do Inferno queima as almas, se elas são incorpóreas?
  592. Não se deveria fazer teologia, porque Deus é demais pra caber na razão humana.
  593. A teologia corre atrás de sua cauda.
  594. Casamento não impede castidade e nem continência.
  595. A ideia é que o homem, na administração do altar, deve estar tão puro quanto possível, mas será que se casar torna alguém impuro?
  596. Se o casamento é sujo, quanto mais urinar ou defecar.
  597. O fato de Paulo ter dado uma recomendação contra o casamento tem origem política: os cristãos estavam sendo perseguidos e o cuidado com a família poderia dificultar as fugas dos pregadores do Evangelho.
  598. O poder das leis vem das pessoas e das armas que empunham, não das palavras e das promessas.
  599. Se Aristóteles diz que as leis podem governar autonomamente, isso é metafórico e, mesmo assim, impreciso.
  600. Existem leis inspiradas na Bíblia Sagrada.
  601. Se o que eu estou fazendo não é crime, que me importa que você pense que é errado?
  602. O texto em latim que não faz sentido em idiomas modernos provavelmente também não faz sentido em latim.
  603. Mesmo que um texto em um idioma esteja dizendo a verdade, ela é vetada aos que não conhecem o idioma.
  604. Quando alguém diz que determinado santo viu um fantasma ou aparição, talvez o próprio santo o negasse.
  605. Algumas pessoas tentam desencorajar a busca pela verdade utilizando o medo.
  606. Um bom jeito de descobrir quem é o culpado de determinado crime é descobrindo quem lucraria mais com o delito.
  607. Sacerdote é quem oferece o sacrifício.
  608. O casamento não é, segundo a Bíblia, um sacramento, mas a Igreja Católica o toma como tal.
  609. As confissões podem servir a propósitos políticos: imagine a alegria do sacerdote quando quem vai se confessar com ele é o presidente.
  610. A canonização dos santos e o título de mártir servem como encorajamento à desobediência civil, porque, se for para acatar a ordem do Papa, a qual o fiel pensa ser a ordem de Cristo, o fiel não temerá nem a pena de morte, que lhe daria o título de mártir, encorajando outros fiéis a seguir o exemplo.
  611. Ainda se fazia venda de indulgências na época de Hobbes.
  612. No primeiro século, cada cristão seguia a doutrina apostólica que lhe aprouvesse.
  613. Não se deve avaliar a doutrina de Cristo segundo a afeição que se tem a quem pregou.
  614. Basta que tenhamos Cristo como mestre e a Bíblia para lermos; não precisamos de padres, pastores humanos ou qualquer autoridade humana que nos imponha uma interpretação particular da Bíblia.
  615. Se isso fosse feito, os sacerdotes talvez até pudessem ser mais facilmente perdoados, uma vez que impor suas doutrinas para o povo pode ser causa de escândalo, na medida em que não se percebe que há doutrinas erradas.
  616. Hobbes faz uma série de comparações entre o poder eclesiástico e os contos de fada.
  617. Você agradece à Igreja com dinheiro, mas ela não te agradece com dinheiro.
  618. A diminuição do poder católico, porém, pode dar ocasião para o aparecimento de doutrinas ainda piores.
  619. Conquistar é obter o direito de governar a partir de uma vitória contra o Estado conquistado.
  620. Várias nações que hoje são prósperas têm passado rejeitável.
  621. Fazer justiça com as próprias mãos é ruim porque são atos frequentemente feitos na emoção, isto é, contrários à razão.
  622. Quem lê a Bíblia de forma casual entende melhor do que aquele que a lê para determinado fim.
  623. Hobbes entende que o livro não seria bem recebido porque seu contém ideias desagradáveis às agendas políticas em voga.

3 de agosto de 2015

Anotações sobre o proslogion.

Filed under: Livros, Passatempos — Tags:, , , , , — Yure @ 12:29
  1. O propósito do livro é encontrar um argumento que se baste para provar a existência de Deus e que ele realmente tem todos os atributos que pensamos que ele tem.
  2. Essa era uma pergunta persistente na cabeça de Santo Anselmo.
  3. O livro nem sequer deveria ser chamado livro, de acordo com o próprio Anselmo, mas ele resolveu dar-lhe nome após pressão de colegas.
  4. O livro não deve ser lido com a mente em alguma outra coisa. O leitor do Proslogion deve estar atento.
  5. As pessoas que procuram Deus em geral não o conhecem. A multidão de igrejas cristãs pode até ser um reflexo disso. Cada um procura Deus sem saber exatamente como ele é e passa a cultuar aquilo que encontrou. Agostinho diz que isso pode levar o fiel a cultuar o deus errado.
  6. Não é possível ser feliz sem o Deus que o ser humano tende a rejeitar. Anselmo usa passagens bíblicas para complementar seu texto.
  7. Adão é a razão de todas as carências.
  8. Para Anselmo, a vida humana tem um propósito, que é inviabilizado pelo pecado. Por meio de Deus, então, encontraríamos o sentido de nossa vida e a razão pela qual nascemos.
  9. A compreensão de Deus depende da crença. Não é possível compreender a divindade se não cremos nela. Se não acreditamos, somos como o sujeito que procura conhecer aquilo que não reconhece como objeto. Não é assim que se faz conhecimento.
  10. Deus como o ser supremo: nada pode ser pensado como sendo maior que ele. Este é um conceito que podemos aceitar como ponto de partida para uma discussão. Então, ele existe no intelecto, como conceito. Resta saber se ele existe também fora do intelecto.
  11. Se ele realmente é maior que tudo, não pode, logicamente, não existir também fora do intelecto. Anselmo está tentando derivar a existência de Deus como que usando o significado da palavra “Deus”. Se assumimos como ponto de partida que Deus é aquilo que é maior que tudo, estamos, necessariamente, admitindo que ele existe, no campo lógico. Afinal, não pode faltar a esse ser a existência, porque senão ele não seria maior que tudo. Kant diz por que isso é falho. Na verdade, qualquer um poderia sentir que tem algo estranho nesse argumento, mas Kant põe isso em palavras claras. Eu não posso derivar a existência de algo pela sua definição. Tomás concorda.
  12. Voltando ao texto, se assumimos Deus como sendo “aquele que está acima de tudo”, ou seja, como ser perfeito, então não é possível pensar que Deus não existe, porque, sendo perfeito, negar-lhe existência é contradizer seu conceito. “Deus não existe” passa a ser uma frase contraditória, na medida em que se admite Deus como perfeito, logo, como um ser ao qual nada de bom falta (incluindo existência). Outro problema desse argumento é que a definição de Deus não é unânime.
  13. Isso dá a impressão de que Deus não pode inexistir. Temos aqui uma identidade entre ser e pensar.
  14. Nada é maior que Deus, se o reconhecemos como perfeito. Então não é possível conceber alguém maior que ele.
  15. Existem graus de existência. Somente Deus tem existência 100% certa. As outras coisas podem ser ou não, ou seja, são contingentes.
  16. Para Anselmo, levando seu argumento a frente, o ateu só é ateu porque não entende o que Deus é. Se fosse levado a reconhecê-lo como perfeito, aquilo que é maior que tudo o mais, seria forçado a admitir sua existência conceitual. Como pode um ser perfeito que se apresenta em meu intelecto existir somente em meu intelecto? Ele deve existir de fato, porque não seria perfeito se não existisse. Existem falhas aqui, naturalmente. Primeiro, suponhamos que a melhor criatura existente não seja o sumo bem. Isto é, se algum dia encontramos o ser mais perfeito existente e constatamos que ele apenas se aproxima do nosso conceito de perfeito, sem contudo chegar a ele, então, com essa possibilidade, pode ser que “perfeito” seja um conceito impossível fora do pensamento. Outro problema é que, se o argumento tivesse procedência, então qualquer ser que eu concebesse em minha mente e lhe adicionasse a qualidade perfeição existiria de fato (apesar de que alguém poderia argumentar que todo o ser perfeito que eu concebo é Deus, porque só ele é perfeito).
  17. Anselmo diz que Deus é aquilo que há de maior na existência. De fato, seu argumento serve para demonstrar que existe um ser com o grau máximo de existência e poder, mas esse ser pode não coincidir com Deus. Basta analisar o significado da palavra “máximo”. Máximo é o maior permitido, coincidindo com perfeito em Tomás. Se Deus é o máximo em tudo, portanto nada é maior que ele, não significa que ele tem todas as características no grau que concebemos como infinito, mas que ele as tem em grau simplesmente máximo, como maior permitido pela existência. Portanto, infinito e máximo (maior possível) não coincidem.
  18. O conceito de “perfeito” em Anselmo deve se identificar com infinito.
  19. Seguindo sua linha de pensamento, Deus, como ser perfeito, pode muito bem ter feito tudo a partir do nada.
  20. Deus reúne em si as qualidades boas e por causa dele que a bondade particular se manifesta. Ele é sumamente feliz, sendo origem da felicidade transitória e particular que sentimos. Ele sumamente verídico, sendo origem da veracidade transitória e particular que experimentamos…
  21. Se Deus reúne o que é melhor, ele é espírito, porque era opinião corrente de que existir sem ter corpo é uma vantagem. Mas como Deus pode sentir algo se ele não tem corpo?
  22. Se “sentir” é manifestar-se ao intelecto, então Deus não precisaria de corpo para sentir algo. É só que nós, criaturas, trazemos ao intelecto as coisas pelos sentidos.
  23. Como é que Deus é onipotente se ele não pode, por exemplo, mentir? Acontece que mentir é uma fraqueza. Mentimos por defeito em dizer a verdade, seja porque somos maus ou porque tememos. Se fôssemos bons e tivéssemos coragem, diríamos a verdade sempre, o que é uma condição de perfeição. Por isso Deus não pode mentir sem perder seu status de ser onipotente, porque a mentira decorre de uma fraqueza.
  24. Além do mais, a mentira é o não-ser da verdade. Deus não pode praticar não-seres, por existir em sumo grau.
  25. Para Anselmo, Deus não sente compaixão. O perdão dos pecados é dado sem que Deus se sinta mal por nossa causa. Então, para nós, seu comportamento se afigura como compaixão, mas não o é do ponto de vista divino. Isso é não é bíblico
  26. Deus seria “menos bom” se não fosse bom também para com quem é mau.
  27. O que não significa que Deus não pune os maus. Mas, pela punição, perdoa. Não tem sentido continuar com raiva de quem já recebeu a devida punição.
  28. Além do mais, a plenitude de Deus é mais evidente se ele é capaz de fazer pessoas boas a partir de pessoas más (conversão).
  29. Deus não pode ser constrangido nem por espaço nem por tempo.
  30. Ele chega, por processos diferentes, quase às mesmas conclusões que os pré-socráticos.
  31. Em Anselmo, a religião é propriamente “reencontro”. Por causa de Adão, perdemos o contato com Deus e a religião cristã é um esforço de reencontrá-lo, alavancado pela necessidade de preencher um vazio metafísico, enunciado como “necessidade espiritual”. Já para Tomás, religião é uma virtude efetivada pelos votos de pobreza, castidade e submissão à igreja.
  32. O argumento do “ser máximo” joga contra a Trindade: é melhor ser uno e indivisível do que trino. Mas Anselmo, como católico, talvez tivesse uma explicação para isso. Poderia ser, por exemplo, que a divisão entre Pai, Filho e Espírito Santo fosse apenas aparente e que na verdade seriam três manifestação de um só ser. Como vocês já estão cansados de ler, eu não compro a ideia da Trindade, mas estou tentando saber como Anselmo responderia à minha objeção.
  33. Se Deus fosse divisível em partes, ou seja composto, poderia ser passível de decomposição. A menos, é claro, que seu arranjo fosse perfeito. Mas voltemos ao assunto. É melhor ser simples e único do que múltiplo em si mesmo. Nós, humanos, por exemplo, somos múltiplos em nós mesmos, porque cada componente nosso pode ser analisado separadamente e somos decomponíveis pela morte. Somos, então, como “vários”. E Deus, para ser Deus, tem que ser um só.
  34. Amar o bem que perpassa todos os bens é o bastante.
  35. E Deus perpassa todos os bens, já que os bens se originam nele e ele os têm em grau máximo.

11 de julho de 2015

Deus, destino e acaso.

Filed under: Saúde e bem-estar — Tags:, , , — Yure @ 09:03

Karma has no menu. You get served what you deserve.

Twitter.

Oxalá fosse! Eu queria saber o que foi que eu fiz pra merecer o que acontece comigo. Meu problema com as disciplinas foi resolvido apenas pela metade: embora eu tenha sido matriculado em estágio supervisionado nível 1, alguém acidentalmente me matriculou em filosofia social e política nível 2, em vez de monografia 1, que era o que eu queria. Como é que eu vou estudar filosofia social e polítca 2, que acontece tarde da noite em outra cidade? Não é por nada não, mas as aulas acontecem na sétima cidade mais violenta do mundo! As aulas acabam às dez, que é quando os ônibus para a metrópole cessam de rodar. Como é que matriculam nisso, sem eu jamais ter consentido? Pra piorar, não encontro o coordenador de curso e a secretária não quis me dar o endereço de e-mail dele. A disciplina de estágio 1 está sem professor desde que a última professora dessa disciplina teve a tireóide removida num processo emergencial. Então a única disciplina que eu posso atender está sem aulas desde junho e o semestre acaba em setembro. Eu posso abdicar de todas as esperanças que eu tenho para este semestre, porque ele já está perdido.

Além do mais, a crença popular que se tem no karma diz que as pessoas são recompensadas ou punidas nesta vida por atos cometidos nesta vida, enquanto que a crença original fala de punição ou recompensa nesta vida por atos cometidos na vida passada. Se fôssemos punidos pelo destino nesta vida por atos cometidos nesta vida, eu quero perguntar na cara desse tal de destino o que foi que as crianças que morrem durante o parto fizeram de errado no ventre de suas mães. Que tipo de crime tão horrendo se poderia ter cometido lá dentro? Que crime o feto cometeu e que o político corrupto não cometeu? Que crime cometeu a criança que padece à mingua de fome e de peste e que não cometeu o soldado que mata seus irmãos em guerras sem sentido? Por que eles não morrem tão subitamente pelos seus atos?

Eu não acredito em destino, embora eu acredite em sorte, que são coisas diferentes. A sorte é uma manifestação positiva de acaso. Acaso não é efeito sem causa, mas efeito inesperado de causa desconhecida. Destino é a escrita dos fenômenos futuros, que deveriam ser premeditados por uma entidade superior, normalmente também chamada “destino” ou “necessidade”. Não é uma simples relação de causa e efeito, mas a predeterminação de tudo o que ocorre na vida de cada um. O destino, contudo, como uma “força”, não é plenamente cognoscível, ao passo que, no teísmo, Deus deixa seus critérios claros e permite que fujamos dos ditames dele, ou seja, nos permite liberdade. No caso do destino, não há liberdade, você não pode fugir do destino. Ainda assim, as pessoas acham mais lógico acreditar em destino e rejeitar o acaso ou mesmo Deus como inexistentes (apesar de, depois do que foi exposto, acreditar numa força que nos recompensa segundo nossas ações e que não revela os critérios para julgar uma ação como boa ser a ideia mais besta das três), mas porque ignoram essas definições.

O leigo gosta de se apropriar de vocabulário técnico e vulgarizá-lo. Nunca um crente fiel do karma aceitaria, diante de tudo o que eu expus dois parágrafos atrás, que atos cometidos nesta vida são punidos nesta vida e não na futura, a menos que ele próprio não entedesse sua doutrina ou estivesse professando algo totalmente falso.

27 de abril de 2014

Cristandade reversa.

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Lá estava eu, lendo Feuerbach, pra variar. Feuerbach é aquele menino que disse que a relação com Deus é uma relação egotística não confessa, isto é, entre o indivíduo e si próprio. Como assim? Deus seria a elevação ao infinito de todas aquelas qualidades que nós, mortais, apreciamos (sabedoria, força, amor e coisa e tal). Mesmo o amor, a mais inocente das sensações, é forçada no Cristianismo, porque você ama só porque tem que amar. É isso ou o Inferno.
Feuerbach é forte. Muito forte. Se você gosta da sua fé, sugiro que passe longe dele. Mas isso me fez pensar. Por que mesmo que o ser humano ama a Deus hoje?
Talvez porque tenha mesmo medo da morte. Na Antiguidade, talvez as pessoas amassem Deus por uma questão de respeito: se Ele existe e nos criou, então nada mais justo que devê-lo o mínimo de obediência pelo menos. Mas hoje as pessoas servem a Deus nem tanto porque admiram Seus grandes poderes cósmicos, mas porque veem nEle uma solução extraplanar para seus problemas. Eles esperam uma resposta celeste, algo que os faça viver melhor, com mais dinheiro, saúde, talvez que faça eles passarem no vestibular…
É uma Cristandade reversa. Não sei se Feuerbach está ou não certo quanto a origem da ideia de Deus na cabeça do homem, mas não acho que alguém hoje em dia pense dessa forma, que alguém ame a Deus porque Ele é onisciente e gostamos da sabedoria, porque Ele é todo-poderoso e gostamos da força. Mas porque temos contas pra pagar. Acho que o ser humano só será capaz de amar Deus de forma genuína quando superar o medo da morte e servir pela única razão legítima: respeito. Mas até lá…

21 de abril de 2013

Educação secular, “educação” não-secular.

Filed under: Organizações, Passatempos, Saúde e bem-estar — Tags:, , , , — Yure @ 18:14

Olhe ao redor, por favor. Pelo menos na minha tela, na minha garrafa d’água, nos meus livros, nas minhas roupas… a letra cursiva está ausente. Por que ensinar letra cursiva para crianças pequenas se a letra cursiva não aparece em lugar algum? Por que não ensinar apenas a letra de forma?

Veja, quando se ensina letra cursiva, a leitura torna-se algo feito dentro da escola e que lá fica, porque o aluno em fase de alfabetização não pode ler as coisas que acontecem no mundo ao redor dele, onde tudo é escrito em letra de forma. Ele não pode ler anúncios, não pode ler legendas, não pode ler páginas na Internet e nem mesmo os próprios livros didáticos. A letra de forma é a que você vê agora. Não estou me referindo àquilo que as pessoas normalmente pensam que é “escrever com letra de forma”, ou seja, não estou dizendo para ensinar às crianças apenas letras maiúsculas. Existem letras de forma minúsculas.

Tive uma conversa com meu coleguinha sobre isso e ele me disse que a razão pela qual a letra cursiva é ensinada nas escolas é que não se pode escrever redações no Exame Nacional do Ensino Médio, por exemplo, em letra de forma. Isso me lembra de uma coisa que ouvi no passado muitas vezes e que me mortificava sempre que era dita: “vocês precisam aprender isto para passar no Vestibular”. Quem me dizia isso eram meus próprios professores. Aí eu ficava pensando onde está o ideal da educação de formar pessoas para a vida e não para o sistema. Porque sempre que eu ouvia aquilo eu pensava que a educação servia apenas para o sistema. Então por que não abandonar a escola e começar o curso preparatório meses antes do Vestibular, já que só precisaremos daquele conhecimento por aquele tempinho? Afinal, o pessoal do curso preparatório sabe o que cai no Vestibular e pode te ensinar a essência em pouquíssimo tempo, aí você pode esquecer quando tiver passado.

Quando você diz que está aprendendo algo apenas por causa do sistema, você tira o propósito da escola. Não era à toa que a maioria dos meus colegas queria desistir da escola. Seria melhor para os habitantes uma mudança negativa no ensino em prol do sistema ou o abandono de um aspecto do sistema em prol de uma educação melhor?

Aí meu coleguinha disse que “nos Estados Unidos” e em tantos outros países se ensina letra cursiva, não que isso faça o ensino de letra cursiva necessário. É melhor que o aluno aprenda a letra de forma como prioridade para que ele possa ler tanto quanto seja possível, dentro e fora da escola.

Hoje encontrei um amigo no ônibus, amigo que eu não via há muito tempo. Falei com ele e ele disse que leu este diário… inclusive o que diz respeito à fraldas e patadas. Devo ter ficado vermelho de vergonha, mas ele não fez nenhum alarde. Bom saber que ele é capaz de ver que isso não faz de mim uma má pessoa. Falei pra ele dos meus colegas fetichistas e de como fraldas são algo sexual para muitos dos meus amigos. Ele fez piada, achou estranho, mas nem por isso ficou com raiva ou parou de falar comigo. Fiquei muito satisfeito com o quanto ele melhorou desde a última vez que falamos, pois a sua mente está mais aberta e ele parece ter melhorado no quesito bom senso.

Daí falamos do estudo bíblico sobre a masturbação que escrevi. Ele disse que viu uma incoerência ou duas (ou três), mas que gostou no fim das contas, especialmente porque denunciei como os líderes religiosos podem cair na falácia de mostrar versículos bíblicos fora do contexto aos fiéis para justificar suas afirmações. Você não pode ler um pedacinho de um texto e esperar entender do que ele se trata se você não lê o resto do texto no qual ele está inserido. O significado de um versículo isolado é facilmente manipulável.

E aí conversamos sobre religião. Peguei pesado falando mal das instituições e garanto que chamei a atenção de todos ao nosso redor no ônibus, não que achasse isso ruim. Eu e ele concordamos que a servidão à instituições religiosas sem a devida reflexão sobre suas bases é uma manifestação do medo de errar e da preguiça de pensar. Você teme interpretar as Escrituras de forma falha, quando não tem preguiça de dar-se ao esforço em primeiro lugar. Óbvio que nem todos os fiéis são assim. É muito cômodo simplesmente acreditar no que o líder religioso diz, o que me lembra do que li na revista Conhecimento Prático: Filosofia (Número 30, página 50-51) e cito aqui pro senhor:

O problema para Nietzsche está no administrador do perdão, o sacerdote. Para Nietzsche, a lei, falando pela boca do sacerdote, transforma-se em moral vigente. Há uma máscara sobre “Deus”, porque o sacerdote ganha para si o poder da lei, personificando “Deus”. E, como a lei vem de um “Deus” que precisa de intérpretes (pois os textos bíblicos são a única manifestação que o crente aceita como tal), os homens elegem o sacerdote como intérprete de “Deus”. Mas aí surge outro problema, diz Nietzsche: se “Deus” é juiz dos homens e o sacerdote (padre ou pastor cristão) é seu porta-voz, então, na realidade, é o sacerdote quem julga os homens? Sim, diz ele, porque mesmo que “Deus” exista quem dá a última palavra é o sacerdote.

– Gerson Lemos.

Só que aí o cara supõe que nenhum cristão pega a Bíblia pra ler e interpretar ele mesmo, sendo seu próprio sacerdote, que todos os cristãos são ou medrosos ou preguiçosos. Uma pena que muitos de fato o são.

Fico muitíssimo feliz por meu amigo ser tão receptivo ao que penso e ser capaz de não me julgar por meras idiossincrasias. Que bom que tenho amigos em quem confiar, mesmo quando o tempo e o espaço nos separam.

Falando nisso, peguei meu sobrinho lendo minhas revistas de filosofia. Ele tem sete anos e minha mãe “diz que ele é” testemunha de Jeová, embora o menino tenha mostrada severa resistência à tudo o que ela lhe ensina. Hoje ele lha disse que não acredita que Deus é imortal (naturalmente, a ideia de eternidade não entra na cabeça de alguém de sete anos). Garanto que minha mãe acha que é minha culpa.

13 de outubro de 2012

Por que eu ainda acredito em Deus?

Filed under: Livros, Saúde e bem-estar — Tags:, , , — Yure @ 15:53

Gallery | Inkbunny, the Furry Art Community.

Isto é uma mensagem que enviei à Raposa antes de ontem, quando sua crise existencial culminou novamente:

When reading this, try to not let your emotions interfere.

Okay, […] as you know, I was raised christian. Never too religious, though, until I started to get scared of dying. Decided to look for the right path to follow in order to avoid death, but then found out how a lot of religions disapproved stuff that my common sense said were safe, such as homosexuality. I shut up about that, though. Then found out I had to stop masturbating, it hit me hard as heck. I mean, where is the problem in it? A lot of things made no sense in the religion I wanted to follow and that was the last straw. Silly reason to quit religion, huh?

Decided then to find my own way to reconciliate with God and started to dig the Bible and study it by myself. Found out that it was quite easy to follow and be saved. But what if God doesn’t exist at all? I never pondered it much since it was never a priority. I mean, what kind of possible benefit I could get from the answer to that question? If He exists, then great, if not, patience. Won’t make difference. But I still had this fear of the death. Since I digged a lot of Philosophy as well, I found out how people in the past attempted to prove that God existed. One of them being São Tomás de Aquino. Notice however that his proofs doesn’t prove the existence of the christian God, but only proves that nothing comes from nothing and there must be a necessary start for existence, a substance (not in the chemical sense) that always existed. Spontenous creation seems impossible for me.

So, yes, I was convinced that there is a start point for existence, a substance that always existed, that may or may not be the christian God. That’s a question I can’t answer for sure, in the reason field, but, for me, it was a question that couldn’t pass without being answered. It’s when I met Blaise Pascal and his bet. I mean, there are four possibilities:

1) God exists and I believe him, so I’m saved.
2) God exists and I don’t believe him, so I’m fucked.
3) God doesn’t exist and I believe him, I’m still saned from the fear of death because of the hopes I have.
4) God doesn’t exist and I don’t believe him, I’m fated to continue stuck in my problematic and unable to move.

Believing in God seemed to be more “profitable”, for a lack of a better word. So, yes, I assumed that God existed after pondering the possible bets I could do. Plus, there are documentaries around that I have seen after I made such choice that related the biblical narratives and the facts that historical research revealed. One of them I saw in one of those cable TV channels, Discovery Channel, I think. […] Plus, there is a skeptical historical research on who Jesus actually was and what he actually did. So, the belief gained more strenght as I digged up further in them.

So, supposing that God existed, how to be saved? One thing is for sure: Jesus existed and [according to the Bible] he said that he was the only way to reach God, that I assumed that existed. So, I started to read the Gospels once more, that are pretty much about loving the neighbor as myself, something I was already doing. Indeed, all Jesus teachings converged in loving god over anything and my brother as myself. Even if God did not existed, doing such things would certainly make me a better person, in the moral sense. And it’s going on up to today.

And what about all those things they say about Physics and such? They are as clueless as I am, in fact. Everyone choses to believe in what they wish to believe, since no one was there in the act of creation. Once you notice that the physicists are all being supported by numbers and logical interactions between a law and another, you start questioning if their reasoning is more valid than yours, questioning if the logic can really take them that far, how does it affect you, how will you use it and if the human reason really has no limits, even beyond the pratical sphere. True or false, will it serve me? Plus, the Physics is going through a path that Philosophy once went, but will end in a different outcome. I could go in detail, but I guess I’m not in position to discuss the future of science.

I just wanted to share it to you. Maybe you see something good in this.

Por isso. Não é que eu vá à igreja ou qualquer coisa assim e não tenho mais tanto medo da morte como eu costumava ter. Certo que minha crença atual começou assim, mas eu tenho relaxado cada vez mais, a ponto de ver uma possibilidade de aceitar o que Espinosa pregava em seu imanentismo (Deus é a natureza), que em vários pontos faz mais sentido do que as coisas que eu acreditava quando eu comecei. Mas isso é passado agora. Já que a Raposa está passando pelo que eu passei, por que não partilhar com ela o que funcionou comigo?

19 de agosto de 2009

Estudo bíblico sobre a masturbação.

Filed under: Livros, Saúde e bem-estar — Tags:, , , — Yure @ 14:28
Introdução.

Nesta entrada, trato de um assunto bastante delicado, que é a moralidade espiritual da masturbação. A masturbação é a prática de, manualmente, estimular os genitais de alguém, sejam os seus ou os de outra pessoa, normalmente com o intuito de chegar ao orgasmo. Sendo algo que normalmente envolve apenas você e seu corpo, é uma prática natural que todos experimentam em maior ou menor grau em algum ponto de suas vidas. Mas é a masturbação algo bom ou ruim?
Pensemos o aspecto físico. A masturbação, na verdade, faz bem ao corpo, seja masculino ou feminino. No caso dos homens, a ejaculação frequente traz o benefício de reduzir as chances de câncer de próstata sob determinadas circunstâncias. No caso das mulheres, não há benefícios tão extensos ao ponto de reduzir a chance de algum tumor, mas ainda há a vantagem de conhecer melhor o corpo. Isso não significa, contudo, uma desvantagem da mulher, mas uma vantagem, porque significa que elas não são tão suscetíveis a certos problemas que afetam o homem. Ao passo que, para o homem, a masturbação é também um remédio, as mulheres podem talvez sintam-se mais confortáveis ao saber que a masturbação, para elas, é uma diversão e não uma necessidade física (a não ser que seja relevado o alívio sexual).
Pensemos o aspecto mental. A medida que o tempo passa, ficamos mais suscetíveis à estímulos sexuais. Certas pessoas são especialmente sensíveis, pois a susceptibilidade a esses estímulos varia de pessoa para pessoa. Quando estimuladas, as pessoas experimentam um aumento na tensão sexual que pode ser liberada ou mantida. Quando mantida, a pessoa fica mais sensível a mais estímulos, o que aumenta ainda mais a tensão. O desconforto de estar insatisfeito vem com cada vez mais frequência e intensidade e, mesmo aqueles com uma cota decente de força de vontade, podem perceber um aumento do nível de estresse e uma certa dificuldade em desempenhar tarefas que exijam concentração por longos períodos de tempo, como trabalhos repetitivos. Por isso a vontade de se masturbar sempre volta, porque não é possível eliminar nossa sexualidade e, por isso, somos sempre suscetíveis ao aumento da tensão sexual. Quando liberada, a tensão sexual diminui ou mesmo some, relaxando a pessoa e eliminando uma irritante distração, o que aumenta seu desempenho em suas tarefas. É lógico, pois o mesmo acontece com a sede, a fome, o sono e a vontade de ir ao banheiro. São distrações de origem biológica que atrapalham sua concentração nas tarefas que você deve desempenhar. Claro que o desejo sexual não é o mesmo para todos, então há quem não experimente essas sensações.
Pensemos o aspecto social. A masturbação, obviamente, não é assunto para todas as horas, nem prática para todos os lugares. É socialmente aceitável na medida que você use de bom senso. Mas relevamos aquilo que realmente interessa, o aspecto espiritual. A masturbação é saudável e aceitável, mas é ou não pecado? Primeiro, pergunte-se: “acredito na Bíblia?”. Vejamos. A Bíblia contém tudo o que Deus quer que saibamos a respeito dele, a respeito da salvação e a respeito da moral cristã ou judaica. Portanto, ela tem autoridade superior a autoridade dos homens deste mundo. Toda a inferência cristã que designa um juízo de pecado deve, portanto, ser baseada na Bíblia e unicamente na Bíblia. Uma inferência cristã que designa um juízo de pecado que não tem como base a palavra de Deus, isto é, a Bíblia, é inválida. Uma inferência dessa natureza que usa os textos bíblicos de forma errada para basear-se também é inválida. Você já deve ter se deparado com textos que sustentam que a masturbação é pecado, mas você viu que textos bíblicos sustentam a tese do escritor? Será que esses textos podem ser usados daquela forma?
Assim, o método que usarei para provar que a masturbação não é pecado é refutando esses escritos, tirando-lhes sua base. Visitei vários textos que sustentam que a masturbação é pecado e coletei os textos bíblicos usados para sustentá-los, examinando-os individualmente e vendo se podem ou não ser usados como provas contra a masturbação. Se não puderem, o texto de onde foram extraídos (a página visitada) é inválido. Não visitei apenas duas páginas na Internet, ou cinco ou oito. Visitei cerca de dez e reuni um compêndio de textos usados incorretamente para sustentar a masturbação como algo pecaminoso. Na verdade, creio que o compêndio é grande a ponto de cobrir todos os textos que sustentam a masturbação como pecado, visto que a mesma interpretação falaciosa é usada por vários indivíduos. A Bíblia é o único livro que tem autoridade de nos dizer o que é ou não pecado e estou para mostrar que ela não acusa a masturbação como algo pecaminoso. Continue lendo.

O que a Bíblia diz?

Como dito, os textos bíblicos a seguir foram selecionados de textos que sustentam que masturbação é pecado. Estes relevam tanto a lei do Antigo Testamento quanto a lei do Novo. Judeus podem se beneficiar das minhas interpretações de Gênesis à Daniel. Cristãos farão melhor uso das interpretações a partir de Mateus.

Antigo Testamento.

Gênesis 1: 28.

Deus os abençoou: “Frutificai, disse ele, e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a. Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra.”

Este texto mostra que é tarefa da humanidade se reproduzir e gerar prole. Porém, masturbar-se ou mesmo usar métodos contraceptivos não lhe impede de ter filhos em algum momento. Apesar de aderir a um “controle de natalidade”, por meio, por exemplo, da camisinha, isso não lhe impede de ter sexo sem tais métodos quando sentir-se pronto para gerar um filho. Essencialmente, esse texto diz que devemos nos reproduzir, mas não diz que todas as relações sexuais devem obrigatoriamente gerar prole. Da mesma forma, a masturbação não substitui o sexo completamente nem elimina o desejo de uma pessoa de ter filhos.

Gênesis 2: 18-20.

O Senhor Deus disse: “Não é bom que o homem esteja só; vou dar-lhe uma ajuda que lhe seja adequada.” Tendo, pois, o Senhor Deus formado da terra todos os animais dos campos, e todas as aves dos céus, levou-os ao homem, para ver como ele os havia de chamar; e todo o nome que o homem pôs aos animais vivos, esse é o seu verdadeiro nome. O homem pôs nomes a todos os animais, a todas as aves dos céus e a todos os animais dos campos; mas não se achava para ele uma ajuda que lhe fosse adequada.

De fato, não é bom ficar sozinho pela sua vida toda. Levando este texto ao seu nível mais metafórico, pode-se interpretá-lo como “Deus quer que tenhamos companhia”, isto é, sendo esposa ou marido. Masturbação não elimina o desejo de namorar ou mesmo casar-se, porque não provê a pessoa de nada além de alívio sexual. Masturbação não traz o amor e o aconchego que só a companhia traz, portanto não representa um risco ao desejo de casar-se.

Gênesis 2: 24.

Por isso o homem deixa o seu pai e sua mãe para se unir à sua mulher; e já não são mais que uma só carne. 

Aqui fala do casamento como parte importante da vida de uma pessoa, que a pessoa deve romper com os pais para dedicar-se à sua companhia, quando um deverá satisfazer o outro.

Gênesis 4: 7.

Se praticares o bem, sem dúvida alguma poderás reabilitar-te. Mas se precederes mal, o pecado estará à tua porta, espreitando-te; mas, tu deverás dominá-lo.

Este texto está inserido na história dos dois irmãos em que um assassinou o outro, sendo essas palavras que Deus disse ao assassino. Quando você faz coisas ruins, você acaba fazendo coisas piores com o passar do tempo, a não ser que você mude. Masturbação, como algo natural e inofensivo a você e aos outros, não leva você a praticar o indevido (a não ser que você esteja cobiçando o parceiro do próximo). Alguém pode argumentar que essa prática alimenta a luxúria, mas não é assim. A masturbação provê alívio sexual e uma pessoa sexualmente satisfeita não comete pecados sexuais tal como uma pessoa farta não incorre em gula. Além disso, a pessoa propriamente educada sabe que não deve ter sexo antes de estar casado, logo a educação tem um papel fundamental na conduta sexual. Mas uma pessoa com desejos sexuais fortes e persistentes pode precisar não somente de educação, mas também de um meio de amortecer seus desejos, do contrário poderá ver-se em uma forte tentação e subverter a educação que recebeu.

Gênesis 24: 63, 64. 

Uma tarde em que saíra para meditar no campo, levantando os olhos, viu alguns camelos que se aproximavam. Rebeca também, tendo levantado os olhos, viu Isaac, e desceu do camelo. 

Lembre que no início desta entrada eu disse que tirei estes textos de sites que sustentam que a masturbação é pecado e este texto não é exceção. Mas lendo o texto você vê que nada tem a ver com assunto. O que isso quer dizer? Que algumas pessoas dizem fundamentar suas argumentações em textos bíblicos e dão referências aleatórias, porque sabem que quase ninguém procura ler esses textos.

Gênesis 38: 1-11. 

Naquele tempo, Judá, apartando-se dos seus irmãos, foi para a casa de um homem de Odolão, chamado Hira. Judá viu ali a filha de um cananeu, de nome Sué, e desposou-a, unindo-se a ela. Ela concebeu e deu à luz um filho, ao qual chamou Her. Concebeu novamente e deu ao mundo um filho, e deu-lhe o nome de Onã. E teve ainda um filho, que chamou Sela. Judá estava em Achzib na ocasião desse nascimento. Judá escolheu para Her, seu primogênito, uma mulher chamada Tamar. Her, porém, o primogênito de Judá, era mau aos olhos do Senhor, e o Senhor o feriu de morte. Então Judá disse a Onã: “Vai, toma a mulher de teu irmão, cumpre teu dever de levirato e suscita uma posteridade a teu irmão.” Mas Onã, que sabia que essa posteridade não seria dele, maculava-se por terra cada vez que se unia à mulher do seu irmão, para não dar a ele posteridade. Seu comportamento desagradou ao Senhor, que o feriu de morte também. E Judá disse a Tamar, sua nora: “Conserva-te viúva em casa de teu pai até que meu filho Sela se torne adulto.” “Não é bom, pensava ele consigo, que também ele morra como seus irmãos.” E Tamar voltou a habitar na casa paterna. 

Este é talvez o mais infame argumento contra a masturbação. O indivíduo “maculava-se por terra” toda vez que “se unia” com a mulher do irmão dele. Observe, contudo, que o termo “unir” neste texto refere-se ao sexo, tanto é que certa pessoa, quando “uniu-se” à outra, gerou um filho. Ora, então o indivíduo teve, de fato, sexo com a mulher do irmão dele, então como ele poderia “macular-se por terra”? Coito interrompido, o mais velho método contraceptivo que existe, que consiste em interromper o ato sexual no momento do orgasmo, de modo que o esperma venha ao chão. Mas mesmo assim, não foi isso que matou o indivíduo, porque em nenhum momento do Gênesis ou da história bíblica métodos contraceptivos são citados como pecado, nem mesmo os mais simples que já existiam naquela época. Mas em vários momentos da história bíblica, nos é alertado que devemos obediência a Deus e o indivíduo desobedeceu uma ordem direta. Deus mandou o indivíduo engravidar a mulher do irmão dele, ele se recusou, Deus matou ele. Nada mais justo. Não foi a masturbação ou o coito interrompido que o levou à morte.

Êxodo 20: 17.

Não cobiçarás a casa do teu próximo; não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem seu escravo, nem sua escrava, nem seu boi, nem seu jumento, nem nada do que lhe pertence. 

Aqui, claramente, diz que é errado cobiçar, isto é, querer para si o que quer que já tenha dono. Naquela época, mulheres eram tratadas como posses, por isso o tratamento soa meio que rude. Traduzindo para os dias atuais, não podemos desejar para nós parceiras ou parceiros de outras pessoas. Os que atacam a masturbação baseando-se nesse texto sustentam que a masturbação, normalmente alimentada por pensamentos explicitamente sexuais, pode ter como combustível o parceiro alheio. Mas nada de errado em você, um homem livre, cobiçar uma mulher livre, pois isso não traz dano a ninguém. Nada de errado em você, solteiro, querer namorar uma mulher solteira e ter pensamentos sexuais centrados nela.

Deuteronômio 5: 21.

Não cobiçarás a mulher de teu próximo. Não cobiçarás sua casa, nem seu campo, nem seu escravo, nem sua escrava, nem seu boi, nem seu jumento, nem nada do que lhe pertence.

Novamente, nada de errado em pessoas livres desejarem pessoas igualmente livres.

Deuteronômio 22: 13-19.

Se um homem, depois de ter desposado uma mulher e a ter conhecido, vier a odiá-la, e, imputando-lhe faltas desonrosas, se puser a difamá-la, dizendo: desposei esta mulher e, ao aproximar-me dela, descobri que ela não era virgem, então o pai e a mãe da donzela tomarão as provas de sua virgindade e as apresentarão aos anciãos da cidade, à porta. O pai dirá aos anciãos: dei minha filha por mulher a este homem, mas porque ele lhe tem aversão, eis que agora lhe imputa faltas desonrosas, pretendendo não ter encontrado nela as marcas da virgindade. Ora, eis aqui as provas da virgindade de minha filha. E estenderão diante dos anciãos da cidade a veste de sua filha. E os anciãos da cidade tomarão aquele homem e fá-lo-ão castigar, impondo-lhe, além disso, uma multa, de cem siclos de prata, que eles darão ao pai da jovem em reparação da calúnia levantada contra uma virgem de Israel. E ela continuará sua mulher sem que ele jamais possa repudiá-la.

Masturbação não tira a virgindade. “Virgem” é a qualidade de algo puro, que não se misturou a outras coisas. Sexualmente falando, virgem é a pessoa que nunca teve relações sexuais. Naquele tempo, talvez, o hímen era usado como prova de que a moça era virgem e o hímen pode, de fato, romper-se durante a masturbação feminina. Mas esse era o meio desses povos arcaicos descobrirem se a moça era virgem ou não, mas observe que a essência aqui é a virgindade, não o hímen. Claro que a perda do hímen durante uma seção de masturbação muito intensa pode ocorrer, mas isso não tira a virgindade de uma mulher, óbvio, porque ela não recebeu nada externo à ela. Naquele tempo talvez fosse desaconselhável que a mulher praticasse tal coisa, uma vez que isso poderia deixá-la sem “provas” de sua virgindade, mas a ausência de provas não é o que culpabiliza a mulher de ser impura, sim a perda de sua virgindade. Você pode perder o hímen e ainda continuar virgem, visto que o rompimento pode não ter acontecido durante um ato sexual. Mas isso é uma especulação sobre que tipo de “provas de virgindade” podia uma mulher naquele tempo dar aos anciãos. Essencialmente, as pessoas que usam esse texto contra a masturbação são pessoas que atestam que a masturbação tira a virgindade, o que não é verdade.

Deuteronômio 23: 9-11.

Quando saíres a combater contra os teus inimigos, guardar-te-ás de toda má ação. Se alguém dentre vós não estiver puro, em conseqüência de um acidente noturno, sairá do acampamento, e não voltará. Pela tarde, lavar-se-á em água e poderá reintegrar-se ao acampamento ao pôr-do-sol.

Aqui, no máximo, fala de polução noturna. De fato, na Lei Mosaica, o sêmen era algo “impuro”, isto é, sujo. De fato, não era um pecado mortal estar impuro por causa do sêmen, visto que essa “ofensa” podia ser facilmente expiada com um banho.

Provérbios 4: 25, 26.

Que teus olhos vejam de frente e que tua vista perceba o que há diante de ti! Examina o caminho onde colocas os pés e que sejam sempre retos!

Aqui fala para não se desviar do caminho “reto”. No início desta entrada, pressupus que masturbação não é pecado sob a maioria das circunstâncias e, até agora, creio que estou conseguindo provar meu ponto. Este texto é válido apenas para aqueles que já acreditam que a masturbação é pecado e não pode ser usado como prova contra a prática.

Provérbios 23: 26, 27.

Meu filho, dá-me teu coração. Que teus olhos observem meus caminhos, pois a meretriz é uma fossa profunda e a entranha, um poço estreito.

Este texto poderia ser usado contra a prostituição, algo ruim na visão de muitos cristãos. Porém, pessoal, muito cuidado ao considerar um texto fora do seu contexto, pois, se você ler os versículos seguintes, verá que a “meretriz” é metafórica. Não que isso tire a carga pecaminosa da prostituição, mas este texto não pode ser usado como prova contra a prostituição (nem contra a masturbação).

Daniel 3: 28-30.

Exercestes um julgamento eqüitativo em tudo aquilo que nos infligistes e em tudo aquilo que infligistes à cidade santa de nossos pais, Jerusalém; foi em conseqüência de um julgamento eqüitativo que vós nos infligistes tudo isso por causa de nossos pecados. Pecamos, erramos afastando-nos de vós; em tudo agimos mal. Não obedecemos a vossos preceitos, não os pusemos em prática, não observamos as leis que nos destes para nossa felicidade.

Novamente, este texto só é válido se você aceita a masturbação como pecado, não podendo ser usado como prova contra a prática.

Novo Testamento.

Mateus 5: 28.

Eu, porém, vos digo que todo aquele que olhar para uma mulher com intenção impura, já em seu coração cometeu adultério com ela. (Mateus 5:28 [Português: Almeida Recebida])

Eu, porem, vos digo que todo aquele que olhar para uma mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela. (Mateus 5:28 [Português: Bíblia])

Eu, porém, digo-vos que todo aquele que olhar para uma mulher, desejando-a, já cometeu adultério com ela no seu coração. (Mateus 5:28 [Português: Capuchinhos])

Mas eu vos digo que qualquer um que olhar para alguma mulher para a cobiçar, já adulterou com ela em seu coração. (Mateus 5:28 [Português: Bíblia Livre])

Em primeiro lugar, adultério significa traição ou potência para traição. Se você deixa sua mulher para ficar com outra, está adulterando. Da mesma forma, se você possui uma mulher que já tem dono, está adulterando, mesmo que você seja solteiro.
Mas suponhamos que Jesus, com isso, tenha banido qualquer cobiça do corpo alheio. Com efeito, cobiça pode ser entendida como desejar o que não se tem ou desejar o que já pertence a alguém. Se cobiça é entendida como desejar o que não se tem, não podemos, como homens, desejar mulher alguma. Isso tornaria todos os casamentos forçados. Ou ainda, na pior das hipóteses, não haveria casamento, porque o matrimônio é tomar para si uma esposa, mas você só pode tomar para si algo que você quer (neste caso, algo cobiçado, se assumimos que cobiçar é desejar o que não se tem) ou aquilo que você é forçado a tomar. Portanto, se Jesus, com isso, estivesse banindo o desejo de um homem de tomar para si uma mulher, estaria ameaçando a instituição do casamento, implicando que todos os casamentos são adúlteros, porque são fruto da cobiça do que não se tinha, o que não convém. Supondo que esse ato de cobiçar fosse entendido em sentido estritamente sexual, os inconvenientes seriam ainda mais sérios, porque, se cobiçar é desejar o que não se tem, cobiçar uma mulher poderia ser entendido como desejo de ter sexo com ela. Se toda a cobiça corpórea fosse banida por Jesus no sermão do monte, a própria procriação estaria sendo ameaçada, porque, se cobiça é desejar o que não se tem e cobiçar uma mulher já é adulterar com ela, você não pode tomar uma mulher para ter sexo com ela.
Por outro lado, se você entende cobiça como desejo por aquilo que é do outro, evitam-se todos os inconvenientes acima. Com efeito, adultério é tomar a mulher do outro ou uma mulher que não seja a sua, o que já era proibido na lei antiga. Se você entender cobiça como desejo pelo que é do outro, a procriação e o matrimônio, ambas coisas instituídas por Deus, são mantidas, tal como também a moral sexual do crente. Além disso, essa interpretação se harmoniza com a forma como termina o sermão: “Portanto, todas as coisas que querem que os homens façam a vocês, façam também a eles. De fato, isso é o que a Lei e os profetas querem dizer.” (Mateus 7: 12). E de fato, isso implica respeitar o matrimônio do outro e o próprio parceiro, para que sejamos nós mesmos respeitados.
Donde decorre que Jesus, ao falar essas palavras, obviamente estava falando da cobiça não de qualquer mulher, mas da mulher que já está comprometida, tal como a mulher que não é a sua própria (neste caso, se você já for casado). Nada de errado em um homem livre desejar uma mulher livre. Afinal, se fosse, não se poderia desejar e não haveria casamento.

Mateus 5: 30.

E se tua mão direita é para ti causa de queda, corta-a e lança-a longe de ti, porque te é preferível perder-se um só dos teus membros, a que o teu corpo inteiro seja atirado na geena.

Muitos, convenientemente, usam este texto como “prova explícita” contra a masturbação porque menciona a mão direita. Mas, novamente, este é um daqueles textos que só são válidos para quem já acredita que a masturbação é pecado, não podendo, portanto, ser usado como prova contra a prática.

Mateus 6: 22-23.

O olho é a luz do corpo. Se teu olho é são, todo o teu corpo será iluminado. Se teu olho estiver em mau estado, todo o teu corpo estará nas trevas. Se a luz que está em ti são trevas, quão espessas deverão ser as trevas! 

Este texto pode, no máximo, ser usado contra a pornografia e tem elevado grau de crédito para ser usado contra a mesma. Porém, nem todos os que se masturbam o fazem com auxílio de material pornográfico.

Mateus 20: 27-28.

E o que quiser tornar-se entre vós o primeiro, se faça vosso escravo. Assim como o Filho do Homem veio, não para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate por uma multidão.

Fala do perdão de Deus garantido a nós por meio do seu mensageiro. Não prova nada contra a masturbação.

Lucas 19: 10.

Pois o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido.

Este é um daqueles textos que ilustram o perdão por meio do mensageiro de Deus, portanto só é válido para os que sentem-se pecadores. Não pode ser usado como prova contra a prática.

Romanos 1: 24.

Por isso, Deus os entregou aos desejos dos seus corações, à imundície, de modo que desonraram entre si os próprios corpos. 

Novamente, este texto só é válido para quem já crê que a masturbação é pecado. Mesmo assim, se você considerar o texto dentro de seu contexto, isto é, se você ler o capítulo todo, você perceberá que ele fala principalmente de idolatria.

Romanos 6: 6.

Sabemos que o nosso velho homem foi crucificado com ele, para que seja reduzido à impotência o corpo (outrora) subjugado ao pecado, e já não sejamos escravos do pecado. 

Novamente, este texto só é válido para quem já crê que a masturbação é pecado.

Romanos 6: 11-20.

Portanto, vós também considerai-vos mortos ao pecado, porém vivos para Deus, em Cristo Jesus. Não reine, pois, o pecado em vosso corpo mortal, de modo que obedeçais aos seus apetites. Nem ofereçais os vossos membros ao pecado, como instrumentos do mal. Oferecei-vos a Deus, como vivos, salvos da morte, para que os vossos membros sejam instrumentos do bem ao seu serviço. O pecado já não vos dominará, porque agora não estais mais sob a lei, e sim sob a graça. Então? Havemos de pecar, pelo fato de não estarmos sob a lei, mas sob a graça? De modo algum Não sabeis que, quando vos ofereceis a alguém para lhe obedecer, sois escravos daquele a quem obedeceis, quer seja do pecado para a morte, quer da obediência para a justiça? Graças a Deus, porém, que, depois de terdes sido escravos do pecado, obedecestes de coração à regra da doutrina na qual tendes sido instruídos. E, libertados do pecado, vos tornastes servos da justiça. Vou-me servir de linguagem corrente entre os homens, por causa da fraqueza da vossa carne. Pois, como pusestes os vossos membros a serviço da impureza e do mal para cometer a iniqüidade, assim ponde agora os vossos membros a serviço da justiça para chegar à santidade. Quando éreis escravos do pecado, éreis livres a respeito da justiça. 

O corpo tem vários apetites que precisam ser satisfeitos e todos sabem que o completo ascetismo não é possível. A fome, a sede, o sono, são todos apetites do corpo, tal como a sexualidade. Obviamente, “não obedecer aos apetites do corpo” é uma metáfora para não praticar certas coisas exageradamente. Portanto este texto não pode nem sequer ser usado para justificar a castidade. Além disso, conforme o que vimos anteriormente, até mesmo o sêmen é impuro na Lei Mosaica, logo a impureza tratada neste texto não é de caráter externo, como o sexo ou a masturbação que são práticas consideradas impuras na Lei Mosaica porque o sêmen é considerado sujo, mas interno, as intenções, o roubo, o assassínio, o adultério. Novamente, este texto só é válido para quem já crê que a masturbação é pecado.

Romanos 6: 14.

O pecado já não vos dominará, porque agora não estais mais sob a lei, e sim sob a graça. 

Novamente, este texto só é válido para quem já crê que a masturbação é pecado, não podendo ser usado como prova contra a prática.

Romanos 6: 23.

Porque o salário do pecado é a morte, enquanto o dom de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor.

Visto que o propósito divino é a vida eterna para seus filhos, a masturbação deveria ter sido mencionada como pecado em algum momento da Bíblia, uma vez que o salário do pecado é a morte, isto é, a perda da vida eterna. Se pecados são coisas tão sérias a ponto de nos fazer perder o Paraíso, Deus deixaria claro que a masturbação é pecado se ela realmente o fosse, como faz com o adultério ou a fornicação. Mas a masturbação não é mencionada em nenhum momento da Bíblia como pecado, logo não é uma prática que mereça atenção do Senhor. Se você parar para pensar, o que poderia haver de mal? Claro que a Bíblia cita o adultério como um pecado que você comete mesmo se você só pensar em fazê-lo, visto que devemos amar o próximo como a nós mesmos e o adultério é extremamente ofensivo, portanto a simples intenção de fazer algo ofensivo, isto é, que fere o princípio do amor ao próximo, lhe culpabiliza. Mas a masturbação não precisa ser movida à pensamentos adúlteros e não há quaisquer restrições sobre uma pessoa livre que deseja outra pessoa livre, visto que isso não ofende o princípio básico da lei que a de não fazer ao outro o que você não quer para si (embora seja claro que você não deva fornicar, logo o ato sexual de fato só poderá ocorrer após o casamento).

Romanos 8: 5-9.

Os que vivem segundo a carne gostam do que é carnal; os que vivem segundo o espírito apreciam as coisas que são do espírito. Ora, a aspiração da carne é a morte, enquanto a aspiração do espírito é a vida e a paz. Porque o desejo da carne é hostil a Deus, pois a carne não se submete à lei de Deus, e nem o pode. Os que vivem segundo a carne não podem agradar a Deus. Vós, porém, não viveis segundo a carne, mas segundo o Espírito, se realmente o espírito de Deus habita em vós. Se alguém não possui o Espírito de Cristo, este não é dele. 

Mais um texto ascético de um dos apóstolos. Ora, nem a fome, nem a sede, nem o sono vêm do espírito, portanto devem vir da carne. Este texto não pode ser tomado como uma defesa do ascetismo absoluto porque isso significaria deixar de satisfazer os desejos da carne absolutamente, portanto deixando de comer, beber e dormir, coisa que nem o apóstolo fazia. Este texto pode, no máximo, ser usado como defesa da moderação, visto que o excesso, assim como a carência, pode adoecer a carne e, portanto, levá-la a morte. Ao ler as epístolas deste apóstolo em especial, evite lê-las em sentido literal.

Romanos 8: 13.

De fato, se viverdes segundo a carne, haveis de morrer; mas, se pelo Espírito mortificardes as obras da carne, vivereis.

Obviamente metafórico. Vivendo segundo a carne, isto é, comendo, bebendo, dormindo e tendo sexo, vivemos e criamos vida, ao passo que renegando essas coisas morremos. Porém, a satisfação aceitável de nossos desejos nos faz viver mais do que viveríamos se nos excedemos nelas, além de nos permitir ter a vida eterna. Além do mais, por razões já explícitas, o ascetismo absoluto não é possível.

Romanos 14: 22-23.

Tens uma convicção; guarda-a para ti mesmo, diante de Deus. Feliz é aquele que não se condena a si mesmo no ato a que se decide. Mas, aquele que come apesar de suas dúvidas, condena-se, por não se guiar pela convicção. Tudo o que não procede da convicção é pecado. 

Aqui é rápido e fácil: quando você faz alguma coisa tendo dúvidas sobre sua moralidade, você comete pecado mesmo que a coisa que você está fazendo não seja pecado em si. O que torna uma coisa não-pecaminosa um pecado é a hipocrisia de quem pratica tal ato. Em outras palavras, no momento em que você pratica algo sem estar 100% convencido de que não tem problema, você está pecando mesmo que a coisa sobre a qual você tem dúvidas não seja de fato pecado. Se, ao fim desta entrada, você ainda estiver em dúvida se masturbação é pecado ou não (e não é), você não pode se masturbar, pois estaria pecando quer eu estivesse certo ou não.

1ª Coríntios 2: 16.

Por que quem conheceu o pensamento do Senhor, se abalançará a instruí-lo (Is 40,13)? Nós, porém, temos o pensamento de Cristo.

Aqui fala para não “jogar pérolas aos porcos”. Ou seja, para não tentar instruir aqueles que tem uma renúncia “natural” perante os ensinos divinos.

1ª Coríntios 6: 9-10.

Acaso não sabeis que os injustos não hão de possuir o Reino de Deus? Não vos enganeis: nem os impuros, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os devassos, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os difamadores, nem os assaltantes hão de possuir o Reino de Deus.

Você se enquadra em qual categoria? A masturbação não lhe enquadra em nenhuma, exceto talvez no adultério se você estiver cobiçando a mulher alheia em suas seções. Como bem se sabe, a impureza, para os cristãos, não refere-se a impureza da pele, mas a impureza do coração, isto é, às más intenções, visto que o que vem de fora não avilta o homem. Quanto a devassidão, é o mesmo que libertinagem, isso é, a liberdade irresponsável. Deve haver regras, deve haver respeito. É difícil ser devasso na masturbação, embora o seja fácil no sexo, pelo desrespeito em relação ao parceiro. Porém, ainda assim, se devassidão é libertinagem e libertinagem é ausência de regra, é importante que a masturbação seja devidamente coibida dentro das normas morais e dos bons costumes, o que qualquer um com bom senso acaba fazendo sem querer.

1ª Coríntios 6: 12.

Tudo me é permitido, mas nem tudo convém. Tudo me é permitido, mas eu não me deixarei dominar por coisa alguma.

Naturalmente, temos necessidades demais. Já temos que beber água, comer, dormir e ir ao banheiro para nos manter vivos e saudáveis. Quando você se deixa dominar por alguma outra coisa, isso é, faz de alguma outra coisa uma necessidade que você não tinha antes, você está tornando sua vida mais difícil, pois terá uma preocupação a mais. Você pode se masturbar para sentir-se bem, mas não deveria deixar que masturbação corra sua vida (ou seja, sobrepuje seu bom senso ou deixar que ela se torne uma necessidade crítica e irrecusável, como a sede e a fome).

1ª Coríntios 6: 18-20.

Fugi da fornicação. Qualquer outro pecado que o homem comete é fora do corpo, mas o impuro peca contra o seu próprio corpo. Ou não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que habita em vós, o qual recebestes de Deus e que, por isso mesmo, já não vos pertenceis? Porque fostes comprados por um grande preço. Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo.

A fornicação é o sexo ilícito, na época, fora do casamento. Quando se faz sexo antes do casamento, pratica-se fornicação. Quando se está casado e tem-se sexo com o parceiro alheio, tem-se fornicação e adultério (adultério também se você, livre, tem sexo com alguém que já tem parceiro). Esta passagem fala de sexo antes do casamento e da prática de outros atos sexuais ilícitos, isto é, fora da lei. Mas este texto em si não prova a masturbação como algo errado, visto que masturbação simplesmente não é sexo, embora os pensamentos, se adúlteros, lhe tornem adúltero. Sexo, isto é, as práticas sexuais descritas na Bíblia, sempre envolvem mais de uma pessoa e nenhuma pessoa na Bíblia jamais foi punida por ter “sexo consigo mesmo”, simplesmente porque tal coisa não existe. Ao folhear um dicionário qualquer, você verá que o significado de “sexo”, ou seja, da prática sexual comum esperada e encorajada entre seres humanos normais, envolve um casal. Significados mais específicos, como “orgia” ou “bestialidade”, também envolvem mais de um indivíduo. Mas o significado de “masturbação” simplesmente é “estimulação autoerótica, com ou sem orgasmo”. Sonhos eróticos que culminam com o orgasmo no sonho e a ejaculação na vida real nunca são considerados sexo. Ver pornô, embora errado para muitos inclusive para a enorme maioria dos cristãos, é certamente erótico, mas você ao ver pornô não necessariamente está fazendo sexo. Da mesma forma as carícias entre parceiros. Eróticas, sim. Sexo, não.

1ª Coríntios 7: 3-5.

O marido cumpra o seu dever para com a sua esposa e da mesma forma também a esposa o cumpra para com o marido. A mulher não pode dispor de seu corpo: ele pertence ao seu marido. E da mesma forma o marido não pode dispor do seu corpo: ele pertence à sua esposa. Não vos recuseis um ao outro, a não ser de comum acordo, por algum tempo, para vos aplicardes à oração; e depois retornai novamente um para o outro, para que não vos tente Satanás por vossa incontinência.

Cuidado com este. Na Bíblia que estou usando, este texto pode ser usado contra a masturbação dentro do casamento. Mas existem Bíblias traduzidas de diferentes formas, então vejamos o que diz… o Bible Gateway.

Uma mulher que casa deixa de ter sozinha direito sobre o seu próprio corpo, porque o seu marido passa também a ter direitos sobre ele; o mesmo acontece com o marido que deixa de ter direito absoluto sobre o seu corpo, o qual passa também a pertencer à sua mulher.
Que tal a Bíblia Sagrada Falada?
A mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no o marido; e também da mesma maneira o marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no a mulher.
Agora reprise o texto que expus no começo e veja que os três significados convergem no mesmo: a sexualidade é cedida mutuamente. Claro que a masturbação é fruir-se de seu corpo, mas talvez o seu parceiro não se importe e permita, assim você não estaria violando o direito do outro. De fato, seu corpo pertence ao seu parceiro, mas pertences podem ser concedidos a outros mediante permissão. Além disso, nem sempre seu parceiro está disponível, embora a Bíblia diga que o parceiro deve estar sempre disponível aos desejos sexuais do outro, mas isso não justifica, como bem disse um texto chamado “Os Deveres da Esposa”, o sexo forçado. Às vezes, o parceiro trabalha demais, às vezes o parceiro está doente, às vezes o parceiro viaja, às vezes é necessário separar-se para dedicar-se um pouco mais a Deus, às vezes é extremamente necessário abster-se de relações sexuais. Nesses casos, é justo que o parceiro conceda privilégios ao outro sobre seu corpo, masturbação sendo um deles, pois hoje em dia, quando parceiros ficam mais e mais distantes mesmo dentro do casamento, represar os desejos sexuais pode causar tentações fortes que arruinariam a espiritualidade e a própria relação. Mas o ideal é que o outro se prontifique sempre que você queira.

1ª Coríntios 7: 8.

Aos solteiros e às viúvas, digo que lhes é bom se permanecerem assim, como eu.

Isto é, solteiro. O casamento traz uma gama de responsabilidades que talvez você não queira assumir. Mas, ao ler o versículo seguinte, vê-se que, caso você não esteja conseguindo moderar seus desejos sexuais, é melhor que você se case para ter sexo lícito. Acontece que a masturbação muitas vezes não satisfaz aqueles que já não são virgens, por exemplo. A masturbação e o sexo trazem alívio sexual, sem dúvida, mas muitos concordam que sexo é simplesmente melhor por diversas razões, tanto que a maioria das pessoas que se masturbam pensam em relações sexuais. Nos jovens virgens, ainda é fácil contentar-se com a fantasia, mas para aqueles que já não mais são a masturbação pode ser insatisfatória e desinteressante, uma mera medida de emergência.

1ª Coríntios 7: 9.

Mas, se não podem guardar a continência, casem-se. É melhor casar do que abrasar-se.

Como dito, a masturbação nem sempre é satisfatória, como quando a pessoa bebe água quando queria ter suco. Nessas condições, a pessoa ainda é suscetível à tentações e, mesmo que a masturbação ajude no autocontrole, a oportunidade pode fazer com que a pessoa se sinta frustrada ao se masturbar quando poderia ter algo melhor. Este texto fala daqueles que não conseguem moderar seus desejos e não prova a masturbação como algo errado.

1ª Coríntios 7: 32, 33.

Quisera ver-vos livres de toda preocupação. O solteiro cuida das coisas que são do Senhor, de como agradar ao Senhor. O casado preocupa-se com as coisas do mundo, procurando agradar à sua esposa.

É irônico que existam pessoas que usem este texto contra a masturbação. Essencialmente, você diz “sei que você tem fortes desejos sexuais recorrentes, mas não tenha pressa em se casar e aguente mais uns anos”. Este texto, na verdade, é um conselho para não se casar cedo demais e não prova a masturbação como algo errado.

1ª Coríntios 10.

(Não quero que ignoreis, irmãos), que os nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem e que todos atravessaram o mar; todos foram batizados em Moisés, na nuvem e no mar; todos comeram do mesmo alimento espiritual; todos beberam da mesma bebida espiritual (pois todos bebiam da pedra espiritual que os seguia; e essa pedra era Cristo). Não obstante, a maioria deles desgostou a Deus, pois seus cadáveres cobriram o deserto. Estas coisas aconteceram para nos servir de exemplo, a fim de não cobiçarmos coisas más, como eles as cobiçaram. Nem vos torneis idólatras, como alguns deles, conforme está escrito: O povo sentou-se para comer e para beber, e depois levantou-se para se divertir (Ex 32,6). Nem nos entreguemos à impureza como alguns deles se entregaram, e morreram num só dia vinte e três mil. Nem tentemos o Senhor, como alguns deles o tentaram, e pereceram mordidos pelas serpentes. Nem murmureis, como murmuraram alguns deles, e foram mortos pelo exterminador. Todas estas desgraças lhes aconteceram para nosso exemplo; foram escritas para advertência nossa, para nós que tocamos o final dos tempos. Portanto, quem pensa estar de pé veja que não caia. Não vos sobreveio tentação alguma que ultrapassasse as forças humanas. Deus é fiel: não permitirá que sejais tentados além das vossas forças, mas com a tentação ele vos dará os meios de suportá-la e sairdes dela. Portanto, caríssimos meus, fugi da idolatria. Falo como a pessoas sensatas; julgai vós mesmos o que digo. O cálice de bênção, que benzemos, não é a comunhão do sangue de Cristo? E o pão, que partimos, não é a comunhão do corpo de Cristo? Uma vez que há um único pão, nós, embora sendo muitos, formamos um só corpo, porque todos nós comungamos do mesmo pão. Considerai Israel segundo a carne: não entram em comunhão com o altar os que comem as vítimas? Que quero afirmar com isto? Que a carne sacrificada aos ídolos ou o próprio ídolo são alguma coisa? Não! As coisas que os pagãos sacrificam, sacrificam-nas a demônios e não a Deus. E eu não quero que tenhais comunhão com os demônios. Não podeis beber ao mesmo tempo o cálice do Senhor e o cálice dos demônios. Não podeis participar ao mesmo tempo da mesa do Senhor e da mesa dos demônios. Ou queremos provocar a ira do Senhor? Acaso somos mais fortes do que ele? Tudo é permitido, mas nem tudo é oportuno. Tudo é permitido, mas nem tudo edifica. Ninguém busque o seu interesse, mas o do próximo. Comei de tudo o que se vende no açougue, sem indagar de coisa alguma por motivo de consciência. Do Senhor é a terra e tudo que ela encerra. Se algum infiel vos convidar e quiserdes ir, comei de tudo o que se vos puser diante sem indagar de coisa alguma por motivo de consciência. Mas se alguém disser: Isto foi sacrificado aos ídolos, não o comais, em atenção àquele que o advertiu e por motivo de consciência. Dizendo consciência, refiro-me não à tua, mas à do outro. Com efeito, por que razão seria regulada a minha liberdade pela consciência alheia? Se eu como com ações de graças, por que serei eu censurado por causa do alimento pelo qual rendo graças? Portanto, quer comais quer bebais ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus. Não vos torneis causa de escândalo, nem para os judeus, nem para os gentios, nem para a Igreja de Deus. Fazei como eu: em todas as circunstâncias procuro agradar a todos. Não busco os meus interesses próprios, mas os interesses dos outros, para que todos sejam salvos.

A partir do versículo seis, a Bíblia fala daqueles que pereceram durante o Êxodo e diz que não devemos seguir os exemplos deles. Como dito, masturbação não é impureza em si. No versículo treze há umas palavras alentadoras: Deus não deixa que tentações muito grandes lhe atinjam. Ele só permite que você seja tentado pelo que você pode aguentar e junto com a tentação vem uma saída para evitar cair. Também fala de idolatria e que não devemos servir a mais de um deus. No versículo vinte e quatro, diz que devemos persistir em buscar a vantagem do próximo e não a nossa própria. Aqui fala de ajudar o próximo, mas alguém pode estendê-la ao sentido sexual. Bem, se você é jovem, não deve praticar fornicação, logo não pode dar prazer ao outro, mas a não satisfação dos desejos sexuais pode lhe levar ao sexo ilícito, portanto é justo que você se satisfaça para não incorrer em algo pior. Pode se masturbar e, quando casar, faça sexo para dar prazer a alguém. Você deve buscar a vantagem do próximo, mas dentro dos limites impostos por Deus. Se ele não quer você fornicando, não busque o prazer do outro. Tente buscar outras vantagens a ele. No versículo trinta e um diz que tudo o que devemos fazer deve ser em glória de Deus. Se você é tentado a fazer sexo antes do casamento ou está sob pressão corporal muito grande e se masturba para aliviar a tensão, não me parece que você afrontou a glória de Deus; você evitou fazer algo claramente errado, fez a vontade de Deus em não cometer fornicação. Lembre que Deus provê uma saída para que você possa recusar uma tentação.

1ª Coríntios 10: 13.

Não vos sobreveio tentação alguma que ultrapassasse as forças humanas. Deus é fiel: não permitirá que sejais tentados além das vossas forças, mas com a tentação ele vos dará os meios de suportá-la e sairdes dela. 

Se você é tentado a cometer pecados sexuais pode usar a masturbação como alívio imediato, visto que uma pessoa sexualmente satisfeita não comete pecados sexuais. Mesmo quando não funciona, diminui os desejos a ponto de tornar o controle mais fácil.

1ª Coríntios 15: 33.

Não vos deixeis enganar: Más companhias corrompem bons costumes.

Obviamente não fala de masturbação.

2ª Coríntios 10: 5.

Nós aniquilamos todo raciocínio e todo orgulho que se levanta contra o conhecimento de Deus, e cativamos todo pensamento e o reduzimos à obediência a Cristo.

Essencialmente, diz que devemos nos afastar de quaisquer raciocínios que contradigam a palavra de Deus. Entre a fé e a razão, Deus não conhece divergências, já diz a filosofia, então um raciocínio bem fundamentado e correto deveria levar a conclusões próximas às conclusões bíblicas.

Gálatas 5: 16-17.

Digo, pois: deixai-vos conduzir pelo Espírito, e não satisfareis os apetites da carne. Porque os desejos da carne se opõem aos do Espírito, e estes aos da carne; pois são contrários uns aos outros. É por isso que não fazeis o que quereríeis.

Obviamente, o apóstolo não fala de modo literal, pois a fome e a sede certamente não provém do espírito e a não satisfação de certos apetites da carne nos mataria com certeza. Por outro lado, ser guiado pelo Espírito no caminho da moderação revela quais “apetites da carne” são aceitáveis. Este texto só é válido para aqueles que já acreditam que a masturbação é pecado e não pode ser usado como prova contra a prática.

Gálatas 5: 19.

Ora, as obras da carne são estas: fornicação, impureza, libertinagem.

Fornicação é sexo ilícito, no caso, antes do casamento. Impureza são más intenções (“copo sujo por dentro”) e libertinagem é o uso irresponsável da faculdade de julgar, ou seja, fazer algo sem relevar suas consequências. Não pode ser usado como prova contra a prática.

Gálatas 5: 22.

Ao contrário, o fruto do Espírito é caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade.

A masturbação, por si, não vai contra qualquer desses frutos.

Efésios 2: 3.

Também todos nós éramos deste número quando outrora vivíamos nos desejos carnais, fazendo a vontade da carne e da concupiscência. Éramos como os outros, por natureza, verdadeiros objetos da ira (divina).

Novamente, nem todo desejo da carne é pernicioso. Este texto não pode ser usado como prova contra a prática.

Efésios 5: 1.

Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos muito amados.

Obviamente metafórico, pois é impossível imitar Deus em todas as suas manifestações. Mas alguém pode usar este texto da seguinte forma, dizendo-lhe “você pode imaginar Deus se masturbando?” Bom, você pode imaginar Deus tendo sexo? Mas sexo não é pecado, certo? Está expresso aquilo que Deus quer que seja imitado, que é o amor incondicional ao próximo e a sabedoria. Você pode imaginar Deus comendo, bebendo, se divertindo, talvez jogando videogames? Não? Mas onde está o pecado de praticar essas coisas? Não estou criticando este texto, mas não defendo seu abuso.

Efésios 5: 3.

Quanto à fornicação, à impureza, sob qualquer forma, ou à avareza, que disto nem se faça menção entre vós, como convém a santos.

Eu já expliquei isso antes. Fornicação é sexo ilícito, impureza são más intenções, masturbação não está na lista.

Efésios 5: 4.

Nada de obscenidades, de conversas tolas ou levianas, porque tais coisas não convêm; em vez disto, ações de graças.

Aqui fala de banalização e vulgarização. A não ser que seja necessária a exposição, as práticas sexuais deveriam ser algo particular e o sexo não deveria ser discutido como uma brincadeira. A ideia dos que sustentam a masturbação como pecado quando usam este texto é implicar que a masturbação leva você a banalizar o sexo e a negar à prática o devido respeito, o que não necessariamente acontece.

Filipenses 2: 15.
Afim de serdes irrepreensíveis e inocentes, filhos de Deus íntegros no meio de uma sociedade depravada e maliciosa, onde brilhais como luzeiros no mundo.

Se masturbação não é errado, ela não é causa de repreensão. Este texto só é válido para quem já acredita que a masturbação é pecado e não pode ser usado como prova contra a prática.

Filipenses 4: 6-8.

Não vos inquieteis com nada! Em todas as circunstâncias apresentai a Deus as vossas preocupações, mediante a oração, as súplicas e a ação de graças. E a paz de Deus, que excede toda a inteligência, haverá de guardar vossos corações e vossos pensamentos, em Cristo Jesus. Além disso, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é nobre, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, tudo o que é virtuoso e louvável, eis o que deve ocupar vossos pensamentos.

Naturalmente, isso não significa que não devamos ocupar nossas mentes também com assuntos terrenos, como as contas para pagar. Além do mais, o reconhecimento de que você precisa satisfazer sua sexualidade de vez em quando para aliviar a tensão dos instintos parece ser algo verdadeiro e justo que pode ocupar seus pensamentos. Nem toda sexualidade é condenável e impura.

Colossenses 3: 4.

Quando Cristo, vossa vida, aparecer, então também vós aparecereis com ele na glória.

Este texto é inócuo, mas o próximo versículo pode ser usado por alguém. Diz que devemos “mortificar o corpo”. Mas obviamente em sentido metafórico.

Mortificai, pois, os vossos membros, que estão sobre a terra: a prostituição, a impureza, o afeição desordenada, a vil concupiscência, e a avareza, que é idolatria; […]
Masturbação não cai em nenhuma dessas categorias se devidamente regrada.

1ª Tessalonicenses 4: 1-7.

No mais, irmãos, aprendestes de nós a maneira como deveis proceder para agradar a Deus – e já o fazeis. Rogamo-vos, pois, e vos exortamos no Senhor Jesus a que progridais sempre mais. Pois conheceis que preceitos vos demos da parte do Senhor Jesus. Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação; que eviteis a impureza; que cada um de vós saiba possuir o seu corpo santa e honestamente, sem se deixar levar pelas paixões desregradas, como os pagãos que não conhecem a Deus; e que ninguém, nesta matéria, oprima nem defraude a seu irmão, porque o Senhor faz justiça de todas estas coisas, como já antes vo-lo temos dito e asseverado. Pois Deus não nos chamou para a impureza, mas para a santidade. 

Santo é ausente de pecado e honestamente é dentro da lei. A masturbação, se corretamente regrada, não é pecado nem desonesta. Este texto só é válido para aqueles que já consideram a masturbação como pecado.

1ª Tessalonicenses 5: 22, 23.

Guardai-vos de toda a espécie de mal. O Deus da paz vos conceda santidade perfeita. Que todo o vosso ser, espírito, alma e corpo, seja conservado irrepreensível para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo!

Novamente, este texto só pode ser usado se a pessoa já vê a masturbação como pecado. Santo é ausente de pecado e masturbação não é pecado se não for movida a pensamentos adúlteros.

2ª Timóteo 2: 22.

Foge das paixões da mocidade, busca com empenho a justiça, a fé, a caridade, a paz, com aqueles que invocam o Senhor com pureza de coração.

Paixões são emoções, aspirações e desejos fúteis, coisas que você quer mas que a razão muitas vezes condena ou recomenda a moderação. Irresponsabilidades. O desejo de ter sexo logo, antes do casamento, por exemplo. Típico do jovem que não aprendeu a esperar. Mas a masturbação em si não é uma paixão, é uma prática. Não é o desejo sexual, mas o método de alívio. Nem mesmo é fornicação. As paixões da mocidade são os desejos irresponsáveis que temos, priorizando o prazer sobre a obrigação ou a segurança ou a salvação. Mas masturbação não sendo pecado e o desejo sexual sendo um fato, é melhor se masturbar para manter o desejo sexual baixo, fugindo assim da fornicação, que é uma paixão da mocidade. Com a devida interpretação, este texto pode ser usado a favor da masturbação.

Tiago 1: 13-16.  

Ninguém, quando for tentado, diga: É Deus quem me tenta. Deus é inacessível ao mal e não tenta a ninguém. Cada um é tentado pela sua própria concupiscência, que o atrai e alicia. A concupiscência, depois de conceber, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte. Não vos iludais, pois, irmãos meus muito amados.

Uma passagem bastante existencialista: você não pode culpar ninguém pelos pecados que você comete. De fato, nossos instintos, nossa natureza pecadora, nos tentam a fazer coisas que estão em desacordo com o espírito, mas é inteiramente sua responsabilidade se você falha em evitar fazer o que é mau. Porém, isso não prova que a masturbação é algo ruim. A sede e a fome também não são frutos do espírito e são 100% corporais, mas isso não garante que beber e comer sejam pecado. Nem tudo o que vem do corpo é concupiscência imoral.

Tiago 4: 7.

Sede submissos a Deus. Resisti ao demônio, e ele fugirá para longe de vós.

Novamente, este texto não prova a masturbação como algo errado.

1ª Pedro 1: 13-16.

Cingi, portanto, os rins do vosso espírito, sede sóbrios e colocai toda vossa esperança na graça que vos será dada no dia em que Jesus Cristo aparecer. À maneira de filhos obedientes, já não vos amoldeis aos desejos que tínheis antes, no tempo da vossa ignorância. A exemplo da santidade daquele que vos chamou, sede também vós santos em todas as vossas ações, pois está escrito: Sede santos, porque eu sou santo (Lv 11,44).

É santo algo que não tem pecado. Algumas pessoas, ao usar este texto, se apoiam no aspecto estético da masturbação, isto é, algo tão “feio” e “carnal” não pode ser santo. Porém, com permissão para usar um exemplo bastante grotesco, a defecação, o ato de expulsar fezes pelo ânus, é certamente feio e carnal e nem por isso é pecado. Se é santo aquilo que não tem pecado, creio que não seja um mal uso do termo atribuí-lo a todas as nossas ações inocentes, corporais ou não. Porém, mesmo que a masturbação em si não seja pecado, pensamentos adúlteros o são, então uma pessoa livre deve pensar em outra pessoa livre, o indivíduo casado deveria saciar-se com seu parceiro (seja com sexo, seja com masturbação mútua e outras carícias).

1ª Pedro 2: 11.

Caríssimos, rogo-vos que, como estrangeiros e peregrinos, vos abstenhais dos desejos da carne, que combatem contra a alma.

Obviamente metafórico. Nem todos os desejos da carne, principalmente aqueles que são saudáveis e que visam a saúde do corpo, o templo do Espírito Santo, combatem contra a alma. Além do mais, o desejo sexual, algo totalmente carnal e corporal, é estimulado por Deus sob certas condições, isto é, no casamento. O que é ruim é o desregramento.

1ª Pedro 4: 3. 

Baste-vos que no tempo passado tenhais vivido segundo os caprichos dos pagãos, em luxúrias, concupiscências, embriaguez, orgias, bebedeiras e criminosas idolatrias. 

Não que a masturbação caia em qualquer dessas categorias, como venho repetindo várias vezes. Há uma observação a ser feita, contudo, sobre a problemática da luxúria: a luxúria é o delito de quem se excedeu em práticas sensuais, isto é, que visam a satisfação dos sentidos. Essencialmente, quando você põe seu corpo e seus prazeres à frente da lei divina. Se devidamente regrada, a masturbação não é luxúria, tal como não o é o sexo devidamente regrado.

2ª Pedro 2: 19.

Prometem-lhes a liberdade, quando eles mesmos são escravos da corrupção, pois o homem é feito escravo daquele que o venceu.

Fala de vício, do excesso inegável, da necessidade artificial que lhe traz prejuízo. A masturbação é considerada excesso quando ela lhe provoca algum dano físico, mental ou social e vício quando você, apesar de estar excedendo-se na prática, não consegue controlar a frequência por falta de força de vontade. A masturbação raramente provoca quaisquer danos se praticada dentro dos limites do bom senso, logo raramente torna-se um vício, isto é, um hábito pernicioso. Qualquer coisa pode viciar, até mesmo atos ditos saudáveis como beber água (aquolatria) e fazer exercícios (vigorexia), mas uma pessoa que bebe muita água ou faz muito exercício não pode ser considerada viciada se o hábito não lhe traz qualquer mal.

1ª João 1: 9.

Se reconhecemos os nossos pecados, (Deus aí está) fiel e justo para nos perdoar os pecados e para nos purificar de toda iniqüidade.

Este texto pode lhe assustar se você não estiver seguro de que a masturbação não é pecado. Você provavelmente pensaria “se a masturbação realmente for pecado e eu, ao me masturbar achando que não estou pecando, não admitir que é pecado, Deus não me perdoará”. Mas este raciocínio baseia-se numa possibilidade, na possibilidade de masturbação ser pecado, uma possibilidade que esta entrada está disposta a derrubar. Continue lendo o texto e, se no final, você ainda tiver dúvidas, então é melhor não se masturbar, visto que é sempre pecado fazer algo que não lhe parece espiritualmente seguro (isto é, você só deve fazer aquilo que você tiver certeza de que não é pecado). Uma observação: quer dizer que Deus me perdoará sempre, logo eu posso fazer o que eu quiser e toda a lei divina é nula? Não, Deus perdoa na medida em que você perdoa o próximo.

1ª João 2: 2.

Ele é a expiação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo.

Novamente, Deus está disposto a perdoar. Não que isso prove a masturbação como algo errado.

1ª João 2: 15-17.

Não ameis o mundo nem as coisas do mundo. Se alguém ama o mundo, não está nele o amor do Pai. Porque tudo o que há no mundo – a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida – não procede do Pai, mas do mundo. O mundo passa com as suas concupiscências, mas quem cumpre a vontade de Deus permanece eternamente.

O amor a Deus deve vir em primeiro lugar. Se você ama a Deus, a vida no mundo não lhe corromperá facilmente. A lei divina deve então vir em primeiro lugar. A “lei do mundo” (ou do corpo) pode ser cumprida na medida em que não conflitar com a lei divina.

Apocalipse 21: 8.

Os tíbios, os infiéis, os depravados, os homicidas, os impuros, os maléficos, os idólatras e todos os mentirosos terão como quinhão o tanque ardente de fogo e enxofre, a segunda morte.

Não que a masturbação caia em qualquer dessas categorias.

Conclusão.

A masturbação, em si, não é pecado. O pensamento, quando adúltero, pode causar confusão, fazendo com que você ache que a prática é pecaminosa, quando apenas o pensamento o é. Assim, a masturbação do solteiro é lícita enquanto não for alimentada por pensamentos relacionados a parceiros de outras pessoas. Nada de errado numa pessoa livre desejar alguém livre. O casado, contudo, deveria procurar seu parceiro ou parceira quando sentir-se pressionado, mas o parceiro, se indisponível por qualquer razão, pode permitir que o casado masturbe-se. Além do mais, a masturbação entre casados, como uma forma de carícia ou prática pré-sexual não é errada. Fora os casos em que o parceiro não vê a masturbação como violação do seu direito sobre o corpo do casado (o casado não pode masturbar-se porque o parceiro detém os direitos sobre seu corpo, mas se o detentor dos direitos não vê aquilo como uma violação, onde estaria o problema?).